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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Opinião: Um homem chamado João


Nestes dias de preparação para o Natal, nossas celebrações propõem voltar os olhos para João Batista e dele aprender como deve agir quem deseja viver nos caminhos de Jesus. João era um homem agressivo e dizia palavras duras. Chamava o povo que o procurava, com o nome de ninhada de cobras venenosas; apesar disso aglomerava multidões.

Eram peregrinos das mais diversas condições econômicas e culturais. Sua vida, seu modo de vestir e suas pregações semelhantes aos modos do profeta Elias tocavam o coração e a imaginação de quem o encontrava. João tinha palavras curtas e grossas, sem rodeio e diretas. Com ele deveríamos aprender muitas coisas.

Nossa sociedade mergulha em hipocrisias e mentiras que detonam a verdade e tornam infelizes milhões de homens e mulheres. Diariamente a propaganda faz-nos engolir falsidades políticas e econômicas. Paulo diz que “pela fidelidade de Deus, em vos asseguro: a nossa palavra junto de vós nunca foi sim e não, mas somente sim”. (2 Cor 1, 19).

Essa história de o brasileiro sempre dar jeitinho deveria ser tomado por nós como um insulto. Os desvios de dinheiro público realizado por pessoas que têm um discurso de honestidade merecem os xingatórios de João e de Jesus. São sepulcros bonitos por fora mas podres por dentro.

A atualidade de João aparece num texto de Lucas (Lc 3,1-20). O povo perguntou ao homem do deserto o que deveria fazer para responder a sua pregação; a resposta foi que deviam partilhar o alimento e a roupa. Vivemos tempos de grande concentração de riquezas nas mãos de poucos.

Manaus tem apartamentos que valem mais de R$ 1 milhão (para não dizer muito mais) ao lado de casebres miseráveis. Alguns jogam fora alimentos enquanto outros passam fome. A solução de muitos problemas sociais virá da mudança do espírito e do coração. Aproximaram-se de João cobradores de impostos e perguntaram também eles o que fazer.

O precursor de Jesus disse-lhes que não usassem do cargo para extorquir dinheiro do povo. A corrupção tem aparecido nos noticiários com frequência indesejada. Os preços superfaturados de obras são notícias de jornais e revistas; isso é extorsão. Achegaram-se a João soldados e lhe perguntaram o que fazer. “A ninguém molesteis com extorsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos com vosso salário”.

Desde aquela época havia soldados ou policiais que se aproveitavam do cargo para arrancar dinheiro do cidadão ou para denunciá-lo falsamente. Faziam-no para aumentar seus vencimentos. João era homem corajoso.

O rei Herodes agia com crueldade e com imoralidade, mas ninguém tinha coragem de enfrentá-lo. João teve e foi assassinado por isso. Como precisamos de gente como ele! Nossa sociedade adoeceu mas pode curar-se. O que realizaram João e Elias em suas épocas precisa ser realizado hoje por pessoas que acreditem no poder divino e tenham coragem de gritar.

D. Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus

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