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domingo, 18 de dezembro de 2022

Desarmando a bomba relógio


Nesses últimos dias de novembro foram preenchidos por acontecimentos tão grotescos que assombram pela estupidez de seus protagonistas. O primeiro (25/11) foi a chacina que vitimou três professoras e uma estudante de apenas onze anos em Aracruz – ES. O assassino de 16 anos, fantasiado de guerrilheiro, usava a suástica nazista como adereço macabro, demonstrando simpatia por uma ideologia que foi capaz de produzir as maiores atrocidades em escala industrial já conhecidas contra o ser humano. A investigação policial encontrou em uma rede social do padrasto do atirador uma postagem do livro Mein Kampf (em português: Minha Luta) de autoria de Adolf Hitler, no qual ele expressou suas ideias antissemitas, anticomunistas, antimarxistas, racistas e nacionalistas, cuja obra pode ser considerada a bíblia de extrema-direita no mundo.

O maior problema da exposição sensacionalista desses tipos de crimes é que servem de inspiração para mentes perturbadas que as aguardam como uma centelha para explodir desejos assassinos. Foi o que noticiou a imprensa mineira ao relatar que uma denúncia anônima desarticulou o planejamento de um massacre em Ubá-MG. Um adolescente de 14 anos portando um machado e um martelo foi apreendido pela Polícia Militar dentro da escola municipal da cidade e confessou o seu instinto assassino em um bilhete encontrado consigo que dizia: “Vou fazer um massacre com um machado e um martelo”.

Outra ocorrência policial que considero de extrema gravidade foi a invasão de uma casa em Cuiabá-MT, gravada por câmera de segurança, na qual um delegado da polícia civil com arma em punho e acompanhado de dois agentes portando fuzis, ameaçou dar um tiro na cabeça de uma mulher na frente do marido e da filha de quatro anos. Descontrolado o delegado gritava: “Deita no chão, desgraçada (…) Da próxima vez que ela chegar perto do meu filho, eu vou estourar a cabeça dela. Eu vou explodir a cabeça dessa filha da p*t*”.

O motivo de tamanha violência seria supostamente um descumprimento de medida protetiva que previa o afastamento dessa mulher do enteado do delegado invasor. No entanto, devido esses acontecimentos anteriores envolverem menores de idade e, portanto, correrem em segredo de justiça, não é público saber quais os motivos das divergências entre as partes, mas nada justifica a violência contra uma família que ao abrigo de seu lar foi violentada em sua dignidade moral e emocional com possíveis consequências psicológicas para uma criança de apenas quatro anos. Todavia, existe outra provável vítima dessa violência, o adolescente enteado do delegado, porque recebe como exemplo de solução de conflitos o uso de força desproporcional, a agressão e a violência premeditada motivada por vingança.

É correto dizer que as câmeras de segurança foram essenciais para a identificação do assassino em Aracruz - ES, assim como evidenciar o abuso de autoridade do delegado. Em relação a ação policial desastrosa em Cuiabá, se a mesma tivesse ocorrido em uma casa humilde, ou mesmo em uma residência sem monitoramento, as ameaças de morte poderiam ter sido negadas e haveria dúvida com quem estaria a verdade. Policiais que agem a margem da lei são contra utilizar câmeras nos uniformes pelo simples fato de desejar a impunidade para os seus abusos e deixar encoberto seus crimes. Os bons policiais não temem as câmeras porque lhes conferem segurança jurídica por afastarem acusações de violação de direitos humanos. Observem que os direitos humanos que muitos dizem ser somente para bandidos, também vestem essa família de Cuiabá, assim como a minha, a sua e de qualquer cidadão, seja rico ou pobre, dando agasalho contra o abuso de autoridade e dos atos criminosos dele decorrente.

Nos casos aqui relatados, os profissionais da psicologia poderão investigar o quanto da convivência de pai e padastro pode ser, ou pôde ter sido deletéria na construção da personalidade dos adolescentes envolvidos. Outro ponto de reflexão e que as consequências em Ubá poderiam ter sido catastróficas se aquele adolescente tivesse acesso a um revólver. A proliferação de armas de fogo ao alcance de crianças e adolescentes é outra herança de quatro anos de uma política armamentista que ainda provocarão muitas chacinas. Desarmar essa bomba relógio dependerá somente de uma mudança de atitude na sociedade em relação as políticas de direitos humanos, do papel das forças policiais como promotoras dessas políticas e que as famílias ensinem seus filhos que viver em sociedade envolve respeito, tolerância, empatia e solidariedade.

O desafio está posto.

João Lago.

Ostracismo, vaidade e o medo da morte


O poeta francês Stanislas de Boufflers, em um elogio ao escritor Jean-Jacques Barthélemy, proferido na Academia Francesa em 13 de agosto de 1806, disse que o esquecimento é uma segunda morte e que as grandes almas a temem mais que a primeira. Nesse mesmo texto o poeta cita que quando lemos as obras de grandes mestres os retiramos da Léthé (esquecimento em grego antigo) e é exatamente o que faço neste instante com Boufflers e Barthélemy. Vislumbrando o conteúdo filosófico que abraça essa citação, ao despertar ambos do esquecimento para ilustrar esta breve reflexão, o tempo demonstra ser o algoz das vaidades muito mais que a própria morte.

Vem da democracia ateniense e das discussões de seus pares em assembleia a origem da palavra política, cuja etimologia é construída da junção de pólis (cidade) e tiikós (bem comum). Assim, na Grécia Clássica os cidadãos de Atenas, reunidos em praça pública (chamada Ágora), debatiam, votavam temas da vida em comum e deliberavam quem teria o seu nome anotado em um pequeno pedaço de cerâmica chamado ostraka. Porém, isso não se tratava de uma homenagem mas uma punição. Aqueles considerados como uma ameça a democracia eram exilados e condenados ao ostracismo, ou seja, ao esquecimento por dez anos. Modernamente essa punição poderia ser considerada branda, mas em uma época que a expectativa de vida não ia muito além dos trinta e cinco anos, ser banido por uma década significava um desterro até uma provável morte.

A Population Reference Bureau (PRB), que é uma instituição privada estadunidense que realiza pesquisas demográficas para organismos multilaterais e governos, estimou que desde o surgimento do homo sapiens já viveram sobre a Terra cerca de 108 bilhões de pessoas. No entanto, somente uma fração de homens e mulheres segue sendo lembrada por sua notoriedade (ou desgraça) na política, religião, artes e ciências, enquanto uma multidão nem mesmo consegue resistir ao passar do tempo com o seu nome escrito em uma lápide. Muito raro, uma minoria afortunada consegue ser conhecida por seus bisnetos e seguem na memória até sua terceira geração, mas com a tendência das mulheres adiarem para depois dos trinta anos a maternidade, pode ser comum que muitos sequer sejam conhecidos pelos seus netos. Todavia, não pense que aquela personalidade de uma época possa continuar sendo verdadeiramente lembrada nas gerações futuras, mesmo que tenha o seu nome denominando vias e prédios públicos. Andemos pelas ruas, praças e avenidas de nossa cidade e muitos dos nomes estampados nelas são apenas localizações geográficas, não remetendo a lembrança do indivíduo que a batizou. Nem mesmo esses escapam do esquecimento e seus nomes não são muitos diferentes daqueles que ornam sepulturas de quem nada sabemos.

São Jerônimo, considerado doutor da Igreja Católica, traduziu a Bíblia Sagrada para o latim a partir do grego e do hebraico, finalizando seu trabalho no início do século V, sendo essa tradução conhecida como “vulgata”. É dessa obra que se retira a citação Vanitas vanitatum, et omnia vanitas (do Livro de Eclesiastes 1:2), tantas vezes repetida como advertência ao pecado da soberba, cuja frase em latim pode ser traduzida como “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Assim, frente a inexorável certeza da morte, alguns buscaram uma notoriedade efêmera e descolada de grandes feitos justamente por meio da religião, instituição que não é apropriada para nutrir vaidades. É o que expôs o historiador Jorge Victor de Araújo Souza ao pesquisar os principais doadores ao mosteiro beneditino do Rio de Janeiro e São Paulo entre os séculos XVI e XVIII. Souza evidenciou que doações à igreja tinha como uma das reciprocidades a lembrança do nome do doador durante a missa. O pesquisador exemplificou com um caso de uma doadora chamada Vitória de Sá que tinha o seu nome diariamente lembrado nas celebrações litúrgicas do mosteiro mesmo sessenta e seis anos depois de sua doação.

Inevitavelmente somente uma pequena parcela de homens e mulheres serão lembrados no decurso da humanidade e os demais fadados ao ostracismo. Porém, se o medo do esquecimento pode apavorar-lhe muito mais que a certeza da morte é porque talvez sua vida não está sendo construída para deixar saudades naqueles que o cercam. Saiba que mesmo aqueles que entram no panteão da história também experimentam o exílio até que sejam resgatados em um livro, em uma pintura no museu, em um documentário ou noticiário, mas certamente nenhum deles experimentará naquele exato momento a ternura da saudade verdadeira de um amigo, esposa, marido, filho, sobrinho, neto ou bisneto. Não sou de dar conselhos, não tenho vocação para guru de autoajuda e nutro certa ojeriza da palavra coaching, mas finalizo dizendo: Viva amorosamente entre os seus, pois a retribuição do amor e do carinho será possivelmente aquela gostosa nostalgia que aquece, embala, faz rir e conforta o coração.

João Lago 



sábado, 10 de dezembro de 2022

Visita à Comunidade N. Sra. da Vitória: Entrega dos cupons da cesta básica

Neste sábado (17/12/2022) visitamos a comunidade beneficiária de nossa Campanha Amigos Solidários Natal de 2022 para a entrega dos cupons que serão trocados por cestas básicas no dia 17/12/2022 (sábado).

Em uma caminhada que iniciou às 8h da manhã e encerrou ao meio dia, fizemos alguns registros que compartilhamos aqui.

As famílias beneficiárias, com ajudas desses amigos solidários, poderão contar com este importante reforço alimentar para a semana que precede o Natal.



























































João Lago, Pe. Vincent Lawrence Savarimuthu e Nazaré Jatobá do Lago