Powered By Blogger

domingo, 29 de abril de 2012

A religião é indispensável


D. Luiz Soares Vieira
Não é de hoje que se questiona o papel da religião como necessária à sociedade. Já houve quem lhe jogasse nas costas os males da ignorância e da violência ou das desigualdades sociais. Recentemente o arcebispo de Londrina, D. Orlando Brandes escreveu o artigo que tem como título: “A religião é indispensável”. Ele faz uma constatação: “Já preconizou o desaparecimento da religião, assim como se decretou que tudo o que é sagrado, religioso e divino é superstição, é obsessão doentia, é medo da vida.

O século 21 deveria ser o século da morte da religião, o século da incredulidade. Tanto se falou de “cidade secular”(*). O que irrompeu na cidade foi uma volta ao sagrado, um sagrado que nem sempre é sadio, mas que não desapareceu, pelo contrário, retorna o exorcismo, o esoterismo e também as patologias religiosas. Vemos que a religião precisa ser corrigida pela fé.

Mário Vargas Lhosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010 , escreveu que”: “a cultura não consegue substituir a religião porque é exatamente a religião que confere sentido e tranquilidade a existência”. Segundo ele, dizer que a religião vai desaparecer é uma superstição.

Na antiga União Soviética e na China os governos tentaram construir uma sociedade sem religião, mas, eu vi com os meus próprios olhos, organizavam rituais religiosos para vistas do povo às múmias de Lenin** e Mao Tsé Tung**. Os escolares eram obrigados a submeterem-se ao silêncio, vênias e reverências. E ai de quem não seguisse o cerimonial! Até nós, visitantes, nos impuseram essa vexame.

Quando se exclui Deus, coloca-se alguém ou alguma coisa em seu lugar. Chama-se a isso de religião de substituição. Sem Deus tornamo-nos reféns da ditadura da moda ou do consumismo. A religião, quando autêntica, combate o que a maioria aceita como normal mas não é, contradiz certezas tidas como infalíveis, dá coragem para resistir.

É preciso reconhecer que as religiões tem as suas fraquezas, que devem ser vencidas por meio de um processo de conversão e pedido de perdão. Existem denominações religiosas que são doentias, destrutivas e alienantes. Sem não forem purificadas, causam enormes prejuízos à humanidade. Hoje se mata em nome de Deus, se enriquece em nome dos céus, se cometem crimes em nome do Altíssimo. Isso não deve e nem pode acontecer.

De modo especial, o cristianismo, em suas várias expressões, só tem valor se for expressão autêntica de fé. A hipocrisia tenta fortemente as pessoas devotas e convém lembrar a guerra feita por Jesus contra os fariseus foi justamente por isso.

“A contribuição, que a religião pode oferecer ao mundo moderno, não está no moralismo, mas nos valores, na confiança em Deus, na beleza e na alegria da vida, na abertura para o que é diferente. Deus segura o mundo em suas mãos. Eis nossa alegria e segurança. O amor e o bem trazem alegria e isso nos encoraja e incentiva a recomeçar”, conclui Dom Orlando Brandes.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus


Notas:

* Secularização é um movimento que prega um mundo sem a religião (metafísica), assim “cidade secular” seria uma cidade na qual as pessoas não precisariam de Deus, pois haveria uma tendência de transformar certos aspectos da vida em absolutos, assumindo o lugar do divino na vida das pessoas. O individualismo e o consumismo seriam um exemplo de posições assumidas em uma cidade secularizada. Em uma cidade secular a religião remanescente seria uma manifestação privada, na qual as expressões de fé não seriam expostas em público.


** Respectivamente, líder da revolução comunista russa de 1917 e líder da revolução comunista chinesa em 1949.  

sábado, 28 de abril de 2012

Alagados em protesto em Manaus

No dia de ontem, moradores de áreas alagadas próximas aos igarapés da cidade de Manaus, realizaram protestos pedindo apoio a situação de calamidade que se encontram. Reivindicam madeira para subirem os assoalhos de suas casas, prática comum para moradores que se instalam as margens do rio, quando a água alcançam o piso, constroem outro mais acima. Os jornais de hoje noticiam que uma manifestação dos moradores fechou a ponte Senador Fábio Lucena, conhecida como ponte do São Raimundo, havendo muita confusão e intervenção da polícia e do corpo de bombeiros. No entanto, uma outra manifestação, esta em zona alagada próxima ao Distrito Industrial ,acontecia no mesmo momento.


Retornava da Bienal do Livro de Manaus às 17h30min., quando deparei-me com uma manifestação na Avenida Costa e Silva, próxima a Bola da Suframa, na qual um pequeno grupo de moradores que ocupam o leito do igarapé do Quarenta, também queimavam pneus, madeiras e gritavam palavras de ordem. Bloquearam a avenida de acesso ao Distrito Industrial de Manaus, justamente no horário de saída dos ônibus de rota lotados de industriários. O caos só não foi maior porque ocupavam somente uma via da avenida, justamente aquela no sentido Centro/Distrito Industrial, menos congestionada, já que o fluxo maior era no sentido inverso. Ainda assim, formou-se um congestionamento de aproximadamente três quilômetros.







Na minha adolescência eu ficava impressionado quando os Igarapés de Manaus enchiam nesta época, trazendo toda a sujeira lançada pelo moradores do local, mostrando a natureza toda sua força, devolvendo ao homem o que fora lançado no leito do igarapé. Hoje os igarapés estão sendo todos assoreados pelo Prosamim* , que me recuso a chamar de recuperação dos igarapés de Manaus. Esta cheia, que se repete tão próxima da última que tivemos, faz-me pensar se isto não é novamente a natureza devolvendo ao homem os reflexos de sua estupidez. Sabemos que existe nessa época o represamento do Rio Negro pelo Solimões, portanto é de supor que essas águas ocupassem os espaços dos igarapés, hoje ocupados por moradias populares construídas sobre o seu leito. Pergunto-me: Será que por não ter mais o leito natural dos igarapés para ocupar, isto não reflete no aumento do nível do rio Negro defronte Manaus? Não sei, mas como ainda não disponho de informação especializada continuo acreditando que sim.

Entendo como recuperação o retorno do que era nossos igarapés como eram antes, com a vegetação ciliar e as águas limpas, mas o que vemos é justamente a canalização dos igarapés em esgotos e a transformação do seu entorno em vias urbanas. Os milhões de dólares emprestados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, modificam a paisagem urbana no que se refere a situação grotesca que viviam essas comunidades de alagados. Obviamente, na estética o que temos hoje é melhor do que o estado de degradação que existia antes, mas não podemos esquecer que a distribuição de moradias tem o seu projeto populista assistencialista de permanência no poder, fórmula utilizada por sucessivos governos de um mesmo grupo de políticos, que motiva essas populações a esperarem que a solução venha por meio do clientelismo. Essa é a espinha dorsal de sustentação desse grupo de políticos.

Haja dinheiro, com grande endividamento da sociedade amazonense que paga impostos. Enquanto que a velha fórmula de gerar obras vultuosas continuar a render votos,  nos bastidores das licitações milionárias o superfaturamento serve para enriquecer alguns e financiar a campanha de poucos. É assim que se mantém no poder, pois esta é a fórmula consagrada.

Não aguento mais ouvir falar em corrupção, de desvios de dinheiro de obras, de caras-de-pau que se apresentam como guardiões da democracia. Quanto desses recursos não deveriam estar sendo usados na construção de escolas (aquelas que ensinam), de hospitais, de coleta de esgotos, em medicina preventiva e curativa, em lazer e cultura (que acrescente ao individuo valores).


Enquanto isto, essa geração que vemos nas ruas, com suas reivindicações (verdadeiras sim) não tem outra perspectiva a não ser a de esperar ajuda, que muitas vezes não vem.


João Lago
Administrador, professor e morador do Conj. Santos Dumont.

* Prosamim: Programa do governo do Amazonas de construção de casas populares sobre o leiro dos Igarapés de Manaus, acomodando os moradores dessas regiões alagadas em apartamentos populares.


sábado, 21 de abril de 2012

Desafios e tentações da vida conjugal, como superá-los?

Todo o relacionamento tem desafios e o maior deles são as diferenças. Daí gera, às vezes, nossas dificuldades e desentendimentos. Ninguém gosta de ser criticado porque é próprio do ser humano desejar ser sempre apreciado e aceito. Às vezes, o comportamento do outro pode magoar e ferir. Outras vezes, guardamos nossos ressentimentos e a insatisfação ignorada cresce e se manifesta em uma briga carregada de mágoas. Nem sempre costumamos nos abrir quando estamos insatisfeitos e isto causa desconforto.

O sacramento do matrimônio e os ensinamentos da Igreja nos ajudam a superar obstáculos e os problemas quando surgem. O dever de sentar-se (para uma conversa) vem ao nosso encontro por meio da oração, do diálogo, troca de ideias, conhecimento do outro, entrar na intimidade do outro, ver as diversas realidades a partir do ângulo do outro. Quando há diálogo, compreensão e busca de comunhão, os problemas são facilmente superados. Desse diálogo nasce muita luz, pois Jesus prometeu estar em meio àqueles que se reúnem em seu nome. Ele traz o Espírito Santo para nos ajudar a superar nossos desafios.

A Bíblia diz: “deixa o homem pai e mãe e se une a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Isto implica que na nossa intimidade, nos tornamos um, alcançamos a unidade de espírito, de alma e de corpo, e somos um em Cristo.

Com o nosso casamento fomos pouco a pouco ganhando essa intimidade que nos faz cúmplices, sensíveis um ao outro, atentos às necessidades do outro. Ora, compreendemos que o casamento implica cumplicidade e renúncia de ambas as partes. Aí se identifica o amor: “eu te recebo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-se por toda a minha vida”. Matrimônio sem Deus não se sustenta, pois ele é a essência e assim edificamos a base sólida da família na rocha, onde os ventos contrários não destruirão.

Rejane Soares
Professora
Integrante das Equipes de Nossa Senhora

terça-feira, 17 de abril de 2012

Caminhada pela Paz, Justiça e Saúde


ARQUIDIOCESE DE MANAUS
COORDENAÇÃO AMPLIADA DE PASTORAL DO SETOR 10



CARTA CONVITE: Manaus, 11 de Abril de 2012

… Animados pela Fé e bem certo da vitória, vamos fincar o nosso pé a fazer a nossa história e fazer a nossa história, animados pela Fé...

AOS
JOVENS, MOVIMENTOS ORGANIZADOS, ASSOCIAÇÕES DE MORADORES, TAXISTAS E MOTOTAXISTAS, ALUNOS DAS ESCOLAS MUNICIPAIS E ESTADUAIS, CONSELHOS TUTELARES, COMUNIDADE EVANGÉLICAS, SETORES ARQUIDIOCESANOS E COMUNIDADES EM GERAL.


A Coordenação ampliada do Setor 10, tem a honra de convidar todos os usuários dos sistemas públicos para participar de uma grande manifestação popular que acontecerá no dia 21 de Abril de 2012 (sábado), com início às 8h, em frente a Igreja Católica Bom Jesus – Av. Grande Circular, 7296 e com encerramento às 11h, na Av. Itaúba, Zona Leste.

Este ano a nossa caminhada tem como reflexão os temas: JUSTIÇA, PAZ e SAÚDE chamado atenção para a violência no trânsito, violência na família, a Lei da Ficha Limpa, saneamento básico, o sistema de saúde público precário e a política de abastecimento de água.

Em consequência disto irmão, você que se sente lesado e prejudicado por tantas desigualdades sócias que ocorrem em nossa cidade e especialmente na Zona Leste de Manaus, venha participar conosco trazendo faixas, banner e cartazes de repúdio a todas essas injustiças, e de forma criativa marcar e mostrar a tua e a nossa indignação. Nosso objetivo será chamar atenção e cobrar do poder público os nossos direitos que vem sendo desrespeitados.

Desta forma, na certeza de sua participação e articulação nesta manifestação, desejamos Paz de Nosso Senhor para toda sua família e amigos.

A Coordenação,

Maiores informações pelos contatos:
Fones: 3248-3060 / Setor 10 – Delmir: 9376-9106 / 8438-0418 – Jonatas: 9140-1475
Rua Papucaia, 38-A (antiga Dr. Nilo), Conjunto Arthur Virgílio / Jorge Teixeira IV
CEP 69088-102 – Manaus / AM

segunda-feira, 16 de abril de 2012

“Presidente Dilma, escuta os povos indígenas: Nós não queremos a hidroelétrica do Tamanduá!”

Fernando López sj (jflopezperez@gmail.com)
Arizete Miranda cns-csa (arizete78@yahoo.com.br)
Luis Valle (delgadov@gmail.com)

Com o grito “A luta continua... Unidos venceremos!!!”, iniciou-se na maloca de Maturuca (9-12/Abr/2012) o encontro dos tuxauas e lideranças da Região das Serras, Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS) - RR. Um total de 62 lideranças discutiram
diferentes assuntos importantes para a vida dos povos da região: Projeto de Gado e
outros projetos de sustentabilidade; desafios, problemas e soluções das comunidades,
fortalecimento da organização, os pelotões militares na TIRSS, etc. Especial atenção
se deu à comunidade de Tamanduá, junto ao rio Cotingo, onde o governo quer fazer
uma hidroelétrica que ameaça a vida dos povos e da biodiversidade regional.

A história de luta da TIRSS é longa. Na assembleia de Surumu (1971) crio-se a
organização. Em Maturuca (Abr/1977) tomou-se a grande “Decisão: Ou vai ou racha”.
O Presidente Lula homologou a TIRSS (Decreto 534 de Abr/2005). E o Supremo
Tribunal Federal (Ago/2009) deu a sentença definitiva a favor dos indígenas e contra
os arrozeiros, fazendeiros que durante anos invadiram e violentaram suas terras.


Encontro de Tuxauas e Lideranças em Maturuca, Região das Serras, TIRSS (Abr/2012). Fotos: L. Delgado

No encontro foi mostrado o I Seminário Mundial contra a Hidroelétrica de Belo Monte
e os Grandes Projetos na bacia do rio Xingu (Altamira - PA, Out/2011) e a forte luta
dos povos da região contra as barragens. Eles denunciam o Governo da Presidenta
Dilma e seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não respeita a vida
dos povos, das águas e das florestas da região, feridas de morte com as barragens.



Manifestações contra a hidroelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, Pará. Fotos: Arquivo CIMI2

Inspirados na luta dos parentes do Xingu e da própria história de luta, as lideranças
da Região das Serras posicionaram-se fortemente contra a proposta governamental da
hidroelétrica do Tamanduá: “Presidenta Dilma, escuta os povos indígenas: Nós não
queremos a hidroelétrica de Tamanduá!”.

Na visita a Tamanduá o tuxaua Hélio da Silva (37) explicou que hoje a comunidade tem
um total de 27 famílias com uma população de 178 pessoas; 1 escola de 1ª a 4ª série
com 32 alunos e 2 professores; 1 posto de saúde e 2 AIS; 1 igreja e 3 catequistas; 1
clube de mães com “corte e costura”. A comunidade conta com uma boa produção,
vários roçados familiares e comunitária, um total de 13 retiros com 652 cabeças de
gado, 93 cavalos, 47 carneiros, fora de outras criações de galinhas e picotes.


Centro da comunidade Tamanduá, junto ao rio Cotingo, Região das Serras, TIRSS. Fotos: F. López (2002) e L. Delgado (Abr/2012)

O tuxaua Hélio contou também a longa história de caminhada e luta da comunidade
contra os fazendeiros, garimpeiros e hidroelétrica do Tamanduá. Segundo ele a
comunidade é muito antiga, mas foi reconhecida oficialmente em 1995.
“Em tempos do tuxaua Constantino José Francisco (1989) iniciou a defesa da terra e
da cachoeira do Tamanduá. Os fazendeiros não deixavam caçar, pescar nem plantar
para conseguir o necessário para viver bem. Mandavam os capatazes destruir e
queimar as casas dos parentes com apoio dos soldados que estavam a seu serviço.
Além dos fazendeiros, os garimpeiros invadiam toda a região do rio Cotingo. E com
toda essa violência sofrida, os parentes não desistiram da luta e voltavam a construir suas casas e plantar suas roças.” Conta Hélio.

Segundo Hélio são várias as comunidades próximas que ficarão afetadas diretamente
pela hidroelétrica: Tamanduá, Tamanduá 2 (situada junto à cachoeira), Waromada,
Taboca, Caraparú III, Água-Fria, Cajú, Pedra Preta e outras. Além disso, será afetada
indiretamente toda a realidade socioambiental da região.

O tuxaua Hélio é firme na sua posição: “A comunidade de Tamanduá e as outras
comunidades da região são contra a construção da hidroelétrica do Tamanduá no rio 3
Cotingo. A barragem vai destruir a beleza de nosso rio e poluir suas águas, vai matar a vida dos peixes e dos animais que pescamos e caçamos, vai inundar nossas florestas e nossos campos onde fazemos nossos roçados e criações, vai alagar a terra onde
nascemos e onde estão enterrados nossos antepassados, vai nos afastar deste lugar e
com isso apagar a nossa própria história... Por que inundando a nossa mãe terra
afogará também a nossa própria vida.


Cachoeira do Tamanduá no rio Cotingo, Região das Serras, TIRSS. Fotos: Aldemir Macuxi e arquivo do CIR

Também foi denunciado que o Governo do Estado de Roraima fez propaganda
mentirosa fazendo um vídeo da região da cachoeira de Tamanduá sem mostrar as
comunidades, roçados, retiros, e criações que seriam afetadas pelo dito
empreendimento.

Um projeto muito interessante que a comunidade de Tamanduá está executando com o
apoio das comunidades da região é um “Centro de Produção” aproveitando a riqueza
dos recursos naturais da região. Com isto buscam ampliar e consolidar a ocupação da
área assegurando sua auto-sustentação.



Comunidade Tamanduá, área onde se está construindo o Centro de Produção, Região das Serras, TIRSS. Fotos: L. Delgado (Abr/2012)

Por último, é muito importante lembrar que no dia 20 de julho de 2011, o Deputado
LUIZ COUTO deu seu parecer como Relator do Projeto de Decreto Legislativo (PDC)
Nº 2.540/2006, sobre o aproveitamento dos recursos hídricos e dos potenciais 4
energéticos da Cachoeira do Tamanduá, no Rio Cotingo, na região das Serras da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima:
“Por fim, o Projeto de Decreto Legislativo, por ter como objeto o aproveitamento de
recursos hídricos dentro de uma Terra Indígena, exige, conforme o entendimento da
AGU, a aprovação de Lei Ordinária que estabeleça as condições específicas de tal
atividade, conforme o § 1º do art. 176 da Constituição Federal, e que regule tanto a
autorização do Congresso Nacional como a oitiva prévia das comunidades indígenas
afetadas, conforme dispõe o § 3º do art. 231 da Constituição Federal. Até o momento
não existe nenhuma Lei vigente com tal teor.

Sendo assim, no que toca à constitucionalidade, o Projeto de Decreto Legislativo
apresenta-se prejudicado, ferindo os artigos 176, § 1º e 231, § 3º da Constituição
Federal, além de possivelmente incorrer em ilegalidade, por contrariar a Convenção nº
169 da OIT.

Por todo o exposto, opino pela inconstitucionalidade do Projeto de Decreto Legislativo
nº 2.540/2006.”
Com este parecer claro do relator, os povos indígenas da TIRSS esperam que a
Presidente Dilma escute realmente sua voz: “Nós não queremos a hidroelétrica de
Tamanduá”.

O encontro de tuxauas e lideranças da Região das Serras da TIRSS terminou com o
mesmo “grito de guerra” que começou: “A luta continua... Unidos venceremos!!!”

domingo, 15 de abril de 2012

Quem tem medo de Deus?


Não existe pessoa que diga com sinceridade não ter sentido medo, pelo menos uma vez na vida. É uma reação natural tremer diante de perigos, ou reais ou imaginários. Trata-se de manifestação de nosso instinto de defesa.

Acontece, porém, que na maioria dos casos, somos medrosos por nada. Nossa imaginação cria perigos existentes só existentes na imaginação. Cada qual pode contar situações ridículas que podem ser narradas como anedotas. O repertório de casos semelhantes povoa o mundo do humor. Lembro-me de uma sábia senhora que afirmava que sofremos muito por causa de fantasias. Tememos o futuro nele criamos monstros. Ao fazer caminhadas matinais, meu andar rápido já chegou a assustar pessoas que me imaginavam um assaltante, ou sei lá o que. Sem desejar, já fiz muita gente ter medo.

Neste segundo domingo da Páscoa lemos um trecho do Evangelho de João (Jo 20, 19-31) que toca nesse assunto. Coloquemo-nos no lugar dos discípulos de Jesus por ocasião da prisão, condenação e morte do Senhor. Tinham certeza que o Mestre era o messias poderoso, futuro rei de Israel, soberano político e religioso. Quando o viram preso, fugiram para salvar a própria pele e ficaram escondidos. Só um deles acompanhou Jesus até o desfecho da crucifixão. Se o medo foi grande até aquele momento, imaginemos o pavor por qual passaram no domingo ao ver o morto aparecer-lhes em carne e osso, vivo como nunca. Lucas diz que “eles ficaram assustados e cheios de medo” (Lc 24, 37). Mas, Jesus não era um morto que vinha apavorar os vivos. Ele era vivo e todos podiam tocar-lhe as mãos marcadas pelas feridas da cruz e o lado transpassado pela lança do soldado romano. O medo dos discípulos desapareceu diante da realidade do ressuscitado. Para acalmá-los, disse-lhes como primeiras palavras “a paz esteja com vocês”, em hebraico “Shalon”.



Nossos medos geram angústias e serão nossos companheiros vida a fora. A saída está em encontrar alguém que nos dê sabedoria para descobrir a existência ou não do perigo, e nos conceda força e coragem para superá-lo. Esse alguém é Jesus ressuscitado, presença viva e forte.

Para todos desejo shalon, paz.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus

sábado, 14 de abril de 2012

Quebra cabeça jurídico


Nesta manhã de sábado, a partir da análise das consequências da decisão do Supremo Tribunal Federal - STF assegurando o aborto de fetos com anencefalia, pensei no seguinte quebra-cabeça:

Uma mulher remediada casa-se por amor (verdadeiro) com um homem muito rico, mas por imposição da família, que a tratava como uma aventureira, essa mulher honesta para fugir da pecha de interesseira decide com o marido casar-se em regime total de separação de bens. Passado algum tempo após o casamento, essa mulher engravida e, antes de realizar o primeiro ultrassom, o marido rico morre em um acidente trágico sem deixar testamento. O pesar toma conta dessa jovem mulher, que se agarra ao fato de ter em si um pedaço do marido, fruto desse amor que a acompanhará doravante. A família do marido morto, que nunca a suportou, devido a gravidez decide que a mesma continue a morar na casa confortável, usufruindo de todos os bens materiais antes disponíveis a ela (talvez por uma mera condescendência moral). No entanto, ao realizar o primeiro ultrassom, os médicos notam que existe algo errado no feto, cujos exames revelam o assustador diagnóstico de que o bebê é anencéfalo. A família do marido, face a perspectiva da possibilidade aberta pelo STF, aproxima-se da mãe tentando convencê-la a abortar, com o argumento que o bebê está morto em seu ventre e que continuar a gravidez é um sofrimento.

A jovem mãe inicialmente fica em dúvida se deve ou não aceitar a proposta da família do rapaz, mas, por natureza exclusivamente sentimental, decide que irá gestar a criança. Porém, a partir desta decisão a família declara que não irá dar mais o apoio a jovem mulher e entra com uma ação de despejo para que esta abandone a casa do marido, que não lhe pertence, dentre uma das justificativas alegadas é que o bebê em seu ventre, baseado no entendimento do STF, está morto. A jovem mulher desesperada, sem o amparo que tinha do marido (agora morto), decide procurar ajuda de um advogado.

Para quem é um pouco mais leigo no direito do que eu, vou explicar brevemente qual é o entrave jurídico (perdoe-me se em algum momento eu equivocar-me, pois o direito não é minha praia). O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 4o., declara que a personalidade civil está assegurada no nascimento com vida, ou seja, se durante um breve tempo tendo o bebê respirado, ele adquire todos os direitos legais de ser filho do pai que tem (ou teve, neste caso). No entanto, enquanto no ventre da mãe, a lei garante o direito do nascituro, ou seja, assegura que ele não pode ser morto, o que tipifica o crime de aborto quando praticado fora do que hoje permite o ordenamento jurídico brasileiro (gravidez por estupro ou risco de vida a mãe).

De maneira objetiva, antes do decisão do STF não restavam dúvidas que a situação descrita neste quebra-cabeça, mesmo a criança nascendo e vivendo por breves instantes, torna-se automaticamente herdeira de todo o patrimônio do pai morto e, após respirar e vir a falecer transforma a mãe (essa pobre mulher achincalhada pela família do marido morto) em herdeira universal de todo o patrimônio, não cabendo absolutamente nada aos pais do marido (herdeiros ascendentes).

O advogado dessa mulher entra com um mandado de segurança com um pedido liminar para que a mãe continue a morar na casa do marido morto, baseando-se no direito do nascituro (ou seja, do bebê em seu ventre). Todavia, a família do marido contrata renomados advogados que refutam que haja direito do nascituro, baseando-se na decisão do STF, alegando que não existe direito já que o bebê não pode ser considerado vida. Assim, tanto faz vir ao mundo e respirar, pois jaz morto no ventre da mãe, somente esperando o enterro no final da gestação, como reiterado por vários ministros do STF durante o polêmico julgamento.

Bem, agora ponha-se como o juiz que irá julgar todo este imbróglio, mas não desejo nenhuma erudição jurídica sobre o caso, mas uma opinião como leigo (se assim o fores). Peço apenas que reflita que os direitos do nascituro, nos casos de anencéfalos, antes tão cristalinos, agora estão turvos por essa decisão desleixada e irresponsável do STF.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Onde foi parar o conforto do passageiro?

Adoro viajar, mas detesto as horas dentro de um avião, principalmente neste novo jeito de voar inventado com baixo custo (para quem eu não sei), que entrega poltronas desconfortáveis, com pouco espaço para movimento, nas quais relaxar é impossível. No entanto, nada que seja ruim que não possa ser piorado.

A Gol agora está vendendo o serviço de bordo, fato que constatei no voo de São Paulo a Aracaju na semana passada, cujo tempo de pouco mais de duas horas foi insuficiente para que todos os passageiros fossem atendidos adequadamente (aqueles que se prontificaram a adquirir o lanche). Na verdade, um voo lotado e com duas equipes (uma em cada ponta do avião), não conseguiu se entender com as tarefas de: oferecer, entregar e cobrar.




Eu estava na poltrona número onze, de um Boieng 737-800, com capacidade para 187 passageiros, ou seja, eu estava no meio da aeronave, justamente seria um dos últimos a serem atendidos pelos comissários. Fiquei observando as equipes trabalharem, quando notei que começou a faltar um dos sanduíches do cardápio em um dos carrinhos, o que obrigou o comissário a cruzar toda a extensão do avião para buscar os sanduíches no carrinho da outra equipe (passando por mim que estava no meio da aeronave, conforme foto do comissário com sanduíches nas mãos). Assim, isto somente acarretou mais demora no atendimento, demonstrando que iniciaram este tipo de serviço sem o mínimo de estudo de demanda. Outro ponto importante a salientar é que não me agrada aquele que serve o alimento manipular o dinheiro, critério minimo de higiene cumprido por qualquer boteco organizado.

Quando finalmente chegou a minha vez, o comandante já havia anunciado procedimento de descida, ou seja, faltavam trinta minutos até que o avião tocasse o solo. Eu pedi um “sugestão do chef” (sanduíche de pão de leite, queijo parmesão, queijo cremoso, peito de peru e queijo gruyère), que tinha acabado, ficando para mim a opção de ser forçado a escolher o “especial” (sanduíche tipo ciabatta, queijo cremoso, salame e queijo prato), ao preço de R$ 12,00. Além de nada especial, tive que engolir o pão, equilibrando o copo de suco que pedi sob a ameaça de cair sobre mim, pois o avião começou a descer vigorosamente, considerando ainda que tive que travar a mesinha do avião para minha própria segurança.

Enquanto eu gravava todo o procedimento de meu atendimento, fui admoestado pelos comissários que pediram para que eu apagasse o vídeo, extrapolando suas competências ao invadir a minha privacidade, minha liberdade como consumidor e como cidadão. Logicamente o pedido de apagar não teria sido feito se o serviço de bordo tivesse transcorrido a contento, mas como estava repleto de falhas, tal registro dá respaldo a esta crítica que agora escrevo. Não apaguei, mesmo porque minha intenção é que por meio desta crítica as empresas aéreas adotem o mínimo de bom-senso e respeito pelo consumidor.



Acredito que a ANAC deva interferir, ou ajustando os erros para que a venda de alimentos siga alguns critérios de qualidade, ou que essas empresas simplesmente retornem com a distribuição das famosas barras de cerais, que não matam a fome, mas também não nos fazem morrer de raiva.

Como eu disse, nada que seja ruim que não possa ser piorado.

João Lago
Administrador e professor

domingo, 1 de abril de 2012

Uma semana rica...


Iniciamos hoje a Semana Santa com as cerimônias que recordam a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Em nossa igreja teremos palmas bentas nas mãos e, entre cantos e orações reviveremos aqueles momentos de glória. Em seguida, participaremos da Missa, cujas leituras bíblicas nos lembrarão que tudo é passageiro, pois cinco dias depois aquele festejado Senhor passaria pela condenação e morte de cruz.

Como faz bem saber que a multidão muda conforme a direção do vento! O herói de hoje pode ser o bandido de amanhã, o líder ovacionado de agora poderá ser o xingado em momentos posteriores. Como se enganam os maníacos por grandeza ou fama! Como diz o Eclesiastes: “vaidades das vaidades, tudo é vaidade” (Ecl 1,2).

No caminho de Deus muitos estão com Ele enquanto as coisas andam bem e tudo é glória; poucos têm coragem de segui-lo na dureza dos sofrimentos. Na quinta-feira santa, à tardezinha, começaremos as celebrações da Páscoa. Vamo-nos reunir para lembrar da última ceia, quando Jesus lavou os pés de seus discípulos, deixou o mandamento do amor fraterno e instituiu a Eucaristia. A lembrança também abrangerá a agonia no Jardim das Oliveiras, a traição de Judas, a prisão e a noite de horrores nas casas de Anás e Caifás. O lava-pés fala fortemente da necessidade de estabelecer na igreja e na sociedade relações não de prepotência, mas de serviço. Quando existe respeito pela dignidade do outro, solidariedade e humildade, desaparecem a violência e as guerras.

A Eucaristia é o dom máximo de Deus que se faz presente em nossas vidas e se doa como força na existência humana. Na sexta-feira, pela manhã, o caminho do Calvário (via sacra) reviverá passo a passo os momentos da paixão, desde a condenação pelo tribunal romano até a ressurreição. É um ato de piedade que nos torna mais próximos do Senhor. A tarde será o sepultamento. Na noite do sábado para domingo, a certeza da vitória de Jesus sobre a morte e a garantia que ele vive povoarão momentos celebrativos.

Ressuscitou é o grito dos que sabem que nosso Deus vive e nos faz participar de sua vida. Que tal vivermos esses ensinamentos?

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus