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terça-feira, 23 de abril de 2019

Eu sei o que vocês fizeram no verão passado

O título desta resenha faz menção a uma película de 1988 na qual um grupo de adolescentes cometem um crime. Passou o tempo e esses jovens seguem suas vidas, cada um para um lado, mas em um dado momento, quando finalmente reencontram-se, recebem um bilhete com a seguinte frase: “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”. Daí em diante, um por um, vão sendo eliminados pela mão vingativa de um gancho de pescador.

No verão de 2014, mas precisamente no dia 17 de março, foi deflagrada a Operação Lava Jato que desnudou empresários e políticos em uma rede de corrupção que hoje somam mais de duzentas condenações e mais de três séculos em anos de prisão. Neste mês de abril, o desfecho trágico de um suicídio de um político envolvido na corrupção promovida pela Odebrecht ganhou as manchetes de portais no Brasil e no mundo. Porém, antes que se creia que a vergonha de ser corrupto leve um político a tirar a vida no Brasil, não se iluda, quem se matou foi o ex-presidente do Peru Alan Garcia. No âmbito da América Latina, a construtora brasileira Odebrecht tornou-se desde 2001 uma multinacional que é sinônimo de corrupção e cuja reputação está enlameada de tal sorte que não creio que se possa lavá-la com jatos de probidade em futuro próximo. Essa construtora, enquanto houver desdobramento da Lava Jato, está a assombrar algumas almas aqui e no exterior.

Terminou o verão no hemisfério sul e uma nova classe de assombrados foram incluídos no fantasma da Odebrecht, tratam-se de ministros do Superior Tribunal Federal – STF. Uma notícia que poderia até passar despercebida, publicada em dois periódicos eletrônicos quase que desconhecidos do grande público (Antagonista e Crusoé), ganharam notoriedade ao serem censurados pelas canetas dos Ministros do STF José Antônio Dias Toffoli e Alexandre de Moraes. Se a intenção era abafar a notícia, o remédio apresentou um severo efeito colateral e hoje fica difícil censurar as inúmeras menções, nas mais diversas mídias, que citam quem é o dono do codinome “amigo, do amigo de meu pai”. Foram tão duras as reações nas diversas esferas institucionais da república que a censura do STF não durou trinta dias, mas ainda se espera a revogação da investigação conduzida pelo STF que pasmem, ainda há de ser o julgador, ao que alguns dizem ser perseguição inquisitória, que o STF promove na busca de fazer calar os seus críticos.

A Lava Jato é como um cemitério clandestino que a cada corpo retirado descobre-se a história que há por detrás daquele assassinato e como foram muitos os corpos sepultados, e tão longas são as autópsias, que deixam os culpados pelos delitos assombrados com a possibilidade do próximo cadáver possa ser vinculado a sua confortável vida atual. E é justamente por causa disto que alguns teimam em desacreditar a Lava Jato e desejam muito encerrá-la com a desculpa que os principais culpados já foram punidos e o que sobrou assemelha-se a uma caça as bruxas (algumas milionárias, ou em altos cargos da república). Porém, aqui não se trata de pessoas com a consciência pesada, cheias de vergonha do que fizeram e desejosas de absolvição. Muito pelo contrário, pois quando descobertas não botam uma bala na cabeça temerosas pela desonra, mas enchem o peito e usam o prestígio, ou o dinheiro acumulado no butim, para escapar da prisão.

A sociedade brasileira sabe o que vocês fizeram no verão passado, esteja no poder executivo, legislativo ou judiciário e enquanto tivermos a democracia e a imprensa livre muitos esqueletos ainda serão exumados dessa cova rasa.

João Lago