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terça-feira, 13 de junho de 2023

A sabedoria da Coruja e o veneno do sapo


Certo dia na floresta, a cobra e o escorpião, incomodados com a pecha de associa-los como bichos traiçoeiros resolvem buscar ajuda com o animal mais sábio da mata, a senhora coruja.

Esperaram o anoitecer e quando a Coruja despontou no alto de uma árvore foram ao seu encontro.

A Coruja logo que os viu ensaiou voar, mas a cobra logo gritou:

- calma dona Coruja, viemos só para conversar.

A Coruja ressabiada retrucou:

- ok, ok. Mas não carece de avançar mais, falem daí qual é o problema.

A cobra balançando o seu guizo em contrariedade logo reclamou:

- o problema é justamente este, todos quando nos vêem correm de nós como se sempre estivessemos prontos para atacar. Nem a onça, tão pouco o jacaré causam tanta repulsa.

A Coruja percebendo a angústia de ambos disse:

- colegas, o problema é essa droga poderosa que vocês carregam que mete medo. De uma mordida de onça ou jacaré é até possível sobreviver, mas de uma mordida ou picada de vocês é morte na certa.

O escorpião, usando toda a sua erudição, perguntou:

- então como fazemos para quebrar esse paradigma?

A Coruja sacudindo as asas em uma expressão de reflexão freudiana perguntou?

- já pensaram em caçar sem se utilizar do veneno de vocês?

A cobra e o escorpião se entreolharam e quase que em coro disseram:

- impossível.

Mas por quê? perguntou a ave sábia da noite.

- nascemos e fomos ensinados a caçar assim, não há um bicho na floresta que tenha veneno e que não o use para caçar.

A Coruja desafiada em sua sabedoria disse:

- pois bem, ides até a lagoa e procurem o Sapo-ponta-de-flecha, conversem com ele, porque apesar de ser venenoso não o utiliza para caçar. Aliás, como todos os sapos, usa sua língua para capturar os insetos que o alimenta.

Satisfeitos com a dica da Coruja seguiram a cobra e o escorpião para conversar com o batráquio na lagoa.

Chegando lá, encontraram um minúsculo sapo colorido sentado sobre uma pedra a capturar formigas e cupins no jantar.

Quando se aproximaram e o sapo os avistou, antes mesmo que dissessem a que vieram, o sapo assustado lançou seu mortal veneno sobre o olhos e boca do escorpião e da cobra que em questão de minutos pereceram.

Eis que lá no alto de uma árvore, a Coruja que tudo observado suspirou:

Na vida uns carregam venenos para caçar, outros os possuem para se proteger, mas não importa os fins do porte de uma arma mortal, em algum momento em sua vida haverão de experimentar ou imputar sofrimento ao próximo.

João Lago