Powered By Blogger

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Igreja Católica é o armário dos gays?

Em 2010 quando visitei a cidade colombiana de Cali, caiu em minhas mãos uma reportagem da Revista Semana sobre as declarações do padre Gérnán Robledo, ex-presidente do Tribunal Eclesiástico de Cali, cujo título da matéria era: “La Iglesia Católica es el clóset de los gay” (A Igreja Católica é o armário dos gays,em tradução livre). Padre Robledo faz duras críticas a ordenação de padres afeminados, com tendências homossexuais e aponta desvios de comportamento envolvendo parte do clero de Cali, no qual (segundo suas afirmações) 30% são gays.

Pelo motivo de minha proximidade com a Igreja, tendo como amigos vários sacerdotes, algumas pessoas, apóstatas ou não, já me inquiriram sobre o porque da existência de padres afeminados, ou melhor dizendo, porque que a Igreja Católica permite a ordenação de sacerdotes nitidamente “afetados”. Alguns chegam inclusive a afirmar que o sacerdócio, por causa do celibato, não é atrativo para padres “machos”. A minha resposta sempre é: na concepção plena do sacerdócio não existe padres gays, tão pouco padres machos, existem tão somente padres. Quero dizer que um homem ao escolher seguir a Cristo como sacerdote da Igreja Católica, não é importante sua tendência de comportamento sexual, haja vista que esta questão deverá ser sublimada pela própria abstinência ao sexo que o ofício exige. Isto posto, seguindo o cumprimento desta norma, pouco importa a aparência, mas a essência que esse homem possui. Devemos levar também em consideração que a Igreja Católica é firme em seus princípios e dogmas, tanto que sabemos que alguns grupos apóstatas a contestam, mas em tese a igreja não discrimina quem quer que seja. Pertencer à igreja como religioso, ou como leigo, é feito por adesão voluntária, sendo atribuída a responsabilidade aos sacerdotes em orientar os fieis no caminho da santidade. Portanto, nada mais natural que se exija do clero um comportamento inspirador, como  modelo de virtudes digno de serem representantes de Cristo nas comunidades católicas.

Quando falamos de santidade, que é um termo que pode parecer pretensioso para alguns, apenas se deseja que o fiel siga os ensinamentos de Cristo, livrando-se do pecado, embora sabemos que se fosse fácil ser santo, não haveria altares suficientes para colocá-los todos, considerando que a igreja é feita de gente, não simplesmente de pedra. Assim, em alguns países nos quais a religião foi proscrita, e os templos se transformaram em heranças arquitetônicas, a identidade cristã subsistiu com forma de resistência, e o povo manteve-se coeso na orientação dogmática, como foi o caso da igreja no Leste Europeu,  da qual saiu João Paulo II, o papa mais carismático da história recente. Isto não teria acontecido se não houvessem religiosos inspiradores.

No entanto, retornando as afirmações de padre Robledo, o problema maior é quando o clero finge não perceber, ou acoberta os desvios de comportamento de seus membros. Dentre os exemplos citados pelo padre colombiano está o caso de um sacerdote pedir dinheiro para os pobres, mas que na verdade o gasta na contratação de garotos de programa. Neste mesmo patamar, seria igualmente reprovável um religioso buscar o serviço de prostitutas, ou levar um vida dupla com mulher e filhos, como foi o caso de Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai e ex-bispo católico. Talvez para o caso de Fernando Lugo possa haver certa condescendência, mas na essência são idênticas transgressões. Ainda hoje ser sacerdote é uma oportunidade de acessão social, considerando que todos os longos anos de estudos que formam um padre são custeados pela igreja. Do mesmo modo, quando ordenados, ganham papel de destaque em uma comunidade católica, sendo atualmente raro o caso de um sacerdote ser expulso da igreja por conduta indevida.

Desta forma, considerando as características: facilidade de adesão, status, estabilidade, ausência de discriminação e impunidade, não somente na igreja católica, mas em qualquer outra instituição, a corrupção dos princípios pode ocorrer com maior frequência. Não por acaso citei o caso do ex-presidente Paraguaio que caiu não pela corrupção na política, mas pela corrupção aos princípios que o fizeram um homem respeitável e dígno da admiração e dos votos dos paraguaios.

O celibato está longe de ser a única razão para a tendência de adesão de “homens afeminados” ao sacerdócio. Talvez o que haja hoje em dia é uma crise de identidade do ideal humano aos princípios cristãos, pois viver em santidade é humanamente utópico, mas dever ser perseguido como princípio de vida para uma igreja santa e pecadora.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

Para ler a entrevista do Pe. Robledo, acesse o link: http://www.semana.com/nacion/problemas-sociales/articulo/la-iglesia-catolica-closet-gays/106100-3

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Quaresma e campanha da fraternidade

Iniciaremos no dia 13 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, nossa caminhada quaresmal rumo à Páscoa. É um dos tempos mais preciosos que a igreja nos oferece para a conversão pessoal, familiar e comunitária. As palavras pronunciadas por Jesus no início de seus três anos de pregação (“Arrependei-vos e crede no Evangelho”- Mc 1,14) serão repetidas na cerimônia de cinzas e deverão ecoar forte e continuamente pelos dias que precedem a Semana Santa.

Precisaremos celebrar a Páscoa com o coração e a mentalidade de Jesus, para isso exige-se retorno integral a Deus com o afastamento de tudo o que desvia a pessoa, a família e a comunidade dos caminhos da salvação. O documento escrito pelos bispos latino-americanos em Aparecida insiste na conversão pastoral das dioceses, paróquias e comunidades, bem como de cada um de nós, sejamos bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, leigos e leigas. Mas a conversão pastoral exige antes de tudo a conversão individual. Nada se muda, se não se muda a pessoa. Os comunistas tentaram transformar a sociedade e não conseguiram porque se esqueceram disso.

A fé compreendida como aceitação de Jesus na própria existência e, como consequência, transformação no Cristo (“já não sou eu que vive, mas é Cristo que vive em mim”) faz deixar de lado qualquer tipo de vida errada para abraçar outro tipo de vida marcado pela união com Deus. Se quisermos ser cristãos entusiastas de nossa fé, convertamo-nos de coração e mente.

No mesmo dia do início da Quaresma, abriremos a Campanha da Fraternidade, que nos ajuda a buscar caminhos de conversão nos relacionamentos familiares, comunitários e sociais. Neste ano o tema será “Fraternidade e Juventude” e o lema baseado em Isaías 6,8 é: “Eis-me aqui, envia-me”. O secretário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Leonardo Steiner, escreveu: “A igreja no Brasil, ao repropor juventude como tema as Campanhas da Fraternidade, nesse tempo de mudança de época, deseja refletir, rezar com os jovens, representando-lhes o Evangelho como sentido de vida. Que eles se deixem encontrar por Jesus, caminho, verdade e vida”.

E que assim seja!

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Casamento de Tayra e Alex

Nesse último sábado (19.1), na Igreja de São Marcos que está localizada no Conjunto Santos Dumont, houve a celebração do matrimônio de Tayra Vieira Jatobá e Alex Marcelino De Paula.

A celebração ocorreu às 20h, sendo celebrada pelo padre jesuíta Guillermo Cardona Grisales e os noivos recepcionaram os convidados no Buffet Celebration, localizado na Rua Natanael Albuquerque 143, também no Conj. Santos Dumont.

A celebração do casamento de Tayra e Alex contou com o talento da equipe da liturgia que contribui para que a felicidade dos noivos fosse completa. Aos noivos desejamos felicidades e que essa união abençoada por Deus siga inspirada pelos votos de amor que ambos proclamaram no altar.

Confira abaixo o ensaio musical da pastoral da música da Igreja de São Marcos.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O mundo é dos espertos


Neste início de ano estive em uma invasão no Tarumã, que é um bairro de Manaus que ainda possui grande área de mata natural, por isto tão sujeita ao que se chama por “indústria das invasões”. O local que visitei é inóspito,  insalubre, desumano e o esgoto corre a céu aberto e as instalações de energia elétrica e água potável são precárias. Fui nessa invasão para visitar um amigo que conheci há cinco anos, em uma época que apesar de pobre, vivia em condições melhores com sua mulher, um filho e uma enteada. Moravam de aluguel em uma casa de madeira, mas resolveu apostar que ocupando um lote em uma invasão logo ganharia uma casa do governo.

Esse amigo tinha perspectiva de melhoria de vida, principalmente quando voltou a estudar e formou-se em geografia, talvez por minha insistência em dizer-lhe que a fórmula da ascensão social do pobre ainda passa pelo estudo (Joaquim Barbosa que o diga), muito embora exista uma forte corrente que prega que o sucesso pode ocorrer por acaso, em estar no local certo, na hora exata e ter a uma aptidão específica, ou muita cara-de-pau. Assim, esse amigo quando ficou desempregado e sem condições de pagar o aluguel, achou que a melhor saída seria, seguindo outros tantos acostumados a esta esperteza,  invadir um terreno alheio e crendo que era provisório, mas já faz quase dois anos que está morando em um barraco com paredes de lona. Achou que bastava querer, estar em evidência e contar com a sorte. Talvez consiga, mesmo que amargue mais algum tempo, pois promessa de regularização por políticos “espertos” em época de eleição não faltaram.

Nessa corrente de ser esperto e querer se dar bem em pouco tempo é que se enquadram políticos de ocasião, Geyse Aruda, os BBBs, meninas fantásticas, marias chuteiras e, mais recentemente, aqueles que postam vídeos na internet em alguma situação que faça rir, mesmo que seja uma piada de gosto duvidoso. Optar por uma fórmula de sucesso rápido é mais aceitável do que alguns longos anos de trabalho árduo e estudo. No entanto, o afã de uma conquista rápida dos desejos materiais que são ícones de sucesso, principalmente em uma sociedade que idolatra o consumo, podem levar aos desvios morais e éticos reprováveis, como agir fora da lei, viver da prostituição, descambar para a corrupção etc.

Apesar de óbvio que a pressa possa motivar atitudes pouco louváveis ou irresponsáveis, parece ser verdade que o imediatismo está completamente enraizado, agindo como uma erva daninha pronta a infestar mesmo um bom coração. É justamente nesta corda bamba que se equilibra o ético/moral e o ético/relativismo. O que é ético/moral não precisa de apresentações, pois a ética deriva da moral vigente, que por sua vez baliza-se na cultura que cria os paradigmas de uma sociedade. Já o ético/relativismo é uma aberração porque deriva de uma ética torta, ou melhor dizendo, não tem base na moral coletiva e busca, conforme a situação, encontrar mecanismos que justifiquem o injustificável. É exemplo disto, o pastor que faz uma oração sobre um dinheiro que ele sabe vem de corrupção; o aluno que faz um plágio de um trabalho, ou prepara ciosamente uma cola, parecendo desconhecer que isto se trata de uma fraude não muito diferente daquela que compra um diploma, haja vista que o resultado é o mesmo, ou seja, um curso superior fraudado; a propina para o guarda de trânsito e toda sorte “pequenos delitos” escusáveis, pois toda a esperteza não seria castigada.

O mais irônico nisto tudo é que iniciei esta resenha relatando a desaventura de um alguém que se submete a viver em condições subumanas para conseguir uma casa no grito. No entanto, em uma distribuição de casas do programa “Minha Casa Minha Vida”, na Zona Norte de Manaus, conheço quem tenha colocado sua casa a venda, mesmo antes de recebê-la. Não é que não precise do imóvel, pois mora de favor com a família na casa de parentes, mas não vê nada de mais negociá-lo, porque é longe, distante do trabalho e da escola dos filhos. Espera com o dinheiro conseguir comprar algo mais próximo de onde atualmente mora. Que mal há nisto?

O mal é o relativismo que entorpece a ética e, nisto tudo, chego a conclusão que a esperteza parece ser um atributo mais bem distribuído no Brasil, com uma maioria a exercê-la por conveniência, pois aquele que não a usa corre o risco de ser chamado de tolo.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

domingo, 13 de janeiro de 2013

Existem cientista e existem cientistas


Apareceram, ultimamente, em jornais escritos, falados e televisionados, notícias que alardeiam avanços científicos tão grandes que não precisamos de Deus para compreender o universo, nosso planeta, a natureza e tudo mais.

Muitas pessoas ficaram impressionadas ou mesmo abaladas em sua fé. A arrogância de certos comentaristas arvorados em grandes cientistas transmitiu uma certeza espantosa. Sirva como exemplo a descoberta do bóson de Higgs que foi anunciada como a morte de Deus. Passados os primeiros momentos, todos eles cheios de euforia, os cientistas mais sérios colocaram as coisas em seus devidos lugares. Salvador Nogueira escreveu para a revista Superinteressante de agosto de 2012 um artigo sobre o assunto com o título “O bóson de Higgs não deu para o começo”. Nele, o autor expõe o avanço da descoberta feita pelos cientistas do Centro Europeu de Física de Partículas (CERN) e os benefícios que daí decorrerão para as ciências. Realmente foi uma grande façanha. Mas, a sinceridade dos cientistas os faz confessar que a teoria da função do bóson explica exatamente 4,6% de todo o conteúdo do universo. Falta explicar a matéria escura e a energia escura. Agora falando só entre nós, por que alardearam tanto a morte de Deus? 4,6% é muito pouco. Mesmo quando explicarem os restantes 95,4% do universo, não terão dito de onde proveio tudo que está por aí.

A revista Ultimato de setembro-outubro 2012 publicou artigo do professor de física da Universidade Federal do Rio de Janeiro que trabalha no CERN, Cláudio Lenz César. O título do artigo é “Não conhecemos 90% do que compõe o universo”. Lemos nele que “finalmente, cabe ressaltar que a física sabe muito pouco sobre a natureza”. Se o conhecimento atual convida os cientistas à humildade, causa nojo a atitude de pretensos entendidos que se julgam donos do saber.

Que as ciências progridam é o desejo de todos porque os segredos da natureza não estão aí para serem escondidos, mas para serem descobertos em benefício da humanidade. Paulo escreveu que “a ciência incha; é o amor que edifica. Se alguém julgar saber alguma coisa, ainda não sabe o que deveria saber” (1 Cor 8, 1-2).

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus

domingo, 6 de janeiro de 2013

Os reis magos a caminho de Belém


Nos primeiros tempos de suas existências, as comunidades cristãs falavam a língua grega e por isso usavam, não a Bíblia hebraica, mas a grega e os escritos do Novo Testamento foram redigidos naquele idioma. O latim e as demais línguas apareceram só alguns anos depois em nossas celebrações. Aí se explica porque ainda hoje a Igreja conserva palavras gregas. Um exemplo temos na festa de hoje, conhecida como dos Reis Magos, mas cujo nome exato é Epifania do Senhor.

Epifania significa manifestação divina e é a festa em que lembramos três momentos em que Jesus se revelou como o Filho de Deus e Salvador.  O primeiro momento é a visita dos magos ao Menino de Belém  (Mt 2, 1-12). Os magos, que não eram reis, nem feiticeiros, nem mágicos, mas sábios orientais, viram uma estrela no céu e sentiram um chamado a se nortearem por ela, porque encontrariam o rei dos judeus que acabara de nascer. Seguiram o astro que desapareceu ao chegarem em Jerusalém. Perguntaram pelo lugar onde poderiam achar a criança, mas ninguém, nem o rei Herodes, nem o povo, sabia do acontecimento. Foi aquela perturbação na cidade e no palácio real! Consultada as Sagradas Escrituras, os visitantes rumaram para Belém e a estrela reaparecida os levou ao encontro do Menino Jesus com sua mãe.  Após prestarem suas homenagens, regressaram a suas terras por estradas indicadas por anjos.

O estudo da natureza e a leitura da Bíblia ajudaram os magos a chegar à casa onde se encontrava a criança, mas a presença da salvação em Jesus só aconteceu-lhes quando eles “entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe, ajoelharam-se diante Dele e o adoraram”. Jesus é a presença de Deus que veio salvar a todos os povos, raças e pessoas, sem discriminação.

Os outros dois momentos da festa da Epifania são o Batismo de Jesus realizado por João e a transformação da água em vinho, nas bodas de Caná. Dois fatos da vida do Mestre que revelaram a  João Batista e aos discípulos quem era o Homem de Nazaré, que começava a anunciar um Reino em que a lei é o amor e Deus está mais próximo de nós do que podemos imaginar.

Como nossa sociedade precisa vê-lo assim!

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus