Nesses últimos dias de novembro foram preenchidos por acontecimentos tão grotescos que assombram pela estupidez de seus protagonistas. O primeiro (25/11) foi a chacina que vitimou três professoras e uma estudante de apenas onze anos em Aracruz – ES. O assassino de 16 anos, fantasiado de guerrilheiro, usava a suástica nazista como adereço macabro, demonstrando simpatia por uma ideologia que foi capaz de produzir as maiores atrocidades em escala industrial já conhecidas contra o ser humano. A investigação policial encontrou em uma rede social do padrasto do atirador uma postagem do livro Mein Kampf (em português: Minha Luta) de autoria de Adolf Hitler, no qual ele expressou suas ideias antissemitas, anticomunistas, antimarxistas, racistas e nacionalistas, cuja obra pode ser considerada a bíblia de extrema-direita no mundo.
O maior problema da exposição sensacionalista desses tipos de crimes é que servem de inspiração para mentes perturbadas que as aguardam como uma centelha para explodir desejos assassinos. Foi o que noticiou a imprensa mineira ao relatar que uma denúncia anônima desarticulou o planejamento de um massacre em Ubá-MG. Um adolescente de 14 anos portando um machado e um martelo foi apreendido pela Polícia Militar dentro da escola municipal da cidade e confessou o seu instinto assassino em um bilhete encontrado consigo que dizia: “Vou fazer um massacre com um machado e um martelo”.
Outra ocorrência policial que considero de extrema gravidade foi a invasão de uma casa em Cuiabá-MT, gravada por câmera de segurança, na qual um delegado da polícia civil com arma em punho e acompanhado de dois agentes portando fuzis, ameaçou dar um tiro na cabeça de uma mulher na frente do marido e da filha de quatro anos. Descontrolado o delegado gritava: “Deita no chão, desgraçada (…) Da próxima vez que ela chegar perto do meu filho, eu vou estourar a cabeça dela. Eu vou explodir a cabeça dessa filha da p*t*”.
O motivo de tamanha violência seria supostamente um descumprimento de medida protetiva que previa o afastamento dessa mulher do enteado do delegado invasor. No entanto, devido esses acontecimentos anteriores envolverem menores de idade e, portanto, correrem em segredo de justiça, não é público saber quais os motivos das divergências entre as partes, mas nada justifica a violência contra uma família que ao abrigo de seu lar foi violentada em sua dignidade moral e emocional com possíveis consequências psicológicas para uma criança de apenas quatro anos. Todavia, existe outra provável vítima dessa violência, o adolescente enteado do delegado, porque recebe como exemplo de solução de conflitos o uso de força desproporcional, a agressão e a violência premeditada motivada por vingança.
É correto dizer que as câmeras de segurança foram essenciais para a identificação do assassino em Aracruz - ES, assim como evidenciar o abuso de autoridade do delegado. Em relação a ação policial desastrosa em Cuiabá, se a mesma tivesse ocorrido em uma casa humilde, ou mesmo em uma residência sem monitoramento, as ameaças de morte poderiam ter sido negadas e haveria dúvida com quem estaria a verdade. Policiais que agem a margem da lei são contra utilizar câmeras nos uniformes pelo simples fato de desejar a impunidade para os seus abusos e deixar encoberto seus crimes. Os bons policiais não temem as câmeras porque lhes conferem segurança jurídica por afastarem acusações de violação de direitos humanos. Observem que os direitos humanos que muitos dizem ser somente para bandidos, também vestem essa família de Cuiabá, assim como a minha, a sua e de qualquer cidadão, seja rico ou pobre, dando agasalho contra o abuso de autoridade e dos atos criminosos dele decorrente.
Nos casos aqui relatados, os profissionais da psicologia poderão investigar o quanto da convivência de pai e padastro pode ser, ou pôde ter sido deletéria na construção da personalidade dos adolescentes envolvidos. Outro ponto de reflexão e que as consequências em Ubá poderiam ter sido catastróficas se aquele adolescente tivesse acesso a um revólver. A proliferação de armas de fogo ao alcance de crianças e adolescentes é outra herança de quatro anos de uma política armamentista que ainda provocarão muitas chacinas. Desarmar essa bomba relógio dependerá somente de uma mudança de atitude na sociedade em relação as políticas de direitos humanos, do papel das forças policiais como promotoras dessas políticas e que as famílias ensinem seus filhos que viver em sociedade envolve respeito, tolerância, empatia e solidariedade.
O desafio está posto.
João Lago.
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