Uma pesquisa realizada com ratos na década de 50 trouxeram uma importante análise sobre como a psicossomática é influenciada pela esperança. Entenda-se como psicossomático o estresse mental motivado pelo medo, desalento, fadiga e afins que pode afetar a saúde do corpo. No caso específico dessa pesquisa, o psicobiólogo e geneticista americano Curt Paul Richter estudou o comportamento de ratos criados em laboratório e de ratos silvestres, comparando suas reações quando colocados para nadar até a morte em um recipiente de vidro.
Apesar de ser considerado um experimento cruel para os padrões atuais, esse estudo (On the Phenomenon of Sudden Death in Animals and Man) trouxe uma importante contribuição para medicina no entendimento psicossomático da morte súbita. Verificou-se que aqueles ratos que viviam livres e que eram bons nadadores na natureza morriam mais rapidamente em relação aqueles criados confinados e sem qualquer experiência aquática. Enquanto os ratos selvagens morriam afogados de um a quinze minutos depois de colocados nos recipientes, os ratos de laboratório nadavam até sessenta horas antes de morrerem afogados e os dados apontavam que "os animais morriam por desaceleração do ritmo cardíaco e não por aceleração". Ou seja, a respiração era reduzida assim como a temperatura do corpo até que o coração deixasse de bater.
Embora haja controvérsia, o instinto é uma forma de inteligência, como aquela que orienta uma ave quando deve migrar para o sul, um peixe quando deve subir pela correnteza de um rio para procriar, uma tartaruga que ao romper o ovo nada em direção ao rio, ou um recém-nascido que ao ser colocado no colo da mãe procura e suga avidamente o seio materno. Sim, não devemos nos esquecer que mesmo o ser humano, no alto de sua racionalidade funcional, também age por impulso, pois em determinado momento de nossa existência somos pura “id”. Ou seja, em tenra idade somos movidos por desejos, vontades e pulsões primitivas, derivados dos instintos descolados de freios éticos e morais.
No entanto, vai-se crescendo, adquirindo humanidade, diferenciando-se dos animais e passando a controlar certos instintos, porque esta é uma condição essencial para viver em sociedade. A convivência e a genética constrói nossa personalidade, explicada pelo aforismo popular de que “filho de peixe, peixinho é” ou por meio dos embates filosóficos que colocam o “homem como o lobo do homem” de Hobbes em contraposição de que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe” de Rousseau. Na verdade, se quando nascemos somos movidos pelo mais puro instinto, nossa id aos poucos passa a conhecer a animadversão do animalesco e a conviver com os limites que respeito ao direito do outro impõe como necessários para uma vida em harmonia.
A esperança poderia ser considerada um instinto de sobrevivência, ou deveria ser atribuída como um processo cognitivo complexo inerente ao ser humano consciente e inteligente? A resposta depende do quanto somos arrogante em nosso antropocentrismo ao tratar os demais seres vivos como objetos para serem usados a exaustão para o nosso prazer e bem-estar. A esperança que não é dita em palavras pelos animais necessita de nossa inteligência para decifrá-la, ao mesmo tempo que nos ensina que quando se tem esperança luta-se mesmo quando todo o ambiente nos é desfavorável. Ter esperança é acreditar que as situações adversas, por mais severas que sejam, vão passar e que é possível seguir adiante. Talvez isto explique porque a fé pode operar milagres na cura de enfermidades, ou mesmo promover longa sobrevida em doenças desenganadas pela medicina. Nesse sentido, é comum ouvir que determinada pessoa ao receber um diagnóstico terrível entregou-se a doença e em pouco tempo morreu, mas que outra com otimismo e com fé em Deus lutou e venceu a doença ou viveu muito além do que foi vaticinado pela medicina.
Esperança, que é um atributo que nos faz acreditar no impossível, esteja presente em nossas aspirações para 2023. Coloque nela sua fé, mesmo que não creia em Deus, pois se até os ratos conseguem ter fé no impossível, por que nós seriamos tão arrogantes de desmerecê-la e morrer sem experimentá-la, mesmo que seja pelo mais puro instinto.
Feliz 2023.
João Lago
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