A invasão da Praça dos Três Poderes no domingo de 8 de janeiro revela que não é mais possível acreditar que os envolvidos no vandalismo sejam apenas manifestantes. Existe uma inteligência do mal que envenena com ódio, financia e coordena por meio da desinformação as atitudes terroristas que destruíram patrimônio público nesse domingo. A violência aconteceu abaixo da responsabilidade do Governo do Distrito Federal, mais precisamente do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) e de seu secretário de segurança pública Anderson Torres (União Brasil-DF) que no momento dos acontecimentos estava na Flórida-EUA, local onde passa temporada Jair Bolsonaro, o padrinho político de ambos. Esta crônica faz uma reflexão do desdobramento moral, penal e político que se espera como resposta, pelo Estado Democrático de Direito, contra os atos terroristas cometidos nas sedes dos três poderes.
Uma cobra e um escorpião peçonhentos não deixarão de produzir veneno porque envelhecerão, haja vista que é da natureza fisiológica de ambos tecerem toxinas mortais até o final da vida, sempre em proveito próprio. Algumas pessoas também são assim, pois o passar do tempo também não lhes confere o abandono de seus atos nocivos enquanto tinge seus cabelos de branco. No entanto, se o envelhecimento para animais peçonhentos não é condição para deixar de serem mortais, o ser humano a qualquer tempo da vida pode erradicar sua natureza vil por meio da reflexão e do arrependimento, embora muitas vezes isto não seja o suficiente. Assim sendo, do mesmo modo que uma cobra e um escorpião podem deixar de ser perigosos quando cirurgicamente são retiradas as glândulas que lhes produzem o veneno, a pessoa criminosa também deve amputar de sua vida o que lhe confere a maldade.
Todavia, tão somente a reflexão e o arrependimento podem não promover a cura do mal represado, pois a depender dos efeitos que a iniquidade produziu em indivíduos próximos e na sociedade, um simples pedido de desculpas (ainda que aceito) pode não sanar toda a dor e a ausência que atos contra a vida e ao patrimônio costumam a deixar. Como um simples arrependimento do algoz poderá atenuar a dor de alguém que perdeu seu companheiro de vida assassinado? Como um pedido de desculpas poderá preencher a ausência material e afetiva na vida de uma criança, que agora crescerá órfã, porque seus pais morreram pela ação ou omissão de outrem? Como poderá um simples pedido de perdão enxugar todas as lágrimas de uma mãe, pai, irmãos, irmãs, de uma família inteira que sofre pela saudade? Como o reconhecimento do erro é capaz de indenizar e reparar o patrimônio público e privado depredado pela imbecilidade e pelo ódio? Assim, porque nem sempre o arrependimento e um pedido de desculpas são suficientes para reparar toda a dor é que nascem os clamores por justiça.
Enquanto o criminoso, que age a margem da lei, não é confrontado pelos seus atos, dificilmente pode-se esperar qualquer arrependimento. Somente quando é capturado, trazido a realidade e devidamente processado pelos seus crimes é que muitos choram, pedem desculpas e demonstram alguma contrição. Porém, é verdade que a escalada de violência política veio em um crescente iniciado desde a campanha presidencial, com especial citação a Marcelo Arruda, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores - PT assassinado enquanto festejava o seu aniversário de 50 anos, pelo vandalismo ocorrido em 12 de dezembro de 2022, no qual ônibus e veículos particulares foram queimados, vidraças de delegacia quebradas em Brasília e pela bomba encontrada em 24 de dezembro de 2022, armada em um caminhão-tanque repleto de combustível no aeroporto da capital federal, planejada para explodir. Agora, nesse domingo (08/01/2022) temos o ápice dos atos violentos pela tentativa de subversão da ordem democrática pela invasão do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal por centenas de terroristas travestidos de manifestantes.
O ovo da serpente veio sendo chocado nos quatro anos do governo Bolsonaro, que uma vez instalado no poder, os seus escorpiões foram reproduzindo-se por partenogênese nas redes sociais, considerada por muitos uma terra sem lei e que agora, empoderados pelo suposto anonimato que o ambiente virtual parece prover, esses terroristas tomaram o asfalto buscando esconderem-se também no meio de uma horda enfurecida pelo veneno que a consome. São covardes, tantos esses que se camuflam no meio da multidão para perpetrar atos vis, quanto aqueles que fomentam e financiam esses atos mas não são capazes de seguir em frente do aluvião que patrocinam e apoiam.
Não são apenas manifestantes que exercem o sagrado direito democrático da liberdade de expressão, haja vista que não demonstram qualquer apreço à democracia e, portanto, não merecem anistia. Não importa quantos sejam esses que participaram da destruição dos prédios instalados na Praça dos Três Poderes, absolutamente todos devem ser confrontados com os seus atos criminosos, presos, processados e julgados, pois se não forem punidos exemplarmente voltarão, porque somente enjaulados, como feras que são, podem deixar de oferecer perigo a sociedade.
João Lago.
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