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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Opinião: Um aniversariante esquecido


Ontem acho que fiz a minha terceira ida a um shopping center neste ano, a convite de Naná que desejava fazer compras na companhia de nossas crianças. Apesar de solidário à necessidade de acompanhá-los, quando lá cheguei refugiei-me em uma imensa livraria e fiquei algumas horas a vasculhar uma parte da literatura disponível, mas não é sobre livros e literatura que desejo construir esta reflexão.

No caminho entre o estacionamento e a livraria, cruzei alguns corredores do shopping todos ricamente enfeitados para o natal (com letra minúscula mesmo), com bolas coloridas, luzes de diversas cores, pinheiros de natal e papais noéis. Como poderíamos dizer: “tudo nos conformes”, mas nem tanto, pelo menos para mim.

Não vi pelos corredores nada que pudesse realmente simbolizar a verdadeira razão de existir o Natal (com letra maiúscula mesmo). Não existia uma manjedoura, ou qualquer outra representação do nascimento de Jesus Cristo, mas a casa do papai noel, com aquele clássico sujeito fantasiado e escoltado pelas netas do noel, todas com shortinhos vermelhos bem apertadinhos, estavam todos lá, como de costume. Acho que essa cena se repete pelos demais centros de compra espalhados pelo Brasil, o que é lamentável, pois coloca essa época como simplesmente um tempo de ganância, no qual aqueles que tem vão as compras desesperadamente e aqueles que não tem, lamentam o infortúnio de não ter. No entanto, será que ter é realmente o que mais importa nesta época?

Na semana que passou, fomos nós da comunidade católica a qual pertenço distribuir presentes em um dos bairros mais pobres de Manaus, que foi classificado recentemente pelo IBGE como “aglomerado subnormal”, um eufemismo que significa “favela” (veja mais sobre isto em http://amipaz-manaus.blogspot.com/2011/12/confraternizacao-de-natal-fundacao-fe-e.html). Quando estávamos todos ali reunidos, enquanto eu registrava toda a ação social com fotos e videos, Naná (minha esposa), juntamente com as demais mães que acompanharam os seus filhos, organizava a entrega de brinquedos e conversava com as crianças. Desta experiência, depois Naná contou-me que ao entregar um brinquedo a um menino de treze anos, ouviu o seguinte relato: “eu nunca tinha ganhado um presente de natal, meus pais nunca tinham dinheiro para me dar nada”.

Se a época de Natal amolece os corações daqueles que tem, eu chego a conclusão é que justamente nesta época que milhares de peitos ficam vazios do sentido do Natal, ou mesmo esta é a época que mais aqueles que pouco tem se sentem mais infelizes, justamente porque ficam a parte dessa festa de ganância que se transformou o natal. Como se ficassem na arquibancada vendo inúmeras pessoas se divertirem, comerem, ganharem presentes e com um imenso desejo de entrar na festa, para a qual eles não foram convidados. E este natal do consumo não pode ser um Natal de fraternidade.

Segundo o IBGE estima-se que 70 mil pessoas vivam em “aglomerados subnormais” em Manaus e nossa cidade ocupa o 10º lugar no ranking nacional das maiores favelas do país, ou seja, quantas crianças e famílias continuam a parte deste natal do consumo? Nossa ação social é necessária e bem-vinda, mas é como se fosse uma gota em um oceano de pobreza e miséria.

Talvez eu esteja sendo extremamente desagradável lembrando que isto tudo existe, mas convenhamos: Aquele que veio ao mundo trazer o Natal não nasceu nesta terra em uma grande festa, cercado de bens materiais, de gente bem vestida em meio a uma grande troca de presentes. Nós sabemos que não foi assim e eu tenho certeza se hoje Ele novamente visita-se nossa terra em uma noite de Natal, certamente não seria em um palácio que Ele seria encontrado.

Feliz Natal, é o que deseja este teu amigo do mais profundo de meu coração.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

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