Antes de mais nada
quero deixar claro que não se trata de intolerância religiosa,
muito embora tenha minhas divergências ideológicas quanto a certos
líderes de certas denominações religiosas, principalmente aqueles
que se valem da boa fé de seus seguidores e constroem fortunas, ou
mesmo usam seus seguidores como rebanho de um curral eleitoral. Esses
quando agem assim, além de tornarem-se nababos, ainda se fortalecem
com cargos públicos, nem sempre agindo de maneira ética para isto,
haja vista as denúncias que temos aqui no Amazonas de líderes
envolvidos com compra de votos, ou mesmo sendo flagrados com elevadas
somas de dinheiro em pleno período eleitoral. Aqueles que se
interessam em acompanhar a política sabe muito bem de quem estou
falando.
Os que usam a palavra
de Deus, ou mesmo invocam Deus tem o dever de agirem dentro de
princípios éticos e, mais ainda, respeitarem o Estado de Direito,
que segundo definição de Telmo Lemos Filho, presidente da
Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul, “é
aquele que impõe a todos os cidadãos, sejam administrados ou
administradores, o respeito à lei, tomada esta em seu amplo
espectro, da norma maior hierárquica, a Constituição Federal,
àquela de menor força normativa”. Ou seja, fora do “juridiquês”
e falando no popular: Todos, independentemente do cargo, posto, ou
atribuição na sociedade devem respeitar e cumprir à lei.
Hoje (23/2), por voltas das 8h
da noite, bem defronte a minha casa, que fica em frente a uma praça,
instalou-se sobre a grama um grupo musical gospel com som nas
alturas. Assim, mesmo estando trancado em meu quarto, com
ar-condicionado ligado, era impossível descansar, dormir com o
barulho. Saliento que moro em um conjunto habitacional pacato, mas
antes de exigir o meu direito de repousar em minha casa, logicamente
ao dirigir-me ao pastor responsável pelo barulho perguntei se o
mesmo tinha autorização para realizar aquele evento. Sim porque por
bem, ou por mal, vivemos em um Estado de Direito, então para que ele
venha a agredir-me com a sua zoada, obviamente ele deveria
apresentar-se como cumpridor da lei. No entanto, ele não tinha
autorização, ou não quis me apresentar, muito pelo contrário, ele
resolveu dar-me uma carteirada e chamar a polícia para mim, no
melhor estilo: “sabe com quem você está falando?”. Disse para
respeitá-lo porque ele era “pastor” da dita tal igreja. Ora,
disse-lhe que o nobre pastor que veio desrespeitar-me, quando
instalou uma enorme caixa de som a perturbar-me o sossego e que
achava ótimo ele ter chamado a polícia. Ele até pode ter todo o
direito de querer evangelizar o capeta, mas não pode vir querer
fazer um inferno o sossego de meu lar.
Quando apelo para o
respeito para o Estado de Direito, quero dizer que além do evento
barulhento e sem qualquer autorização para tal, a alimentação
elétrica dos instrumentos era proveniente de um “gato”, vindo do
poste da praça. Quando perguntei se o pastor achava certo isto, o
“ungido” resolveu dizer que todo mundo faz, então porque ele não
poderia fazer também. Por essa lógica, talvez se explique o porque
que alguns pastores rezam em cima de dinheiro de propina, afinal a
política está cheia disto, todo mundo faz, porque não eles. Ou
ainda, andar com elevadas somas de dinheiro vivo em período
eleitoral, com suspeita de comprar votos, afinal todo mundo faz,
porque não eles. Essa é a lógica da teologia da corrupção do
Estado de Direito.
No site da Amazonas
Energia, o “gato” é considerando “furto/roubo/desvio de
energia elétrica” é considerado crime de acordo com o artigo 155,
parágrafo 3o do Código Penal Brasileiro (CPB). Ele prevê reclusão
de um a quatro anos e multa ao infrator. Então aviso ao pastor que
gato todo mundo faz, mas ele como “um servo de Deus” deveria ser
o primeiro a cumprir o que diz a lei e dar exemplo, e não querer
estar acima dela. O mais nefasto na prática abençoada do pastor é
que segundo nota da Aneel, as perdas não técnicas (ou seja: furtos)
impactam a tarifa, pois parte desse prejuízo acaba sendo rateada
entre os consumidores legalmente cadastrados na distribuidora, no
momento do cálculo tarifário. Melhor dizendo, somos nós que
pagamos no final das contas a energia que é desviada dos postes. O
pastor está nos forçando a doar indiretamente ofertas a sua igreja,
neste caso por meio de nossa conta de energia elétrica.
Fiz um vídeo com prova
do furto/desvio da energia elétrica para fins particulares, ou seja,
de um evento gospel em praça pública, sobre o gramado e sem
autorização da Prefeitura. Aliás, para realizar um evento com
autorização do governo municipal é preciso:
- Ofício de solicitação de autorização para funcionamento do evento, encaminhado ao diretor do DVISA, informando o objetivo do evento, estimativa populacional de participantes, local, data (início e término) e horário (início e término) de funcionamento, se haverá venda de bebidas e alimentos (tipo de bebida e alimento a ser comercializado e a forma como será efetuado a venda), telefone(s) do responsável, e-mail do responsável.
- Termo de compromisso (padrão DVISA) assinado pelo responsável pelo evento, onde o mesmo se compromete a exercer e ofertar os serviços de importância ao controle sanitário, de maneira satisfatória durante o evento;
- Abaixo-assinado dos moradores onde o evento ocorrerá autorizando a realização do mesmo no dia e horário programado;
- Croqui do local do evento, demonstrando as ruas a serem utilizadas e os locais de venda de bebidas e alimentos e também os locais de acesso as banheiros (banheiros químicos locados ou bares que irão prestar este tipo de serviço);
- Contrato de locação de banheiros químicos com intuito de atender a demanda estimada de pessoas que irão participar do evento (1) banheiro químico para cada 200 pessoas;
- Cópia da Identidade do Responsável pelo evento;
- Cópia do CPF do responsável pelo Evento;
- Copia do comprovante de residência do responsável pelo evento.
Não é fácil, mas a
igreja a qual pertenço vai atrás disto tudo quando tem que realizar
qualquer evento aqui em nosso conjunto habitacional. Dá trabalho,
mas agimos dentro da lei, da ética de Deus e dos homens.
O pastor prometeu
voltar em Abril para fazer um evento ainda maior na praça, mas digo
que encontrará resistência, primeiramente porque tomarei as medidas
cabíveis contra o “gato” no poste, inclusive, se for o caso,
acionando os cúmplices disto, haja vista que o mesmo citou o nome de
um pseudo líder comunitário como “autorizante” do evento e do
“gato”.
Penso que a época do
vale-tudo e da bagunça está passando, mas cabe a cada um de nós,
que somos cidadãos de direitos (não somente de deveres) a começar a
denunciar essas pessoas que insistem em agir do modo errado, sendo
pastor, rabino, apóstolo, babalorixá, ou até mesmo padre. Todos
devem estar sujeitos a cumprir o que determina o Estado de Direito.
João Lago
Cidadão e morador do
Conjunto Santos Dumont
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