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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Manaus tem novo arcebispo


Neste sábado, à noite, na catedral de Nossa Senhora da Conceição, tomou posse o novo arcebispo de Manaus, D. Sérgio .Eduardo Castriani. A cerimônia prevê a presença de vários bispos da região, de autoridades e de numeroso povo.

Sem dúvida alguma, a igreja Católica começa a viver em Manaus uma nova etapa que promete frutos de entusiasmo e de reafirmação graças às. bênçãos de Deus e às esperanças surgidas com a chegada do novo pastor. Podemos esperar dias melhores porque D. Sérgio reúne todas as qualidades exigidas de um bispo escolhido para dirigir uma arquidiocese da importância da nossa. Foi bispo de Tefé por treze anos, compreende bem o povo amazonense e conhece-lhe a cultura. Á frente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil por dois períodos de quatro anos cada da um, é atualmente membro da Comissão Episcopal da Amazônia. Antes de ser bispo, D. Sérgio foi conselheiro geral da Congregação do Espírito Santo, com residência em Roma, e teve oportunidade de visitar as missões espiritanas na África e em outros continentes. Manaus ganha um presente de Deus que vem somar ciência, sabedoria experiência e grandes dotes humanos e espirituais à caminhada desta Arquidiocese.

No livro Pontifical Romano , existe um texto de homilia proposto para a ordenação episcopal em que se expõem quais qualidades se exigem de um bispo. Antes de tudo um bispo deve lembrar-se de que pertence a um povo que são seus diocesanos. Foi escolhido por Deus para servir aos que lhe foram confiados. “O episcopado é um serviço, não uma honra”,são palavras textuais do Pontifical.

Foi-se, e foi-se graças a Deus, o tempo em que os bispos eram tratados como príncipes. É um serviço que lhes cabe de modo especial e que o fará servir e não ser servido à semelhança de Jesus que lavou os pés dos discípulos. Seu amor deve abranger os católicos, os que seguem outros caminhos religiosos e os que não acreditam em Deus. Tenho certeza de que esse programa exigente será o episcopado de 'D. Sérgio em Manaus.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo Emérito de Manaus

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Evento sem autorização na praça de caminhada e pertubando o sossego púlbico

Antes de mais nada quero deixar claro que não se trata de intolerância religiosa, muito embora tenha minhas divergências ideológicas quanto a certos líderes de certas denominações religiosas, principalmente aqueles que se valem da boa fé de seus seguidores e constroem fortunas, ou mesmo usam seus seguidores como rebanho de um curral eleitoral. Esses quando agem assim, além de tornarem-se nababos, ainda se fortalecem com cargos públicos, nem sempre agindo de maneira ética para isto, haja vista as denúncias que temos aqui no Amazonas de líderes envolvidos com compra de votos, ou mesmo sendo flagrados com elevadas somas de dinheiro em pleno período eleitoral. Aqueles que se interessam em acompanhar a política sabe muito bem de quem estou falando.

Os que usam a palavra de Deus, ou mesmo invocam Deus tem o dever de agirem dentro de princípios éticos e, mais ainda, respeitarem o Estado de Direito, que segundo definição de Telmo Lemos Filho, presidente da Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul, “é aquele que impõe a todos os cidadãos, sejam administrados ou administradores, o respeito à lei, tomada esta em seu amplo espectro, da norma maior hierárquica, a Constituição Federal, àquela de menor força normativa”. Ou seja, fora do “juridiquês” e falando no popular: Todos, independentemente do cargo, posto, ou atribuição na sociedade devem respeitar e cumprir à lei.

Hoje (23/2), por voltas das 8h da noite, bem defronte a minha casa, que fica em frente a uma praça, instalou-se sobre a grama um grupo musical gospel com som nas alturas. Assim, mesmo estando trancado em meu quarto, com ar-condicionado ligado, era impossível descansar, dormir com o barulho. Saliento que moro em um conjunto habitacional pacato, mas antes de exigir o meu direito de repousar em minha casa, logicamente ao dirigir-me ao pastor responsável pelo barulho perguntei se o mesmo tinha autorização para realizar aquele evento. Sim porque por bem, ou por mal, vivemos em um Estado de Direito, então para que ele venha a agredir-me com a sua zoada, obviamente ele deveria apresentar-se como cumpridor da lei. No entanto, ele não tinha autorização, ou não quis me apresentar, muito pelo contrário, ele resolveu dar-me uma carteirada e chamar a polícia para mim, no melhor estilo: “sabe com quem você está falando?”. Disse para respeitá-lo porque ele era “pastor” da dita tal igreja. Ora, disse-lhe que o nobre pastor que veio desrespeitar-me, quando instalou uma enorme caixa de som a perturbar-me o sossego e que achava ótimo ele ter chamado a polícia. Ele até pode ter todo o direito de querer evangelizar o capeta, mas não pode vir querer fazer um inferno o sossego de meu lar.

Quando apelo para o respeito para o Estado de Direito, quero dizer que além do evento barulhento e sem qualquer autorização para tal, a alimentação elétrica dos instrumentos era proveniente de um “gato”, vindo do poste da praça. Quando perguntei se o pastor achava certo isto, o “ungido” resolveu dizer que todo mundo faz, então porque ele não poderia fazer também. Por essa lógica, talvez se explique o porque que alguns pastores rezam em cima de dinheiro de propina, afinal a política está cheia disto, todo mundo faz, porque não eles. Ou ainda, andar com elevadas somas de dinheiro vivo em período eleitoral, com suspeita de comprar votos, afinal todo mundo faz, porque não eles. Essa é a lógica da teologia da corrupção do Estado de Direito.

No site da Amazonas Energia, o “gato” é considerando “furto/roubo/desvio de energia elétrica” é considerado crime de acordo com o artigo 155, parágrafo 3o do Código Penal Brasileiro (CPB). Ele prevê reclusão de um a quatro anos e multa ao infrator. Então aviso ao pastor que gato todo mundo faz, mas ele como “um servo de Deus” deveria ser o primeiro a cumprir o que diz a lei e dar exemplo, e não querer estar acima dela. O mais nefasto na prática abençoada do pastor é que segundo nota da Aneel, as perdas não técnicas (ou seja: furtos) impactam a tarifa, pois parte desse prejuízo acaba sendo rateada entre os consumidores legalmente cadastrados na distribuidora, no momento do cálculo tarifário. Melhor dizendo, somos nós que pagamos no final das contas a energia que é desviada dos postes. O pastor está nos forçando a doar indiretamente ofertas a sua igreja, neste caso por meio de nossa conta de energia elétrica.

Fiz um vídeo com prova do furto/desvio da energia elétrica para fins particulares, ou seja, de um evento gospel em praça pública, sobre o gramado e sem autorização da Prefeitura. Aliás, para realizar um evento com autorização do governo municipal é preciso:



  1. Ofício de solicitação de autorização para funcionamento do evento, encaminhado ao diretor do DVISA, informando o objetivo do evento, estimativa populacional de participantes, local, data (início e término) e horário (início e término) de funcionamento, se haverá venda de bebidas e alimentos (tipo de bebida e alimento a ser comercializado e a forma como será efetuado a venda), telefone(s) do responsável, e-mail do responsável.
  2. Termo de compromisso (padrão DVISA) assinado pelo responsável pelo evento, onde o mesmo se compromete a exercer e ofertar os serviços de importância ao controle sanitário, de maneira satisfatória durante o evento;
  3. Abaixo-assinado dos moradores onde o evento ocorrerá autorizando a realização do mesmo no dia e horário programado;
  4. Croqui do local do evento, demonstrando as ruas a serem utilizadas e os locais de venda de bebidas e alimentos e também os locais de acesso as banheiros (banheiros químicos locados ou bares que irão prestar este tipo de serviço);
  5. Contrato de locação de banheiros químicos com intuito de atender a demanda estimada de pessoas que irão participar do evento (1) banheiro químico para cada 200 pessoas;
  6. Cópia da Identidade do Responsável pelo evento;
  7. Cópia do CPF do responsável pelo Evento;
  8. Copia do comprovante de residência do responsável pelo evento.

Não é fácil, mas a igreja a qual pertenço vai atrás disto tudo quando tem que realizar qualquer evento aqui em nosso conjunto habitacional. Dá trabalho, mas agimos dentro da lei, da ética de Deus e dos homens.

O pastor prometeu voltar em Abril para fazer um evento ainda maior na praça, mas digo que encontrará resistência, primeiramente porque tomarei as medidas cabíveis contra o “gato” no poste, inclusive, se for o caso, acionando os cúmplices disto, haja vista que o mesmo citou o nome de um pseudo líder comunitário como “autorizante” do evento e do “gato”.

Penso que a época do vale-tudo e da bagunça está passando, mas cabe a cada um de nós, que somos cidadãos de direitos (não somente de deveres) a começar a denunciar essas pessoas que insistem em agir do modo errado, sendo pastor, rabino, apóstolo, babalorixá, ou até mesmo padre. Todos devem estar sujeitos a cumprir o que determina o Estado de Direito.

João Lago
Cidadão e morador do Conjunto Santos Dumont

Blog da Amipaz com mais de 30.000 acessos

Caros amigos e amigas leitores,

É com enorme satisfação que comemoramos mais de 30.000 visualizações registradas em nosso Blog da Amipaz. Para uma publicação de um conjunto habitacional de doze ruas, acreditamos que a marca deva ser comemorada, pois na verdade reflete que nossos assuntos são lidos e compartilhados e reforçam nosso intuito de desenvolver, e incentivar, a comunidade do Conjunto Santos Dumont a participar de uma vida comunitária, ativa em seus direitos e solidária em seus propósitos.

Parabéns a todos nós!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O abrigo de nossos corações

Certa vez olhei para uma árvore que insistiu em brotar em um local improvável, na encosta de um rochedo, fora da incidência direta da luz, sem um solo fértil a alimentá-la. No entanto, essa árvore, a medida que ia crescendo, conseguiu impor-se a exuberância do rochedo, pois era impossível não a notar, mesmo que diminuta ao longe, sua imponência era percebida e notada à distância.

Com o passar do tempo, com os seus imensos galhos projetados sobre o abismo, a aridez da rocha não a impediu de gerar frutos, que eram gentilmente oferecidos a revoada de pássaros, que a rodeavam e serviam-lhes de abrigo.

Diva viveu assim, vinda de uma localidade distante de nosso interior, que na infância dividia o seu olhar entre o rio, o quintal de casa e o castanhal de seu pai, não quis sair da terra amigável, mas com o falecimento de sua mãe teve que enfrentar um paredão desconhecido chamado Manaus. No entanto, logo que aqui chegou quis ser e formou-se normalista, mas abraçou o ofício de ser esposa e mãe, oferecendo sua sombra generosa para sobrinhos, genros, noras, amigos, netos, bisnetas, amigos dos filhos e tantas outras pessoas que olhavam a altivez daquela senhora, que era firme em suas convicções, mas com muito amor no coração.

Hoje, essa árvore frondosa de ramificações
 exuberantes oferece  a todos nós
 os seus frutos, que certamente
cada um particularmente trás em
si o sabor da doçura desta mulher.

Mamãe, titia, vovó, bisa, sogra,
amiga, ou simplesmente Diva,
raízes eternas cravaste em
nossos corações.

João Lago

Manaus,  20 Fevereiro 2013

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Papa Bento XVI anuncia renúncia para dia 28/2

Papa Bento XVI anunciou nesta segunda-feira (11/2) que renunciará ao seu pontífice no próximo dia 28/2 alegando não ter idade apropriada para o desempenho de suas funções.

Leia abaixo na íntegra a carta de renúncia do Papa Bento XVI.


"Queridísimos irmãos,
Convoquei-os a este Consistório, não só para as três causas de canonização, mas também para comunicar-vos uma decisão de grande importância para a vida da Igreja.

Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino. Sou muito consciente que este ministério, por sua natureza espiritual, deve ser realizado não unicamente com obras e palavras, mas também e em não menor grau sofrendo e rezando.

No entanto, no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevo para a vida da fé, para conduzir a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado.

Por isso, sendo muito consciente da seriedade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005, de modo que, desde 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro ficará vaga e deverá ser convocado, por meio de quem tem competências, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Queridísimos irmãos, lhes dou as graças de coração por todo o amor e o trabalho com que levastes junto a mim o peso de meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos.

Agora, confiamos à Igreja o cuidado de seu Sumo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e suplicamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista com sua materna bondade os Cardeais a escolherem o novo Sumo Pontífice. Quanto ao que diz respeito a mim, também no futuro, gostaria de servir de todo coração à Santa Igreja de Deus com uma vida dedicada à oração.

Vaticano, 10 de fevereiro 2013
".


domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Aventura de Ser Jovem

Não faz tempo, um amigo, a esposa e o filho com namorada resolveram dar umas voltas pela Ponta Negra. O panorama oferecido pelo Rio Negro, as calçadas em bom estado e o clima agradável da tardinha eram o que de melhor se podia esperar para passar bons momentos em família.

Ao final do passeio, o pai observou ao filho que em nenhum instante o tinha visto conversar com a namorada. O rapaz respondeu: "Pai, o senhor não viu que nós dois trocávamos mensagens pelo celular?" Parece estranho esse tipo de relacionamento. Um ao lado do outro com todas as possibilidades de encontro real e de conversa direta, e os dois preferiam contatos virtuais e conversa à distância.

As novas gerações estão marcadas pela internet, facebook, twitter etc. A coisa entrou tanto no gosto e nos hábitos que até os mínimos atos aparecem nas redes sociais, em escandalosa perda de privacidade. O celular, os galaxy, os Ipad, os Ipod, os tabletes, os computadores tornaram-se necessidades sem os quais parece impossível viver. Para adultos de gerações mais antigas, formados na leitura de livros e na escrita à mão ou na máquina de datilografia, é complicado compreender o jovem do Século XXI. O mundo mudou e os jovens são frutos desse mundo que mudou.

Há duas semanas, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, um incêndio em boate matou mais de 230 jovens. Foi um choque para todo o Brasil! Aqueles jovens começavam a viver, a acalentar sonhos, e de repente morreram de maneira cruel. O que aconteceu no Rio Grande do Sul reflete a terrível sorte de número cada vez maior jovens brasileiros. A morte violenta causada por crimes e por desastres de trânsito ou de outra origem já equivale a qualquer dessas guerras atuais ou até as supera. As mais numerosas vítimas são os jovens que, pela audácia da idade, se expõem sem medo. É a faixa da população mais vulnerável às drogas, ao álcool, à prostituição e às misérias sociais e morais.

Precisamos compreender e ajudar a juventude de nossos tempos que merece confiança. A Campanha da Fraternidade, que começa dia 13 de fevereiro, pretende alertar-nos sobre isto.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus


sábado, 9 de fevereiro de 2013

A Ética pede Socorro

Gostaria de apresentar para crítica a seguinte frase: “A ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o Brasil, o interesse nacional. A ética é meio, não é fim”. Esta frase foi dita por Renan Calheiros, recém-eleito à presidência do Senado Federal, e vale a pena dissecá-la, pois a partir dela acredito que possamos compreender melhor a identidade dessa tal moral e ética que parece vigorar nas relações políticas brasileiras no cenário atual.
Quando leio a primeira sentença da frase, “a ética não é objetivo em si mesmo”, lembro que Aristóteles pregou que a política era a arte superior às demais, por ser mais capaz de determinar as ações humanas, haja vista que o comportamento dos cidadãos e do Estado estaria subordinado às decisões políticas. Ora, se realmente isto for verdade, na busca de uma alma corruptível para ser elevada a uma alta esfera de decisão política, logicamente alguém que tenha elevado conceito moral mais irá atrapalhar do que favorecer sua ascensão, pois, também disse Aristóteles: “As virtudes éticas visam o domínio da alma sobre o corpo e as suas paixões”.
Assim, no jogo político em que as decisões primordialmente favoreçam grupos de interesses, ao invés da sociedade, não seria aconselhável indicar quem tenha sobre si a pressão para uma conduta ética que reprima suas paixões. Melhor seria indicar alguém de moral claudicante, trôpego em sua biografia, porque assim abre-se o caminho para o jogo do vale-tudo, do toma-lá-dá-cá, no qual ter escrúpulo não é virtude, mas um pecado.
Continuando nossa crítica, a segunda sentença da frase diz: “O objetivo em si mesmo é o Brasil, o interesse nacional”. Aqui vemos certa arrogância e desprezo a todas as bocas que clamam por alguém que tenha histórico de freio moral em suas ações e, portanto, que seja digno de confiança. Não está claro que tipo de “interesse nacional” está em discussão, ou melhor dizendo, quais das repúblicas estamos aqui tratando. Da república de Alagoas, com Fernando Collor presidente e Renan Calheiros como seu líder de governo e porta-voz, ou da República do Brasil, na qual a sociedade encaminhou ao Congresso Nacional a Lei da Ficha Limpa e que Renan Calheiros como senador votou sim.
Não obstante, é a segunda vez que a república de Alagoas se confronta com a opinião pública nacional. Na primeira vez, em meio a passeata dos caras pintadas em Brasília, Renan Calheiros abandonou Fernando Collor e votou pelo seu impeachment. Hoje Collor também é senador por Alagoas e votou no colega Renan para a presidência do senado, dando uma demonstração de qual “interesse nacional” é esse, que passa por cima de mágoas passadas, que perdoa e segue em frente nesse projeto de república que um dia os uniu no passado e que hoje os une novamente.
A última sentença da frase diz: “A ética é meio, não é fim”. Novamente peço ajuda a Aristóteles que ensinou: “É das mesmas causas e pelos mesmos meios que se gera e se destrói toda a virtude, assim como toda a arte: de tocar a lira surgem os bons e os maus músicos. Isso vale também para o arquiteto e todos os demais; construindo bem, tornam-se bons arquitetos; construindo mal, maus” (Aristóteles, E, 1103b). Isto quer dizer que em qualquer atividade humana temos o bom e o mau emparelhado, mas será a virtude que os apartará e os definirão como sendo mau ou bom. Mas quais virtudes serão essas? Para Aristóteles são: coragem, temperança, o respeito pela liberdade dos outros (liberalidade), generosidade, magnanimidade, honestidade, brandura, veracidade, urbanidade (funções cívicas elementares), justiça e amizade.
Desta forma, não existirá um fim que seja bom, se o meio não for permeado por essas virtudes, que devem ser o hábito dos homens de bem. Se para Renan Calheiros a ética não é fim é porque ela deixou de acompanhá-lo no meio do caminho. O resultado disto são as denúncias de peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos que pesam sobre Renan Calheiros e que foram encaminhadas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Renan Calheiros foi eleito com 56 votos de senadores que o acompanham em sua definição “perfeita” do que é a ética, indo de encontro à opinião pública que deseja a verdadeira ética e moralidade na política brasileira. Infelizmente, os três senadores amazonenses não figuram na lista apresentada pela imprensa como sendo aqueles que não votaram em Renan Calheiros, mas muito pelo contrário. Ouvimos Eduardo Braga em discurso inflamado na tribuna defender a candidatura de Renan Calheiros e Vanessa Grazziotin parabenizar em plenário o colega pela conquista da presidência do senado.
Se lamentamos, com os demais brasileiros, a eleição de um suposto “ficha suja” para um dos mais altos cargos da República, devemos urgentemente repensar que tivemos nossa participação quando deliberadamente votamos em gente que está se lixando para o que pensa a opinião pública majoritária.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA COM DOM SÉRGIO CASTRIANI, NOVO ARCEBISPO DE MANAUS

Dom Sérgio Castriani

Por Ana Paula Lourenço

O novo arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Eduardo Castriani, que toma posse neste mês de fevereiro de 2013, é natural da cidade de Regente Feijó, interior de São Paulo. Formado na Congregação do Espírito Santo e ordenado presbítero em 1978, sob o lema episcopal “habitou entre nós”.

Há 34 anos tem sido um dedicado pastor na Amazônia e por 14 anos foi bispo da Prelazia de Tefé. Também foi presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), quando acompanhou de perto a missão da Igreja no Brasil e fora dele. Em entrevista concedida ao Informativo Arquidiocese em Noticia (IAN)', Dom Sérgio conta um pouco de sua caminhada missionária, a missão de assumira Arquidiocese de Manaus e as perspectivas para o trabalho a ser realizado em Manaus.

IAN - O senhor foi presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária da CNBB. Que experiências o senhor pode nos contar?

Dom Sérgio - A Comissão Episcopal para a ação missionária e cooperação intereclesial têm como objetivo principal manter acesa a chama da missão “ad gentes” ou além fronteiras na Igreja do Brasil. Colabora intensamente com as Pontifícias Obras Missionárias, com o Centro Cultural Missionário, com o Conselho indigenista Missionário, com a Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil, com a Pastoral dos Brasileiros no Exterior, formando com estas e outras forças missionárias o Conselho Missionário Nacional. Entre as atividades importantes e marcantes cito algumas.
1. A primeira delas é a acolhida dos missionários que vêm para o Brasil e que se preparam para a missão no nosso país no Centro Cultural Missionário (Comissão Episcopal), do qual fui presidente durante os oito anos. É bonito ver o missionário dar os primeiros passos numa nova língua e começar a sua imersão numa nova cultura procurando entrar em sintonia com a Igreja que o recebe. mas sem perder suas raízes e experiências profundas que o trouxeram até aqui.
2. A segunda é acompanhar os missionários brasileiros que partem para a missão além fronteiras em todos os continentes e também em regiões missionárias no Brasil. E um privilégio conhecer estes missionários, pois, afinal, a missão não acontece sem eles. Eles são a expressão e o sinal da natureza missionária da igreja, Eles realizam de maneira eloquente aquilo que toda a igreja é: missionária. A comissão também está em contato com os missionários brasileiros no exterior através de visitas, correspondência e ajuda quando necessário. Ela acompanhou, em primeira mão, por dez anos, a missão no Timor Leste, assumida pela CNBB e financiada pelas comunidades pobres do Brasil, através de duas grandes coletas nacionais. Tive o privilégio de visitar o Timor e testemunhar o quanto fizeram as nossas missionárias, religiosas de várias congregações e leigas.
3. Um outro projeto da CNBB que é acompanhado pela Comissão é o envio de professores de Filosofia e Teologia durante os meses de dezembro e janeiro para a Guiné Bissau, que ajudam na formação do clero local e dos muitos missionários brasileiros presentes naquele país. Nos acompanhamos também envio de uma equipe missionária para o Haiti, em conjunto com a Caritas Nacional e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). Ha' o acompanhamento também dos projetos “Igrejas irmãs” as “Santas missões populares”, a “Imprensa Missionária” etc. Estes são alguns exemplos, mas a vitalidade da missão é impressionante. No momento, faço parte da Comissão da Amazônia e no regional acompanho a dimensão missionária sendo o bispo de referência para a Comissão Missionária Regional (Comire).

IAN - Explique-nos, resumidamente, o que é missão?

Dom Sérgio - A Igreja é missionária por natureza. Isto quer dizer que ela existe para a Missão. E como acontece a missão? O primeiro mandamento missionário é o mandamento do amor. Amar é sair de si mesmo, romper os próprios limites e preocupações e deixar que o outro e suas necessidades mostrem o caminho. Foi o que aconteceu com o samaritano na parábola que Jesus contou. É a dimensão do serviço. A igreja não vive para si, mas está a serviço da humanidade. O serviço se dá em primeiro lugar com o testemunho de uma vida nova em Jesus Cristo. E este testemunho acontece através de um comportamento renovado de quem tem os mesmos sentimentos de Cristo Jesus. O testemunho desemboca no diálogo com aqueles que vivem e pensam de maneira diferente. E em tudo deve acontecer o anúncio explícito de nossa fé na obra redentora que acontece no mistério da encarnação, morte e ressurreição. Conscientes de que o protagonista da missão é o Espirito Santo que a precede, a confirma e a atualiza, deixamo-nos conduzir o por Ele.

IAN - O que motivou o senhor vir para a Amazônia há 34 anos?

Dom Sérgio - A Congregação do Espírito Santo chegou ao Brasil no final do século XIX e durante meio século trabalhou só na Amazônia, mais especificamente em Belém, Manaus e na Prefeitura Apostólica de Tefé que, até 1932, também compreendia a atual diocese de Cruzeiro do Sul - Acre. Quando entrei na Congregação sabia que a minha vida missionária aconteceria na Amazônia ou na África, continente onde vive e de onde vem a maior parte dos “espiritanos”, como somos conhecidos. Portanto, vir para a Amazônia logo depois da minha ordenação foi uma consequência da minha opção pela vida espiritana. Mas também tive o privilégio de conhecer nossa missão em vários países africanos, quando fui conselheiro geral da congregação. A paixão pela África faz parte do carisma espiritano, mesmo àqueles que nunca foram para lá.

IAN - Conte-nos um pouco de como tem sido a sua vida missionária na Amazônia. Que experiências foram mais marcantes?

Dom Sérgio - A minha vida missionária que começou na juventude, na grande São Paulo, e que continuou no rio Envira município de Feijó, numa época em que os seringais ainda estavam ativos, mas foi o começo de uma nova época em relação 'á economia da região e a relação com a natureza. Os últimos catorze anos, estive na Prelazia de Tefé, sendo testemunha que o Reino de Deus está no meio de nós, pois vi isto na vida de tantas pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo, vivendo uma vida renovada, correta, responsável e justa. Vi o reino de Deus acontecendo em tantas comunidades que se reúnem para ouvir e praticar a Palavra, renovando o mundo em que vivem, lutando pela cidadania e qualidade de vida para todos, assumido os valores do evangelho mesmo quando isto significa perseguição, sofrimento e cruz. As histórias e exemplos são muitos. Creio que teremos muitas ocasiões para contá-las.

IAN - Anteriormente, o senhor afirmou ter acolhido com muita alegria a sua indicação para ser Arcebispo de Manaus e que este seria um grande desafio. Desde desse dia, como tem ressoado em seu coração essa nova missão?

Dom Sérgio - A partir do momento que se diz sim a um chamado da Igreja, a sensação é de alegria porque cremos que ai e expressou a vontade do Pai discernida por tantos que foram os responsáveis imediatos por este chamado. Se a resposta é pessoal e a responsabilidade final é do sujeito, á experiencia é também de profunda comunhão. Não estamos sozinhos. Acreditar que o Espírito Santo conduz a sua igreja tem como consequência uma profunda paz interior. É só na fé e a partir dela que podemos assumir a nossa missão. Dar testemunho de Jesus Cristo com uma vida coerente, servir as pessoas a nos confiadas, sem reservas e segundas intenções, dialogar respeitosamente com quem pensa e age diferente de nós, só é possível na força do Espirito. Por isso é preciso invocá-lo sempre. Creio que estes são os meus sentimentos no momento: consciência de quem sou, paz interior, alegria profunda, comunhão com a Igreja, e muita emoção ao deixar, fisicamente, a Igreja
(Prelazia de Tefé) que servi por catorze anos.

IAN - Recentemente, o senhor reuniu com Dom Luiz e os bispos auxiliares para conhecer a realidade da Arquidiocese. Nessa conversa, o senhor percebeu a existência de desafios específicos? Poderia citar algum e como pretende enfrentá-los?

Dom Sérgio - Os grandes desafios da Igreja no Brasil hoje, e que são também os desafios da Arquidiocese são apresentados nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. O primeiro deles é a Missão. Numa sociedade plural, fragmentada, dominada por uma cultura pós-moderna e urbana, com situações que degradam a pessoa humana, mas também com imensas possibilidades de comunicação, acesso a cultura e a educação, exercício da cidadania, superação de preconceitos, entre outras, como anunciar Jesus Cristo e o Evangelho, indo até aqueles que estão afastados e excluídos pelas mais diferentes razões. Como chegar as cidades invisíveis dentro da grande cidade, que se escondem atrás das grades das prisões, dos muros dos hospitais, nos bairros degradados, nas invasões, mas também nos condomínios fechados, nos mercados e feiras, nas ruas do centro etc? A missão é urgente porque o crime organizado toma conta de uma parte de nossa sociedade, porque a vida não e' respeitada, porque as pessoas não têm perspectivas, porque a Palavra não é mais referência, e as vezes é até manipulada. O outro desafio é a formação e o fortalecimento de comunidades. A vida cristã e' essencialmente comunitária porque tem sua fonte no Deus que é Trindade. Num ambiente que reforça o individualismo, o relativismo, o imediatismo, mas que também apresenta tantas novas formas de vida em comunidade, que podem ser virtuais, afetivas, de interesse. Como formar verdadeiras comunidades cristãs, que vivam ao redor da palavra, que se organizem a partir do serviço mútuo, que transformem a realidade em que vivem exercendo a cidadania? Colocar a Palavra de Deus no centro das nossas vidas também representa um outro desafio. Propiciar o conhecimento da Palavra, formar cristãos católicos que a conheçam em profundidade e competência. Fazer com que a nossa liturgia, catequese, ação social, enfim toda a nossa vida seja uma resposta à Palavra, contida nas Escrituras, mas que é o próprio Jesus Cristo, o Verbo encarnado. Estas três urgências exigem uma Iniciação Cristã progressiva e constante. Fui informado que a coordenação de pastoral fez desta dimensão uma prioridade. Isto é fundamental e deve continuar. Mas toda a vida cristã desemboca no serviço à vida plena para todos. A Igreja não existe para si, mas, assim como Jesus, existe para que todos tenham vida e a tenham plenamente. Não preciso lembrar todas as situações em que vida e' diminuída e degradada. Não estamos sozinhos nesta empreitada. É preciso juntar forças. Não é possível que num país de maioria esmagadoramente cristã a vida humana seja tão desrespeitada. O mesmo se diga em relação a natureza, diante da qual temos uma responsabilidade imensa. A Igreja de Manaus já enfrenta estes desafios com muita generosidade, fé e competência. Junto-me a ela neste esforço ousado de evangelização.

IAN - O senhor tem um plano especial para desenvolver ainda mais o trabalho das pastorais?

Dom Sérgio - As pastorais são as formas concretas que Igreja no Brasil criou para responder aos apelos da realidade de forma organizada e competente, mas sempre a partir da fé. Os grandes problemas são transversais. É importante que não se isolem. Daí a importância da pastoral de conjunto, que começa com a escuta respeitosa daquilo que o outro pensa e faz. Dai surge a necessidade de estruturas de comunhão e participação como secretariados, reuniões periódicas, coordenação etc. Estas estruturas existem e é preciso conservá-las e animá-las sem cair no perigo de torná-las vazias e sem vida. Espero poder participar ativamente, dentro das minhas possibilidades, destas estruturas, ouvindo, aprendendo, e contribuindo para que a pastoral seja realmente de conjunto.

IAN - Qual a sua visão sobre a proposta da CF 2013 de olhar para o jovem de forma inclusiva, canalizando suas habilidades para contribuir com a construção da “Civilização do Amor” do Reino de Deus aqui na terra?

Dom Sérgio -Juventude e' sempre importante e sempre deve ser prioridade. Juventude é futuro, mas é sobretudo o presente da sociedade e da Igreja. Também é o segmento que mais sofre as mazelas da sociedade. Basta visitar nossas cadeias públicas e penitenciárias. Há anos se vem pedindo uma Campanha da Fraternidade com este tema. A última vez foi em 92. Se somos uma Igreja Missionária, de comunhão, centrada na Palavra, a serviço da vida, e se queremos levar todos e todas a iniciação cristã, não podemos deixar de priorizar a Pastoral da Juventude e todos os movimentos, comunidades e organizações que a evangelizam abrindo espaço para a vida cristã e o exercício da cidadania.

IAN - A CF 2013 também traz a questão do uso das novas tecnologias que, com a devida ética, podem ampliar os horizontes da evangelização. Como o senhor vê isso?

Dom Sérgio - As novas tecnologias são um fato. Todos nós as utilizamos querendo ou não. Como toda nova tecnologia surgida no decorrer da história, elas abrem novas perspectivas de conhecimento e de comunicação criando cultura. Cabe a nós impregnar esta nova cultura com o Evangelho, cujos valores fundamentais são os mesmos. Como tudo que é humano elas são ambíguas. Mas não devemos ter medo delas. Aqui vale o principio da encarnação: “Deus amou tanto o mundo que enviou o seu próprio Filho para salva'-lo”.

IAN - Na sua opinião, os veículos de comunicação atuam com certa missionariedade quando conseguem alcançar comunidades distantes? Como o senhor vê o seu uso para a evangelização e de que forma poderíamos potencializar isso?

Dom Sérgio - Quero apenas lembrar o rádio pois, numa região como a nossa, parcelas numerosas de nossa população ainda tem no rádio o único meio de comunicação. Visitando as comunidades ribeírinhas se percebe a importância de nossas rádios de inspiração católica. Elas são muito ouvidas e apreciadas pelo serviço que prestam, informando, formando, divulgando. Fazem isto como serviço e assim evangelizam. Mas não podemos ficar só no rádio. É preciso investir na TV e, sobretudo, na internet, pois acredito que o futuro passa por aí. Investir tecnicamente, formar comunicadores, estar atento às transformações sociais, ter muita consciência de nossa identidade cristã e católica. Penso que o caminho vai por ai.

IAN - A posição de Bispo ocupa certa relevância política. Como o senhor vê isso? Como se deve proceder quando se trata de reivindicar os direitos dos pobres, injustiçados e excluídos, por exemplo?

Dom Sérgio - Minha posição é a da Igreja no Brasil. Não fazemos alianças partidárias e não nos alinhamos a partidos políticos. Mas isto não significa neutralidade. Temos princípios, valores, metas para uma sociedade mais justa e fraterna. Isto significa que participamos de campanhas como a da Ficha Limpa; exigimos o cumprimento da constituição como no caso dos direitos dos indígenas as suas terras; expressamos nossa opinião como, por exemplo, no caso do plebiscito sobre as armas; podemos apoiar candidatos que se propõem a lutar com o povo e pelo povo; denunciamos aquilo que julgamos ser contra a dignidade e os direitos humanos; lutamos por uma reforma do Estado brasileiro para que esteja mais a serviço dos pobres e dos pequenos do que do capital e daqueles , que podem pagar pelos seus serviços, como acontece muitas vezes. Estes são alguns exemplos que não esgotam o assunto. Mas acima de tudo espero que os católicos sejam cidadãos conscientes e participantes e que a fe' que professamos nos leve a assumir as nossas responsabilidades, o que para alguns significa participar de um partido politico, concorrer a cargos eletivos ou participar do poder do Estado através de concursos, como é o caso do poder judiciário. Que os cristãos católicos que são funcionários públicos, além de serem tratados com a dignidade que merecem, sejam de fato servidores do povo. Penso também que devemos participar e incentivar os Conselhos Paritários (formados por representantes da sociedade civil e de órgãos públicos), como espaço privilegiado de participação na gerência da coisa pública. , A opção pelos pobres e excluídos não é facultativa para a Igreja, ela é consequência do Evangelho que proclamamos. Todas as nossas estruturas devem estar a serviço, em primeiro lugar deles, e só quando estamos a serviço deles vivemos de verdade a fé que professamos. Agradeço a oportunidade deste diálogo com os leitores deste Informativo. Espero encontrá-los pessoalmente. A partir do momento que aceitei a nomeação do Santo Padre minha vida pertence a esta Igreja particular e com ela e através dela a toda a Igreja. Como Igreja, faço parte da vida do povo e da sociedade que vive em Manaus e nas outros sete municípios que fazem parte da Arquidiocese. Meu desejo é conviver e servir pedindo sempre que a vontade do Pai seja feita e que o Reino de Deus venha.

Fonte: Informativo Arquidiocese em Notícias, no. 88, Fevereiro 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Santa Maria nos livre de outro erro crasso

É sempre muito difícil escrever sobre uma tragédia, ainda mais quando se busca criar algum juízo de valor em cima da dor alheia. Uma mente sã não deseja envolver-se, ou mesmo ser protagonista de tragédias, mas muitas vezes podemos ser conduzidos ao patíbulo inconscientemente, pois depois do acontecido é muito fácil apontar as causas, determinar os erros crassos, aliás este adjetivo para erro é muito apropriado e pode muito bem ilustrar certos tipos de estupidez que são motivadas por arrogância, ou mesmo por uma cegueira dominada por autoconfiança.
Na Roma antiga, por volta de 59 a.C, o poder estava divido entre Júlio César, Pompeu Magnus e Marco Licinius Crasso. César e Pompeu entraram para a história como generais com elevado talento militar e com várias conquistas de importantes territórios no currículo. Júlio César conquistou a Gália, como era chamada a antiga região da França, e Pompeu dominou Jerusalém e a Península Ibérica, territórios de Portugal e Espanha juntas. Enquanto os dois primeiros eram estrategistas militares, que ampliaram o império romano, Crasso era mais conhecido por sua riqueza. No entanto, foi por certa teimosia e excesso de confiança que seu nome Crasso fico conhecido como sinônimo de estupidez.
Naquela época, os partos governavam um império em um vasto território, que hoje é localizado no Iraque, Irã, Turquia, Armênia e arredores. Marco Crasso almejava o feito de conquistar os Partos e à frente de um exército de aproximadamente 50 mil soldados enfrentou o general Surena na batalha de Carras. Apesar da superioridade numérica romana (os partos tinha um exército com apenas dez mil homens), Crasso cometeu uma sucessão de decisões equivocadas que o levaram à derrota. A primeira foi dispensar o reforço de mais 50 mil homens do rei Artavasdes II da Arménia, confiando que somente os seus homens fossem suficientes para vencer o inimigo. O segundo erro foi seguir com seus homens por um vale estreito que o deixou a mercê do inimigo. O terceiro equívoco foi, quando atacado, ter abandonado as táticas de guerra que faziam o exército romano vencedor, passando a seguir sua própria intuição. O quarto erro foi ter confiado demais nas informações passadas por um líder árabe local que o aconselhou a atacar de frente o exército parto, que na verdade o levou para um cilada.
Depois de massacrados e reduzidos os romanos a menos da metade de seu efetivo, Crasso resolveu negociar um acordo com os Partos, mas na verdade este foi o último erro, pois foi traído e morto, sendo protagonista da derrota mais humilhante já sofrida pelo Império Romano.
Há mais de dois mil anos sabemos que quando se estuda a anatomia de um desastre, a história vem demonstrando que várias tragédias não têm somente uma única causa, mas são provenientes de uma sucessão de erros. Na tragédia do voo TAM 3054, em 2007, na qual morreram 199 pessoas(187 a bordo e 12 em solo) as causas do desastre foram: 1) ausência de ranhuras na pista; 2) um dos motores com o reverso travado, que é o que ajuda a frear a aeronave; 3) falha humana, já que se presume que o piloto ao invés de desacelerar, acabou por colocar mais força nos motores; 4) falha mecânica dos freios aerodinâmicos. Aliadas a isto, as condições atmosféricas também contribuíram, pois chovia copiosamente, logo a pista estava molhada.
Em outra tragédia, da qual conheci em Belo Horizonte uma moça que perdeu a irmã, traz mórbida semelhança com o incêndio da boate Kiss em Santa Maria (RS). Trata-se do Canecão Mineiro onde morreram sete pessoas. As investigações demonstram: 1) foram acessos fogos no palcos que iniciaram um incêndio no teto; 2) Uma única porta de saída congestionada; 3) Os seguranças fecharam as portas para impedir que as pessoas saíssem sem pagar; 3) Um curto-circuito na rede elétrica deixou o galpão as escuras, dificultando a saída das pessoas; 4) Falha da fiscalização municipal e do corpo de bombeiros, que aprovaram o funcionamento de uma casa de show sem qualquer projeto de prevenção e combate a incêndio, tendo ainda sido constatado que o Corpo de Bombeiros tinha pleno conhecimento da situação irregular da casa de shows, prevaricando ao deixar de solicitar à Prefeitura a interdição do prédio.
Em Santa Maria apenas se repetiu o que pode acontecer em qualquer lugar do mundo quando vai se negligenciando aos poucos a prudência. Vemos a arrogância e a falta de preparo de seguranças que foram adestrados a não raciocinar frente a possibilidade da ocorrência de um sinistro. Temos a ignorância dos proprietários em não investir em prevenção, ou de não ter gente capaz de analisar e decidir que não se deve acender fogos em ambientes fechados. Será que não sabiam que há menos de seis anos o Canecão Mineiro ardeu e matou por causa disto? Se não, demonstram excesso de confiança ou incompetência, por não conhecerem adequadamente o mercado (ou o território) no qual estavam inseridos. Por último, novamente faltou atuação do poder público por autorizar o funcionamento de uma arapuca.
O nome singelo da pacata cidade gaúcha não a livrou da tragédia de um erro crasso, mas rogamos a Santa Mãe de Deus que console as família em luto e que nos livre e guarde de tragédia semelhante, pois existem muito “generais” que não conhecem a história e estupidamente tendem a repeti-la de forma contumaz, conduzindo pessoas a uma morte anunciada.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

O Alarma das Chacinas

Vivemos dias de Caim, o irmão que matou o irmão. Cresce assustadoramente o número de crimes causados pela busca de dinheiro, pela cobiça de herança e por mil outras razões. O que se vai tornando banalidade no resto do Brasil começa a acontecer entre nós. Filhos assassinam seus pais, dependentes de drogas agridem fisicamente suas mães. Irmãos brigam com irmãos por causa dos bens paternos. Alguns chocam com a opinião pública e ocupam páginas e páginas de jornais, os noticiários televisivos e radiofônicos. Infelizmente, depois do impacto inicial, vão eles para a lixeira do esquecimento.

Os estudiosos costumam dizer que os autores de tais crimes (os mais violentos) têm perfil doentio e são influenciados por fatores internos como a mágoa e o desejo de vingança ou por fatores externos, como o atrativo de vida luxuosa e drogas. O galho é que esse tipo de crime se torna frequente demais e mostra só a ponta de um iceberg de egoísmo e de mesquinharias que desgraçam a sociedade.

Está na hora de perguntar qual a causa de fundo que provoca atitudes horríveis, nojentas e sanguinárias. Não seria acaso o tipo de sociedade que se construiu sobre o desejo insaciável de comprar, comprar e comprar para ter, ter e ter? Criaram-se e criam-se necessidades sempre novas que, aliadas à publicidade bem feita, empurram-nos à loucura de colocarmos a felicidade em adquirirmos coisas. É uma sede e fome insaciáveis, um saco sem fundo, uma felicidade passageira.

Nós, seres humanos, temos horizontes que não podem ser reduzidos a coisas pequenas. Jesus já alertou: “Atenção. Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15).

A sociedade consumista gera competições exageradas e violência. O erro dos governos consiste em confundir PIB (Produto Interno Bruto) com FIB (Felicidade Interior Bruta). Esqueceram-se de que a finalidade natural não é possuir, mas ser feliz.

Observando o número de suicídios, as sociedade mais ricas não são necessariamente as mais felizes. A vida é muito mais que comprar e consumir.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus