Ao ler os Evangelhos, ficamos impressionados com o jeito de Jesus tinha no relacionamento com as crianças, os doentes, os pecadores públicos e os desprezados. Que sensibilidade! Que ternura! Que coração grande!
Por isso admira a dureza que usava contra líderes religiosos, fariseus e doutores da lei (grandes conhecedores da Bíblia) que infernizavam sua missão. Chamava-os de hipócritas, raça de víboras, sepulcros caiados(1), geração adúltera. São palavras pesadas, muito pesadas.
Por que esses modos violentos do Mestre, que era tão humilde e manso? A explicação é fácil de compreender. Com frequência a fé não passa de conversa, de boas intenções que não levam a nada, ou de vaidade tola. Impressionam as colocações de Tiago: "Assim também a fé, se não tiver obras, será morta" (Tg 2,17). Outros textos evangélicos dizem a mesma coisa: "Nem todo aquele que diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas sim, aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7,21). Um dos maiores desafios de que tem fé consiste em tornar a palavra de Deus vida em sua vida. A hipocrisia é praga frequente no meio de pessoas ditas religiosas. Foi o que aconteceu com alguns líderes religiosos do tempo de Jesus. Quem o condenou a morte de cruz não foram os ateus, mas pessoas profundamente voltadas à religião.
Engana-se quem pensa bastar o conhecimento da Bíblia para viver a palavra de Deus. A revelação feita nos escritos sagrados precisa tornar-se a respiração, o alimento, a alma de nossas almas. A leitura e os estudos bíblicos só têm sentido se levarem a conversão. Setembro, mês da Bíblia, e este ultimo dia de setembro, Dia Nacional da Bíblia, apresenta-se como ótima ocasião para renovar o nosso amor pelas Sagradas Escrituras e para nos deixarmos transformar por elas.
Que o nosso povo conheça a Palavra de Deus escrita, mas que não caia na tentação de lê-la como se cada consoante ou vogal, sejam inspiradas. A leitura da Bíblia conduz à mesma experiência amorosa e libertadora que viveram o povo de Israel, os discípulos de Jesus e as primeiras comunidades cristãs. É um caminho entusiasmante que vale a pena viver.
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
(1) Sepulcro caiado: Faz referência as sepulturas caiadas de branco, limpas por fora, mas podre por dentro por conterem um corpo em decomposição.
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