D. Luiz Soares Vieira |
O século 21 deveria
ser o século da morte da religião, o século da incredulidade.
Tanto se falou de “cidade secular”(*). O que irrompeu na cidade
foi uma volta ao sagrado, um sagrado que nem sempre é sadio, mas
que não desapareceu, pelo contrário, retorna o exorcismo, o
esoterismo e também as patologias religiosas. Vemos que a religião
precisa ser corrigida pela fé.
Mário Vargas Lhosa,
prêmio Nobel de Literatura em 2010 , escreveu que”: “a cultura
não consegue substituir a religião porque é exatamente a religião
que confere sentido e tranquilidade a existência”. Segundo ele,
dizer que a religião vai desaparecer é uma superstição.
Na antiga União
Soviética e na China os governos tentaram construir uma sociedade
sem religião, mas, eu vi com os meus próprios olhos, organizavam
rituais religiosos para vistas do povo às múmias de Lenin** e Mao
Tsé Tung**. Os escolares eram obrigados a submeterem-se ao silêncio,
vênias e reverências. E ai de quem não seguisse o cerimonial! Até
nós, visitantes, nos impuseram essa vexame.
Quando se exclui Deus,
coloca-se alguém ou alguma coisa em seu lugar. Chama-se a isso de
religião de substituição. Sem Deus tornamo-nos reféns da ditadura
da moda ou do consumismo. A religião, quando autêntica, combate o
que a maioria aceita como normal mas não é, contradiz certezas
tidas como infalíveis, dá coragem para resistir.
É preciso reconhecer
que as religiões tem as suas fraquezas, que devem ser vencidas por
meio de um processo de conversão e pedido de perdão. Existem
denominações religiosas que são doentias, destrutivas e
alienantes. Sem não forem purificadas, causam enormes prejuízos à
humanidade. Hoje se mata em nome de Deus, se enriquece em nome dos
céus, se cometem crimes em nome do Altíssimo. Isso não deve e nem
pode acontecer.
De modo especial, o
cristianismo, em suas várias expressões, só tem valor se for
expressão autêntica de fé. A hipocrisia tenta fortemente as
pessoas devotas e convém lembrar a guerra feita por Jesus contra os
fariseus foi justamente por isso.
“A contribuição,
que a religião pode oferecer ao mundo moderno, não está no
moralismo, mas nos valores, na confiança em Deus, na beleza e na
alegria da vida, na abertura para o que é diferente. Deus segura o
mundo em suas mãos. Eis nossa alegria e segurança. O amor e o bem
trazem alegria e isso nos encoraja e incentiva a recomeçar”,
conclui Dom Orlando Brandes.
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Notas:
* Secularização é um
movimento que prega um mundo sem a religião (metafísica), assim
“cidade secular” seria uma cidade na qual as pessoas não
precisariam de Deus, pois haveria uma tendência de transformar
certos aspectos da vida em absolutos, assumindo o lugar do divino na
vida das pessoas. O individualismo e o consumismo seriam um exemplo
de posições assumidas em uma cidade secularizada. Em uma cidade
secular a religião remanescente seria uma manifestação privada, na
qual as expressões de fé não seriam expostas em público.
** Respectivamente,
líder da revolução comunista russa de 1917 e líder da revolução
comunista chinesa em 1949.
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