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domingo, 29 de abril de 2012

A religião é indispensável


D. Luiz Soares Vieira
Não é de hoje que se questiona o papel da religião como necessária à sociedade. Já houve quem lhe jogasse nas costas os males da ignorância e da violência ou das desigualdades sociais. Recentemente o arcebispo de Londrina, D. Orlando Brandes escreveu o artigo que tem como título: “A religião é indispensável”. Ele faz uma constatação: “Já preconizou o desaparecimento da religião, assim como se decretou que tudo o que é sagrado, religioso e divino é superstição, é obsessão doentia, é medo da vida.

O século 21 deveria ser o século da morte da religião, o século da incredulidade. Tanto se falou de “cidade secular”(*). O que irrompeu na cidade foi uma volta ao sagrado, um sagrado que nem sempre é sadio, mas que não desapareceu, pelo contrário, retorna o exorcismo, o esoterismo e também as patologias religiosas. Vemos que a religião precisa ser corrigida pela fé.

Mário Vargas Lhosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010 , escreveu que”: “a cultura não consegue substituir a religião porque é exatamente a religião que confere sentido e tranquilidade a existência”. Segundo ele, dizer que a religião vai desaparecer é uma superstição.

Na antiga União Soviética e na China os governos tentaram construir uma sociedade sem religião, mas, eu vi com os meus próprios olhos, organizavam rituais religiosos para vistas do povo às múmias de Lenin** e Mao Tsé Tung**. Os escolares eram obrigados a submeterem-se ao silêncio, vênias e reverências. E ai de quem não seguisse o cerimonial! Até nós, visitantes, nos impuseram essa vexame.

Quando se exclui Deus, coloca-se alguém ou alguma coisa em seu lugar. Chama-se a isso de religião de substituição. Sem Deus tornamo-nos reféns da ditadura da moda ou do consumismo. A religião, quando autêntica, combate o que a maioria aceita como normal mas não é, contradiz certezas tidas como infalíveis, dá coragem para resistir.

É preciso reconhecer que as religiões tem as suas fraquezas, que devem ser vencidas por meio de um processo de conversão e pedido de perdão. Existem denominações religiosas que são doentias, destrutivas e alienantes. Sem não forem purificadas, causam enormes prejuízos à humanidade. Hoje se mata em nome de Deus, se enriquece em nome dos céus, se cometem crimes em nome do Altíssimo. Isso não deve e nem pode acontecer.

De modo especial, o cristianismo, em suas várias expressões, só tem valor se for expressão autêntica de fé. A hipocrisia tenta fortemente as pessoas devotas e convém lembrar a guerra feita por Jesus contra os fariseus foi justamente por isso.

“A contribuição, que a religião pode oferecer ao mundo moderno, não está no moralismo, mas nos valores, na confiança em Deus, na beleza e na alegria da vida, na abertura para o que é diferente. Deus segura o mundo em suas mãos. Eis nossa alegria e segurança. O amor e o bem trazem alegria e isso nos encoraja e incentiva a recomeçar”, conclui Dom Orlando Brandes.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus


Notas:

* Secularização é um movimento que prega um mundo sem a religião (metafísica), assim “cidade secular” seria uma cidade na qual as pessoas não precisariam de Deus, pois haveria uma tendência de transformar certos aspectos da vida em absolutos, assumindo o lugar do divino na vida das pessoas. O individualismo e o consumismo seriam um exemplo de posições assumidas em uma cidade secularizada. Em uma cidade secular a religião remanescente seria uma manifestação privada, na qual as expressões de fé não seriam expostas em público.


** Respectivamente, líder da revolução comunista russa de 1917 e líder da revolução comunista chinesa em 1949.  

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