Há dias li nos jornais
da terra que um idoso foi preso ao ser flagrado em roubo de não sei
o que. Curioso, fui examinar a notícia para saber quantos anos tinha
o ladrão idoso. Sabe quantos? Ele completou sessenta anos.
Existem pessoas que
viveram um bom tempo, mas não aprenderam a viver. Na Bíblia (Dn
13*) se conta a história de dois velhos juízes que exploravam a
ingenuidade do povo usando a força do cargo. Tentaram a bela Suzana
e, ao serem repelidos, a caluniaram e conseguiram condená-la à
morte.  Deus veio ao encontro da inocente por meio do jovem profeta
Daniel. Os dois velhos safados se deram mal.
A idade avançada nem
sempre é sinal de sabedoria. Mas, a notícia do velho ladrão de
Manaus alertou-me. Se ele é idoso em seus sessenta anos, imagine só
minha situação com os setenta e cinco que completei nesta semana!
Recentemente a
Universidade Aberta da Terceira Idada (UATI) lançou uma campanha que
deve ser apoiada por toda a sociedade: “Envelhecer eu vou, com
qualidade eu posso!” É o lema para o tema “Envelhecer em
Manaus”. Na cartilha de esclarecimento, lemos que “hoje em Manaus
são 152.467 idosos e em 2032 seremos mais de 600.000”. Como
aconteceu em países desenvolvidos, a população envelhece devido ao
avanço da medicina e da ciência, que esse limite de 80 anos foi
esticado e estamos mais perto da realização da profecia de Isaías
que afirma que nos tempos messiânicos “não alcançar os 100 anos
será maldição” (Is 65,20).
Confesso que me sinto
feliz em ter vivido 75 anos. Com o passar do tempo, as forças
físicas perderam o vigor, mas aprendi a viver, a ter serenidade, a
integrar minha vida a minha fé, a dar aos acontecimentos o peso
devido, nem maior e nem menor. As pessoas longevas, apresentadas na Bíblia e fora dela, me ensinaram que vale a pena viver nos camimhos de
Deus: Moisés, Josué, Samuel, Matatias, Ana, Simeão e tantos
mostraram-me que fomos criados para realizar os projetos divinos.
A vida é bela!
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Nota:
*Daniel 13
III.
 História de Susana (13,1-64)
Inocência de Susana – 1Havia um homem chamado Joaquim, que habitava na Babilónia. 2Tinha desposado uma mulher de nome Susana, filha de Hilquias, muito bela e piedosa para com o Senhor,3pois tinha sido educada pelos pais, que eram justos, de harmonia com a Lei de Moisés. 4Joaquim era muito rico. Contíguo à sua casa, tinha um pomar; e com frequência se reuniam em casa dele os judeus, pois que entre todos os seus compatriotas gozava de particular consideração.
5Tinham
 sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo. A eles
 justamente se aplicava a palavra do Senhor: «A iniquidade veio
 da Babilónia, de anciãos e juízes, que passavam por dirigir o
 povo.» 6Estas duas personagens frequentavam a
 casa de Joaquim, onde vinham procurá-los todos os que
 tinham qualquer contenda. 7À hora do meio-dia,
 quando toda esta gente se tinha retirado, Susana ia passear
 para o jardim do marido. 8Os dois anciãos
 viam-na todos os dias, por ocasião do passeio, de maneira que a sua
 paixão se acendeu por ela. 9Perderam a justa
 noção das coisas, afastaram os olhos para não olharem para o
 céu e não se lembrarem da verdadeira regra de conduta.
10Os
 dois consumiam-se de paixão por Susana, mas sem contarem um ao
 outro a sua própria emoção. 11Tinham
 vergonha de, reciprocamente, comunicarem o desejo que
 os dominava de a possuírem.12Todos os dias,
 inquietos, procuravam ocasião para a observar. 13Uma
 vez, disseram um ao outro: «Vamos para casa, pois é a hora de
 almoçar.» Saíram cada um por seu lado. 14Mas
 voltaram os dois atrás e encontraram-se num mesmo lugar. Ao
 interrogarem-se mutuamente sobre o motivo do regresso,
 confessaram um ao outro o seu desejo. Combinaram, então, um
 momento em que pudessem encontrar Susana só. Eles
 estudavam a ocasião propícia.
15Um
 dia, como de costume, chegou Susana, acompanhada apenas por
 duas criadas, e preparava-se para tomar banho no jardim, pois fazia
 calor. 16Não havia aí ninguém senão os dois
 anciãos que, escondidos, a espiavam. 17Disse
 às jovens: «Trazei-me óleo e unguentos e fechai as portas do
 jardim, para eu tomar banho.» 18Fizeram o que ela
 tinha mandado e, tendo fechado as portas do jardim, saíram
 pela porta traseira, para irem procurar o que lhes tinha sido
 pedido; não sabiam que os anciãos estavam lá escondidos.
19Logo
 que elas saíram, os dois homens precipitaram-se para junto de
 Susana 20e disseram-lhe: «As portas do jardim
 estão fechadas, ninguém nos vê. Nós ardemos de desejo por
 ti. Aceita e entrega-te a nós. 21Se não quiseres,
 vamos denunciar-te. Diremos que um rapaz
 estava contigo e que foi por isso mesmo que tu mandaste
 embora as criadas.» 22Susana bradou
 angustiada: «Estou sujeita a aflições de todos os lados! Se
 faço isso, é para mim a morte. Se não o faço, nem mesmo assim
 vos escaparei. 23Mas é preferível para mim
 cair em vossas mãos sem ter feito nada, do que pecar aos olhos do
 Senhor.» 24Susana, então, soltou altos
 gritos e os dois anciãos gritaram também com
 ela. 25E um deles, correndo para as portas do
 jardim, abriu-as.
26As
 pessoas da casa, ao ouvirem esta gritaria, precipitaram-se pela
 porta traseira para ver o que tinha acontecido. 27Logo
 que os anciãos falaram, os criados coraram de vergonha,
 pois jamais se tinha dito coisa semelhante de Susana. 28No
 dia seguinte, os dois anciãos, dominados pelo desejo criminoso
 contra a vida de Susana, vieram à reunião que tinha lugar em
 casa de Joaquim, seu marido.29Disseram diante de toda a
 gente: «Que se vá procurar Susana, filha de Hilquias, a mulher de
 Joaquim!» Foram procurá-la. 30E veio com os
 seus pais, os filhos e os membros da sua família. 31Susana
 era de figura delicada e bela de rosto. 32Porque
 estava velada, estes homens perversos, para
 ao menos se saciarem com a sua beleza, exigiram que levantasse o
 véu. 33Choravam todos os seus, assim como
 todos os que a conheciam.
Susana acusada pelos anciãos – 34Os dois anciãos levantaram-se diante de todo o povo e puseram a mão sobre a cabeça de Susana, 35enquanto ela, desfeita em lágrimas, mas de coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu. 36Disseram então os anciãos: «Quando passeávamos a sós pelo jardim, entrou ela com duas criadas; e depois de ter fechado as portas, mandou embora as criadas. 37Então, um jovem, que estava lá escondido, aproximou-se e pecou com ela. 38Encontrávamo-nos a um canto do jardim. Perante semelhante atrevimento, corremos para eles e surpreendemo-los em flagrante delito. 39Não pudemos ter mão no rapaz, porque era mais forte do que nós, abriu a porta e escapou-se. 40A ela apanhámo-la; mas, quando a interrogámos para saber quem era esse rapaz, 41recusou responder-nos. Somos testemunhas disto.»
Dando
 crédito a estes homens, que eram anciãos e juízes do povo, a
 assembleia condenou Susana à morte. 42Esta,
 então, em altos brados disse: «Deus eterno, que sondas os
 segredos, que conheces os acontecimentos antes que se
 dêem, 43Tu sabes que proferiram um falso testemunho
 contra mim. Vou morrer sem ter feito nada daquilo que
 maldosamente inventaram contra mim.»
Daniel defende a casta Susana – 44Deus ouviu a sua oração. 45Quando a conduziam para a morte, o Senhor despertou a alma límpida de um rapazinho, chamado Daniel, 46que gritou com voz forte: «Estou inocente da morte dessa mulher!» 47Toda a gente se voltou para ele e disse: «Que é que isso quer dizer?» 48E, dirigindo-se para o meio deles, afirmou: «Israelitas! Estais loucos, para condenardes uma filha de Israel, sem examinardes nem reconhecerdes a verdade? 49Recomeçai o julgamento, porque é um falso testemunho o que estes dois homens declararam contra ela.»
50O
 povo apressou-se a voltar. Os anciãos disseram a Daniel:
 «Vem, senta-te no meio de nós e esclarece-nos, porque Deus te deu
 maturidade!» 51Bradou Daniel: «Separai-os
 para longe um do outro e eu os julgarei.»
52Separaram-nos.
 Daniel, então, chamou o primeiro e disse-lhe: «Velho
 perverso! Eis que se manifestam agora os pecados que cometeste
 outrora em julgamentos injustos, 53ao
 condenares os inocentes, absolvendo os culpados, quando o Senhor
 disse: ‘Não farás com que morra o inocente ou o justo.’ 54Vamos!
 Se realmente os viste, diz-nos debaixo de que árvore os viste
 entreterem-se um com o outro.»
«Sob
 um lentisco.» – respondeu.
55Retorquiu
 Daniel: «Pois bem! Aí está a mentira, que pagarás com a tua
 cabeça. Eis que o anjo do Senhor, conforme a sentença divina,
 te vai rachar a meio!»
56Afastaram
 o homem, e Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: «Tu és um filho
 de Canaã e não um judeu. Foi a beleza que te seduziu e a paixão
 que te perverteu. 57É assim que sempre
 tendes procedido com as filhas de Israel, que, por medo, entravam em
 relação convosco. Uma filha de Judá, porém, não consentiu na
 vossa perversidade. 58Vamos, diz-me: sob que
 árvore os surpreendeste em atitude de se unirem?»
«Sob
 um carvalho.»
59Respondeu
 Daniel: «Pois bem! Também tu forjaste uma mentira que te vai
 custar a vida. Eis que o anjo do Senhor, de espada em punho, se
 dispõe a cortar-te ao meio, para vos aniquilar.»
60Logo
 a multidão deu grandes brados, e bendizia a Deus que salva os
 que põem nele a sua esperança.
61Toda
 a gente, então, se insurgiu contra os dois anciãos que Daniel
 tinha convencido de falso testemunho, pelas suas próprias
 declarações e deu-se-lhes o mesmo tratamento que eles tinham
 infligido ao seu próximo. 62De harmonia com a
 Lei de Moisés, mataram-nos. Deste modo, foi poupada naquele dia uma
 vida inocente.
63Hilquias
 e sua esposa louvaram a Deus por sua filha, Susana, com Joaquim,
 esposo dela, e todos os parentes, pois não tinham encontrado
 qualquer desonestidade na sua conduta. 64Daniel,
 daí em diante, gozou de elevada consideração entre os
 compatriotas.
 


 
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