Estamos nos aproximando
novamente de mais uma eleição, que dessa vez elegerá prefeitos e
vereadores de todas as cidades brasileiras. De maneira geral, já
estamos carecas de saber que não existe um projeto republicano de
governo em todas as esferas do executivo, cujas duas maiores
consequências são o desperdício de dinheiro público e o
desserviços à população que não tem de volta os beneficios
permanentes que justifiquem o tanto de impostos que pagamos.
Quando digo projetos
republicanos de governo refiro-me ao menos a continuidade de
programas que possam ser considerados necessários à população e
que mereçam ter prosseguimento nos governos sucessórios, mesmo que
sejam provenientes de um governo de oposição. No entanto, o que
vemos é o abandono completo, ou até mesmo o reinício do nada, de
algo que já existe, talvez com outro nome, com novas cores e novos
derrames de dinheiro. Poderia até ser mais plausível de
entendimento quando se trata de uma troca de poder entre situação e
oposição, mas o que dizer quando isto se repete na sucessão
política de um governo de mesmo partido, ou de mesmo grupo político?
Não existe neste caso coerência ou qualquer justificativa válida
para isto.
Minha análise sucinta
sobre a origem deste atraso reside em três causas principais:
1a) Que os
cargos executivos no Brasil são ocupados por políticos sem
ideologia, que tratam a função pública como algo de mérito
pessoal desvinculada do povo que os elegeu e geralmente ligados a
partidos que parecem reunir uma confraria de amigos isentos de
qualquer afinidade política/ideológica.
2a) Os
eleitores não votam em projetos de governo, pois escolhem votar no
indivíduo, geralmente um salvador da pátria, ou naquele que mais
tiver a cara-de-pau de inventar promessas, pois depois de eleito dará
um jeitinho para justificar o nariz de pinóquio na cara.
3a) Os
demais poderes que deveriam fiscalizar e punir a ação de maus
políticos não atuam, ou são lentos demais para agir, fazendo que a
expressão “rouba, mas faz” seja eticamente justificável por
meio de uma moral torta que prega que os fins justificam os meios.
Como resultado, indivíduos enriquessem muito na política com o
pouco de retorno que dão a população, assim quanto mais bilionária
e megalomaníaca a obra, mais dificil de fiscalizar, mais fácil de
desviar, ou jogar na lata do lixo o dinheiro público.
Como exemplo
emblemático disto, vou citar o caso do Sistema Expresso de Manaus,
que deveria ser em 2001 o melhor estilo de BRT* aos moldes de Curitba
e Bogotá (Transmilenio). No entanto, como não houve a continuidade
do sistema, mesmo sendo um projeto mal feito e mal conduzido na
época, os governos sucessórios (todos de um mesmo grupo político)
não se interessaram em aprimorá-lo, preferindo sucateá-lo. Como
efeito, para resolver o caos que é o transporte público manauara, o
atual governador Omar Aziz, que foi secretário de obra do então
perfeito Alfredo Nascimento (responsável pelo Sistema Expresso),
tenta justificar uma outra obra faraônica de um monotrilho** que
potencialmente já nasce deficitário e carente de subsídio de
dinheiro público para oferecer uma tarifa que seja acessível a
população. Isto é um ingrediente mais do que suficiente para o
sucateamento do trenzinho suspenso na primeira crise financeira, em
um Estado que se endivida muito com obras bilionárias e de pouco
resultado no desenvolvimento econômico e social. Refiro-me ao
investimento em infraestrutura e em políticas públicas republicanas
que perdurem e que possam trazer desenvolvimento, emprego e bem-estar
para a população. Na mesma linha, Amazonino Mendes, o atual
prefeito de Manaus, agora diz que tem condições de implantar um BRT
decente, mas acredito que poucos eleitores se lembram que Alfredo
Nascimento foi vice-governador de Amazonino em 1994. Amazonino ainda apoiou Alfredo (ex-cabo da aeronáutica) para a Prefeitura de Manaus em
1996, colocando a máquina de seu poder financeiro/político a
serviço, pois era governador na
época. Assim, fechando o ciclo, vale lembrar também que além de secretário
de obra, Omar Aziz foi vice-prefeito de Alfredo Nascimento em 2000.
Outro exemplo, que considero desperdício de dinheiro público e falta de continuidade de governos de mesma matiz, cor, cheiro e forma, está na sucessão que houve no atual Governo do Estado, no qual foi eleito Omar Aziz, que era vice-governador de Eduardo Braga (hoje senador e líder do governo Dilma no Senado). Logo que eleito, Omar Aziz criou uma marca pessoal para o seu governo, que é uma folha estilizada e mandou apagar a bandeira do Amazonas que foi apropriada por Eduardo Braga como símbolo de seu governo.
Vejam, quanto se gastou
de dinheiro somente com isto, considerando que deveriam ter projetos
de governo comum, afinal o bom-senso leva a crer que se tiveram o
apoio mútuo é porque compartilhavam de interesses comuns, mesmo que
se possa questionar se eram, ou não, republicanos. Também é bom
lembrar que Eduardo Braga já foi vice-prefeito de Amazonino, sendo
este último responsável por introduzir Braga na esfera de poder.
Hoje não se entendem, talvez porque Braga tenha crescido muito mais
que o seu mentor político, assim como hoje (em cúrtissimo tempo)
Eduardo Braga e Omar Aziz também parecem nutrir incompatibilidades de gênios
e interesses.
Não tenho o objetivo de ficar discutindo essas picuinhas regionais, mesmo porque já existe muita gente que se diz entendedor de política Baré escrevendo a respeito. Na verdade, o meu intuito é exemplificar que não será por meio do voto em pessoas, por mais unidas que possam se agrupar no palanque que se aproxima, que encontraremos a solução de continuidade de políticas de governo republicano que tragam progresso e avanço em nosso bem-estar econômico e social, pois já demonstraram (todos eles), que tudo vai bem enquanto vai um vintém até certo ponto. Quando saciados em suas necessidades básicas de dinheiro, no melhor estilo da hierarquia de necessidades de Maslow(***), buscam saciar sua vaidade no poder imperial, mas não há lugar para todos no topo da pirâmide.
Se na tua cidade, no teu Estado é a mesma coisa, certamente não é mera coincidência, pois esta é a política brasileira que se baseia nos interesses de pessoas e não em projetos de governo. Talvez um bom início para a mudança seria acabar com o desperdício de dinheiro em marcas pessoais e em logos de governo. A população não precisa disto, haja vista que o único benefício prático e inflar a vaidade e o ego desta classe de políticos.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
Notas: (*) BRT – Bus
Rapid Transport, que é conhecido pelos ônibus articulados que
trafegam em vias exclusivas, funcionando como se fossem metro de
superfície; (**) Monotrilho é um trem elevado bidirecional que
trafega em um único trilho, muito utilizado em parques de diversões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário