Quando
chega o final do ano é costume de alguns, inclusive de quem vos escreve, fazer
uma reflexão sobre o que passou e lançar um raio de luz sobre o que se pode
desejar para o próximo ano e o que será possível tornar realidade. Deixar o
sedentarismo, perder peso, ler livros que se deseja ler, fazer um curso etc. No
entanto, nossas vidas muitas vezes são guiadas por planejamento de curto prazo,
como todos esses que citei e, portanto, deixamos de planejar em longo prazo.
O
planejamento de curto prazo é mais fácil de fazer, porque invariavelmente
depende muito mais de uma vontade pessoal, tanto que se pode iniciar um regime,
exercícios físicos e até abandoná-los, assim como largar um livro ou um curso
no meio do caminho. Porém, os de longo prazo não dependem exclusivamente de
nossa vontade, pois tem interferência direta de fatores exógenos, ou melhor
dizendo, depende de fatores que estão fora de nosso controle e poder de
decisão, como a política econômica do país e as decisões de outros agentes
sociais que nos cerca, como a família e as relações de trabalho, dentre outros.
Exemplificando, iniciar uma faculdade é um planejamento de longo prazo que
requer esforço de tempo e dinheiro (talvez um pouco menos de dinheiro em uma
faculdade pública), pois é necessário primeiramente resolver a questão
financeira que envolve esta decisão. Um financiamento estudantil pode sofrer
revés dependendo da conjuntura econômica, assim como a perda do emprego (ou da
fonte de recursos financeiros) e isto pode postergar, ou mesmo colocar fim, no
que se planejou. Ainda garimpando o mesmo exemplo, uma separação de casais pode
interferir também no desejo de concluir um curso superior, principalmente
quando o casal divide entre si as tarefas de cuidar dos filhos e da
infraestrutura da casa. O simples fato de necessitar alguém para ficar com os
filhos, e os custos financeiros e psicológicos que essa procura envolve, pode
inviabilizar a continuidade dos estudos.
Buscamos
esses exemplos, com as devidas adaptações e contextualização, nas decisões
empresariais de curto, médio e longo prazo. As decisões de curto prazo envolvem
muito mais uma decisão de olhar para si, enquanto que as de longo prazo uma
visão mais atenta ao ambiente externo que é incerto, mutável e além de nosso
controle. Porém, se existe uma hierarquia para iniciar os planejamentos, a que
deve ser feita por primeiro é aquela de longo prazo, sendo as de curto e médio
prazo apenas um desdobramento desse planejamento inicial que requer maior tempo
de maturação. Em nossa vida pessoal não costumamos a ter esse olhar detalhado de
longo prazo e a lógica do planejamento inverte-se. Planejamos em curto prazo,
nos desdobramos para tentar viabilizar esse planejamento em médio prazo e no
longo prazo deixamos ao planejamento divino, ou popularmente dizendo: “Seja o
que Deus quiser”.
Planejar
a vida pessoal não segue um padrão consagrado de sucesso, diferentemente do
planejamento organizacional que é ensinado em bons livros de estratégia
corporativa, porque quando se está no comando de uma empresa sentenças podem
ser deitadas e corporativamente tendem a ser seguidas, acompanhadas e
controladas. Na vida familiar é diferente, pois não se assume modernamente o
papel de “cabeça da família” que estabelece quem tem o papel de decisão. Hoje
se assume muito mais um modelo colaborativo e participativo com papéis bem
definidos, mas ainda assim penso que este modelo é minoria, pois o que mais
encontro é o modelo anárquico, no qual cada um age e pensa conforme suas
próprias necessidades, sem olhar os demais, ou em um modelo autoritário no qual
manda aquele que tem o controle financeiro. Assim, primordialmente o
planejamento de longo prazo pessoal passa na identificação de que tipo de
família se está inserido e o quanto se pode ser resiliente as mudanças naturais
do núcleo familiar. Portanto, aqueles que não desejam dar satisfações tendem a
viver sozinhos, longe da vida familiar, ou estão confortavelmente inseridos em
uma família anárquica.
Penso
que os objetivos pessoais de longo prazo, por tudo que está relacionado acima,
para terem sucesso também devem ser inseridos no planejamento familiar de longo
prazo, pois sem o apoio da família muito provavelmente não serão alcançados.
Contudo, hoje a instituição que mais vem sendo atacada modernamente é a
família, pois vivemos dias da cultura da individualidade acima de tudo e
perde-se a visão plural de convivência, na qual é preciso muitas vezes
dialogar, negociar, ceder para manter e avançar. Colocar a família como base
para o planejamento pessoal de longo prazo ainda hoje, dentro do meu juízo, é o
melhor caminho para se conseguir alcançar nossos objetivos pessoais.
Não
envolver a família, por exemplo, no objetivo de emagrecer, é colocar-se à mesa
comendo salada enquanto os demais saboreiam uma lasanha tornando tudo mais
difícil. Não envolver a família no objetivo de ter recursos para custear um
curso superior, corre-se o risco de individualmente todos se endividarem
comprometendo a renda familiar e o sonho não ser alcançado.
Sem
o apoio da família, seja o planejar de curto ou longo prazo, tudo fica mais
penoso. Portanto, um passo para se iniciar a conquista de um objetivo pessoal nesse
ano que se inicia é colocar a família em lugar de destaque e importância nas
decisões que envolvem nossa vida. Famílias que planejam juntas, naturalmente
realizam mais.
Aproveito para desejar um feliz ano novo repleto de paz, saúde e com muitas realizações.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.