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sábado, 27 de dezembro de 2014

Ano Novo, tempo de fazer novos planos.



Quando chega o final do ano é costume de alguns, inclusive de quem vos escreve, fazer uma reflexão sobre o que passou e lançar um raio de luz sobre o que se pode desejar para o próximo ano e o que será possível tornar realidade. Deixar o sedentarismo, perder peso, ler livros que se deseja ler, fazer um curso etc. No entanto, nossas vidas muitas vezes são guiadas por planejamento de curto prazo, como todos esses que citei e, portanto, deixamos de planejar em longo prazo.

O planejamento de curto prazo é mais fácil de fazer, porque invariavelmente depende muito mais de uma vontade pessoal, tanto que se pode iniciar um regime, exercícios físicos e até abandoná-los, assim como largar um livro ou um curso no meio do caminho. Porém, os de longo prazo não dependem exclusivamente de nossa vontade, pois tem interferência direta de fatores exógenos, ou melhor dizendo, depende de fatores que estão fora de nosso controle e poder de decisão, como a política econômica do país e as decisões de outros agentes sociais que nos cerca, como a família e as relações de trabalho, dentre outros. Exemplificando, iniciar uma faculdade é um planejamento de longo prazo que requer esforço de tempo e dinheiro (talvez um pouco menos de dinheiro em uma faculdade pública), pois é necessário primeiramente resolver a questão financeira que envolve esta decisão. Um financiamento estudantil pode sofrer revés dependendo da conjuntura econômica, assim como a perda do emprego (ou da fonte de recursos financeiros) e isto pode postergar, ou mesmo colocar fim, no que se planejou. Ainda garimpando o mesmo exemplo, uma separação de casais pode interferir também no desejo de concluir um curso superior, principalmente quando o casal divide entre si as tarefas de cuidar dos filhos e da infraestrutura da casa. O simples fato de necessitar alguém para ficar com os filhos, e os custos financeiros e psicológicos que essa procura envolve, pode inviabilizar a continuidade dos estudos.

Buscamos esses exemplos, com as devidas adaptações e contextualização, nas decisões empresariais de curto, médio e longo prazo. As decisões de curto prazo envolvem muito mais uma decisão de olhar para si, enquanto que as de longo prazo uma visão mais atenta ao ambiente externo que é incerto, mutável e além de nosso controle. Porém, se existe uma hierarquia para iniciar os planejamentos, a que deve ser feita por primeiro é aquela de longo prazo, sendo as de curto e médio prazo apenas um desdobramento desse planejamento inicial que requer maior tempo de maturação. Em nossa vida pessoal não costumamos a ter esse olhar detalhado de longo prazo e a lógica do planejamento inverte-se. Planejamos em curto prazo, nos desdobramos para tentar viabilizar esse planejamento em médio prazo e no longo prazo deixamos ao planejamento divino, ou popularmente dizendo: “Seja o que Deus quiser”.

Planejar a vida pessoal não segue um padrão consagrado de sucesso, diferentemente do planejamento organizacional que é ensinado em bons livros de estratégia corporativa, porque quando se está no comando de uma empresa sentenças podem ser deitadas e corporativamente tendem a ser seguidas, acompanhadas e controladas. Na vida familiar é diferente, pois não se assume modernamente o papel de “cabeça da família” que estabelece quem tem o papel de decisão. Hoje se assume muito mais um modelo colaborativo e participativo com papéis bem definidos, mas ainda assim penso que este modelo é minoria, pois o que mais encontro é o modelo anárquico, no qual cada um age e pensa conforme suas próprias necessidades, sem olhar os demais, ou em um modelo autoritário no qual manda aquele que tem o controle financeiro. Assim, primordialmente o planejamento de longo prazo pessoal passa na identificação de que tipo de família se está inserido e o quanto se pode ser resiliente as mudanças naturais do núcleo familiar. Portanto, aqueles que não desejam dar satisfações tendem a viver sozinhos, longe da vida familiar, ou estão confortavelmente inseridos em uma família anárquica.

Penso que os objetivos pessoais de longo prazo, por tudo que está relacionado acima, para terem sucesso também devem ser inseridos no planejamento familiar de longo prazo, pois sem o apoio da família muito provavelmente não serão alcançados. Contudo, hoje a instituição que mais vem sendo atacada modernamente é a família, pois vivemos dias da cultura da individualidade acima de tudo e perde-se a visão plural de convivência, na qual é preciso muitas vezes dialogar, negociar, ceder para manter e avançar. Colocar a família como base para o planejamento pessoal de longo prazo ainda hoje, dentro do meu juízo, é o melhor caminho para se conseguir alcançar nossos objetivos pessoais. 

Não envolver a família, por exemplo, no objetivo de emagrecer, é colocar-se à mesa comendo salada enquanto os demais saboreiam uma lasanha tornando tudo mais difícil. Não envolver a família no objetivo de ter recursos para custear um curso superior, corre-se o risco de individualmente todos se endividarem comprometendo a renda familiar e o sonho não ser alcançado.

Sem o apoio da família, seja o planejar de curto ou longo prazo, tudo fica mais penoso. Portanto, um passo para se iniciar a conquista de um objetivo pessoal nesse ano que se inicia é colocar a família em lugar de destaque e importância nas decisões que envolvem nossa vida. Famílias que planejam juntas, naturalmente realizam mais.

Aproveito para desejar um feliz ano novo repleto de paz, saúde e com muitas realizações.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

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