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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O Custo de Troca

Um amigo aqui em minha comunidade, por mais que eu usasse de todo o vernáculo possível para explicar-me, não conseguiu compreender porque advogo a necessidade do povo brasileiro provocar a alternância de poder. Então me veio a lembrança do que se chama “custo de troca”.

O termo “custo de troca” é um conceito mercadológico que explica a defecção de um consumidor por um serviço (ou produto). Ou melhor dizendo, quando a relação, que existe entre aquele que fornece e aquele recebe, deteriora-se a tal ponto que simplesmente qualquer outra coisa pode ser melhor que aquilo que é oferecido atualmente. Quando isto ocorre, diz-se que o cliente alcançou o patamar de “custo de troca”.  

Alguns jargões populares podem tentar justificar manter um governo por mais de uma década. Pode-se dizer: “em time que está ganhando não se mexe”. No entanto, acredito que estamos perdendo de goleada para falta de ética, para falência da moral e para a corrupção, vinda de um partido que historicamente prometeu que faria diferente. Alguns até podem se perguntar: Mas seria possível fazer política, garantir governabilidade sem o jogo do “toma-lá-dá-cá”, no qual o governo é loteado como se fosse a partilha de um butim? Seria a motivação de quem entra na vida partidária a mesma que no passado inspiraram piratas a singrarem os mares para roubar as riquezas do mundo? Hoje, fraudar licitações, desviar recursos de estatais, operar descaradamente caixa dois, fazer tráfico de influência, tudo isto como se fosse do jogo normal da política, cabendo a nós aceitar e continuar votando nessa gente de tão baixa estirpe e princípios?

Eu acredito que a grande maioria do povo brasileiro alcançou o limiar do “custo troca” desse governo que está há doze anos no poder. Aliás, tem uma frase atribuída a Eça de Queiroz que diz: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”.

Embora esteja claro que esse governo não mereça mais o nosso voto, infelizmente há quem, levado pela desesperança, possa acreditar que será melhor continuar com eles, porque a política é feita assim e eles promoveram avanços sociais. Assim, poderíamos até perdoar, mas fui ensinado que só se perdoa a quem pede perdão e isto jamais passou pela cabeça deles. Pelo contrário, o que existe é a negação de que tenham feito alguma coisa errada. Não houve mensalão e o que está acontecendo na Petobras é simplesmente um ardil montado pela imprensa golpista que é dominada pelas elites. Nesse sentido, Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, teria dito: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. E então acompanhamos um jogo de mentiras de uma propaganda oficial enganosa que tem por objetivo fazer crer que “os fins justificam os meios”.

O que iremos fazer no dia 5 de outubro é muito mais que trocar um xampu anticaspa por outro mais eficiente, ou mesmo trocar um fabricante de amaciante por outro. O que está verdadeiramente em jogo é se o próximo governo terá condições de tirar o Brasil do atoleiro dos espasmos de crescimento pífio, conter a inflação e manter a estabilidade econômica cujo descontrole tanto maltratou gerações. Assim, não acredito que tão grande empreitada possa ser feita por gente de tão baixa moral e de princípios éticos rasteiros. Aliás, tem uma frase de Millôr Fernandes que define muito bem essa gente: “Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder”. Por puro cinismo, essa citação profética foi escrita por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso em março, em sua agenda pessoal na qual foram anotadas as propinas distribuídas a políticos e laranjas. Alguém que adotou o comportamento tão torto e escreve um pensamento deste em uma agenda de registro de corrupção, ou é sinal de psicopatia, ou tem a crença que tudo isso vai passar e que a impunidade será a sua glória.

Promover a estabilidade econômica e manter os programas de distribuição de renda é o mínimo que se deseja e não há quem diga que fará o contrário. Já promover a ética na política não pode vir de quem diz que “não sabia”,  que “não tinha menor ideia”, alheia a toda a sujeira debaixo de seu nariz.

O recado é claro: O brasileiro consciente e minimamente informado atingiu o seu “custo de troca”.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

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