Nessa
semana que passou, aqui próximo ao conjunto habitacional que resido, eu
acompanhei uma caminhada de um candidato ao governo do Amazonas. Em uma rua
apertada repleta de comércios que mal passava um carro de cada vez, como são
todas as ruas de bairros manauaras que surgiram de invasões (nas quais faltou
planejamento urbano), viam-se nas sacadas das casas faixas, cartazes e banners de outros dois adversários.
A
primeira vista, parecia que a população do local já havia feito as suas
escolhas e que seria inoportuna aquela caminhada. No entanto, em um dado
momento uma senhora de uma dessas sacadas acena e pede para o candidato subir,
no que é prontamente atendida. Para minha surpresa, ela o abraça e declara-se
eleitora dele, apesar da imensa faixa de outro candidato mais bem pontuado nas
pesquisas. Absolutamente não se trata de uma paradoxal indecisão de uma
eleitora, mas a coerência que sucumbe à necessidade quando R$ 100,00 são
oferecidos. Isso mesmo, o espaço de uma faixa é alugado por certa quantia em
dinheiro, a depender do tamanho.
O
Tribunal Superior Eleitoral – TSE divulgou que nesses dois primeiros meses de
campanha os candidatos a governador gastaram R$ 362 milhões, quase ao mesmo
tempo em que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que está preso desde
junho, confessou que o dinheiro recebido de contratos superfaturados da
Petrobras faziam caixa para campanha de políticos ligados a base aliada do
governo Dilma. Com a ajuda do doleiro Alberto Youssef, conforme investigação da
força-tarefa da Operação Lava Jato da Polícia Federal, estima-se que R$ 10
bilhões foram movimentados no esquema. A pergunta é: A condenação de políticos
no mensalão não teve efeito didático sobre aqueles que fazem caixa dois? Parece
que a resposta é não.
Está mais
que evidente que a soma dos gastos de campanha são maiores que aqueles
registrados oficialmente pelo TSE, pois é muito provável que esses aluguéis de
consciências que vemos espalhados em muros e sacadas não vão para a
contabilidade oficial do partido/coligação, ou seja, quem passa na rua imagina
que a colocação de uma faixa em uma residência não tem relação pecuniária, mas
sim ideológica. Ledo engano, pois a partir desse episódio que me despertou
interesse, fiquei sabendo de outros casos em que correligionários de candidatos
ofereceram dinheiro para fixar propaganda política em residências. São para
custear esse tipo de despesa que existe o caixa dois.
Não
existe inocência alguma nos métodos contábeis que protagonizou Delúbio Soares,
condenado no julgamento do mensalão do PT, quando afirmou que o seu partido não
fazia “caixa dois”, apenas não contabilizava excedentes de dinheiro. Porém, o
dinheiro desviado pela corrupção faz falta em algum lugar, como é o caso da
Petrobras quando é comparada aos outros gigantes do petróleo. Por exemplo, no
ano passado a Petrobras (1) tinha valor de mercado avaliado em US$ 86,8
bilhões, bem atrás da Exxon Mobil (US$ 422,3 bilhões), PetroChina (US$ 202
bilhões), Chevron (US$ 227,2 bilhões), Royal Dutch Shell (US$ 234,1 bilhões). A
Petrobras só consegue ser um pouco melhor que a “bolivariana” Ecopetrol da
Venezuela (US$ 83,6 bilhões).
A
descoberta do pré-sal não foi suficiente para colocar a empresa brasileira em
situação de igualdade com as demais congêneres em valor de mercado, mesmo
sinalizando a grande possibilidade de lucros em um futuro próximo. O valor da
empresa tem relação direta com a gestão da empresa que, por sua vez, confere a
credibilidade. Assim, a desconfiança do mercado faz o preço das ações
despencarem como é o que vem acontecendo com a Petrobras nos últimos 10 anos.
Em 2000,
o governo permitiu que os trabalhadores que tivessem depósitos no FGTS pudessem
trocar por ações da Petrobras, considerando a remuneração vexatória que têm a
correção do FGTS que sequer consegue repor a inflação. Portanto, quem trocou R$
1,00 de depósito do FGTS por valor correspondente em ações da Petrobras e reinvestiu
os dividendos, hoje teria aproximadamente R$ 5,28. No entanto, se na mesma
época o investidor pudesse ter aplicado em títulos atrelados a taxa Selic, como
Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e CDBs, hoje teria R$ 6,58. Porém, antes de
achar que é pouca a diferença e festejar, do valor das ações da Petrobras
retire 141,90%, que foi a taxa de inflação registrada no período (considerando
o IPCA Geral). No final, o valor correto da atualização pelo poder de compra do
dinheiro seria R$ 3,86, ou seja, um rendimento ridículo de 0,92% ao mês em um
país que os juros do cheque especial são de pornográficos 11% ao mês.
Este
texto pode ser enfadonho, como é certo que o brasileiro comum não faz esse tipo
de análise tão necessária para entender no que se transformou a Petrobras, por
mais que o governo venha com números de 538% de valorização das ações, porque
isto é conversa para boi dormir, como dizia minha avó. Na verdade, em se
tratando de finanças, ensino para o meus alunos que a análise de um bom negócio
não é relativo a sua própria produção de valor, mas sempre comparando o
desempenho geral do mercado, pois a grama do vizinho sempre será mais verde e é
este o conceito básico do que se chama “custo de oportunidade”.
Finalizando,
hoje a Petrobras é um péssimo negócio para os brasileiros, mas um ótimo negócio
para quem dela sangra dinheiro que vai abastecendo caixa dois de campanhas, que
no final vemos estampadas em largas faixas e cartazes pelo meio das ruas. Não
se engane, pois isto é apenas a ponta do iceberg.
João Lago.
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.
Notas: (1) Forbes Global 2000 Leading Companies
RECEITAS E LUCROS DE COMPANHIAS DE PETRÓLEO NO MUNDO
Petrobras – Receita: US$ 141,2 bilhões - Lucro de US$ 10,9
bilhões
Ecopetrol – Receita: US$ 37,7 bilhões – Lucro de US$ 7
bilhões
Exxon Mobil – Receita: US$ 394 bilhões - Lucro de US$ 32,6 bilhões
PetroChina – Receita: US$ 328,5 bilhões - Lucro de US$ 21,10
bilhões
Chevron – Receita: US$ 211,8 bilhões - Lucro de US$ 21,42
bilhões
Royal Dutch Shell – Receita: US$ 451,4 bilhões - Lucro de US$
16,4 bilhões
Petrobras – Receita: US$ 141,46 bilhões - Lucro de US$ 11,09
bilhões.
Fonte: Forbes Global 2000 Leading Companies
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