Estamos a sete dias de
corrigir um grande equívoco, que foi deixar momentaneamente Manaus,
ou melhor dizendo o Amazonas, sem uma forte oposição ao grupo
liderado pelo senador Eduardo Braga.
Tenho amigos paulistas,
dentre eles meus queridos Luiz Gibello e Elias Mangerona (que
receberão esta reflexão), que acompanharam-me e foram testemunhas
de debates políticos acalorados, nos quais sempre posicionei-me
contrário a política elitista do PSDB paulista, a qual não
desejava vê-la novamente como hegemônica no plano nacional, pois
bastaram para mim os anos de FHC. Não mudei muito minha opinião
sobre Fernando Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, principalmente
quando ouvia declarações de gente que a eles seguiam em
demonstração de ódio ao imigrante nordestino, ao pobre iletrado
como se esses fossem causadores de todas as mazelas brasileiras,
quando na verdade esses sempre foram vítimas de maus políticos.
Certamente odiar pobre e nordestino não é o posicionamento
político-ideológico do PSDB paulista, mas alguma coisa estava
errada quando eles conseguiam inspirar gente que pensava desta
maneira, como Jorge Bornhausen do PFL (hoje DEM) quando declarou:
"Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos" (leia mais
sobre Bornhausen e seus laços com o PSDB em:
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=433
). Assim, durante os sete anos que morei em São Paulo, politicamente
eu era uma voz dissonante entre vários que apoiavam os políticos do
PSDB paulista.
Quando morei em Minas
Gerais, o PSDB mineiro de Aécio Neves não conseguia grande espaço
nacional, mesmo porque o lugar majoritário parece ser destinado aos
paulistas, mais precisamente entre Serra e Alckmin, que fazem um
revezamento quando o assunto é eleições presidenciais. Lembro-me
que dizia que a única chance de Aécio Neves concorrer a presidência
da república seria ele cambiar para o PMDB do avô Tancredo Neves,
pois enquanto permanecer atrelado ao PSDB será visto pelos paulistas
como um mero político regional. A propósito disto, no jornal A
Crítica de Manaus traz a notícia que Aécio Neves virá à Manaus
para o comício de Arthur Neto do dia 24 deste mês, no qual
emprestará o apoio ao ex-colega senador e, principalmente,
declarando que: “Você terá aqui nos seus companheiros do Senado
da República, parceiros de todas as horas que compreendem a
importância da Zona Franca de Manaus como um dos mais importantes
instrumentos de desenvolvimento econômico deste país”. Seria
impensável esta frase ser proferida da boca de Serra e Alckmin, pelo
fato do tanto que a Zona Franca de Manaus incomoda o empresariado
paulista, grande financiador do PSDB.
Visão parcial da ponte sobre o Rio Negro em seu vão central |
Voltando para o meu
quintal, no qual finquei meus pés ao retornar para Amazonas em 2007,
tive a infelicidade de presenciar no meu estado o crescimento de uma
política ao estilo do Malufismo paulista, do “rouba, mas faz”.
Hoje mesmo, a notícia estampada nos jornais é que a Polícia
Federal visitou novamente condomínios de luxo na Ponta Negra (bairro
nobre de Manaus), fazendo busca e apreensão de documentos que
supostamente podem comprovar o pagamento de mais de R$ 10 milhões em
contratos publicitários fraudulentos em nome de “laranjas” no
governo de Eduardo Braga. Uma das casas visitadas pela Polícia
Federal foi a de Hiel Levy, que foi secretário de comunicação na
gestão de Braga, hoje senador e autor de grandes obras, como a ponte
sobre o Rio Negro, que foi orçada inicialmente em R$ 574,8 milhões,
mas que ao final da obra custou R$1,091 bilhão. Erro de previsão
igual a este somente aquele das pesquisas que diziam que Vanessa
Grazziotin estava tecnicamente empatada com Arthur Neto no primeiro
turno. É tão absurdo este valor pago na ponte que uma outra de 42
km construída sobre o mar da China, na mesma época custou US$ 35
mil por quilômetro construído, enquanto que a ponte Baré foi paga
em US$ 154 mil o quilômetro (*), em pouco mais de 3 km de extensão.
Será que o “custo Brasil” é capaz de encarecer tanto assim uma
obra? Em todo caso existiu uma clara afrontação a Lei 8.666/93, na
qual obras não podem ter uma variação de valor acima de 25% do orçado, que é
plausível.
Vanessa Grazziotin, que
venceu Arthur Neto para o senado com apertada margem votos, sendo
notório que a diferença que a fez vencedora foram os votos do
interior do Amazonas, no qual ainda se encontra a figura do “coronel
de barranco”, dono político da consciência de um povo
desinformado e subserviente. O cacique mor desta vitória de Vanessa
para o senado foi Eduardo Braga, que contou com a ajuda de Lula que
deseja metaforicamente “varrer” Arthur Neto da política, da
mesma forma que Bornhausen disse querer varrer o PT e os “incultos
pobres e nordestinos que o apoiam” do cenário político-nacional.
As duas formas de fazer política são abomináveis!
A beleza da democracia
está na possibilidade da existência de uma oposição e os povos
democraticamente evoluídos, que tem consciência deste mecanismo, o
sabem utilizar muito bem. Ainda não chegamos neste estágio, pois
sequer conseguimos evitar os fichas-sujas, quanto mais usar a
democracia a nosso favor. Ou seja, precisamos novamente de equilíbrio
das forças políticas no Amazonas, para demonstrar que não somos um
grande curral de Eduardo Braga e que estamos acompanhando as visitas
VIPs da Polícia Federal e atentos a todas as notícias de jornais,
que certamente ainda irão surgir para demonstrar o quanto o poder
pode corromper quando entregue em mãos erradas.
Resumindo, Manaus não é Coari(**).
João Lago
Administrador e
professor
Notas:
(*) pela cotação
do dólar no dia da inauguração: 24.10.2011
(**) Para entender porque a comparação de Manaus com Coari acesse: http://www.amazonianarede.com.br/not%C3%ADcias/pol%C3%ADtica/472-coari-faz-manifesta%C3%A7%C3%A3o-contra-elei%C3%A7%C3%A3o-de-adail-e-a-favor-da-ficha-limpa
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