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domingo, 21 de outubro de 2012

As vésperas da correção de um grande erro


Estamos a sete dias de corrigir um grande equívoco, que foi deixar momentaneamente Manaus, ou melhor dizendo o Amazonas, sem uma forte oposição ao grupo liderado pelo senador Eduardo Braga.

Tenho amigos paulistas, dentre eles meus queridos Luiz Gibello e Elias Mangerona (que receberão esta reflexão), que acompanharam-me e foram testemunhas de debates políticos acalorados, nos quais sempre posicionei-me contrário a política elitista do PSDB paulista, a qual não desejava vê-la novamente como hegemônica no plano nacional, pois bastaram para mim os anos de FHC. Não mudei muito minha opinião sobre Fernando Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, principalmente quando ouvia declarações de gente que a eles seguiam em demonstração de ódio ao imigrante nordestino, ao pobre iletrado como se esses fossem causadores de todas as mazelas brasileiras, quando na verdade esses sempre foram vítimas de maus políticos. Certamente odiar pobre e nordestino não é o posicionamento político-ideológico do PSDB paulista, mas alguma coisa estava errada quando eles conseguiam inspirar gente que pensava desta maneira, como Jorge Bornhausen do PFL (hoje DEM) quando declarou: "Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos" (leia mais sobre Bornhausen e seus laços com o PSDB em: http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=433 ). Assim, durante os sete anos que morei em São Paulo, politicamente eu era uma voz dissonante entre vários que apoiavam os políticos do PSDB paulista.

Quando morei em Minas Gerais, o PSDB mineiro de Aécio Neves não conseguia grande espaço nacional, mesmo porque o lugar majoritário parece ser destinado aos paulistas, mais precisamente entre Serra e Alckmin, que fazem um revezamento quando o assunto é eleições presidenciais. Lembro-me que dizia que a única chance de Aécio Neves concorrer a presidência da república seria ele cambiar para o PMDB do avô Tancredo Neves, pois enquanto permanecer atrelado ao PSDB será visto pelos paulistas como um mero político regional. A propósito disto, no jornal A Crítica de Manaus traz a notícia que Aécio Neves virá à Manaus para o comício de Arthur Neto do dia 24 deste mês, no qual emprestará o apoio ao ex-colega senador e, principalmente, declarando que: “Você terá aqui nos seus companheiros do Senado da República, parceiros de todas as horas que compreendem a importância da Zona Franca de Manaus como um dos mais importantes instrumentos de desenvolvimento econômico deste país”. Seria impensável esta frase ser proferida da boca de Serra e Alckmin, pelo fato do tanto que a Zona Franca de Manaus incomoda o empresariado paulista, grande financiador do PSDB.

Visão parcial da ponte sobre o Rio Negro em seu vão central 
Voltando para o meu quintal, no qual finquei meus pés ao retornar para Amazonas em 2007, tive a infelicidade de presenciar no meu estado o crescimento de uma política ao estilo do Malufismo paulista, do “rouba, mas faz”. Hoje mesmo, a notícia estampada nos jornais é que a Polícia Federal visitou novamente condomínios de luxo na Ponta Negra (bairro nobre de Manaus), fazendo busca e apreensão de documentos que supostamente podem comprovar o pagamento de mais de R$ 10 milhões em contratos publicitários fraudulentos em nome de “laranjas” no governo de Eduardo Braga. Uma das casas visitadas pela Polícia Federal foi a de Hiel Levy, que foi secretário de comunicação na gestão de Braga, hoje senador e autor de grandes obras, como a ponte sobre o Rio Negro, que foi orçada inicialmente em R$ 574,8 milhões, mas que ao final da obra custou R$1,091 bilhão. Erro de previsão igual a este somente aquele das pesquisas que diziam que Vanessa Grazziotin estava tecnicamente empatada com Arthur Neto no primeiro turno. É tão absurdo este valor pago na ponte que uma outra de 42 km construída sobre o mar da China, na mesma época custou US$ 35 mil por quilômetro construído, enquanto que a ponte Baré foi paga em US$ 154 mil o quilômetro (*), em pouco mais de 3 km de extensão. Será que o “custo Brasil” é capaz de encarecer tanto assim uma obra? Em todo caso existiu uma clara afrontação a Lei 8.666/93, na qual obras não podem ter uma variação de valor acima de 25% do orçado, que é plausível.

Vanessa Grazziotin, que venceu Arthur Neto para o senado com apertada margem votos, sendo notório que a diferença que a fez vencedora foram os votos do interior do Amazonas, no qual ainda se encontra a figura do “coronel de barranco”, dono político da consciência de um povo desinformado e subserviente. O cacique mor desta vitória de Vanessa para o senado foi Eduardo Braga, que contou com a ajuda de Lula que deseja metaforicamente “varrer” Arthur Neto da política, da mesma forma que Bornhausen disse querer varrer o PT e os “incultos pobres e nordestinos que o apoiam” do cenário político-nacional. As duas formas de fazer política são abomináveis!

A beleza da democracia está na possibilidade da existência de uma oposição e os povos democraticamente evoluídos, que tem consciência deste mecanismo, o sabem utilizar muito bem. Ainda não chegamos neste estágio, pois sequer conseguimos evitar os fichas-sujas, quanto mais usar a democracia a nosso favor. Ou seja, precisamos novamente de equilíbrio das forças políticas no Amazonas, para demonstrar que não somos um grande curral de Eduardo Braga e que estamos acompanhando as visitas VIPs da Polícia Federal e atentos a todas as notícias de jornais, que certamente ainda irão surgir para demonstrar o quanto o poder pode corromper quando entregue em mãos erradas.

Resumindo, Manaus não é Coari(**).

João Lago
Administrador e professor

Notas: 
(*) pela cotação do dólar no dia da inauguração: 24.10.2011

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