No dia 29 de Junho, sexta-feira passada, como fazemos todo o ano, realizamos a procissão de São Pedro. A parte que acontece por terra e na qual o andor com o quadro do santo é levado nos ombros dos fiéis, teve seu itinerário mudado devido à cheia do Rio Negro e a mudança do trânsito no centro da cidade.
Desta vez saímos da igreja de Educandos e nos dirigimos a beira do rio (Negro) onde iniciamos a parte fluvial do ato religioso. Em várias embarcações, subimos o rio até a Ponta do Ismael e o descemos até a feira da Panair. Depois, a pé, levamos o quadro até o terreno que fica em frente da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Educando, onde houve a Missa Campal. Mais uma vez a tradição bateu em nossos corações. Lembrei-me de um trecho do livro de Saint-Exupery, "O Pequeno Príncipe" quando o menino vindo do outro planeta diz: "Eis o meu segredo. É muito simples: Não se vê senão com os olhos do coração. O essencial é invisível aos olhos". E continua o escritor: "O essencial é invisível aos olhos", repete o pequeno príncipe para lembrar-se".
O que significou aquela multidão de pessoas caminhando ou navegando atrás de um quadro que representa um homem idoso? Evidente que Pedro não é Deus nem dever adorado como tal. Por que essa manifestação cheia de ternura e fé? Entre os participantes encontravam-se pescadores e suas famílias. Os olhos dos corações desses homens e mulheres faziam-nos voltar para Simão Pedro, que viveu há quase dois mil anos, que se encontrou com Jesus, que foi por Ele chamado a deixar as redes e ser pescador de almas.
Os olhos do coração descobrem naquele galileu uma pessoa do povo, homem casado, trabalhador, cheio de qualidades e tomado por alguns defeitos, muito parecido conosco, generoso e fraco, em quem o amor venceu os pecados. O escrito russo Dostoiévski escreveu que a beleza salvará o mundo. Não se pode negar que o Rio Negro com aqueles barcos todos em procissão é um cenário deslumbrante. Em ocasiões como essa, sente-se a presença de Deus.
É urgente que conservemos as boas tradições que nos ligam a nossas raízes culturais e revelam a beleza que salva.
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
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