Powered By Blogger

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Petróleo é nosso, e a corrupção também.



Nessa semana que passou, aqui próximo ao conjunto habitacional que resido, eu acompanhei uma caminhada de um candidato ao governo do Amazonas. Em uma rua apertada repleta de comércios que mal passava um carro de cada vez, como são todas as ruas de bairros manauaras que surgiram de invasões (nas quais faltou planejamento urbano), viam-se nas sacadas das casas faixas, cartazes e banners de outros dois adversários.

A primeira vista, parecia que a população do local já havia feito as suas escolhas e que seria inoportuna aquela caminhada. No entanto, em um dado momento uma senhora de uma dessas sacadas acena e pede para o candidato subir, no que é prontamente atendida. Para minha surpresa, ela o abraça e declara-se eleitora dele, apesar da imensa faixa de outro candidato mais bem pontuado nas pesquisas. Absolutamente não se trata de uma paradoxal indecisão de uma eleitora, mas a coerência que sucumbe à necessidade quando R$ 100,00 são oferecidos. Isso mesmo, o espaço de uma faixa é alugado por certa quantia em dinheiro, a depender do tamanho.

O Tribunal Superior Eleitoral – TSE divulgou que nesses dois primeiros meses de campanha os candidatos a governador gastaram R$ 362 milhões, quase ao mesmo tempo em que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que está preso desde junho, confessou que o dinheiro recebido de contratos superfaturados da Petrobras faziam caixa para campanha de políticos ligados a base aliada do governo Dilma. Com a ajuda do doleiro Alberto Youssef, conforme investigação da força-tarefa da Operação Lava Jato da Polícia Federal, estima-se que R$ 10 bilhões foram movimentados no esquema. A pergunta é: A condenação de políticos no mensalão não teve efeito didático sobre aqueles que fazem caixa dois? Parece que a resposta é não.

Está mais que evidente que a soma dos gastos de campanha são maiores que aqueles registrados oficialmente pelo TSE, pois é muito provável que esses aluguéis de consciências que vemos espalhados em muros e sacadas não vão para a contabilidade oficial do partido/coligação, ou seja, quem passa na rua imagina que a colocação de uma faixa em uma residência não tem relação pecuniária, mas sim ideológica. Ledo engano, pois a partir desse episódio que me despertou interesse, fiquei sabendo de outros casos em que correligionários de candidatos ofereceram dinheiro para fixar propaganda política em residências. São para custear esse tipo de despesa que existe o caixa dois.

Não existe inocência alguma nos métodos contábeis que protagonizou Delúbio Soares, condenado no julgamento do mensalão do PT, quando afirmou que o seu partido não fazia “caixa dois”, apenas não contabilizava excedentes de dinheiro. Porém, o dinheiro desviado pela corrupção faz falta em algum lugar, como é o caso da Petrobras quando é comparada aos outros gigantes do petróleo. Por exemplo, no ano passado a Petrobras (1) tinha valor de mercado avaliado em US$ 86,8 bilhões, bem atrás da Exxon Mobil (US$ 422,3 bilhões), PetroChina (US$ 202 bilhões), Chevron (US$ 227,2 bilhões), Royal Dutch Shell (US$ 234,1 bilhões). A Petrobras só consegue ser um pouco melhor que a “bolivariana” Ecopetrol da Venezuela (US$ 83,6 bilhões).

A descoberta do pré-sal não foi suficiente para colocar a empresa brasileira em situação de igualdade com as demais congêneres em valor de mercado, mesmo sinalizando a grande possibilidade de lucros em um futuro próximo. O valor da empresa tem relação direta com a gestão da empresa que, por sua vez, confere a credibilidade. Assim, a desconfiança do mercado faz o preço das ações despencarem como é o que vem acontecendo com a Petrobras nos últimos 10 anos.

Em 2000, o governo permitiu que os trabalhadores que tivessem depósitos no FGTS pudessem trocar por ações da Petrobras, considerando a remuneração vexatória que têm a correção do FGTS que sequer consegue repor a inflação. Portanto, quem trocou R$ 1,00 de depósito do FGTS por valor correspondente em ações da Petrobras e reinvestiu os dividendos, hoje teria aproximadamente R$ 5,28. No entanto, se na mesma época o investidor pudesse ter aplicado em títulos atrelados a taxa Selic, como Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e CDBs, hoje teria R$ 6,58. Porém, antes de achar que é pouca a diferença e festejar, do valor das ações da Petrobras retire 141,90%, que foi a taxa de inflação registrada no período (considerando o IPCA Geral). No final, o valor correto da atualização pelo poder de compra do dinheiro seria R$ 3,86, ou seja, um rendimento ridículo de 0,92% ao mês em um país que os juros do cheque especial são de pornográficos 11% ao mês.

Este texto pode ser enfadonho, como é certo que o brasileiro comum não faz esse tipo de análise tão necessária para entender no que se transformou a Petrobras, por mais que o governo venha com números de 538% de valorização das ações, porque isto é conversa para boi dormir, como dizia minha avó. Na verdade, em se tratando de finanças, ensino para o meus alunos que a análise de um bom negócio não é relativo a sua própria produção de valor, mas sempre comparando o desempenho geral do mercado, pois a grama do vizinho sempre será mais verde e é este o conceito básico do que se chama “custo de oportunidade”.

Finalizando, hoje a Petrobras é um péssimo negócio para os brasileiros, mas um ótimo negócio para quem dela sangra dinheiro que vai abastecendo caixa dois de campanhas, que no final vemos estampadas em largas faixas e cartazes pelo meio das ruas. Não se engane, pois isto é apenas a ponta do iceberg.


João Lago.
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

Notas:  (1) Forbes Global 2000 Leading Companies
 

RECEITAS E LUCROS DE COMPANHIAS DE PETRÓLEO NO MUNDO
Petrobras – Receita: US$ 141,2 bilhões - Lucro de US$ 10,9 bilhões
Ecopetrol – Receita: US$ 37,7 bilhões – Lucro de US$ 7 bilhões
Exxon Mobil – Receita: US$ 394 bilhões - Lucro de US$ 32,6  bilhões
PetroChina – Receita: US$ 328,5 bilhões - Lucro de US$ 21,10 bilhões
Chevron – Receita: US$ 211,8 bilhões - Lucro de US$ 21,42 bilhões
Royal Dutch Shell – Receita: US$ 451,4 bilhões - Lucro de US$ 16,4 bilhões
Petrobras – Receita: US$ 141,46 bilhões - Lucro de US$ 11,09 bilhões.
Fonte: Forbes Global 2000 Leading Companies

sábado, 30 de agosto de 2014

Bloqueio da Alameda Santos Dumont neste domingo

À 0h deste domingo (31/8), foi bloqueada a alameda Santos Dumont e armado um palanque imenso impedindo e desviando o trânsito no Conjunto Santos Dumont - Bairro da Paz.

O nosso blog entrou em contato com a ManausTrans, por meio do número 0800 092 1188 para verificar se havia qualquer pedido de autorização para o bloqueio da alameda. Em contato com o Sr. Erivaldo, que nos atendeu nesta madrugada, disse que não havia nenhum pedido para bloqueio da via junto à ManausTrans. Pediu que entrássemos em contato com a Polícia Militar e comunicasse também o ocorrido, o que fizemos prontamente e imediatamente fomos atendidos por meio do número 3632-6244.

Uma viatura do Ronda no Bairro esteve no local e notificou o Sr. Denis Siqueira, suposto responsável pelo bloqueio, a apresentar toda a documentação necessária para qualquer evento que se deseje em via pública, quais sejam:

- Autorização do Corpo de Bombeiros;
- Autorização da SEMMAS, quanto a poluição sonora;
- Autorização de via emitido pela ManausTrans
- Abaixo assinado dos moradores declarando que concordam com o transtorno que está (será) sendo causado pelo barulho e pela interdição da rua.

O Sr. Siqueira disse que teria as autorizações, mas não as mostrou as autoridades policiais, mas ficou de comprovar que as tem. No entanto, pelo menos uma delas, que é a solicitação de interdição da rua, sabemos que até às 0h deste domingo (31/8) não havia qualquer registro no ManausTrans.

Temos que agir dentro da lei, respeitando o estado democrático de direito. Por exemplo, em um evento que se dizia folclórico, que tivemos organizado em nosso campo de futebol no dia 22 de Junho, até às 2h da madrugada ainda soltavam foguetes e rojões a perturbar o sossego, o sono e a paz dos moradores de nosso conjunto.

Precisamos ter gente comprometida com a paz, o sossego e que zele pela preservação de ações dentro da legalidade.

Agradecemos a equipe do Ronda no Bairro, pertencente ao 17o. DIP, que em poucos minutos esteve no local e ao atendimento eficaz do ManausTrans, o qual registrou nossa ocorrência e ficou de enviar uma viatura para fiscalização na manhã deste domingo ou tão logo possível.

Continuamos vigilantes.

Amipaz.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

É a Classe Média.

Este diálogo, da peça teatral "Le Diable Rouge", de Antoine Rault, entre os personagens Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, século XVIII, apesar do tempo decorrido.... não é bem atual? Leiam:

Colbert:- Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…

Mazarino:- Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas e não consegue honra-las, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert:- Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino:- Criando outros.

Colbert:- Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino:- Sim, é impossível.

Colbert:- E sobre os ricos?

Mazarino: -E os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta, faz viver centenas de pobres.

Colbert: - Então, como faremos?

Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

François Harb Filho
Consultor de Marketing

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O impossível


O que é o impossível?
É uma gota de desesperança em um oceano de possibilidades.
É naufragar com os olhos voltados para o mar.
É deixar de enxergar a praia e afogar-se na imensidão do azul.
É não acreditar que vale a pena nadar contra as ondas.
É desistir sem buscar forças para olhar ao redor.
É não crer que o impossível somente existe
   por nossa
      profunda
         falta de
               fé.
 
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

domingo, 17 de agosto de 2014

O Mausoléu de Edir Macedo



As pirâmides do Egito são os mausoléus mais conhecidos no mundo e colocaram na história três faraós egípcios: Quéops, Quéfren e Miqueirinos. Foram várias dinastias egípcias e foram inúmeros os faraós, mas somente esses três são constantemente lembrados pela humanidade.

 Outro mausoléu famoso é Taj Mahal, construído na Índia pelo imperador mongol Shah Jahan para abrigar o corpo de sua amada Aryumand, que dentre todas as esposas do monarca era a favorita, tanto que a chamava de Mumtaz Mahal, ou seja, “a eleita do palácio”.

Existiram outros mausoléus no mundo, mas em suntuosidade e tamanho o Taj Mahal e as três pirâmides do Egito são os maiores já erguidos pelo homem. Porém, no Século XXI em São Paulo, no bairro do Brás, poderá ter sido erguido um mausoléu que faria inveja aos faraós e ao imperador mongol. Trata-se do denominado “templo de Salomão” que talvez tenha sido construído para abrigar a múmia de Edir Macedo.

Posso estar enganado, mas se ainda estiver vivo aqui nesta terra, não vejo o fundador da Igreja Universal ser sepultado no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro, sua terra natal, ou mesmo no Cemitério Parque Morumbi em São Paulo. O primeiro cemitério é improvável porque leva o título honorífico de “São”, que designa um santo católico. Já o segundo, traz o inconveniente da simplicidade das lápides, pois mesmo personalidades como Airton Sena da Silva estão sepultadas debaixo de uma simples pedra onde está gravado o epitáfio do falecido. Coloque-se na mente de Edir Macedo e chegarás à conclusão que seria necessário a construção de um imenso e suntuoso mausoléu para abrigá-lo no post mortem, a menos que seja cremado, abduzido por extraterrestres ou elevado aos céus em uma carruagem de fogo, como foi o profeta Elias. Não, Edir Macedo terá que ser sepultado em algum lugar.

Não tenho o dom de prever o futuro, mas as mentes megalomaníacas do passado nos dão algumas pistas do que poderá acontecer com o cadáver de Edir Macedo. Por exemplo, logo depois da morte de Vladimir Lênin, Josef Stálin encarregou-se das exéquias do chefe da revolução russa de 1917, mandando mumificar o corpo do líder comunista e construiu um mausoléu na praça vermelha para expô-lo ao povo. Depois que a URSS acabou, a maioria da população russa foi a favor do sepultamento de Lênin em um cemitério, mas o governo russo ainda o mantém exposto como uma melancólica e sinistra atração turística.

A construção do “templo de Salomão” veio para trazer polêmica e até uma gravação antiga que supostamente é atribuída ao Edir Macedo, diz revelar que ele próprio afirmou que o templo seria reconstruído para nele abrigar o demônio. Sinceramente não acredito que o Edir Macedo deva ser elevado ao papel do anticristo, previsto em II Tessalonicenses 2,4 que diz: ”o adversário, aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus”. É certo que a igreja de Edir Macedo apoia o aborto que nas outras correntes cristãs esse tema não é bem vindo. Assim como, dessas correntes neopentecostais, foi o bispo Macedo o único a ter a audácia de criticar e reprovar Cristo em seus atos, quando disse não entender e não aceitar o primeiro milagre de Jesus (a transformação da água em vinho e uma festa de casamento), criticando-o severamente.

Enfim, não acredito em tudo isso porque primeiro deveria aceitar que o prédio de Edir Macedo seria um templo, para que a profecia pudesse ser cumprida. Em segundo lugar, porque a finalidade que aqui atribuo ao “templo de Salomão” é que seja simplesmente o grande mausoléu de Edir Macedo, nada mais. Obviamente, uma denominação neopentecostal como essa cresce no seio de uma sociedade carente de educação e discernimento, na qual qualquer palavra “profética” de prosperidade (porque é isso que elas vendem) serve como alento em meio à pobreza de suas mazelas sociais. Portanto, nada mais coerente que na inauguração do suntuoso mausoléu várias personalidades da política estivessem ali juntas e irmanadas com Edir Macedo, porque muitas coisas eles tem em comum, dentre elas: A cara-de-pau, o desejo de enriquecer a custa da ignorância do povo e a obtenção do poder.

Não são todas as igrejas cristãs que agem desta forma, mas são tantas portinhas nas periferias que se abrem a todo o momento (tão distintas, mas tão semelhantes entre si) que cada vez mais se torna difícil separar o joio do trigo.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

sábado, 9 de agosto de 2014

Verificação de denúncia de invasão de área verde

Nessa última sexta-feira (8/8) estivemos na rua Comandante Paulo Lasmar, entre as ruas Comandante Rangel e Comandante José Siqueira, para verificar denúncia de invasão de área verde do Conjunto Santos Dumont.

Chegamos ao local por volta das 20h50min., e nos deparamos com um ônibus estacionado e mais três automóveis na entrada da trilha que leva até o topo do morro que fica dentro de área verde. Fomos recepcionados pelo vigia da rua Coronel Brito que nos acompanhou mata a dentro até o local da reunião.

Depois de uma caminhada de aproximadamente 5 minutos, chegamos ao topo do morro e encontramos um grupo de aproximadamente 50 pessoas realizando um ritual de cunho religioso. Inclusive um dos carros estava adesivado com propaganda política de um desses pastores neopentecostais, que não citaremos o nome em respeito a legislação eleitoral em vigor. No entanto, podemos acrescentar que se trata de um político que tem no currículo ações penais diversas, com o peculato, crime de falsificação de documento público e uso de documento falso (falsidade ideológica), compra de votos na eleição de 2010, quando foi encontrado R$ 475 mil em dinheiro vivo que seria usado para tal. Ou seja, será que é possível confiar em alguém que tenha este currículo? O político em questão parece demonstrar não ter nenhum pudor em transgredir as leis brasileira, que ainda usa sua facção religiosa para eleger-se, valendo-se da ignorância e desespero de incautos para conseguir votos para um mandato parlamentar e fugir mais facilmente da justiça.




Não vamos cometer o erro de generalizar e duvidar que não se tenha somente a intenção ordeira de usar essa área verde para rituais religiosos, mas também temos que ficar alertas para que grupos (seja qual sua denominação social, política ou religiosa) não venha invadir e apropriar-se de nosso patrimônio ecológico para uso particular, construindo edificações, cercas, ou mesmo desmatando o verde.

Estamos em contato com nossa rede de amigos para que possamos subir uma comissão de moradores durante o dia e verificar as condições de sujeira e degradação, ou mesmo se há algum início de construção e ocupação permanente.

Abaixo, confira a vídeo reportagem que fizemos de nossa subida ao topo do morro, bem como a entrevista que fizemos com o líder de um dos grupos religiosos que estava no topo do morro, pois não se tratava de apenas um.


terça-feira, 29 de julho de 2014

A Política do Continuísmo Descontinuado



Eu tenho acompanhado pelo rádio, TV, jornal, internet, sempre que posso as entrevistas nas quais candidatos ao governo dizem por que desejam o voto do eleitor. É bem verdade que alguns desses candidatos já tiveram (ou ainda tem) na mão a caneta de chefe do executivo estadual e outros acalentam o sonho de possuí-la pela primeira vez. No entanto, antes de aprofundar-me na síntese de uma análise do discurso que é comum entre todos, gostaria de contar a estória a seguir.

Um homem decidiu morar no campo com sua família e viver da terra. Eventualmente o que era gerado de excedente, a família comercializava na feira da cidade e o dinheiro amealhado era utilizado na manutenção da própria casa, como pintura, troca de telhas e demais reparos necessários em sua casa. Com o passar do tempo, o excedente também passou a ser utilizado na compra de bens de consumo para o conforto da família. Os filhos do fazendeiro cresciam e aquela família já não precisava de tantos móveis e objetos e o dinheiro excedente começou a abastecer uma pequena poupança.

Os filhos do fazendeiro ajudavam o pai na lavoura sem abdicar de estudar na excelente escola rural que existia nas proximidades, principalmente porque aquela escola era um colégio agrícola, ou seja, desde as séries mais elementares o projeto de ensino era voltado para a realidade daquelas crianças. Assim, era comum os filhos conversarem com o pai sobre técnicas aprendidas na escola que poderiam melhorar o trabalho no campo, que eram prontamente implementadas com o dinheiro poupado. Logicamente, o fazendeiro pai sabia que sua família só iria prosperar se o trabalho iniciado por ele tivesse continuidade em seus filhos, pois era essa a atividade que os sustentava.

Voltando para o início do texto, utilizando a estória acima como pano de fundo, não encontro no discurso daqueles candidatos, que tiveram a oportunidade de ter a caneta na mão, o sentimento de continuidade necessário para alcançar um objetivo. Tudo parece indicar que governaram para si, sem a preocupação de deixar um rumo, uma direção que tacitamente pela inércia incontestável de um projeto político de estado (não de governo) pudessem com o tempo trazer melhorias para as próximas gerações. Faltou nesses candidatos o desprendimento do poder, pois opostos ao fazendeiro, não souberam dividir e conduzir seus seguidores a uma boa escola que pudesse edificar o espírito público. Seus correligionários não foram matriculados no ensino ético, tão pouco aprenderam o quanto é importante a continuidade de projetos de estado. Isto significa que não temos um resultado prático de melhoria na educação, saúde, transporte e segurança pública. Cada governo que se sucedeu trouxe o imediatismo do governante, a construir hospitais e batizá-los com o nome das respectivas progenitoras, que só funcionam bem no momento da inauguração, para depois carecerem de manutenção, falta de equipamentos, insumos e médicos. Parques, praças, escolas e áreas públicas são esquecidas, simplesmente porque foram construídas pelo predecessor. Aquele projeto de segurança exitoso não continua porque as viaturas quando não estão quebradas estão sem combustível. Projetos são abandonados com tamanha desfaçatez, pois dar continuidade seria como glorificar o antecessor e isto é um pecado para o projeto político individual de cada um.

Imaginemos que o fazendeiro da estória não tivesse encaminhado seus filhos para a escola, como poderiam contribuir com ideias inovadoras? Se o fazendeiro não tivesse a preocupação de dar manutenção sistemática em sua casa, ou mesmo de equipá-la de modo confortável, como estaria sua família agora? Ora, bem poderia ter aproveitado o dinheiro excedente para curtir com as raparigas da cidade, comprar roupas de grife, dar festas para os amigos e ostentar.

Compreender a situação presente da família do fazendeiro só é possível a partir da análise de suas ações passadas. Assim, também não podemos ignorar as ações passadas desses políticos para a compreensão de nosso presente, principalmente quando um mesmo grupo governa durante tanto tempo um mesmo estado, pois já não deveriam prometer o que já haviam prometido anteriormente, neste andar em círculos na qual a única coisa que prospera é a fortuna pessoal de cada um.

Devemos cobrar, acima de tudo, o fracasso e o abandono de tantos projetos ao longo do tempo, pois é inegável o desperdício de dinheiro público e não adianta dizer que foram os outros que falharam, quando esses saíram de sua própria casa. Criticar e dizer simplesmente que a casa está podre é ignorar que foram esses mesmos que construíram a podridão.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont