Eu tenho acompanhado pelo rádio, TV, jornal, internet,
sempre que posso as entrevistas nas quais candidatos ao governo dizem por que
desejam o voto do eleitor. É bem verdade que alguns desses candidatos já
tiveram (ou ainda tem) na mão a caneta de chefe do executivo estadual e outros
acalentam o sonho de possuí-la pela primeira vez. No entanto, antes de
aprofundar-me na síntese de uma análise do discurso que é comum entre todos,
gostaria de contar a estória a seguir.
Um homem decidiu morar no campo com sua família e viver da
terra. Eventualmente o que era gerado de excedente, a família comercializava na
feira da cidade e o dinheiro amealhado era utilizado na manutenção da própria
casa, como pintura, troca de telhas e demais reparos necessários em sua casa.
Com o passar do tempo, o excedente também passou a ser utilizado na compra de
bens de consumo para o conforto da família. Os filhos do fazendeiro cresciam e
aquela família já não precisava de tantos móveis e objetos e o dinheiro
excedente começou a abastecer uma pequena poupança.
Os filhos do fazendeiro ajudavam o pai na lavoura sem
abdicar de estudar na excelente escola rural que existia nas proximidades,
principalmente porque aquela escola era um colégio agrícola, ou seja, desde as
séries mais elementares o projeto de ensino era voltado para a realidade daquelas
crianças. Assim, era comum os filhos conversarem com o pai sobre técnicas aprendidas
na escola que poderiam melhorar o trabalho no campo, que eram prontamente implementadas
com o dinheiro poupado. Logicamente, o fazendeiro pai sabia que sua família só
iria prosperar se o trabalho iniciado por ele tivesse continuidade em seus
filhos, pois era essa a atividade que os sustentava.
Voltando para o início do texto, utilizando a estória acima como
pano de fundo, não encontro no discurso daqueles candidatos, que tiveram a
oportunidade de ter a caneta na mão, o sentimento de continuidade necessário
para alcançar um objetivo. Tudo parece indicar que governaram para si, sem a
preocupação de deixar um rumo, uma direção que tacitamente pela inércia
incontestável de um projeto político de estado (não de governo) pudessem com o
tempo trazer melhorias para as próximas gerações. Faltou nesses candidatos o
desprendimento do poder, pois opostos ao fazendeiro, não souberam dividir e conduzir
seus seguidores a uma boa escola que pudesse edificar o espírito público. Seus
correligionários não foram matriculados no ensino ético, tão pouco aprenderam o
quanto é importante a continuidade de projetos de estado. Isto significa que
não temos um resultado prático de melhoria na educação, saúde, transporte e
segurança pública. Cada governo que se sucedeu trouxe o imediatismo do
governante, a construir hospitais e batizá-los com o nome das respectivas
progenitoras, que só funcionam bem no momento da inauguração, para depois
carecerem de manutenção, falta de equipamentos, insumos e médicos. Parques,
praças, escolas e áreas públicas são esquecidas, simplesmente porque foram construídas
pelo predecessor. Aquele projeto de segurança exitoso não
continua porque as viaturas quando não estão quebradas estão sem combustível.
Projetos são abandonados com tamanha desfaçatez, pois dar continuidade seria
como glorificar o antecessor e isto é um pecado para o projeto político
individual de cada um.
Imaginemos que o fazendeiro da estória não tivesse
encaminhado seus filhos para a escola, como poderiam contribuir com ideias
inovadoras? Se o fazendeiro não tivesse a preocupação de dar manutenção
sistemática em sua casa, ou mesmo de equipá-la de modo confortável, como
estaria sua família agora? Ora, bem poderia ter aproveitado o dinheiro
excedente para curtir com as raparigas da cidade, comprar roupas de grife, dar
festas para os amigos e ostentar.
Compreender a situação presente da família do fazendeiro só
é possível a partir da análise de suas ações passadas. Assim, também não
podemos ignorar as ações passadas desses políticos para a compreensão de nosso
presente, principalmente quando um mesmo grupo governa durante tanto tempo um
mesmo estado, pois já não deveriam prometer o que já haviam prometido anteriormente,
neste andar em círculos na qual a única coisa que prospera é a fortuna pessoal
de cada um.
Devemos cobrar, acima de tudo, o fracasso e o abandono de
tantos projetos ao longo do tempo, pois é inegável o desperdício de dinheiro
público e não adianta dizer que foram os outros que falharam, quando esses
saíram de sua própria casa. Criticar e dizer simplesmente que a casa está podre
é ignorar que foram esses mesmos que construíram a podridão.
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
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