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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Seleção brasileira: “Para barco sem direção, não existe vento favorável”

Um amigo mineiro, de uma infância pobre em Teófilo Otoni-MG, que jamais esquentou os bancos de uma universidade, certa vez disse-me que antes de conseguir sucesso empresarial em revenda de veículos teve que ir à falência algumas vezes. Neste mesmo raciocínio, em Brasília quando era consultor do Sebrae, conheci a empresária Heloísa Assis (Zica) em uma palestra sobre empreendedorismo que nos contou como inconformada com o seu cabelo crespo, resolveu misturar diversos produtos em uma alquimia particular até chegar a uma fórmula que pudesse relaxar suas madeixas pixaim. A busca dessa fórmula perfeita durou dez anos e nesse período queimou o próprio couro cabeludo e também queimou os cabelos de parentes. Quando finalmente conseguiu o seu objetivo e cativando o interesse de conhecidos para ter um cabelo igual, Zica percebeu que poderia lucrar com a fórmula e fundou o salão Beleza Natural (no morro do Catambri, Tijuca-RJ). Em 2013 a Beleza Natural faturou R$ 180 milhões e vendeu 33% das ações de seu negócio por R$ 70 milhões ao grupo GP Investimentos. As histórias de empreendedorismo de meu amigo mineiro e de Zica se cruzam em três pontos: (1) Uma infância pobre; (2) Persistência para não desistir; (3) Empirismo sistemático até o sucesso.

Nessas duas histórias é certo que a característica mais importante é a perseverança, pois sem ela teriam desistido na primeira adversidade e não teriam apreendido com os próprios erros. No entanto, haveria a possibilidade de terem obtido sucesso em menos tempo, se juntamente com essa persistência Heloísa tivesse estudado química e meu amigo mineiro tivesse passado por uma escola de negócios, haja vista que ambos já eram empreendedores natos. Porém, ao verem seus negócios crescerem, foram abandonando o empirismo e passando a buscar ajuda em sofisticadas ferramentas de gestão, buscando apoio em consultorias e principalmente investindo em planejamento. Sem planejamento não é possível criar condições favoráveis para pisar em solo firme, ou plagiando Sêneca: “Para barco sem direção, não existe vento favorável”. Planejar economiza tempo, dinheiro, melhora a gestão quando estabelecidas em objetivos e metas.

A seleção da Alemanha, que nos impingiu a maior humilhação desde 1950, é um exemplo como o empirismo, mesmo nos esportes, já não faz sucesso mesmo com ventos favoráveis, pois ter bons jogadores já não é o suficiente, sendo necessário planejar. Iniciaram sua participação em solo brasileiro em dezembro do ano passado, quando começaram a construir seu Centro de Treinamento – CT na Vila de Santo André, litoral baiano, apenas 30 km do aeroporto de Porto Seguro. O CT e composto de um campo de futebol, um centro de imprensa e de treze casas, em um total de 65 quartos confortáveis, criando uma atmosfera de uma vila sossegada, muito distante dos grandes e congestionados centros urbanos. Porém, a escolha do local não foi aleatória, mas estrategicamente planejada e logisticamente adequada às locações das primeiras partidas da seleção alemã que ocorreram no nordeste. Ao final, todo o complexo será colocado à venda, pois na verdade trata-se de um projeto imobiliário de alto padrão.

Não é somente na escolha de construir seu próprio CT que a Federação Alemã de Futebol surpreende, mas com o uso da tecnologia para alcançar melhores resultados. Com a parceria que firmou com a SAP, empresa mundialmente conhecida por seus aplicativos de gestão integrada, foi desenvolvido um software que analisa com riqueza de detalhes o desempenho de cada um dos seus atletas nos treinamentos e nas partidas, bem como analisa seus adversários. Logicamente a partir da análise das deficiências é possível planejar melhorias, assim como aprimorar estratégias para atingir os melhores resultados. O mais importante neste software é que a informação não é exclusiva da equipe técnica, mas difundida entre todos os jogadores que as recebem em seus dispositivos móveis (tablets, smart phones etc.). No jogo contra o Brasil, por exemplo, o técnico Joachim Löw determinou que se atacasse a seleção brasileira com velocidade, pois o aplicativo já havia sinalizado que nossa zaga tinha dificuldade em recompor-se em ataques rápidos. O software mapeou os pontos fracos do Brasil e permitiu a equipe alemã planejasse estratégias para vencer o jogo.

Se a equipe alemã é um espelho de planejamento, a composição de nossa seleção foi baseada no empirismo, a começar pelas convocações com inúmeras tentativas de erros e acertos desde a era Mano Menezes, quando se fez a opção por uma renovação radical. Da seleção base de 2010 (do técnico Dunga) restaram apenas Júlio César, Thiago Silva e Ramires que ficaram para 2014, e nomes como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ganso, Robinho e Pato passaram e não prosperaram com Felipe Scolari. Enquanto isso a seleção alemã manteve o seu técnico, assim como oito jogadores de sua seleção que foi terceira colocada em 2010. Jogadores como Schweinsteiger, Klose, Podolski, Kroos, Khedira, Neuer e Phillip Lahm trouxeram sua experiência de copas passadas e agora estão as portas dos píncaros da glória. Absolutamente não desejo aqui dizer que o Dunga devia ter sido mantido como técnico, mesmo porque sua estreia como técnico ocorreu na seleção brasileira, em uma aventura de Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF). O que desejo apontar aqui é a desorganização e a falta investimento em planejamento estratégico na maior paixão do povo brasileiro que é a sua seleção nacional.

Em relação a seleção da Argentina, não vou entrar em maiores detalhes, mas a exceção do técnico Maradona, praticamente a seleção de 2010 é a base desta seleção atual, com sete jogadores daquela época (Messi, Mascherano, Di Maria, Aguero, Higuain, Romero e Maxi Rodriguez), mas que já foram fregueses dessa Alemanha, quando foram eliminados na última copa por 4 a 0 nas quartas de final. Assim, o jogo do domingo terá um significado especial, pois o histórico conspira para que a seleção germânica seja a grande vencedora desta copa, mas os argentinos estão motivados e Messi até já cantou a “musiquinha” infame que a torcida portenha trouxe para o Brasil para gerar provocações entre os brasileiros. Não arrisco dizer quem será campeão, mas torço para que os argentinos voltem para casa chupando o dedo.

Quanto à seleção brasileira, nesta aventura que foi trazer para o Brasil uma copa do mundo, com todas as deficiências em planejamento e atrasos para entregar as obras necessárias para o evento, tudo isto contribuiu para a decepção do povo brasileiro e a falta de planejamento também se refletiu na formação de um elenco fraco e muito abaixo da altura do espetáculo. O fracasso da seleção brasileira é um exemplo de como é importante planejar para se ter sucesso, inclusive no futebol.

João Lago
Administrador, professor, torcedor e morador do Conjunto Santos Dumont

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