Um amigo mineiro, de uma infância pobre em Teófilo Otoni-MG,
que jamais esquentou os bancos de uma universidade, certa vez disse-me que antes
de conseguir sucesso empresarial em revenda de veículos teve que ir à falência
algumas vezes. Neste mesmo raciocínio, em Brasília quando era consultor do
Sebrae, conheci a empresária Heloísa Assis (Zica) em uma palestra sobre
empreendedorismo que nos contou como inconformada com o seu cabelo crespo, resolveu
misturar diversos produtos em uma alquimia particular até chegar a uma fórmula
que pudesse relaxar suas madeixas pixaim. A busca dessa fórmula perfeita durou
dez anos e nesse período queimou o próprio couro cabeludo e também queimou os
cabelos de parentes. Quando finalmente conseguiu o seu objetivo e cativando o
interesse de conhecidos para ter um cabelo igual, Zica percebeu que poderia
lucrar com a fórmula e fundou o salão Beleza Natural (no morro do Catambri,
Tijuca-RJ). Em 2013 a Beleza Natural faturou R$ 180 milhões e vendeu 33% das
ações de seu negócio por R$ 70 milhões ao grupo GP Investimentos. As histórias
de empreendedorismo de meu amigo mineiro e de Zica se cruzam em três pontos:
(1) Uma infância pobre; (2) Persistência para não desistir; (3) Empirismo
sistemático até o sucesso.
Nessas duas histórias é certo que a característica mais
importante é a perseverança, pois sem ela teriam desistido na primeira
adversidade e não teriam apreendido com os próprios erros. No entanto, haveria
a possibilidade de terem obtido sucesso em menos tempo, se juntamente com essa
persistência Heloísa tivesse estudado química e meu amigo mineiro tivesse
passado por uma escola de negócios, haja vista que ambos já eram empreendedores
natos. Porém, ao verem seus negócios crescerem, foram abandonando o empirismo e
passando a buscar ajuda em sofisticadas ferramentas de gestão, buscando apoio
em consultorias e principalmente investindo em planejamento. Sem planejamento
não é possível criar condições favoráveis para pisar em solo firme, ou
plagiando Sêneca: “Para barco sem
direção, não existe vento favorável”. Planejar economiza tempo, dinheiro,
melhora a gestão quando estabelecidas em objetivos e metas.
A seleção da Alemanha, que nos impingiu a maior humilhação
desde 1950, é um exemplo como o empirismo, mesmo nos esportes, já não faz
sucesso mesmo com ventos favoráveis, pois ter bons jogadores já não é o
suficiente, sendo necessário planejar. Iniciaram sua participação em solo
brasileiro em dezembro do ano passado, quando começaram a construir seu Centro
de Treinamento – CT na Vila de Santo André, litoral baiano, apenas 30 km do
aeroporto de Porto Seguro. O CT e composto de um campo de futebol, um centro de
imprensa e de treze casas, em um total de 65 quartos confortáveis, criando uma
atmosfera de uma vila sossegada, muito distante dos grandes e congestionados
centros urbanos. Porém, a escolha do local não foi aleatória, mas
estrategicamente planejada e logisticamente adequada às locações das primeiras
partidas da seleção alemã que ocorreram no nordeste. Ao final, todo o complexo
será colocado à venda, pois na verdade trata-se de um projeto imobiliário de
alto padrão.
Não é somente na escolha de construir seu próprio CT que a
Federação Alemã de Futebol surpreende, mas com o uso da tecnologia para
alcançar melhores resultados. Com a parceria que firmou com a SAP, empresa
mundialmente conhecida por seus aplicativos de gestão integrada, foi
desenvolvido um software que analisa com riqueza de detalhes o desempenho de
cada um dos seus atletas nos treinamentos e nas partidas, bem como analisa seus
adversários. Logicamente a partir da análise das deficiências é possível
planejar melhorias, assim como aprimorar estratégias para atingir os melhores
resultados. O mais importante neste software é que a informação não é exclusiva
da equipe técnica, mas difundida entre todos os jogadores que as recebem em
seus dispositivos móveis (tablets, smart phones etc.). No jogo contra o Brasil,
por exemplo, o técnico Joachim Löw determinou que se atacasse a seleção
brasileira com velocidade, pois o aplicativo já havia sinalizado que nossa zaga
tinha dificuldade em recompor-se em ataques rápidos. O software mapeou os
pontos fracos do Brasil e permitiu a equipe alemã planejasse estratégias para
vencer o jogo.
Se a equipe alemã é um espelho de planejamento, a composição
de nossa seleção foi baseada no empirismo, a começar pelas convocações com
inúmeras tentativas de erros e acertos desde a era Mano Menezes, quando se fez
a opção por uma renovação radical. Da seleção base de 2010 (do técnico Dunga)
restaram apenas Júlio César, Thiago Silva e Ramires que ficaram para 2014, e
nomes como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ganso, Robinho e Pato passaram e não
prosperaram com Felipe Scolari. Enquanto isso a seleção alemã manteve o seu
técnico, assim como oito jogadores de sua seleção que foi terceira colocada em
2010. Jogadores como Schweinsteiger, Klose, Podolski, Kroos, Khedira, Neuer e
Phillip Lahm trouxeram sua experiência de copas passadas e agora estão as
portas dos píncaros da glória. Absolutamente não desejo aqui dizer que o Dunga
devia ter sido mantido como técnico, mesmo porque sua estreia como técnico
ocorreu na seleção brasileira, em uma aventura de Ricardo Teixeira
(ex-presidente da CBF). O que desejo apontar aqui é a desorganização e a falta
investimento em planejamento estratégico na maior paixão do povo brasileiro que
é a sua seleção nacional.
Em relação a seleção da Argentina, não vou entrar em maiores
detalhes, mas a exceção do técnico Maradona, praticamente a seleção de 2010 é a
base desta seleção atual, com sete jogadores daquela época (Messi, Mascherano, Di
Maria, Aguero, Higuain, Romero e Maxi Rodriguez), mas que já foram fregueses
dessa Alemanha, quando foram eliminados na última copa por 4 a 0 nas quartas de
final. Assim, o jogo do domingo terá um significado especial, pois o histórico
conspira para que a seleção germânica seja a grande vencedora desta copa, mas
os argentinos estão motivados e Messi até já cantou a “musiquinha” infame que a
torcida portenha trouxe para o Brasil para gerar provocações entre os
brasileiros. Não arrisco dizer quem será campeão, mas torço para que os
argentinos voltem para casa chupando o dedo.
Quanto à seleção brasileira, nesta aventura que foi trazer para
o Brasil uma copa do mundo, com todas as deficiências em planejamento e atrasos
para entregar as obras necessárias para o evento, tudo isto contribuiu para a
decepção do povo brasileiro e a falta de planejamento também se refletiu na
formação de um elenco fraco e muito abaixo da altura do espetáculo. O fracasso
da seleção brasileira é um exemplo de como é importante planejar para se ter
sucesso, inclusive no futebol.
João Lago
Administrador, professor, torcedor e morador do Conjunto Santos Dumont
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