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domingo, 2 de agosto de 2015

A inflação será domada no governo Dilma com quais consequências?



Eu não sou economista, mas transversalmente e com razoabilidade estudo essa disciplina, como alguém sedento em busca de uma fonte para matar sua sede. Assim, para responder a pergunta lançada, começo analisando os períodos inflacionários a partir da redemocratização do Brasil e as tentativas desastradas de colocar os preços sob controle.

Em 1986, logo após a morte de Tancredo Neves e já no governo Sarney, a inflação atingiu um pico de 10,4% ao mês, quando o foi lançado o Plano Cruzado e a criação de uma moeda que levava esse nome em substituição ao combalido cruzeiro. Houve congelamento de preços (aos moldes venezuelanos atuais) e a economia foi indexada, com a criação de gatilhos para salários quando a inflação chegasse a 20% ao mês. Em 1989, com inflação acima de 20% ao mês, Sarney lança o Plano Verão, no qual foi mantido o congelamento de preços, mas se buscou desindexar a economia com a criação de uma nova moeda (cruzado novo) atrelada ao dólar, ao mesmo tempo em que se extinguiu a OTN – Obrigação do Tesouro Nacional, que era um título da dívida pública brasileira cuja correção servia de indexador para a economia.

Em virtude do fracasso dos planos anteriores e com a vitória de Fernando Collor nas eleições de 1989, sob o comando da ministra Zélia Cardoso de Mello, é lançado o Plano Collor com mais uma troca de moeda (cruzeiro), repetindo o congelamento de preços, salários e com o congelamento em dezoito meses dos saques de dinheiro depositados na poupança. A ideia era congelar a dívida pública e enxugar o fluxo monetário para segurar a inflação, ou seja, sem dinheiro disponível para o consumo os preços cairiam. Peço desculpas aos economistas pela simplicidade de raciocínio, mas não vejo outra forma de descrever essa sandice que foi o Plano Collor que levou a inflação a quase 30% ao mês. Não obstante, ainda não satisfeito com a lambança, o atual piloto de Ferrari, Porsche e Lamborghini das Alagoas lançou o Plano Collor 2, com novos congelamentos de preços que momentaneamente baixou a inflação para 15,6% ao mês, mas logo voltou a subir e atingiu 31,2% ao mês, conseguindo um desempenho muito pior que o de Sarney. O restante da história política sabe-se de cor, por meio das revelações feitas por seu irmão Pedro Collor de Mello, Fernando Collor foi apeado da presidência pelas denúncias de corrupção que o envolviam, juntamente com Paulo César Farias, seu tesoureiro de campanha. Antes de continuar, abro um parêntese para retratar similaridades que se encontram em todos os planos das eras Sarney e Collor: Congelamento de preços e dos salários, indexação da economia e o descontrole de gastos públicos e do serviço da dívida (juros), que faziam aumentar a dívida pública interna e externa.

Assume a presidência Itamar Franco (o vice de Collor) e herda uma inflação que em 1993 chegou a 2.708% ao ano. Já no final do governo Itamar, quando FHC - Fernando Henrique Cardoso era o seu ministro da fazenda, foi lançado o Plano Real com uma novidade ainda não tentada nos planos anteriores: O equilíbrio das contas do governo, que significa não gastar mais do que se arrecada, por meio da redução de gastos com a máquina pública, incluindo privatizações (medidas chamadas de “Estado mínimo”) e aumento de impostos. O governo precisava ainda desindexar a economia e acabar com a inflação inercial, e o fez sem sobressaltos, pois instituiu inicialmente a URV (Unidade Real de Valor) que surgiu como um fator de correção do cruzeiro real (moeda vigente) no pagamento de contratos, saldos bancários, poupança, salários, correção de preços etc. A economia estava atrelada a URV que foi substituída pela moeda Real (1 URV = 1 Real). Foi a partir do Plano Real que a inflação despencou para 1,8% ao mês e permaneceu abaixo de um dígito pelos dez anos seguintes. Porém, para o controle da mesma foi instituído um tripé macroeconômico ainda em vigor até os dias de hoje, quais sejam (ou deveriam ser): regime de metas de inflação, metas fiscais por meio da responsabilidade fiscal e o câmbio flutuante (jamais fixo). Simples assim!

É importante que se diga que na vigência do Real, durante os anos FHC, a elevação das taxas de juros foi um mecanismo adotado para o controle da inflação, pois é a forma que se deu para conter o consumo pelo custo do dinheiro. Porém, ao mesmo tempo em que se diminui o consumo, as altas taxas de juros aumentam também o serviço da dívida, fazendo subir o endividamento do Estado brasileiro, já que os títulos da dívida pública estão atrelados a Selic (hoje em 14,25% ao ano). Assim, em termos de ajustes macroeconômicos, desde o governo FHC basicamente nada mudou, mas a situação vem degringolando pela resistência do governo Dilma em seguir a risca o tripé deixado por FHC e que Lula seguiu. Quando a sociedade clama por um ajuste fiscal nas contas do governo, surgem as pedaladas com o objetivo de falsear a real situação das metas fiscais e o governo teima em manter trinta e nove ministérios que duvido, dou minha cara a tapas, se Dilma sabe o nome de todos de cor. O resultado do descontrole fiscal do governo, com o abandono das pedaladas que estão sendo investigadas pelo TCU – Tribunal de Contas da União, foi o anúncio dado pelo ministro da fazenda Joaquim Levy da redução da meta fiscal de R$ 66,3 bilhões para R$ 8,7 bilhões, que claramente demonstra a incapacidade do governo manter a “responsabilidade fiscal” do tripé macroeconômico. Quanto ao câmbio flutuante, nunca esteve tão leve para cima, com o dólar batendo R$ 3,39. Contudo, falta falar da inflação, que foi puxada para cima pela alta dos preços dos serviços públicos (sob o controle do governo), como energia elétrica e combustíveis que afeta toda a cadeia produtiva. Não somente isto, a alta do dólar também traz pressão inflacionária, pois boa parte dos insumos da produção (principalmente os da Zona Franca de Manaus) vem do exterior. Neste cenário de horror um otimista poderia dizer: Com o dólar baixo vendemos mais para o exterior e isto é bom para trazer moeda forte para o Brasil (superávit primário). Realmente isto seria maravilhoso se o nosso país não tivesse tanta dependência das commodities (ex. produtos agrícolas, minérios) justamente em um momento que a demanda mundial desses produtos está em queda.

Neste quadro apocalíptico econômico, cujo demônio é vermelho e tem uma estrela na testa, os R$ 57,6 bilhões necessários para fechar essa conta não virão, pois o governo Dilma não abrirá mão dos apaniguados que mantém mamando nas tetas da nação. A solução deles é aumentar impostos e colocar o Brasil de volta a liderança mundial de juros com taxas pornográficas, mas aviso: não há mais o que espremer, pois já estamos no bagaço. As famílias devem aos bancos e o que não pagam em juros, o que resta está sendo comido pela inflação. Eu até arrisco dizer que no estágio que estamos, se o Banco Central colocasse a taxa de juros (Selic) em zero não haveria aumento de consumo, porque a renda já está tão comprometida com as dívidas que pouco sobraria para o supérfluo. Então, por que o governo não reduz os juros? Ora, porque ao mesmo tempo em que os juros elevados encarecessem o serviço da dívida, ainda assim são necessários para um governo perdulário e irresponsável, pois com taxas elevadas vendem títulos para os banqueiros conseguindo dinheiro novo para rolar a dívida, que só aumenta. No entanto, se existe uma raça sagaz esta é a do banqueiro que havendo aumento de risco financeiro busca colocar o seu dinheiro em territórios mais seguros e para isto que existem as notas de rating. E por falar nelas, as lambanças do governo fizeram a Standard & Poor’s mudar para negativa a perspectiva da nota de crédito brasileira.

Ainda há muito que se falar, mas uma frase que pode sintetizar tudo isto que até aqui foi descrito é: O cachorro correndo atrás do próprio rabo que vai rodar, rodar e rodar até esgotar nossa paciência. Dia 16 de agosto está chegando, data marcada para mais uma grande onda de manifestações no país e a quantidade de pessoas nas ruas será o termômetro que medirá em qual estágio febril de paciência está a nação brasileira.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

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