Eu não sou economista, mas
transversalmente e com razoabilidade estudo essa disciplina, como alguém
sedento em busca de uma fonte para matar sua sede. Assim, para responder a
pergunta lançada, começo analisando os períodos inflacionários a partir da
redemocratização do Brasil e as tentativas desastradas de colocar os preços sob
controle.
Em 1986, logo após a morte de
Tancredo Neves e já no governo Sarney, a inflação atingiu um pico de 10,4% ao
mês, quando o foi lançado o Plano Cruzado e a criação de uma moeda que levava
esse nome em substituição ao combalido cruzeiro. Houve congelamento de preços
(aos moldes venezuelanos atuais) e a economia foi indexada, com a criação de
gatilhos para salários quando a inflação chegasse a 20% ao mês. Em 1989, com
inflação acima de 20% ao mês, Sarney lança o Plano Verão, no qual foi mantido o
congelamento de preços, mas se buscou desindexar a economia com a criação de
uma nova moeda (cruzado novo) atrelada ao dólar, ao mesmo tempo em que se
extinguiu a OTN – Obrigação do Tesouro Nacional, que era um título da dívida
pública brasileira cuja correção servia de indexador para a economia.
Em virtude do fracasso dos planos
anteriores e com a vitória de Fernando Collor nas eleições de 1989, sob o
comando da ministra Zélia Cardoso de Mello, é lançado o Plano Collor com mais
uma troca de moeda (cruzeiro), repetindo o congelamento de preços, salários e
com o congelamento em dezoito meses dos saques de dinheiro depositados na
poupança. A ideia era congelar a dívida pública e enxugar o fluxo monetário
para segurar a inflação, ou seja, sem dinheiro disponível para o consumo os
preços cairiam. Peço desculpas aos economistas pela simplicidade de raciocínio,
mas não vejo outra forma de descrever essa sandice que foi o Plano Collor que
levou a inflação a quase 30% ao mês. Não obstante, ainda não satisfeito com a
lambança, o atual piloto de Ferrari, Porsche e Lamborghini das Alagoas lançou o
Plano Collor 2, com novos congelamentos de preços que momentaneamente baixou a
inflação para 15,6% ao mês, mas logo voltou a subir e atingiu 31,2% ao mês,
conseguindo um desempenho muito pior que o de Sarney. O restante da história
política sabe-se de cor, por meio das revelações feitas por seu irmão Pedro
Collor de Mello, Fernando Collor foi apeado da presidência pelas denúncias de
corrupção que o envolviam, juntamente com Paulo César Farias, seu tesoureiro de
campanha. Antes de continuar, abro um parêntese para retratar similaridades que
se encontram em todos os planos das eras Sarney e Collor: Congelamento de
preços e dos salários, indexação da economia e o descontrole de gastos públicos
e do serviço da dívida (juros), que faziam aumentar a dívida pública interna e
externa.
Assume a presidência Itamar
Franco (o vice de Collor) e herda uma inflação que em 1993 chegou a 2.708% ao
ano. Já no final do governo Itamar, quando FHC - Fernando Henrique Cardoso era
o seu ministro da fazenda, foi lançado o Plano Real com uma novidade ainda não
tentada nos planos anteriores: O equilíbrio das contas do governo, que
significa não gastar mais do que se arrecada, por meio da redução de gastos com
a máquina pública, incluindo privatizações (medidas chamadas de “Estado mínimo”)
e aumento de impostos. O governo precisava ainda desindexar a economia e acabar
com a inflação inercial, e o fez sem sobressaltos, pois instituiu inicialmente
a URV (Unidade Real de Valor) que surgiu como um fator de correção do cruzeiro
real (moeda vigente) no pagamento de contratos, saldos bancários, poupança,
salários, correção de preços etc. A economia estava atrelada a URV que foi
substituída pela moeda Real (1 URV = 1 Real). Foi a partir do Plano Real que a
inflação despencou para 1,8% ao mês e permaneceu abaixo de um dígito pelos dez
anos seguintes. Porém, para o controle da mesma foi instituído um tripé macroeconômico
ainda em vigor até os dias de hoje, quais sejam (ou deveriam ser): regime de
metas de inflação, metas fiscais por meio da responsabilidade fiscal e o câmbio
flutuante (jamais fixo). Simples assim!
É importante que se diga que na
vigência do Real, durante os anos FHC, a elevação das taxas de juros foi um
mecanismo adotado para o controle da inflação, pois é a forma que se deu para
conter o consumo pelo custo do dinheiro. Porém, ao mesmo tempo em que se
diminui o consumo, as altas taxas de juros aumentam também o serviço da dívida,
fazendo subir o endividamento do Estado brasileiro, já que os títulos da dívida
pública estão atrelados a Selic (hoje em 14,25% ao ano). Assim, em termos de
ajustes macroeconômicos, desde o governo FHC basicamente nada mudou, mas a
situação vem degringolando pela resistência do governo Dilma em seguir a risca
o tripé deixado por FHC e que Lula seguiu. Quando a sociedade clama por um
ajuste fiscal nas contas do governo, surgem as pedaladas com o objetivo de
falsear a real situação das metas fiscais e o governo teima em manter trinta e
nove ministérios que duvido, dou minha cara a tapas, se Dilma sabe o nome de
todos de cor. O resultado do descontrole fiscal do governo, com o abandono das
pedaladas que estão sendo investigadas pelo TCU – Tribunal de Contas da União,
foi o anúncio dado pelo ministro da fazenda Joaquim Levy da redução da meta
fiscal de R$ 66,3 bilhões para R$ 8,7 bilhões, que claramente demonstra a
incapacidade do governo manter a “responsabilidade fiscal” do tripé macroeconômico.
Quanto ao câmbio flutuante, nunca esteve tão leve para cima, com o dólar
batendo R$ 3,39. Contudo, falta falar da inflação, que foi puxada para cima pela
alta dos preços dos serviços públicos (sob o controle do governo), como energia
elétrica e combustíveis que afeta toda a cadeia produtiva. Não somente isto, a
alta do dólar também traz pressão inflacionária, pois boa parte dos insumos da produção
(principalmente os da Zona Franca de Manaus) vem do exterior. Neste cenário de
horror um otimista poderia dizer: Com o dólar baixo vendemos mais para o
exterior e isto é bom para trazer moeda forte para o Brasil (superávit
primário). Realmente isto seria maravilhoso se o nosso país não tivesse tanta
dependência das commodities (ex. produtos
agrícolas, minérios) justamente em um momento que a demanda mundial desses
produtos está em queda.
Neste quadro apocalíptico econômico,
cujo demônio é vermelho e tem uma estrela na testa, os R$ 57,6 bilhões
necessários para fechar essa conta não virão, pois o governo Dilma não abrirá
mão dos apaniguados que mantém mamando nas tetas da nação. A solução deles é
aumentar impostos e colocar o Brasil de volta a liderança mundial de juros com
taxas pornográficas, mas aviso: não há mais o que espremer, pois já estamos no
bagaço. As famílias devem aos bancos e o que não pagam em juros, o que resta está
sendo comido pela inflação. Eu até arrisco dizer que no estágio que estamos, se
o Banco Central colocasse a taxa de juros (Selic) em zero não haveria aumento de
consumo, porque a renda já está tão comprometida com as dívidas que pouco sobraria
para o supérfluo. Então, por que o governo não reduz os juros? Ora, porque ao
mesmo tempo em que os juros elevados encarecessem o serviço da dívida, ainda
assim são necessários para um governo perdulário e irresponsável, pois com
taxas elevadas vendem títulos para os banqueiros conseguindo dinheiro novo para
rolar a dívida, que só aumenta. No entanto, se existe uma raça sagaz esta é a do
banqueiro que havendo aumento de risco financeiro busca colocar o seu dinheiro
em territórios mais seguros e para isto que existem as notas de rating. E por falar nelas, as lambanças
do governo fizeram a Standard & Poor’s mudar para negativa a perspectiva da
nota de crédito brasileira.
Ainda há muito que se falar, mas
uma frase que pode sintetizar tudo isto que até aqui foi descrito é: O cachorro
correndo atrás do próprio rabo que vai rodar, rodar e rodar até esgotar nossa
paciência. Dia 16 de agosto está chegando, data marcada para mais uma grande
onda de manifestações no país e a quantidade de pessoas nas ruas será o
termômetro que medirá em qual estágio febril de paciência está a nação
brasileira.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.
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