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domingo, 23 de agosto de 2015

Chegou a hora de pressionar o Congresso Nacional



No último dia 16 de agosto todos aqueles que se sentem incomodados com os rumos da política e da economia no Brasil apoiaram as manifestações que ocorreram em todo o país pedindo a saída de Dilma Rousseff da presidência, embora nem todos estivessem confortáveis aqui em Manaus para sair às ruas, ou abdicar do seu conforto para enfrentar trinta graus à sombra do verão amazônico. Eu mesmo convivo no trabalho com inúmeras pessoas que manifestaram apoio as manifestações, embora pouquíssimas delas tenha participado o que demonstra que a quantidade nas ruas não representa o sentimento de rejeição da maioria da população, conforme demonstrado nas últimas pesquisas de reprovação do governo do PT.

O governo Dilma conseguiu, com mérito e em um curto espaço de tempo, o feito de ser mais impopular que Collor às vésperas do impeachment. Analisando exclusivamente a personalidade aparente de Dilma, observa-se uma pessoa arrogante e alienada aos anseios da população. Nada parece abalá-la e, como se estivesse dopada por uma forte droga, segue com os seus discursos desconexos com odes a mandioca, a mulher sapiens, as metas intangíveis saídas da cartola do chapeleiro maluco, que apenas agradam a minoria que vive encantada em um país das maravilhas, no qual vicejam o peleguismo, a distribuição de dinheiro sem contrapartida, a compra de apoio por cargos (são vinte e três mil) e o clientelismo corrupto. Todos os adjetivos citados justificam porque houve grande evasão de filiados do Partido dos Trabalhadores, pois ninguém que tenha uma conduta ética deseja ter a pecha de pertencer a um partido que se associa ao crime organizado. Em face desse quadro adverso, haveria uma saída digna para Dilma que seria reconhecer as mentiras de campanha, cortar ministérios, apartar-se de Rui Falcão e até relegar a ridícula semântica de desejar ser chamada de “presidenta”, pois este pequeno detalhe (que parece mínimo) demonstra sua necessidade de identificar fisiologicamente os comensais parasitários desse governo. Um governo deve governar para todos e não para uma parcela que aceita ser “clienta”(sic). Assim, o governo Dilma vai passar e será reconhecido na história pelos atentados: ao equilíbrio macroeconômico, a ética na política, a semântica e pela total falta de modéstia e elevada indiferença.

No entanto, a pergunta que se faz é por quanto tempo mais vai se arrastar esse governo sem o apoio da opinião pública e refém do Congresso Nacional. Alguns passos do PT para dar governabilidade para Dilma já despontam claramente na praça dos três poderes. O primeiro é cobrar a fatura de suas nomeações ao STF – Supremo Tribunal Federal, cujos membros mais emblemáticos são Dias Toffoli (ex-advogado do PT e anão jurídico) e Edson Fachin (que fez campanha para Dilma no primeiro mandato). Dos onze ministros do STF foram oito ministros nomeados por Lula e Dilma. Alguns foram fieis ao PT no julgamento do mensalão, basta rever o posicionamento de cada um durante o julgamento para comprovar. Por exemplo, Lewandowski, que se reuniu às portas fechadas recentemente com Dilma e o ministro da Justiça Eduardo Cardozo em Portugal, foi o que mais tentou criar obstáculos e atenuar as penas dos mensaleiros. Portanto, não vale a pena apostar todas as fichas que Dilma sairá pelas mãos do STF.

No que se refere ao Congresso Nacional, o recente indiciamento de Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados) no STF pela Operação Lava a Jato, deixando Renan Calheiros de fora, pode ser interpretado como uma movimentação do governo petista para eliminar a oposição e novamente ter força para comprar apoio. Uma demonstração disto foi Dilma ter oferecido mais ministérios ao PDT que havia manifestado ter saído da base aliada do governo, juntamente com o PTB. Idênticas reaproximações estão previstas com o PSD e PRB, ratificando os ministérios já distribuídos e blindando a câmara das vozes das ruas. Enquanto isso, alguns líderes dos movimentos que pedem a saída de Dilma insistem que não precisam e rejeitam apoio de políticos da oposição, sendo isto extremamente vantajoso para Dilma e para o PT. Por mais paradoxal que possa parecer, dizem-se “apolíticos”, quando fazem política nas ruas. Não sejamos idiotas, pois somente por duas vias democráticas o Brasil poderá livrar-se de Dilma: via STF ou Congresso Nacional. Assim, dos 533 deputados não tenho dúvidas que grande parte esteja lá para fazer negócios, mas ainda assim precisam de votos para se manterem onde estão. Portanto, residindo à dúvida sobre o aparelhamento do STF pelo PT, fazer pressão nos deputados eleitos de seu estado, pedindo um posicionamento claro a respeito da questão é um caminho que deve ser perseguido.

O Estado Democrático de Direito não se configura legítimo somente com os resultados das urnas, mas as forças democráticas e os mecanismos da democracia brasileira devem estar atentos à usurpação do poder por forças criminosas, autoritárias e fascistas. Na Colômbia o bandido Pablo Escobar foi eleito pelo povo porque era visto como amigo dos pobres. Também vale a pena lembrar que tanto Hitler quanto Stalin criaram uma rede de mentiras e as vendiam como verdades em ampla propaganda política e na ausência do Estado Democrático de Direito, passaram a suprimir a imprensa e os adversários, aos moldes de Venezuela e Cuba, modelos de democracia latino-americana que os partidários da bandeira vermelha tanto admiram.

Compreendo a ojeriza de alguns aos políticos, porém esses fazem parte de nossa democracia e, bem ou mal, qualquer processo de impeachment deverá passar pelo voto de cada um. Caso não se concorde com isso, existe a opção de dar-se a mão e marchar com aqueles que pedem a volta dos militares, pois esses também estavam infiltrados nas manifestações. Porém, eu seria um candidato a ser suprimido em algum cemitério clandestino, ou atirado de cima de um helicóptero nas águas revoltas do Rio Amazonas, pois é assim que agiram contra aqueles que levantaram a voz contra os abusos da ditadura. Não faziam nenhuma distinção entre cidadãos que apenas queriam a democracia de volta daqueles que desejavam uma ditadura comunista pela luta armada. Todos eram inimigos.

Retirar do poder um governo que se elegeu baseado em mentiras e financiado com dinheiro oriundo de corrupção, em qualquer país democrático do mundo não seria jamais chamado de golpe. Reitero que a sociedade brasileira ainda carrega cicatrizes do golpismo que originou o Estado de Exceção. Porém, o golpismo contra a ética e contra a vontade popular articula-se no Congresso Nacional, mas depois de três grandes manifestações ainda discutimos se desejamos ou não que subam no carro de som os políticos de oposição que se comprometam com a mudança. Santa inocência!

Por mais que possa parecer capenga a nossa democracia, ainda quero acreditar que tudo possa ser resolvido pelas vias pacíficas da própria democracia. Porém, ficar achando que somente ir às ruas sem pressionar nossos “representantes” possa resolver o problema é um exercício de singela estupidez.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

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