No último dia 16 de agosto todos
aqueles que se sentem incomodados com os rumos da política e da economia no
Brasil apoiaram as manifestações que ocorreram em todo o país pedindo a saída
de Dilma Rousseff da presidência, embora nem todos estivessem confortáveis aqui
em Manaus para sair às ruas, ou abdicar do seu conforto para enfrentar trinta
graus à sombra do verão amazônico. Eu mesmo convivo no trabalho com inúmeras
pessoas que manifestaram apoio as manifestações, embora pouquíssimas delas
tenha participado o que demonstra que a quantidade nas ruas não representa o
sentimento de rejeição da maioria da população, conforme demonstrado nas
últimas pesquisas de reprovação do governo do PT.
O governo Dilma conseguiu, com
mérito e em um curto espaço de tempo, o feito de ser mais impopular que Collor
às vésperas do impeachment. Analisando
exclusivamente a personalidade aparente de Dilma, observa-se uma pessoa arrogante
e alienada aos anseios da população. Nada parece abalá-la e, como se estivesse
dopada por uma forte droga, segue com os seus discursos desconexos com odes a
mandioca, a mulher sapiens, as metas intangíveis
saídas da cartola do chapeleiro maluco, que apenas agradam a minoria que vive
encantada em um país das maravilhas, no qual vicejam o peleguismo, a
distribuição de dinheiro sem contrapartida, a compra de apoio por cargos (são vinte
e três mil) e o clientelismo corrupto. Todos os adjetivos citados justificam
porque houve grande evasão de filiados do Partido dos Trabalhadores, pois
ninguém que tenha uma conduta ética deseja ter a pecha de pertencer a um
partido que se associa ao crime organizado. Em face desse quadro adverso,
haveria uma saída digna para Dilma que seria reconhecer as mentiras de campanha,
cortar ministérios, apartar-se de Rui Falcão e até relegar a ridícula semântica
de desejar ser chamada de “presidenta”, pois este pequeno detalhe (que parece
mínimo) demonstra sua necessidade de identificar fisiologicamente os comensais
parasitários desse governo. Um governo deve governar para todos e não para uma
parcela que aceita ser “clienta”(sic).
Assim, o governo Dilma vai passar e será reconhecido na história pelos
atentados: ao equilíbrio macroeconômico, a ética na política, a semântica e
pela total falta de modéstia e elevada indiferença.
No entanto, a pergunta que se faz
é por quanto tempo mais vai se arrastar esse governo sem o apoio da opinião
pública e refém do Congresso Nacional. Alguns passos do PT para dar governabilidade
para Dilma já despontam claramente na praça dos três poderes. O primeiro é
cobrar a fatura de suas nomeações ao STF – Supremo Tribunal Federal, cujos
membros mais emblemáticos são Dias Toffoli (ex-advogado do PT e anão jurídico)
e Edson Fachin (que fez campanha para Dilma no primeiro mandato). Dos onze
ministros do STF foram oito ministros nomeados por Lula e Dilma. Alguns foram
fieis ao PT no julgamento do mensalão, basta rever o posicionamento de cada um
durante o julgamento para comprovar. Por exemplo, Lewandowski, que se reuniu às
portas fechadas recentemente com Dilma e o ministro da Justiça Eduardo Cardozo
em Portugal, foi o que mais tentou criar obstáculos e atenuar as penas dos mensaleiros.
Portanto, não vale a pena apostar todas as fichas que Dilma sairá pelas mãos do
STF.
No que se refere ao Congresso
Nacional, o recente indiciamento de Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos
Deputados) no STF pela Operação Lava a Jato, deixando Renan Calheiros de fora,
pode ser interpretado como uma movimentação do governo petista para eliminar a
oposição e novamente ter força para comprar apoio. Uma demonstração disto foi Dilma
ter oferecido mais ministérios ao PDT que havia manifestado ter saído da base
aliada do governo, juntamente com o PTB. Idênticas reaproximações estão
previstas com o PSD e PRB, ratificando os ministérios já distribuídos e
blindando a câmara das vozes das ruas. Enquanto isso, alguns líderes dos
movimentos que pedem a saída de Dilma insistem que não precisam e rejeitam
apoio de políticos da oposição, sendo isto extremamente vantajoso para Dilma e para
o PT. Por mais paradoxal que possa parecer, dizem-se “apolíticos”, quando fazem
política nas ruas. Não sejamos idiotas, pois somente por duas vias democráticas
o Brasil poderá livrar-se de Dilma: via STF ou Congresso Nacional. Assim, dos
533 deputados não tenho dúvidas que grande parte esteja lá para fazer negócios,
mas ainda assim precisam de votos para se manterem onde estão. Portanto, residindo
à dúvida sobre o aparelhamento do STF pelo PT, fazer pressão nos deputados
eleitos de seu estado, pedindo um posicionamento claro a respeito da questão é
um caminho que deve ser perseguido.
O Estado Democrático de Direito
não se configura legítimo somente com os resultados das urnas, mas as forças
democráticas e os mecanismos da democracia brasileira devem estar atentos à
usurpação do poder por forças criminosas, autoritárias e fascistas. Na Colômbia
o bandido Pablo Escobar foi eleito pelo povo porque era visto como amigo dos
pobres. Também vale a pena lembrar que tanto Hitler quanto Stalin criaram uma
rede de mentiras e as vendiam como verdades em ampla propaganda política e na
ausência do Estado Democrático de Direito, passaram a suprimir a imprensa e os
adversários, aos moldes de Venezuela e Cuba, modelos de democracia latino-americana
que os partidários da bandeira vermelha tanto admiram.
Compreendo a ojeriza de alguns aos
políticos, porém esses fazem parte de nossa democracia e, bem ou mal, qualquer
processo de impeachment deverá passar
pelo voto de cada um. Caso não se concorde com isso, existe a opção de dar-se a
mão e marchar com aqueles que pedem a volta dos militares, pois esses também
estavam infiltrados nas manifestações. Porém, eu seria um candidato a ser
suprimido em algum cemitério clandestino, ou atirado de cima de um helicóptero
nas águas revoltas do Rio Amazonas, pois é assim que agiram contra aqueles que
levantaram a voz contra os abusos da ditadura. Não faziam nenhuma distinção
entre cidadãos que apenas queriam a democracia de volta daqueles que desejavam
uma ditadura comunista pela luta armada. Todos eram inimigos.
Retirar do poder um governo que
se elegeu baseado em mentiras e financiado com dinheiro oriundo de corrupção,
em qualquer país democrático do mundo não seria jamais chamado de golpe.
Reitero que a sociedade brasileira ainda carrega cicatrizes do golpismo que
originou o Estado de Exceção. Porém, o golpismo contra a ética e contra a vontade
popular articula-se no Congresso Nacional, mas depois de três grandes
manifestações ainda discutimos se desejamos ou não que subam no carro de som os
políticos de oposição que se comprometam com a mudança. Santa inocência!
Por mais que possa parecer
capenga a nossa democracia, ainda quero acreditar que tudo possa ser resolvido
pelas vias pacíficas da própria democracia. Porém, ficar achando que somente ir
às ruas sem pressionar nossos “representantes” possa resolver o problema é um
exercício de singela estupidez.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
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