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sábado, 17 de novembro de 2012

A VEZ DOS PLAYBOYS NA CADEIA (perdeu playboy, perdeu!)


Eu não gostaria de escrever sobre isto, pois nesta semana os jornais nos massacraram exaustivamente com essa declaração do ministro da justiça de Dilma, José Eduardo Cardozo, quando disse que preferia morrer a cumprir pena nas prisões brasileiras. Isto é uma verdade, as péssimas condições do sistema carcerário brasileiro, que nada devem as masmorras descritas por Alexandre Dumas no início do Século XIX. Muito se fala em direitos humanos e o papel ressocializador que o cárcere deve cumprir a um apenado, mas cadeia foi feita para pobre e quando, por acaso, um rico é encarcerado não é feito sem aprovação unânime da opinião pública, pois em geral é pela prática de crime de atentado contra a vida (por exemplo: Suzane von Richthofen, o casal Nardonni, Elize Matsunaga). Faltava, neste contexto, enviar para cadeia banqueiros e políticos pelo crime de colarinho branco e outras personalidades que costumeiramente frequentavam as colunas sociais.

José Cardozo sabe que não existe “cadeia para rico”, pois cadeia é cadeia ruim em todo o Brasil. No entanto, lembrei-me de Pablo Escobar, bilionário traficante colombiano e dublê de político (chegou a ser eleito parlamentar) que só foi para a cadeia depois que mandou fazer uma especialmente para ele, onde escolheu o local da construção e até fez a seleção dos carcereiros, isto tudo para não ser extraditado para uma prisão nos EUA (bem melhores que as brasileiras). O presídio era um primor e bem diferente daqueles existentes na Colômbia. Na verdade, tudo era uma farsa, um pano de fundo para diminuir a pressão estadunidense sobre a Colômbia no combate ao tráfico internacional de drogas, já que naquela época 80% da cocaína produzida na Colômbia tinha destino certo o território norte americano. Pablo Escobar queria sair de cena, mas para voltar depois, então não poderia ficar recluso em qualquer cadeia.

A realidade de José Dirceu, e dos demais condenados a mais de oito anos, é que devem passar uma temporada em regime fechado, amargando alguns anos como inquilinos do péssimo sistema carcerário brasileiro, a menos o governo comece a preocupar-se em construir também cadeia para rico. Sim, porque sabemos que existem alternativas para quem tem dinheiro para outras necessidades e que passam bem longe do que é “disponibilizado” para o brasileiro ordinário. Assim, se sentem um dor de barriga, vão faceiramente para o Sírio Libanês, ou Copa D'or, a depender do bolso, ao invés de buscarem o SUS – Sistema Único de Saúde. Quando suas filhas e mulheres vão parir, o fazem nas melhores maternidades e hospitais e não sabem o que é uma mulher batendo as portas das maternidades e hospitais a procura de vaga de internação. Nessa última quinta-feira mesmo (15/11), no Distrito Federal, uma mulher deu a luz dentro de uma viatura policial, minutos depois de ter sido recusada em uma maternidade da periferia de Brasília. Aqui em Manaus não é diferente e posso dizer que sou testemunha ocular disto, no trabalho de acompanhamento que fiz com mulheres atendidas pela ONG que até este mês fui administrador.

Quando os filhos tem que ir a escola, os enviam para as melhores colégios do Brasil, ou no exterior e jamais pensariam em matriculá-los em qualquer escola pública de ensino fundamental e médio. Enquanto isso, produzimos em nossas escolas indivíduos que crescem como analfabetos funcionais, pois sabem ler e escrever, mas não sabem interpretar nem compreender o que leem. Não é por acaso que a universidade pública é um celeiro de filhos de ricos, nascidos na classe média para cima e nas faculdades particulares, em sua maioria, os filhos da escola pública.

Roberto Gurgel - Procurador Geral
Embora tudo que eu escrevo aqui são coisas mais que evidentes, ou seja, que os serviços públicos um dia só serão de bons quando forem feitos para todos, não somente para pobres, ainda assim o discurso do ministro José Cardozo é carregado de significado, justamente para que este julgamento do mensalão não seja algo excepcional, ou de conveniência política como afirmam algumas vozes do governo Dilma e PT. Sinceramente acho que sim, corre este risco, pois somos nós testemunhas ocular da história de nossa jovem democracia, e bem me lembro de Geraldo Brindeiro, chamado de “Engavetador Geral da República”, no mesmo papel executado pelo sósia de Jó Soares (o procurador Roberto Gurgel) que engavetou 242 inquéritos criminais que recebeu, arquivou outros 217 dos 626 que recebeu. Somente 60 denúncias foram aceitas por ele. As denúncias pesavam sobre 33 senadores, 194 deputados, 11 ministros e quatro sobre o próprio presidente FHC, no que se refere a compra de votos para sua reeleição. Talvez se este processo contra FHC tivesse sido aceito, não haveria Marcos Valério e os demais operadores do mensalão, pois sabemos que desde aquela época que deputados trocavam votos por dinheiro. A certeza da impunidade é que fez chegarmos ao nível de corrupção que temos hoje em nossa sociedade.

A questão que precisa ser respondida é se teremos continuidade em todas essas investigações, desmantelando e mandado para cadeia também os outros envolvidos em outros mensalões, como o do PSDB em Minas, do DEM no Distrito Federal, e todos os outros caixas dois que são rotineiramente evidenciados nos jornais.

Seria péssimo para democracia brasileira se este julgamento entrar para história não como o início da punição exemplar dos crimes de colarinho branco, mas como um julgamento de conveniência política que se encerra aqui. Seria triste constatar que o julgamento do mensalão veio do desejo particular de umas poucas cabeças e não da inspiração do desejo de mudanças da esmagadora maioria do brasileiros.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

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