Na manhã de Natal distribuímos brinquedos em três invasões aqui em Rio Preto da Eva e graças a Deus não ficou nenhum criança sem receber seu brinquedo. Agradecemos a todos os amigos que doaram recursos, tempo e apoio a essa causa. Muito obrigado, pois sem essa ajuda preciosa nada disto teria acontecido. Feliz Natal.
A solidariedade é um produto do amor que não se contenta em fazer feliz somente a quem estimamos. Solidariedade é um dom do amor que entregamos sem desejar absolutamente nada em troca além da alegria alheia. (João Lago)
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Natal Solidário 2018 - Agradecimentos
Somos amigos solidários que há mais de cinco anos distribuímos brinquedos para crianças carentes na manhã de Natal (25 de dezembro).
Relação de Amigos Solidários
A data pode parecer desconfortável, pois na véspera comemoramos com amigos e familiares a ceia de Natal, mas relembrando nossas lembranças mais ternas do Natal, o dia mais esperado de nossa infância é a manhã de 25 de dezembro, dia de abrir os presentes deixados por nossos pais debaixo na cama, ou sob a árvore de Natal. É justamente esta alegria é que buscamos levar a essas crianças, que pela impossibilidade material de seus pais, deixam de conhecer o sabor do Natal tão comum a tantos outras crianças.
Escolhemos comunidades que geralmente não são atendidas por nenhuma outra ação social e já tivemos oportunidade de levar essa alegria para crianças indígenas e também moradoras de comunidades urbanas que tiveram origem em invasões de terra.
Neste ano escolhemos distribuir brinquedos em uma comunidade carente de Rio Preto da Eva, município distante 80 km de Manaus.
Relação de Amigos Solidários
- 26/11 Cláucio Henrique de Belo Horizonte - MG........................ R$ 50,00
- 01/12 Doadora anônima ................................................................R$ 150,00
- 01/12 Etelvina Lago de Manaus - AM...........................................R$ 100,00
- 05/12 Leila Bezerra de Manaus - AM............................................R$ 100,00
- 05/12 Anderson Martins de St. Louis - EUA..................................R$ 500,00
- 07/12 Hélio Silva de Vila Velha - ES .............................................R$ 150,00
- 07/12 Rodrigo Duarte de Manaus - AM.........................................R$ 50,00
Sub-total.........................................................................................R$ 1.100,00
Gostaria de agradecer a Etelvina Lago, Jozimar e prof. Gugu embalaram cada um dos presentes.
Agradecer também tanto a Etelvina Lago, assim como Nazaré Jatobá que deram o apoio logístico necessário para o transporte dos brinquedos da loja em Manaus até o ponto de concentração de coleta. Agradecer a Rodrigo Duarte pelo transporte dos brinquedos de Manaus até Rio Preto da Eva. Agradecer antecipadamente a Dilson Souza pelo compromisso de transportar todos os brinquedos até o local da entrega dentro do município de Rio Preto da Eva.
A solidariedade é um produto do amor que não se contenta em fazer feliz somente a quem estimamos. Solidariedade é um dom do amor que entregamos sem desejar absolutamente nada em troca além da alegria alheia.
Muito obrigado e Feliz Natal.
João Lago.
Agradecer também tanto a Etelvina Lago, assim como Nazaré Jatobá que deram o apoio logístico necessário para o transporte dos brinquedos da loja em Manaus até o ponto de concentração de coleta. Agradecer a Rodrigo Duarte pelo transporte dos brinquedos de Manaus até Rio Preto da Eva. Agradecer antecipadamente a Dilson Souza pelo compromisso de transportar todos os brinquedos até o local da entrega dentro do município de Rio Preto da Eva.
A solidariedade é um produto do amor que não se contenta em fazer feliz somente a quem estimamos. Solidariedade é um dom do amor que entregamos sem desejar absolutamente nada em troca além da alegria alheia.
Muito obrigado e Feliz Natal.
João Lago.
domingo, 9 de dezembro de 2018
HOMENAGEM A MARILDA
Certa
sabedoria popular diz que amigos verdadeiros são muito mais que
irmãos, não no intuito de menosprezar os laços sanguíneos, mas
para constatar que amigos verdadeiros, ao invés dos irmãos que não
escolhemos, tem certas pessoas que entram em nossa vida e que se
tornam necessárias e que vão além do amor fraternal, muitas vezes
compulsório pela relação de parentesco.
Amigos
verdadeiros nós elegemos e somos eleitos por eles como companheiros
em todas as nossas caminhadas, seja nos encontros alegres ou nos
momentos mais difíceis de nossas vidas. Logicamente quando
convidamos alguém para uma festa não há certa dificuldade que essa
pessoa aceite vir, principalmente quando ofertada sem ônus, mas para
saber se tens um amigo de verdade basta pensar em quem recorrerias em
um momento difícil de tua vida, seja material ou emocional. Boa
parte de nós pode contar com um familiar, esse que não elegemos e
que também são necessários em nossas vidas. Porém, se ao pensar
em alguém e essa pessoa for um amigo é porque este laço
ultrapassou a barreira do sangue e se consolida no que há de mais
sublinhe em um relacionamento: O amor. A esse sentimento, que os
cristãos antigos chamaram de Ágape, que em grego significa amor
desprovido do sentimento romântico, e é o que une os amigos
verdadeiros.
Marilda
foi uma amiga verdadeira, dessas que o tempo somente assevera o quão
são insubstituíveis e, quando se vão, deixavam um vazio que só é
preenchido por outro sentimento: a saudade. Assim, uma forma de
trazê-la novamente para junto de mim sempre será pelas recordações
do que vivemos juntas: Nossas longas conversas, nossas viagens, o
chopp no final de tarde (ela não bebia que fique claro isto, o chopp
era meu) e, nos momentos mais difíceis, aquele ouvido que estava
sempre pronto a escutar. Amigos como Marilda são pessoas necessárias
e jamais deveria ser permitido que se fossem, mas face a inevitável
ausência, resta-nos olhar para trás e perceber que se hoje somos
pessoas melhores, foi porque nos acompanhamos de criaturas que nos
fizeram ficar assim. Muito do melhor de mim está com certeza na
contribuição que Marilda deu a minha vida.
Marilda,
a ti ofereço minha saudade, minha amizade e toda minha gratidão.
Obrigado minha amiga, Deus certamente acolheu-te em seus braços
misericordiosos, na certeza que a tua devoção a Cristo foi o teu
passaporte para a glória eterna, lugar este reservado aqueles que
pautaram sua vida na fé.
Etelvina
Pinheiro do Lago.
sábado, 24 de novembro de 2018
As últimas joias da coroa
Uma
boa discussão sobre política econômica é perguntar no que foram
investidos os USD 23,92 bilhões das privatizações que ocorreram no
período de 1991 a 2002 nos governos Collor, Itamar Franco e FHC.
Esse valor corresponde as privatizações da Companhia Siderúrgica
Nacional – CSN, Companhia Vale do Rio Doce, Embraer e Telebrás. Se
fossem vendidas hoje, considerando os valores a época convertidos em
dólares americanos, devidamente corrigidos pela inflação nos EUA,
hoje teríamos R$ 145,04 bilhões. Quando foram vendidas, não se
tratavam de empresas deficitárias e pelo que se tornaram hoje
demonstram que não eram um mal negócio, mesmo porque quando foram
concebidas foram idealizadas para serem o Estado atuando em áreas
essenciais com capital nacional. O fato da nacionalidade do capital é
essencial para compreender que o volume de investimentos necessários
para atuar em determinado setor, se não fosse pela iniciativa do
Estado, muito provavelmente seriam de capital estrangeiro. Porém,
elevados investimentos estrangeiros em um país passa pela concepção
do “risco político” que significa se determinada nação não
está sujeita a crises políticas que coloquem em risco o capital
estrangeiro investido. Um exemplo disto foram as perdas que a
Petrobras teve em 2006 em investimentos realizados na Bolívia quando
Evo Morales, presidente eleito, decidiu nacionalizar a exploração
de petróleo e gás naquele país. Na época, a imprensa noticiou USD
1,5 bilhão de perdas pela Petrobras. Atualizados hoje
corresponderiam a R$ 7,44 bilhões.
A
privatização sempre será a transferência de capital nacional para
grupos que nem sempre são nativos. Isto significa dizer que quando
uma empresa estrangeira compra capital nacional necessariamente
enviará para o exterior parte dos lucros auferidos no negócio e,
também pode-se afirmar, que a depender de seus interesses em seu
mercado doméstico, ou ao redor do mundo, poderá haver
desinvestimento em sua atividade local. Um exemplo disto é a Embraer
que está em vias de ser adquirida pela gigante Boeing dos EUA. O
interesse da Boeing é o mercado de jatos médios que a fabricante
brasileira tem elevada vantagem competitiva face a concorrente
Bombardier que é canadense. No entanto, não é certo que depois de
transferida todas as marcas e a parcela de mercado que a Embraer tem
no mundo que a Boeing mantenha sua produção de jatos no Brasil. Se
ficar, parte dos lucros do negócio serão remetidos aos EUA, mas se
for embora deixa uma lacuna em uma indústria de tecnologia de grande
valor agregado que para ser construída novamente não será com
capital nacional privado.
Na
esfera geopolítica e econômica mundial, as empresas transnacionais
atuam como braços econômicos cujos tentáculos aumentam os ganhos
de capital além de suas fronteiras. Os EUA, um país com elevado
número de multinacionais, em sua contabilidade nacional, adota o
Produto Nacional Bruto – PNB, que significa que a riqueza
nacional é computada contando com a produção de empresas que são
de propriedade de residentes em seu território, assim como tudo o
que é produzido no exterior por essas empresas (as multinacionais).
O Brasil por sua vez adota o Produto Interno Bruto - PIB, que
considera como a riqueza nacional tudo que é produzido em seu
território, mesmo daquelas companhias que sejam propriedades de
capital estrangeiro. Isso se dá pela imensa falta de multinacionais
verde-amarela. No entanto, fomentar multinacionais brasileiras seria
primeiramente fortalecer o mercado de capitais no que se refere ao
aumento da possibilidade de qualquer empresa nacional (por menor que
seja) tenha oportunidade de capitalizar-se vendendo parte de seu
capital por meio de ações na bolsa de valores. Atualmente existe a
Nasdaq que concentra boa parte da negociação de empresas da nova
economia, ou seja, empresas de tecnologia que possuem como plataforma
de negócios a internet na qual vendem produtos e serviços. A Google
é uma das empresas que tem ações negociadas na Nadasq é
atualmente tem o seu valor de mercado avaliado em USD 739 bilhões.
Nada mal para uma empresa fundada em 1998, cujo negócio começou em
uma garagem por dois jovens universitários.
É
fato que não temos nenhuma empresa no Brasil que isoladamente valha
tanto quanto as três primeiras corporações listadas como maiores
em valor de mercado pela Nasdaq, mesmo porque boa parte de nossas
empresas estão atreladas a velha economia, basta ver quais são as
dez principais empresas brasileiras listadas no topo do Ibovespa
(bolsa de valores brasileira): Ambev*, Itaú, Petrobras, Bradesco,
Vale e Banco do Brasil. Juntas essas seis empresas em valor de
mercado alcançariam USD 321 bilhões, sequer chegam a metade de uma
Google.
Olhando
mais detidamente para essa lista, vemos que a Ambev hoje não é mais
controlada por capital brasileiro, sendo desde 2013 propriedade de
Belgas, sendo portanto uma multinacional da Bélgica. A Vale, antes
denominada Companhia Vale do Rio Doce, hoje 47% de seu capital está
nas mãos de estrangeiros, mas ainda é brasileira no que se refere
ao controle do capital com direito a voto, incluindo as ações
chamadas de golden shares que obrigatoriamente são de
titularidade do governo brasileiro. Finalizando, excluindo Itaú e
Bradesco, sobram Petrobras e Banco do Brasil cujo o controle
acionário é do governo brasileiro e foram as manchetes do
noticiário como aquelas que devem ser privatizadas pelo governo
Bolsonaro. A novidade é que o Paulo Guedes, futuro ministro da
economia do novo governo, diz ser contrário a formação de
consórcios para as privatizações. O consórcio, por exemplo, como
feito na privatização da Vale, consiste na concentração
provisória de empresas que se juntam para participarem em bloco do
leilão por meio de uma nova estrutura organizacional que representa
o agrupamento, mantendo-se juridicamente independentes cada um das
empresas participantes do consórcio. Essa solução é para
pulverizar o capital e para que não haja a possibilidade de uma
única empresa ser dona de tudo, por exemplo uma empresa estrangeira.
O mago da economia de Bolsonaro já afirmou em entrevista que é
contra o sistema de formação de consórcios nas próximas
privatizações. Isto abre oportunidades para que qualquer gigante
petroleira, ou banco estrangeiro possam comprar e levarem sozinhos o
capital de Petrobras e Banco do Brasil.
O
Brasil tem um mercado de capitais insipientes, sendo muito pouco
provável que da garagem de qualquer cidade brasileira surja uma
grande corporação bilionária e poderosa. Também é verdade que
temos poucas multinacionais e as que nos orgulhavam, como Ambev e
Embraer, uma já passou ao controle acionário estrangeiro e outra
está em vias de deixar o país. O que é mais interessante nessa
pantomima toda armada por essa gente doutrinada no neoliberalismo da
escola de Chicago é não compreender que o Brasil deve ser preparado
para sua vocação em ser uma potência mundial no futuro, ou
resignar-se e entregar-se a sina de ser somente um país fornecedor
de commodities para o mundo industrializado. O Brasil não
deveria pensar em vender as joias da coroa para demonstrar um
alinhamento ideológico, mas preservá-las e protegendo-as do assédio
de políticos e criar mecanismos de governança corporativas pautadas
na visão de mercado, meritocracia e manutenção do capital nas mãos
do povo brasileiro. Ser contrário a isso é muito estranho para quem
saiu às ruas para votar usando verde e amarelo.
João
Lago
domingo, 18 de novembro de 2018
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
A sorte está lançada
Engana-se
quem pensa que o resultado das urnas significa uma vitória, ou que a
eleição de um candidato tenha o mesmo significado de vencer uma
Copa do Mundo, motivo o qual muitos eleitores foram as ruas vestindo
a camisa da seleção brasileira e soltando rojões. Porém, é
verdade que nos tempos da ditadura o ufanismo era despertado por meio
do futebol, paixão que levava a nação a vestir-se de verde e
amarelo e sublimar o que ocorria nos porões da repressão. A copa do
mundo na Rússia veio, passou e jaz esquecido o vexame histórico do
placar de 1 a 7, cuja junção de números coincide com o algarismo
do candidato que venceu a eleição presidencial. Mas, muito dirão:
foi sete a um, esquecendo que no futebol a ordem do placar é
determinada pelo mandante do campo. Ironias a parte, hoje a nossa
jovem democracia é uma balzaquiana fértil, de trinta e três anos,
que desperta olhares lascivos de quem dela deseja violar-lhe a
inocência e dela parir o autoritarismo sob a espada do proselitismo
religioso, recheado com discurso misógino, racista e preconceituoso.
Existem
dois caminhos possíveis para os quatro anos que se avizinham. O
primeiro é a confirmação, que apesar de jovem, nossa democracia
tem as instituições sólidas o suficiente para repelir qualquer
tentativa de ruptura institucional, mesmo que tenha amplo apoio
popular para tal. O segundo caminho é mais tenebroso q ue me faz
lembrar Jânio Quadros, cuja versão da história diz que renunciou a
25 de agosto de 1961 para retornar nos braços do povo e dos
militares. Isto não aconteceu e qualquer cidadão bem informado sabe
que assumiu com muito custo João Goulart (Jango), que era temido
pela elite política da época a quem chamavam de comunista. Foi
Leonel Brizola, cunhado de Jango, que tomou a frente da “campanha
da legalidade” movimento político para fazer cumprir a
constituição e fazer Jango tomar posse do cargo. Naquela época o
golpe militar estava em curso, mas foi postergado quando se esvaziou
o poder de Jango por meio da mudança de sistema de governo
presidencialista para parlamentarista. Tancredo Neves assumiu como
primeiro-ministro, mas por meio de um plebiscito em 1963 o
presidencialismo retorna novamente como sistema de governo até que
em março de 1964, um certo general Mourão, comandante da 4ª Região
Militar e da 4ª Divisão de Infantaria do I Exército, sediados em
Juiz de Fora-MG, deu início ao movimento de tropas que marchou rumo
ao Rio de Janeiro para depor Jango da presidência. Estava instalado
no Brasil uma das tantas ditaduras militares que ocorreram em toda a
América do Sul.
Existem
certas coincidências de nomes e fatos que antecedem o golpe militar
de 64 com o atual quadro político. Primeiro, que passados vinte e
nove anos da queda do muro de Berlim, marco do início da decadência
política e econômica do comunismo, nesta eleição a abordagem mais
usada pela extrema direita foi do medo patético do Brasil tornar-se
uma nação comunista. A segunda coincidência é que a falência da
centro-direita, personificada pelo PSDB que durante as últimas
campanhas presidenciais polarizava com o PT, foi a lona a partir do
envolvimento de outro Neves (Aécio neto de Tancredo) com o escândalo
de corrupção da lava-jato. Terceira coincidência é um certo
General Mourão que foi o quarto nome indicado para compor a chapa de
Bolsonaro depois que declinaram Magno Malta, Janaína Paschoal e o
príncipe Luiz Orleans e Bragança. Se não veio o general da 4a.
Região/Divisão, veio pela quarta indicação.
As
coincidências podem ser sombrias, mas no final poderão não
significar absolutamente nada e todas as bobagens ditas por Bolsonaro
e aliados, que embora interpretadas como ameaças a democracia, foram
simplesmente bravatas com o intuito de ganhar a eleição. Porém, o
que chegou a presidência da república não é um neófito, pois se
nos seus vinte e sete anos como parlamentar não conseguiu
compreender que apoio político não se conquista no parlamento
brasileiro com saliva, mas com o tão simples toma-lá-dá-cá,
poderá ser que seja mais um que ao defrontar-se com a realidade
venha a corromper-se ou, muito pior, seguir com desejos absolutos de
poder justificando para isto a inoperância das forças democráticas.
Seria bem melhor para o Brasil que as discussões políticas nesse
último pleito tivessem ficado no embate programático, mas pouco se
ouviu de propostas para a economia, educação, saúde e segurança.
O eleito sequer participou de debates, restringindo-se a uma campanha
baseada em redes sociais e mensagens de whatsapp.
A
nação brasileira assinou um cheque em branco muito difícil de ser
descontado nos próximos quatro anos. Resta saber se para descontá-lo
estará disposto a apoiar uma ditadura ou esperar que outro venha a
pagar essa conta sob a égide da democracia. Em todo o caso não
adianta mais chorar o leite derramado. A sorte está lançada.
João
Lago.
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
Enquanto a cura não vem.
Certa
vez uma criança ficou gravemente enferma e a doença era de difícil
tratamento. Assim, a família viu-se na decisão de submetê-la a uma
terapia de cura com o viés de poder levá-la a uma morte rápida, ou
simplesmente tratá-la paliativamente, atenuando-lhe as dores e
estender sua vida por mais alguns anos, confiando que inteligência
humana poderia encontrar a cura para o mal. A idade da paciente era
crucial e as chances de morte após iniciado o tratamento eram de
95%.
O
dilema aqui proposto assemelha-se muito a nossa jovem democracia,
pois apesar de o regime democrático ser imperfeito como qualquer
arranjo humano, a possibilidade da decisão popular, de tempos em
tempos reequilibrar as forças na sociedade, faz com que a democracia
tenha supremacia a qualquer outra forma de organização política. O
remédio para os regimes autoritários sempre será a democracia e
justamente por isso que somente quando o corpo da sociedade está
enfraquecido que movimentos antidemocráticos crescem e ganham apoio
popular. Aliás, o nazismo historicamente tomou conta do povo alemão
em 1932 por meio voto popular e cresceu exclusivamente devido à
grave crise econômica que assolava a Europa no pós-guerra. A
Alemanha era um corpo alquebrado pela primeira guerra mundial e
chegou a uma inflação de mais de 1.000% ao mês. A baixa estima do
povo alemão por ter perdido a guerra e, por conseguinte, a perda de
territórios, favoreceu o discurso nacionalista de Hitler cujos
versos Deutschland, Deutschland über alles, Über alles in der
Welt (Alemanha, Alemanha acima
de todos, sobre tudo no mundo) conclamava
e evocava a superioridade
germânica. Assim, não me parece coincidência que o principal lema
do atual líder do nacionalismo brasileiro seja: “Brasil acima de
tudo. deus acima de todos”. O movimento brasileiro acrescenta
“deus” (inicial minúscula mesmo) como
um ingrediente religioso que confere um fanatismo as ideias
totalitárias tupiniquim,
como foi o próprio nazismo uma espécie de seita configurada no
culto a personalidade de Hitler. O próprio cumprimento nazista heil
Hitler (pronuncia-se rái
Hitler) é uma imitação da
saudação romana Ave César
que foi dramatizada no cinema como
uma forma de culto
obsessivo ao imperador.
Converso
com as pessoas nas ruas e observo as mensagens que circulam nas redes
sociais e concluo que os indivíduos atribuem a principal doença do
país a forma de organização política e a decadência moral e
ética da sociedade e de membros do parlamento.
Personificam
um candidato como capaz de resolver esses problemas, além de
atribuir-lhe competência para assuntos que não são da alçada da
presidência da república. Temas como o
aborto, o ativismo gay e feminista, o ensino de ideologia de gênero,
o partidarismo de
professores nas
escolas
e
a erotização promovida por uma determinada emissora de TV, pouca ou
nenhuma influência tem
na escolha do presidente.
Essas
questões estão mais voltadas na escolha de deputados
e senadores
que sejam
contrário a isso, pois
é nessa esfera de poder que as leis são forjadas. Além
disso, assuntos da tutela dos governos estaduais em sua capilaridade
como saúde, educação e segurança, são vistos como passiveis de
solução política de um único homem. Pouca, ou nenhuma atenção
se dá as políticas econômicas dos candidatos que é justamente o
que pode dar sustentabilidade a
uma paz social tão desejada.
Em
ambas as opções
que estão propostas para o segundo turno, parece desaparecer, ou
estar em segundo plano, a trajetória política dos candidatos. Um
deles, o que se aproxima de ideias fascistas, em seus vinte e sete
anos como parlamentar jamais denunciou a corrupção que levou o Rio
de Janeiro ao caos na saúde e segurança pública, sendo
esse o mesmo estado que
o elegeu a
sucessivos
mandatos como deputado federal. Aliás,
esse
tal candidato foi eleito com o hoje presidiário Sérgio Cabral,
ex-governador
fluminense
que na época de sua eleição estava na coligação "Juntos
pelo Rio". Os partidos PP, PMDB e PT estavam coligados
para elegerem Sérgio Cabral e
o PP
era
o partido do
também
hoje
presidiário
Paulo
Maluf. O
eleitor parece ignorar trajetória política tão nefasta e
acreditar que o discurso racista, misógino, homofóbico e
anticomunista
tenha poder de
purificá-lo de seu próprio passado. Já
o outro candidato, aconselha-se com um condenado
na justiça
e tem uma trajetória pífia na prefeitura de São Paulo que não o
habilita como gestor. O que mais
pesa
sobre o candidato petista é que boa parte do eleitorado também não
esqueceu o discurso de ódio do “nós contra eles” e se
identifica como adversário no “eles”, além de atribuir ao PT a
culpa pela decadência moral dos costumes e pela leniência com
a corrupção.
Como
se isso tudo não fosse suficiente, a indicação de Dilma Rousseff
como presidente demonstrou ser um fiasco total pelo descontrole com a
política econômica que levou mais de 14 milhões ao desemprego.
Como
resultado, o
esvaziamento
dos votos de Alckmin e de Marina Silva no primeiro turno indicam o
óbvio: parcela dos votos de ambos migraram para Ciro Gomes e
Bolsonaro. Porém, para o segundo turno não é certo que esse voto
de maior
de qualidade, que
permaneceu na esquerda e direita moderada, possa
migrar para Haddad ou Bolsonaro, pois o eleitor mais qualificado não
se identifica nem com um, nem com outro. A tendência é aumentarem
os votos brancos e nulos, a menos que um ou outro possa convencer o
eleitor que o passo
para o precipício
está mais
nos
pés
do adversário.
Neste
ponto Bolsonaro e Haddad tem muito em comum, a qualidade de seus
apoiadores e simpatizantes que nada agregam ao discurso conciliador
e pacificador.
Escolher
o menos pior não parece ser um caminho racional, pois a escolha do
eleitor deverá responder a pergunta crucial que está contida no
primeiro parágrafo desta reflexão: São quatro anos de um remédio
que pode matar o tecido social brasileiro e a nossa jovem democracia.
Portanto, qual das duas fórmulas tem mais chances de ser um
paliativo enquanto não vem a cura? O eleitor tem no íntimo essa
resposta e talvez por ser tão vergonhoso declará-la, só realmente
saberemos sua decisão no final da tarde do dia 28 de outubro. A
sorte está lançada e que Deus tenha piedade desta nação.
João
Lago
terça-feira, 25 de setembro de 2018
terça-feira, 11 de setembro de 2018
A micose política social
As dermatites alérgicas são combatidas com corticoides devido sua
ação imunossupressora que reduz a resposta do organismo à ação
do agente que desencadeou a reação alérgica. No entanto, se uma
micose (infecção por fungos) for confundida com uma dermatite
alérgica e um adepto da automedicação utilizar um fármaco a base
de corticoides em uma micose, em vez de resolver o problema,
aumentará ainda mais a infecção, porque ao enfraquecer o tecido
cria um ambiente propício para a doença crescer e multiplicar. Uso
essa metáfora porque na democracia face ao autoritarismo o mecanismo
funciona da mesma maneira.
A democracia, presente nos dado pela civilização grega clássica,
ainda é o melhor remédio para combater as tentativas de
autoritarismo que vez em quando voltam a nos assombrar, tanto a
direita, quanto a esquerda. E essa doença (o autoritarismo)
historicamente surge nos períodos de estagnação econômica, com o
aumento do desemprego e do empobrecimento da maioria da população.
Assim foi no século passado durante a ascensão do nazismo na
Alemanha nos anos 30 e, assim, ressurge na França em 2008 em pleno
século XXI. E o autoritarismo tem em sua gênese a escolha de um
culpado (ou culpados) para a desgraça econômica: imigrantes,
homossexuais, não cristãos etc. Promete resolver todos os problemas
por meio de um rígido controle social, restaurando a ordem e os bons
costumes com mão de ferro e quando possível suprimindo todos os que
pensam em contrário.
Na véspera do dia 7 de setembro, Jair Bolsonaro sofre um atentado de
um tresloucado que quase em um ato suicida esfaqueia o candidato em
meio a uma turba que o adjetiva de mito. Por muito menos já tive
conhecimento de pessoas serem linchadas por serem confundidas com
agressores, muitas vezes produto de lendas urbanas. Quem não se
recorda de uma mulher que em maio de 2014, na cidade de Guarujá-SP,
foi espancada até a morte porque circulava no Facebook um boato que
uma mulher sequestrava crianças para matá-las em um ritual de magia
negra. A pobre mulher foi reconhecida por peritos populares,
altamente treinados para reconhecerem semelhanças faciais, por meio
de um retrato falado grotesco produzido em uma ocorrência policial
de 2012 em Bonsucesso-RJ, distante dois anos no tempo e 512 km no
espaço do local do massacre. O único crime cometido pela mulher foi
ter oferecido uma fruta, que havia comprado pouco antes, para uma
criança que estava na rua. A mãe da criança acreditou que aquela
criatura fosse a suposta sequestradora e logo cerca de cem pessoas
começaram a persegui-la e agredi-la, principalmente porque tinha nas
mãos um livro preto de “magia negra” que na verdade era uma
Bíblia. Estou associando este fato ao atentado de Bolsonaro por dois
motivos: Primeiro porque a maioria dos eleitores de Bolsonaro parecem
acreditar que é possível fazer justiça com as próprias mãos (ou
próprias armas) como defende o candidato quando promete metralhar
seus adversários (de brincadeira lógico). Em segundo lugar porque o
agressor realmente declarou que estava disposto a ser imolado em prol
de um chamado divino, uma espécie de Jihad contra
o extremismo de direita.
A democracia
sofre um duro golpe, obviamente pelo atentado em si que qualquer
cidadão com sete graus de sensatez menores
que a minha repudiará
veementemente. Outro efeito
colateral é afastar Jair Bolsonaro dos debates, coisa que ele já
estava disposto a fazer, mas agora tem um motivo real para tal. Eram
justamente os debates o seu calcanhar de aquiles, pois é fato que
fora dos assuntos do qual está devidamente adestrado (kit gay, negar
o golpe de 64, não houve tortura na ditadura, armar a população
contra os bandidos, quilombolas vagabundos etc.) o candidato
Bolsonaro não tem muito a dizer. O
que mais me entristece e que
vejo muita gente boa, que apenas está
desiludida com a decadência
moral, principalmente aquela capitaneada pela Rede Globo de
Televisão, sentirem-se pessoalmente ofendidas em suas crenças.
Outro ponto em comum entre elas é a revolta contra as instituições,
principalmente aquela que permite que o bandido possa ter tantos
privilégios e que a corrupção seja uma prática sistêmica no
parlamento e nos governos. Não se trata absolutamente de
criminalizar a política, mas banir da política os criminosos e é
isso que o brasileiro médio tão somente deseja. Porém,
se realmente não vier uma reforma política que acabe com os
políticos profissionais, nunca
haverá uma renovação profunda nas esferas de governo, pois da
forma que está,
os partidos políticos são feudos sem qualquer ideologia e baseados
no “carisma” do dono da legenda. Os
partidos políticos, em sua maioria, tem donos no Brasil.
Não
se elimina uma micose com corticoide, da mesma forma que não se
combate o
autoritarismo com a
violência, pois ao usarmos o
remédio errado apenas criamos um substrato para a doença crescer. O
autoritarismo não se acomoda
na democracia e essa funciona
como um veneno as suas
pretensões. Portanto, é
um ato de burrice, ou insanidade, agredir um autoritário, basta que
o deixe
falar, pois o último recurso
de quem perdeu a razão é agir com violência. A força do argumento
é bem mais poderosa e faz calar que o argumento da força.
João Lago.
domingo, 5 de agosto de 2018
Alegria e responsabilidade de ser pai
Em
um texto que escrevi em maio de 2014, teci comentários a respeito da
diferença do sentimento de pertencimento entre um homem e uma mulher
em relação aos seus filhos. Dizia que enquanto o sentimento de mãe
é forjado em suas entranhas, o homem demora um pouco mais para
sentir-se pai, fato que somente ocorrerá com o filho materializado
em seus braços. Falava do amor de mãe em tese, assim como em tese
discorro boa parte das reflexões que escrevo, tentando afastar-me do
objeto para construir um pensamento isento. No entanto, como poderia
escrever sobre uma personagem tão importante na formação de nossa
personalidade, seja intrinsecamente herdada, ou mesmo adquirida nos
exemplos, e não misturar com a minha própria experiência de também
ser pai?
Fui
um pai jovem, quando aos vinte quatro anos, nove meses e vinte quatro
dias encontrava-me no centro cirúrgico vendo o meu primeiro filho
nascer. Segurava uma câmera VHS (que os mais de quarenta anos
saberão o que é isto) encolhendo-me no canto da sala e sabendo que
se por um caso eu desmaiasse não receberia auxílio, pois afinal
naquele momento nem coadjuvante eu era. Um pai na hora do nascimento
de seu filho é simplesmente torcida. Porém, além deste momento
inesquecível, tenho muitas outras lembranças da infância de meus
três filhos, mas três são significativas.
Em
1992, por motivo de trabalho fui transferido para Brasília antes que
meu filho fizesse um ano de vida, ficando mais de um mês ausente de
casa. Assim, quando retornei para buscar minha família em Manaus,
depois dessa longa ausência, lembro-me que peguei meu filho no colo
e dali ele não quis mais sair, mesmo quando a mãe estendeu-lhe os
braços, como se para ele corresse o risco de ausentar-me novamente
por tanto tempo. Posso dizer que me senti gratificado, porque naquele
momento recebi uma retribuição do amor que tanto devotava por
aquela pequena criatura.
Anos
mais tarde, aproximadamente sete anos, meu segundo filho estava
começando a balbuciar as primeiras palavras, ficando a expectativa
se entre as sílabas pronunciadas sairia papai ou mamãe. Para nossa
surpresa, ele não somente resolveu dizer papai, mas a cada tentativa
de fazê-lo dizer mamãe ele retribuía dizendo “papai, papai”,
fazendo rir todos a sua volta. Porém, enquanto que a primeira
recordação de Lucas em meu colo apenas reside na minha memória,
essa segunda de João Alfredo tenho gravada em áudio.
Quando
fui pai pela terceira vez, durante o anúncio de uma nova gravidez,
eu sinceramente pensei que fosse outro menino, porque parece que
estava fadado a ser pai de meninos. No entanto, face a minha
preocupação presente com a saúde de todos eles, além de
acompanhar todas as idas ao pediatra, também fazia questão de estar
presente no pré-natal. Lembro-me que por volta de dezesseis semanas,
durante uma das ultrassonografias de acompanhamento, a médica
perguntou se gostaríamos de saber se era menino ou menina.
Logicamente saber o sexo do bebê facilita toda uma programação
logística e dissemos que sim. Não demorou muito, para termos a
certeza que era uma menina, pela posição que Lívia se encontrava
que facilitou a identificação. Foi uma alegria muito intensa para
mim e também um desafio, porque antes estava em uma situação
confortável de ser pai de meninos, mas apreensivo em saber se me
sairia bem como pai de uma menina. Porém, posso assegurar que foi
paixão a primeira vista e antes que se possa dizer que pai e mãe
sempre tem preferência por um filho em especial, na verdade o que há
é uma preocupação seletiva por um deles, que pode ser por aquele
que apresenta uma maior fragilidade frente ao mundo. Naturalmente,
nesse mundo tão hostil em que a força bruta sobressai, ser mulher
pode ser uma desvantagem e de alguma forma procurei dar uma maior
atenção a ela.
Sou
pai de três filhos, fugindo um pouco da ditadura dos dois, na qual
um é pouco e três é demais. Isso em uma sociedade que prega o
egoísmo que provoca ausências. Mas, posso dizer que durante toda a
infância e adolescência deles, a não ser por breves momentos,
impus a minha presença, o que foi importante para fazer-me mais
humano e mais preocupado com o futuro de meu país. Até pode ser um
senso comum, ou um aforismo dizer que construir um mundo melhor tem o
intuito de deixá-lo de herança para os nossos filhos, mas na
verdade ter essa preocupação é uma demonstração de amor. Um amor
que deriva do instinto de proteção que temos por nossa família e
que reflete em tudo o que está em nossa volta.
Os
filhos crescem, escolhem os seus caminhos, mas ficam as lembranças
da ternura que é ser pai. Contudo, nem todo homem pode se sentir
vocacionado a ser pai e, por isso, a responsabilidade de colocar um
filho no mundo não pode recair somente nos ombros de uma mulher. Eu
acredito que toda a criança merece um pai presente e que toda a
união entre um homem e uma mulher, que não for no intuito de formar
uma família, seja de responsabilidade de ambos evitar uma gravidez
indesejada. Escrevo isto porque esta sociedade egoista discute
novamente a legalização do aborto no Brasil, voltando a discutir o
que pode ser considerado vida, como se o feto no ventre de uma mulher
fosse um amontoado de células a se reproduzir como um câncer. O que
mais assustador, é que na cabeça de algumas feministas, o pai está
isento do direito da paternidade, pois mesmo que deseje ver o seu
filho nascer, ela se posiciona no direito de “extirpar o câncer”
dizendo: “meu corpo, minhas regras”. Boa parte da asseveração
desse pensamento reside no fato da indiferença e ausência da
responsabilidade masculina na hora de deitar-se com uma mulher.
Concluo
dizendo que ser pai é uma experiência fantástica, mesmo que
inicialmente possa parecer um pouco assustadora. Pois nada,
absolutamente nada, pode ser tão gratificante quanto a retribuição
do amor de uma criança.
Feliz semana e dia dos pais.
João
Lago.
sábado, 28 de julho de 2018
Estrangeiro
Somos todos de uma mesma raça: A humana. E uma das características que nos fizeram estar presentes em todos os continentes foi a nossa herança antropológica de ser nômade. As fronteiras são meras convenções criadas pelos homens, enaltecidas pelos estúpidos, ignoradas pelos pássaros, invisíveis aos fenômenos da natureza.
domingo, 22 de julho de 2018
Aos amantes de pitbulls
O
pitbull é um cão de porte médio cuja literatura atribui a origem
da raça na mistura de outras raças na intenção de produzir um cão
de briga. Esses cruzamentos geraram um animal atarracado de pescoço
musculoso e poderosa mandíbula. Essas características, apesar de
algumas vozes contrárias, justificam a ocorrência de inúmeros
acidentes com essa raça, na qual já foram registradas mutilações
e até mortes. Em países como Inglaterra, Noruega e Dinamarca a
criação da raça é proibida, assim como em alguns estados dos EUA.
No Brasil, embora a má fama, o pitbull é uma raça que continua a
ser mantida por alguns aficionados e apaixonados criadores que
enxergam na agressividade uma qualidade a ser valorizada e procuram
mitigar os ataques (inclusive ao próprio dono) como culpa do próprio
proprietário quando adestra o animal para ser violento.
Nesse
sábado (22/7), ouvi atentamente o discurso de Janaína Paschoal
durante a convenção do Partido Social Liberal - PSL que lançou o
capitão reformado Jair Bolsonaro como candidato a presidente no
pleito deste ano. Para quem não se recorda, Janaína Paschoal é
aquela professora e advogada, que em conjunto com o jurista Miguel
Reale Júnior e Hélio Bicudo (um dos fundadores do PT) assinou o
pedido de impeachment de Dilma Rousseff que foi aceito no Congresso
Nacional. Janaína em sua fala chamou atenção dos partidários de
Bolsonaro para não se igualarem ao discurso totalitário dos que
somente aceitam como aliados os que aderem 100% as suas ideias. Disse
ainda: "Enquanto procuramos pessoas que estejam dentro da
totalidade do nosso pensamento, eles estão se unindo". Janaína,
que ainda não se decidiu se aceita ser vice na chapa de Bolsonaro,
veio com um discurso conciliador para uma plateia que recebeu
Bolsonaro aos gritos de “mito”.
No
outro extremo da política, Ciro Gomes durante sabatina da Abimaq
(Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos)
em São Paulo, nessa última terça (17/7), resolveu homenagear as
profissionais do sexo atribuindo a uma delas a maternidade de um
membro do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que teve a
petulância de pedir abertura de um inquérito de injúria racial
contra ele. Isto porque Ciro Gomes chamou de “capitãozinho do
mato” o vereador Fernando Holiday que é negro e um dos
coordenadores do MBL (Movimento Brasil Livre). A divergência de Ciro
Gomes e Fernando Holiday é que esse último se diz contra as cotas
raciais e também pede a abolição do feriado do dia da consciência
negra. Na visão ideológica de Ciro Gomes a analogia racista se dá
pelo fato que durante a escravatura, os chamados capitães do mato,
em sua maioria negros libertos, estavam a serviço de homens brancos
para recapturar escravos fugitivos. Só para piorar o destempero
verborrágico de Ciro Gomes, o membro do MP-SP é uma mulher, ou
seja, em uma só tacada Ciro Gomes conseguiu mostrar-se
preconceituoso contra negros, prostitutas e por tabela ofendeu uma
mulher e trouxe para si a ira da Associação Paulista do Ministério
Público APMP, entidade que representa mais de 3.000 promotores e
procuradores de Justiça de SP. Nada mal para um pré-candidato a
presidente que terá como missão negociar com o Congresso Nacional e
com a sociedade o destino desta nação para os próximos quatro
anos.
Os
donos de pitbull podem mandar seus cães para banho e tosa, colocar
perfume e talco, colocar-lhes laços e fitas, mas ainda assim não
deixaram de ser o que são: animais de briga, indóceis e prontos
para morder a mão do dono. Por mais que o temperamento agressivo
possa parecer apropriado para que pitbulls sejam indicados como bons
cães de guarda, não é sensato tê-los em nossa casa. Os criadores
de pitbulls enaltecem a raça, a defendem e alegam que a
agressividade pode ser controlada é não seria um grave problema
desde que bem adestrados em tenra idade. Da mesma forma, o padrão
moral de um indivíduo é internalizado na infância, sendo pouco
provável que um indivíduo adulto, na casa dos sessenta, tão
enraizado em suas convicções possam deixá-las de lado como em um
passe de mágica. Podem até fingir durante um tempo, mas logo
sucumbem e mostram sua verdadeira face.
Moral da história: Os
pitbulls e os certos políticos têm muito em comum, basta apenas
contrariá-los.
João
Lago.
sábado, 16 de junho de 2018
Caipirinha, samba, futebol e política
Muito se fala de nosso ufanismo
quadrienal, das ruas enfeitadas de verde amarelo, das bandeirolas tremulando
nos carros, dos jingles das
propagandas enaltecendo o orgulho e a paixão de sermos “uma pátria de
chuteiras”. Ao mesmo tempo, nas redes sociais pipocam comparações dos prêmios
Nobel recebidos, do índice do Pisa que avalia a educação, do Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH de países desenvolvidos que não foram a Copa do
Mundo, tripudiando a exaltação efêmera de sermos o único país com cinco
mundiais.
Acredito que já estamos meios
cansados dos exemplos vindos de países ditos de primeiro mundo, de forma a
aviltar-nos em nossa condição de país subdesenvolvido, como se determinado
arquétipo estivesse associado a uma condição socioeconômica superior, sendo
este o motivo dessa aridez cívica brasileira que somente floresce em copas do
mundo. Fugindo desse senso comum, vou citar a surpresa que tive em estar na
Colômbia no dia 7 de agosto, data do reconhecimento de sua independência de
Espanha e avistar as fachadas das casas enfeitadas de amarelo, azul e vermelho,
bem como bandeiras da pátria em todos os lugares, parecendo muito como o Brasil
em dias de jogo de copa do mundo. Trata-se
de um sentimento cívico que não vemos no dia 7 de setembro, como se o dia da
libertação do Brasil de Portugal não tivesse relação com o sentimento de sermos
realmente uma nação independente. Porém, convenhamos, enquanto a Colômbia,
assim como nos demais países que pertenceram à extinta Grã-Colômbia, sua
independência foi construída a golpes de espada e tiros de canhão, por aqui
houve uma divisão de terras entre a família imperial portuguesa. Parece que
estou até escutando o diálogo entre pai e filho: “Ó pá Pedrinho, Napoleão foi
para os quintos dos infernos. Tu ficas cá com as terras de Brasil enquanto eu
volto para reocupar Portugal antes que tudo vá para as cucuias”.
A tradição brasileira determina que,
mesmo antes de sermos batizados, tenhamos um clube designado para torcer, pois,
assim como o sobrenome, geralmente herdamos de nossos pais a paixão pelo
futebol. No entanto, quando em 2013 a camisa da seleção brasileira invadiu as
ruas como vestimenta oficial das manifestações populares, isto em pleno governo
de Dilma Rousseff, a esquerda brasileira ainda não associava a caminha da CBF
como símbolo da direita. Foi a partir das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 que
a esquerda exacerbou ainda mais o discurso do “nós contra eles”, atribuindo o
verde amarelo como símbolo dos “golpistas”. É fácil chegar a esta conclusão
quando relembramos a copa do mundo em 2014, quando a camisa da seleção não era
estigmatizada pela esquerda e uma eventual vitória do Brasil no mundial
serviria bem aos propósitos políticos do governo petista, mas faltou combinar
isto como a seleção da Alemanha. A verdade que na copa de 2014 não se ouviu
falar de celeuma com a camisa da CBF, sendo esta uma discussão que ficou para
2018.
O futebol é uma paixão nacional
que une todos os brasileiros e é um patrimônio imaterial para o nosso povo,
assim como a caipirinha, o samba e o carnaval. Portanto, lamento profundamente
que essa política rasteira, que não é capaz de uma autocrítica, insista na
divisão ao invés de unir-se a todos os brasileiros que têm um desejo comum:
querer políticos honestos e que os bandidos condenados por corrupção fiquem na
cadeia pagando pelos seus crimes.
Reconheço que ainda temos que
avançar em fatores que possam nos dar ainda mais orgulho de sermos brasileiros,
mas nem por isso vou abandonar minha camisa verde amarela, deixar de torcer pela
seleção brasileira, abster-me da caipirinha. Digo ainda que se o Brasil for
hexa campeão, vou festejar com bastante samba, porque não é a estupidez da
política que irá destruir o que essa nação também tem de melhor: Nossa alegria.
João Lago.
domingo, 27 de maio de 2018
A profecia do fim do mundo
Viralizou na internet um áudio
atribuído ao falecido apresentador de TV Marcelo Rezende no qual o mesmo profetizou
a greve dos caminhoneiros. Entretanto, assim como as vozes de Silvio Santos,
Lula e Gil Gomes, imitar o jeito, os cacoetes e o timbre de voz do apresentador
não é um trabalho tão hercúleo. Todavia, como já destacado por este modesto
tocador de bumbo, não se deve acreditar em tudo o que circula nas redes
sociais, sendo melhor em alguns casos rir despretensiosamente e crer que aquilo
está ali para divertir-nos, muito embora muitos levem isso à sério.
Tive a oportunidade de haver
atuado na logística de uma multinacional no sudeste do Brasil, tanto na
composição de custos logísticos, bem como na distribuição física, além de haver
lecionado a disciplina de logística empresarial em alguns centros de ensino
universitário. Assim, posso dizer confortavelmente que sendo profecia ou não, a
mais reles quiromante, mesmo a mãe margarida, aquela que com os seus sortilégios
traz em sete dias o ser amado de volta, poderia ter profetizado uma greve de
caminhoneiros que paralisaria o abastecimento do país em tão pouco tempo.
Porque o Brasil é uma nação que na década de 70 a base logística foi erguida na
tríade: asfalto, pneu e diesel e não seria de estranhar-se que atualmente aproximadamente
66% das mercadorias transportadas no país estejam na carroceria de caminhões (1).
Portanto, ao chegar a sua casa, olhe ao redor e será muito provável que quase a
totalidade dos bens de consumo de sua residência, em algum momento da cadeia
logística, foi transportada por caminhões. Porém, para deixar a situação mais
dramática, outro fator que explica porque o país parou nos últimos dias é que,
da totalidade da frota de caminhões do país, 60,6% estão nas mãos das empresas e
cooperativas, ficando os 39,4% na posse de caminhoneiros autônomos (2). Ou
seja, boa parte da movimentação de cargas está na carroceria de caminhões cujos
profissionais não estão ligados a nenhuma empresa ou entidade de classe, o que
dificulta a identificação de lideranças e explica o porquê de toda a
paralisação fosse coordenada, combinada e difundida por meio de mensagens de
whatsapp.
A Petrobras não tem obrigação de
cuidar de custo operacional de terceiros, mesmo porque a política desastrada de
manutenção dos preços dos combustíveis artificialmente congelados no mercado
interno, durante os governos petistas aliados à corrupção, deixou a petroleira
em estado quase falimentar. Desta forma, a adoção ortodoxa de correção
automática dos preços dos combustíveis, a partir da oscilação do barril de
petróleo no mercado externo, protegeu o caixa da Petrobras, mas bagunçou com a
estrutura de custos do serviço de transporte rodoviário de cargas. Não somente
o transportador autônomo foi afetado e as suspeitas de locaute pelas empresas
de transporte fazem todo o sentido. Locaute é quando os patrões manipulam e
usam o direito de greve dos trabalhadores para atingirem seus fins meramente
econômicos empresariais.
Os caminhoneiros autônomos na sua
maioria trabalham como terceirizados de empresas de logística que muitas vezes
funcionam como agenciadoras de cargas junto a grandes embarcadores, não sendo
comum que um caminhoneiro seja contratado diretamente por uma grande indústria.
Essa “quarteirização” do serviço, e a pressão sobre custos mais baixos na
cadeia logística, acabam por reduzir a margem bruta e o resultado operacional é
quase que insuficiente para cobrir todos os gastos necessários para a
manutenção do veículo, a sobrevivência do caminhoneiro e de sua família.
Considerando que o combustível representa em média 60% dos custos de transporte
(3), qualquer aumento no preço desse insumo em períodos tão curtos, e que não
possa ser compensado/renegociado no ciclo operacional do serviço, pode
representar a inviabilização do transporte autônomo. Para exemplificar, um caminhoneiro “fecha um
frete” em um valor e sai para fazer a entrega, recebendo um adiantamento para
iniciar a viagem e ficando para receber o restante quando apresentar o CTRC –
Conhecimento de Transporte Rodoviário de Cargas - assinado pelo destinatário.
Durante a viagem, o autônomo é surpreendido com o aumento do diesel, que traz
um desequilíbrio econômico financeiro do frete. O caminhoneiro faz a entrega e o
agenciador estipula um prazo para pagamento, muitas vezes somente depois do
embarcador pagar pelo serviço. Nesse lapso temporal, que pode durar mais de 45
dias, suponhamos outro aumento de preço no diesel e o caminhoneiro entra em
desespero, pois o frete combinado que ficou ruim agora não fecha a conta. Sendo
bastante empático ao caminhoneiro, imaginemos que recebamos o salário hoje e
sem aviso prévio os preços dos alimentos sofram dois reajustes seguidos no mês.
No mês seguinte, poderíamos correr para o supermercado e fazer compras para
garantir um estoque face escalada inflacionária, como bem fizemos antes do
Plano Real na época de hiperinflação. Contudo, o caminhoneiro não pode fazer
estoque de diesel, tão pouco reivindicar repactuação do frete junto ao
agenciador. Assim, o prejuízo recairá sobre o elo mais frágil da cadeia
logística.
A política de preço do diesel
para veículos de transporte de carga e passageiros, por questão estratégica de
interesse nacional, não pode acompanhar o sobe e desce frenético do preço do
barril do petróleo do mercado externo, mas não se deve estender esse benefício
ao preço da gasolina, nem tão pouco ao preço do diesel destinado aos luxuosos
pick-ups de passeio. As nações desenvolvidas desestimulam o transporte
individual e privilegiam o transporte público de massa, sendo justamente o
contrário da realidade brasileira. Transportes públicos de péssima qualidade
empurram o cidadão ao desejo de possuir automóvel e o consumidor brasileiro faz
a alegria das montadoras estrangeiras, cujas margens de lucro é três vezes maiores
no Brasil que nos países sede de suas origens (4). Portanto, por mais que seja
desagradável o sobe e desce dos preços da gasolina nos postos, o abastecimento
dos veículos de passeio não deve ser prioritário. Talvez os altos preços da
gasolina possam ser uma medida pedagógica para que o cidadão de classe média efetivamente
possa exigir um transporte público de qualidade e deixe de considerar o ônibus (e
demais meios de transporte de massa) como feito para transportar pobre.
O movimento paredista dos
caminhoneiros que paralisou o Brasil não é um assunto que se resume a política
de preços da Petrobras, ou mesmo a elevada carga tributária que incide sobre os
combustíveis, mas um problema econômico, político e social que se inicia com a
decisão do que é prioritário para o crescimento e o bem estar desta nação. O
primeiro passo a ser dado é decidir se queremos gasolina barata com um padrão
de vida venezuelano, ou gasolina oscilando ao sabor do preço do petróleo no mercado
internacional, mas com padrão de vida e de transporte público holandês.
Sinceramente, conhecendo um pouco a alma do brasileiro, acho que não serei
profético em dizer qual das duas alternativas o brasileiro médio aceitaria com
mais naturalidade.
João Lago.
1. ANUT – Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga, Anais da Audiência Pública na Câmara dos Deputados sobre marco regulatório do transporte rodoviário de caras, 2016;
2. Anuário Estatístico de Transporte 2010-2016, Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, 2017;
3. Planilha de custos de transporte rodoviário elaborada pelo autor;
4. Brazil – home to the world’s most expensive cars. Automotive Word, 2011.
2. Anuário Estatístico de Transporte 2010-2016, Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, 2017;
3. Planilha de custos de transporte rodoviário elaborada pelo autor;
4. Brazil – home to the world’s most expensive cars. Automotive Word, 2011.
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