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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Coerência e ética nas redes sociais

Quem um dia ainda não presenciou uma criança derrubar um copo com um líquido qualquer sobre uma mesa e imediatamente ser repreendida por um adulto? Quem ainda não presenciou um adulto fazer a mesma coisa e os comensais agirem com total condescendência, como se aquilo fosse uma casualidade? Por que tamanho disparate para o comportamento de um, em relação ao do outro?

As palavras chulas, quando ditas pela boca de uma criança, são repreensíveis, mas quando ditas por um adulto desbocado, em tom jocoso, vira comédia. Certa vez escutei uma história mais ou menos assim:

Uma criança cresceu ao redor de homens adultos que abusavam de palavras de baixo calão, principalmente durante as transmissões de jogos de futebol pela televisão. A criança, com pouco mais de quatro anos, cedo acrescentou um vocabulários digno de fazer enrubescer as faces mais pudicas. Certo dia, quando a criança teve que ir ao dentista com a mãe e a avó, que absolutamente não eram as responsáveis pelo aprendizado do vernáculo tosco do moleque, passou-se a seguinte cena vexatória:

- O dentista começou a trabalhar na boca abençoada do guri, que em face da primeira intervenção com a broca estridente, automaticamente bradou o mantra aprendido em casa, quando o juiz marcava pênalti em favor do time adversário. Igualou a mãe do dentista à mãe do juiz, em seus adjetivos pertinentes, gritando em alto e bom som, seguidas vezes, a versão chula do que conhecemos como o líquido seminal masculino, acrescentado o nome chulo do órgão sexual que naturalmente o expele.

Um detalhe importante deve ser dito: a recepção do consultório odontológico estava lotada de outras mães, que, constrangidas com os gritos, tapavam os ouvidos de suas respectivas crianças. Sinceramente, para a mãe e avó do menino, o problema não foram os gritos ecoados, mas ter que encarar o outro lado da porta e serem observadas e julgadas pelas outras mães e aguentar a vergonha.

Nos dias de hoje, com as redes sociais, certos vexames podem tomar proporções gigantescas, pois da mesma maneira que as duas mulheres temiam a audiência dos gritos porta afora do consultório, as redes sociais (facebook, whatsapp, twitter etc.) têm o poder de socializar uma gafe, instantaneamente, para milhares de pessoas. Assim, como adolescentes e crianças utilizam as redes sociais, os adultos devem servir de exemplo para os mais novos.

Certa vez, um adolescente, reiterada vezes, postou em uma rede social mensagens de correntes que desagradaram uma parte da audiência inscrita em seu grupo. É bom que se diga que as mensagens não tinham nenhum conteúdo chulo, mas incomodavam porque, ideologicamente, as correntes não estavam de acordo com a filosofia para qual o grupo foi criado. Em um dado momento, o jovem foi dura e publicamente repreendido por isso. Passou um tempo, um adulto inicia a colocar piadinhas, algumas de gosto duvidoso, nesse mesmo grupo, mas não houve dos demais qualquer retaliação. Ou seja, aquele jovem derramou o líquido e foi repreendido. O adulto derramou a jarra inteira e todos acharam engraçado.

Não é porque estamos “online” que devemos esquecer todas as regras de convivência que temos também no mundo real, pois muitos de nós temos filhos que acompanham o que postamos, da mesma forma que acompanhamos o comportamento de nossos filhos nas redes sociais. A incoerência seria um “publiques o que eu permito que publiques, mas não curta (ou compartilhe) o que eu publico”. Não cola!

Por exemplo, tem um canal no youtube (não vou dar publicidade ao nome) que, ultimamente, vem ironizado a fé cristã, ao ponto de chamar atenção do recém-cardeal dom Orani Tempesta. O canal, nesse final de ano, postou um vídeo que satiriza o nascimento de Cristo. Não assisti ao vídeo, mas as informações que coletei de um artigo publicado por Dom Orani Tempesta foram suficientes para tomar conhecimento do conteúdo e não dar audiência ao mesmo. Não é engraçado vilipendiar a crença alheia, assim como seria um contrassenso curtir, compartilhar ou rir de uma coisa dessas.

Existe muito lixo circulando na web e o pior deles é aquele que vem travestido de humor, quando na verdade incentiva o preconceito e o ódio.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

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