Quando li essa reportagem do corte presidencial publicada em um jornal de Manaus, imediatamente pensei o quanto o poder interfere na sensibilidade do governante em entender o mundinho pequeno das necessidades ordinárias de seus governados. Lembrei da frase atribuída à rainha da França, que reza a lenda, devido as más colheitas de 1789, Maria Antonieta perguntou durante um passeio por que o povo das ruas parecia tão desgraçado. O cocheiro prontamente respondeu: "Majestade, não há pão para comer", ao que Maria Antonieta respondeu: "Se não têm pão, que comam brioches". Historiadores divergem da veracidade do fato, mas tal episódio de insensibilidade, mentira ou não, foi utilizado no mesmo ano como símbolo da revolta nas ruas que levaram à revolução francesa.
Das monarquias que ainda existem no Século 21, a mais poderosa é a inglesa, uma potência econômica e militar. No entanto, apesar de representar uma nação rica, os jornais ingleses em maio divulgaram uma foto da rainha Elizabeth, calçando saltos altos, luvas e chapéu, que ao lado de seu marido descia de um ônibus de transporte público. Pois é, a rainha pegou o busão em Cambridge para uma visita ao Laboratório de Biologia Molecular (LMB, em inglês), um centro de pesquisa fundado em 1947 que ao longo de sua história produziu avanços científicos laureados com nove prêmios nobel. A visita da rainha foi para inaugurar um novo prédio na universidade de Cambridge, no qual 600 cientistas poderão desenvolver novas pesquisas com maior conforto em modernas instalações, em um investimento de £ 212 milhões de libras, ou R$ 719,5 milhões em moeda brasileira. O que os ingleses investiram em um laboratório de pesquisas é o equivalente que custou a reforma do Maracanã, palco da final da Copa das Confederações que Dilma recusou-se a ir por medo do vexame das vaias.
Morei em Brasília em duas oportunidades e de cadeira posso dizer como é péssimo o serviço de transporte público do Distrito Federal, palco das manifestações mais violentas registradas recentemente no país. Andei em ônibus apinhados de gente, em vans lotadas acima de sua capacidade e em pé, que não deveria ser permitido nesse tipo de transporte. Posso dizer que encontrar um deputado federal, um senador, ou qualquer outro que ocupe cargo político circulando em transporte público em Brasília seria digno de uma pintura de Salvador Dali. Muito embora, duvido que esse surrealismo também seja visto em qualquer outra capital do país (exceto em época de campanha).
Não espero que Dilma deixe o carro oficial e um dia siga do Alvorada para o Palácio do Planalto de ônibus. Também perdi a esperança que este governo do PT invista na melhoria da qualidade da pesquisa nas Universidades brasileiras, pois sua grande contribuição para a educação brasileira, a política de cotas, já começou a produzir resultados de mediocrização dos bancos escolares. Nesta semana tomei conhecimento do relato de uma professora da Universidade Federal do Amazonas, em um primeiro dia de aula de alunos egressos da escola pública vindos pelo Enem. Não vou entrar em detalhes para não comprometer a colega, mas posso dizer que a pontuação mínima para passar no curso é de 120, mas existia uma maioria vinda das cotas com pontuação entre 70 e 90. Qual a consequência prática disto? Ora, um déficit de conhecimento que deveria ter sido suprido no ensino fundamental e médio, que resulta em alunos com grande dificuldade em redação e em cálculos matemáticos relativamente simples. Como a colega professora leciona em faculdade de ciências humanas, o cerne do problema era a língua portuguesa, na qual os alunos apresentavam uma redação comparável aos alunos 9o. ano do ensino fundamental. Em relação a matemática, imediatamente lembrei-me da história de um colega da área de exatas que recebeu um aluno irado com a nota recebida em uma prova, reclamando que o professor não havia ensinado como um problema matemático deveria ser resolvido, alegando incompetência e desonestidade do professor para com o conteúdo ministrado em sala de aula. O professor pegou a prova do aluno, verificou qual a complexidade do problema e pacientemente virou-se para o aluno e disse:
-
Meu filho, a resolução do
problema é por dedução em uma equação de segundo grau, que
você esqueceu lá no ensino médio.
Decididamente, a continuar esses desatinos demagógicos na educação brasileira, um prêmio Nobel para o Brasil não acontecerá ainda neste Século. Acho que as manifestações das ruas deram o recado que o cidadão não somente se satisfaz com títulos em copa do mundo, e que isso já não é suficiente para fazer rir o povo brasileiro.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
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