O papa Francisco virá ao Brasil neste mês de Julho e para recebê-lo o governo federal investirá R$ 62 milhões e o estado e o município do Rio de Janeiro R$ 28 milhões cada um, totalizando R$ 118 milhões. Desse montante, R$ 30 milhões somente com ações de segurança e defesa, já que o Papa Francisco é um chefe de Estado e líder religioso de uma nação de 1,1 bilhão de cristãos (conforme dados do Instituto Pew Research Center). Propositalmente chamei aqui o dispêndio com a recepção do Papa Francisco de investimento, ao invés de chamá-lo de despesa, ou gasto e vou apresentar aqui minhas razões para isto.
O papa virá para JMJ – Jornada Mundial da Juventude, um evento que iniciou por iniciativa de João Paulo II em 1984, e nas suas treze edições reuniu 18,9 milhões de peregrinos. No Brasil espera-se que venham 3 milhões de jovens, mas esse número pode ser maior. A Espanha em 2011 recebeu 2 milhões de peregrinos e o governo espanhol gastou quase o equivalente previsto para o Brasil, mas aqueles que vieram deixaram um montante de dinheiro duas vezes maior, justificando porque chamar a JMJ de investimento. Não obstante ao óbvio que isto representa, a partir de uma nota na coluna Ricardo Setti da revista Veja, haveria no Rio de Janeiro uma articulação de evangélicos para “protestar contra os gastos com a visita do papa Francisco”, na qual a presidente Dilma, segundo o colunista, estaria disposta a “receber lideranças evangélicas, mas não sabe o que poderia oferecer para evitar o protesto”. A ameaça seria reunir um milhão de evangélicos nas ruas contra a presença do papa Francisco no Brasil que poderiam entrar em choque com os três milhões de católicos reunidos no Rio de Janeiro na mesma data da realização da JMJ. Porém, o pastor Abner Ferreira, presidente da Assembleia de Deus em Madureira desmentiu a coluna da revista Veja alegando que não há nenhuma articulação evangélica contra a vinda do papa Francisco ao Brasil. Em nota divulgada nas redes sociais nessa semana que passou, o pastor Abner declarou: “Engana-se quem pensa que vai nos usar para estabelecer uma guerra santa no Brasil. Não conte conosco para nenhum tipo de arbitrariedade que vise desmerecer o evento da Igreja Católica no Brasil”.
Resolvi investigar para saber o origem do que afirmou o colunista da Veja e a única referência contrária que encontrei à vinda do papa foi a manifestação de um pastor chamado Juanribe Pagliarin. Porém, para minha surpresa nesta história, descobri que Pagliarin iniciou sua pregação aqui em Manaus, na Igreja Evangélica Quadrangular, mas depois dessa experiência resolveu fundar em São Paulo capital sua própria igreja como o nome de Comunidade Cristã Paz e Vida. Assim, foi por meio de uma postagem em sua página no facebook que esse pastor faz menção ao valor do dispêndio previsto com a visita do papa e diz que os evangélicos estariam “preparando para uma grande manifestação de repúdio na cidade do Rio de Janeiro, dois dias antes de seu evento” e que “esta manifestação pretende reunir mais de um milhão de vozes, e levará o nosso povo a um inédito choque entre católicos e evangélicos”. Ou seja, pelo que parece o colunista da revista Veja baseou sua nota em uma declaração de facebook, vinda de um pastor obscuro de uma dessas tantas denominações que brotam nas periferias das grandes cidades e que se manifestam como evangélicas. No entanto, como já declarou o pastor Abner Ferreira, não há no Rio de Janeiro líderes evangélicos desejando uma guerra santa entre católicos e protestantes nas areias de Copacabana.
Nesta história toda o que mais me preocupou foi a declaração atribuída a presidente Dilma dizendo “não saber o que poderia oferecer para evitar o protesto”, porque isto demonstra o quão atordoada parece estar a “presidenta” com as notícias de manifestações que surgem nas redes sociais. No mais, se quisesse realmente saber o que pensam os evangélicos acerca da visita do papa ao Brasil, bastaria chamar o líder do PMDB na câmara federal, o deputado Eduardo Cunha que é do Rio de Janeiro e que faz parte da bancada evangélica e que é do mesmo partido de Michel Temer, o seu vice-presidente. Todavia, parece que Dilma não se dá bem com a bancada evangélica, talvez por convicções filosóficas conflitantes em relação ao aborto, casamento gay, ou até mesmo na crença da existência de Deus. Porém, nesses pontos posso garantir que tanto os católicos, quanto os evangélicos não possuem nenhuma divergência que os distanciem nessas discussões.
Finalizando, para quem tenha ainda dúvidas se economicamente a visita do papa Francisco justifica o investimento, deixando de lado o fato do Brasil ser a maior nação católica do mundo, façamos a seguinte conta: Espera-se que ao Rio de Janeiro vá em julho 3 milhões de visitantes, uma boa parte de estrangeiros. Supondo que apenas 1/3 sejam estrangeiros, ou seja 1 milhão, e que comam um sanduíche e tomem um refrigerante e que a conta seja R$ 7,00 por dia. Considerando os 6 dias de JMJ, e nessa simples conta chega-se a R$ 42 milhões. Lógico que não será somente isto que irão gastar, pois muitos vão jantar, fazer compras, hospedarem-se em hotéis, aproveitar para conhecer outras cidades do país, dinamizando a economia brasileira deixando dólares, euros etc., contribuindo para o saldo favorável da balança comercial do Brasil.
Que venha o papa Francisco e os milhares de peregrinos do mundo inteiro. O povo brasileiro os receberão de braços abertos, como o Cristo Redentor da cidade maravilhosa.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
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