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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Opinião: O que acontece com o movimento estudantil no Brasil?


Essa semana que passou três notícias acabaram por prender minha atenção por estarem relacionadas com a educação, que é um tema de grande importância para mim e alvo constante de minhas resenhas. As notícias muito se relacionam, pois abordam as várias visões da política da educação e como as entidades de interesse coletivo, organizadas ou não, manifestam-se a fim de garantir o direito difuso do ensino com qualidade.

O primeiro destaque foi o confronto entre a polícia e 150 mil estudantes chilenos, que foram às ruas de Santiago para pedir melhorias na qualidade da educação. É importante ressaltar o resultado do Pisa em 2010 , que valia o desempenho de alunos no mundo em leitura, matemática e ciências, o Chile situou-se na 45ª posição do ranking mundial, enquanto o Brasil ficou nove posições atrás, na 54ª colocação.

A segunda notícia foi a nota de repúdio de pesquisadores reunidos na SBPC – Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência em Goiânia, contra o projeto de lei 220 que autoriza universidades e faculdades a contratarem professores sem mestrado ou doutorado, modificando a LDB – Lei das Diretrizes Básica da Educação, que estabelece que 1/3 do corpo docente deve ser composto por mestres e doutores. Na verdade, a maioria das instituições de ensino contratam o mínimo exigido na lei, pois mestres e doutores oneram a folha de pagamento, já que contratar professores especialistas custa menos.

O último destaque na verdade o vi pela TV, políticos discursando no 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), também realizado em Goiânia, que teve o patrocínio de estatais como a Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica Federal, além dos ministérios do Transporte, Turismo, Saúde, Esporte e Educação, e do apoio da Prefeitura de Goiânia, do Governo de Goiás e da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A UNE recebeu R$ 3 milhões do governo para realizar o seu congresso, no qual o ex-presidente Lula discursou,além do ministro da Educação Fernando Haddad, sob os aplausos da UNE que parece estar muito satisfeita com os rumos da educação no Brasil. Somente para registro, aqui em Manaus os funcionários da Universidade Federal estão em greve desde o mês passado, que paralisou o atendimento aos alunos da instituição, prejudicando a realização das aulas.

Em minha modéstia análise, a manifestação que ocorreu no Chile apenas demonstra o sucesso do ensino naquele país, pois foi capaz de produzir estudantes com a necessária visão crítica, que mesmo ostentando o melhor desempenho latino-americano na educação, ainda assim veem motivos para estar insatisfeitos quando percebem claramente uma queda na qualidade do ensino, assim vão as ruas protestar e exigir imediatas mudanças. Enquanto isso, aqui no Brasil a UNE é um exemplo de como a partidarização de entidades de interesse coletivo promovem o atraso e esmagam as necessárias reivindicações que poderiam resultar em melhorias. Ao invés da UNE discutir e propor políticas para a educação, hoje parece estar mais preocupada em ser trampolim de seus dirigentes para a vida político-partidária. Neste aspecto, o congresso “chapa branca” da UNE com o patrocínio de estatais, referendado pelos estudantes ali reunidos, apenas demonstram que falta ao estudante brasileiro: o bom-senso, coragem e a visão crítica dos jovens chilenos. Quanto a SBPC, cumpre o seu papel em alertar que um professor com mais anos de estudos, com mestrado e doutorado, acumula conhecimentos que fica a serviço de seus alunos. Em um país no qual se aceita e estimula-se que professores do ensino fundamental tenham curso superior, por que será que há de desejar-se que o professor de ensino universitário também não tenha mais anos de estudos? Não existe bom senso naqueles que assinaram a PL220, pois estão prestando um desserviço a educação no Brasil.

Esta reflexão bate na mesma tecla que insistentemente produz minha persistente cantinela: Os movimentos sociais, as entidades de interesse coletivo devem ter o necessário afastamento da partidarização, ou devem evitar a contaminação, patrulhamento ou comando de políticos, pois correm o risco de não reivindicarem os verdadeiros interesses aos quais deveriam buscar, passando a servir somente ao gosto de seus verdadeiros patrocinadores. Lamento profundamente o posicionamento da UNE, ao mesmo tempo que saúdo aos pesquisadores da SBPC por sua posição a favor da qualidade da educação e, como não poderia deixar de dizer, parabenizo a coragem dos estudantes chilenos que acabam por servir de exemplo de luta que um dia tenho esperança de rever em solo brasileiro.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conj. Santos Dumont

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