Em depoimento à Comissão Parlamento de Inquérito – CPI do covid-19, a secretária Mayra Pinheiro foi confrontada com suas próprias falas. Em um vídeo gravado em 2020 Maya Pinheiro afirmou:
- “Porque nós criamos, mantendo todas as pessoas em casa, naquelas cidades, que, até por medidas coercitivas, agiram como legisladores em estado de exceção, foi causar mais pânico na sociedade. Nós atrapalhamos a evolução natural da doença naquelas pessoas que seriam assintomáticas, como as crianças, e que a gente teria um efeito rebanho”.
Nas falas de Mayra existem três erros crassos. O primeiro é a crítica as medidas tomadas por prefeitos e governadores de restrição de circulação de pessoas face ao colapso do sisteme de saúde. Aliás, com algumas exceções, as grandes cidades brasileiras tiveram muita dificuldade em decretar lockdown (termo em inglês que significa restrição total de circulações de pessoas) e contentaram-se em abrir e fechar indústrias, comércio e serviços de acordo com o nível de ocupação das UTIs em um verdadeiro efeito sanfona. O segundo erro é creditar a “população pediátrica”, temo que definiu as crianças, como imunes ao covid-19. Desde agosto de 2020, por meio de uma pesquisa realizada pelo Hospital Nacional Infantil de Washington, sabe-se que crianças infectadas pelo novo coronavírus podem transmitir a doença por semanas. A secretária Mayra parece ignorar que ao redor das crianças nas escolas existem professores, funcionários e em suas casas os seus pais, avós e demais familiares. A situação familiar torna-se mais caótica nas camadas mais empobrecidas, nas quais crianças, jovens e adultos dividem pequenos cômodos, sendo impossível realizar separação de grupos de riscos. O terceiro e mais nefasto erro é acreditar que se possa controlar a pandemia pela contágio em massa do vírus na população (imunidade de rebanho), pois a reação imediata é a morte das pessoas pelo colapso do sistema de saúde e o efeito colateral do surgimento de novas cepas (mutações) como a P1 que foi gestada nos corpos dos Amazonenses.
Não é forçar a barra afirmar que a estratégia de enfrentamento a pandemia no Brasil pelo governo Bolsonaro é pela imunidade de rebanho. Apesar de não existir um documento produzido no Ministério da Saúde com esta clara intenção, além das falas da secretária, existem várias declarações de Bolsonaro que deixa explícita essa estratégia. Bolsonaro, por meio de um vídeo em sua conta pessoal no Facebook em dezembro de 2020, disse que teve “a melhor vacina: o vírus”. Não satisfeito com essa verborragia alucinada acrescentou: “Sem efeito colateral” ignorando que brasileiros morrem de covid-19. Em março de 2020 quando os EUA passaram a China em número de casos e questionado se o Brasil poderia seguir no mesmo ritmo afirmou: “Eu acho que não. Eu acho que não vai chegar a esse ponto”, respondeu. “Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele”. Fica claro que Bolsonaro acredita que o brasileiro por ser imune a doenças não merece a vacina e por isso não se apressou em comprar imunizantes para a população como Israel, EUA, Reino Unido, Chile dentre outros que compraram. A intenção era justamente submeter a população ao vírus e morrer quem tivesse que morrer.
A pesquisa realizada pelos cientistas do Instituto Butantan pela vacinação em massa da cidade de Serrana-SP, além de comprovar a eficácia da CoronaVac, evidenciou que a imunidade de rebanho somente acontece por meio da vacinação. Embora as cidades ao entorno de Serrana aumentassem a ocupação de suas UTIs, o mesmo não aconteceu na cidade pesquisada. Ribeirão Preto, uma cidade polo do Noroeste de São Paulo, localizada a poucos quilômetros de Serrana, desde março vem abrindo e fechando indústrias, comércios e serviços tentando baixar a ocupação de UTIs que resiste acima de 90%. Neste cenário, Serrana é um oásis de imunidade em uma região que sofre com o aumento dos casos de covid-19 em São Paulo.
Entre o achismo criminoso e a ciência, infelizmente estamos reféns de um governo que insiste em negar o que está consagrado mundo afora. A imunidade de rebanho vem com a vacina e no ritmo da vacinação podemos levar até o final de 2022 para vacinar todos os adultos. Neste sentido, o Amazonas estancou sua vacinação e segundo a reportagem do site Poder 360 nosso estado aplicou somente 55% das vacinas recebidas, demonstrando que não estamos nos esforçando na vacinação a fim de evitar uma terceira onda.
Querem nos vencer, ou nos matar pelo cansaço e pela covid-19. Desgraçadamente nossa esperança vem do grito das ruas, pois em uma atitude de desespero, sob o risco de maior contágio, as manifestações contra o governo Bolsonaro inauguram uma nova fase do enfrentamento político. O tudo ou nada, mesmo que esse tudo seja a vida de mais brasileiros.
João Lago.
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