Quando participei dos movimentos nas ruas pelo impeachment de Dilma em 2016, olhava ao redor e percebia um grupo muito pequeno vestindo simulações de roupas militares que pedia intervenção militar. Não era uma participação muito representativa e essas poucas pessoas desapareciam em meio aos manifestantes que estavam nas ruas pedindo um desfecho constitucional a corrupção nos governos petistas. A continuação dessa história todos nós sabemos, houve o afastamento de Dilma, o então juiz Sérgio Moro atuou para impedir a participação de Lula no pleito de 2018, sendo desmascarado pela vasajato em sua parcialidade, houve a facada em Jair Bolsonaro afastando-o dos debates nas emissoras de TV e o discurso anticorrupção da família conservadora e pelos bons costumes foram canalizados para Bolsonaro. Vale a pena lembrar que trinta milhões deixaram de votar em 2018, representando 20,3% dos eleitores e os votos nulos e em brancos somaram onze milhões, ou seja, mais de 30% dos eleitores não quiseram votar em Bolsonaro ou Haddad. Para apresentar os números de maneira mais clara, as abstenções somadas aos votos brancos e nulos representaram 42,4 milhões de eleitores. Bolsonaro teve 57,7 milhões de votos e Haddad 47 milhões.
Jair Bolsonaro foi eleito baseado em uma ideia de rejeição a corrupção aliada a um discurso conservador nos costumes. No entanto, o histórico político de Bolsonaro não era o que se pode chamar de novo, pois nos vários mandatos de deputado trocou diversas vezes de partido enquanto trocava de mulheres. Pesa também acusações de desvios de salários de funcionários de seu gabinete para uso pessoal pela prática de peculato, mas que ficou conhecida na mídia como “rachadinha” e foi assimilada e repetida pelo filho mais velho Flávio Bolsonaro, conforme parece determinar as investigações promovidas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Além do mais, as relações da família Bolsonaro com os milicianos cariocas já foram contadas no livro República das Milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro, do jornalista Bruno Paes Manso. O Brasil profundo não conhecia Bolsonaro e o elegeu baseado em uma ideia torta de defensor de tudo que a sua biografia não confirma. Essa sujeirada toda até poderia ter sido varrida para debaixo do tapete se Bolsonaro governasse, mas a sua incompetência em reunir mentes brilhantes para o seu governo o faz refém de qualquer um aventureiro que tenha como único critério o alinhamento a ideologia amalucada contra um comunismo extinto na década de 80 e que sempre diga amém ao Bolsonaro e aos seus filhos. Outro artifício é cooptar militares com a possibilidade de duplicação dos salários por meio da Portaria 4.975 do Ministério da Economia. Com isso, generais como Hamilton Mourão, Braga Neto, Augusto Heleno, dentre outros, passam a ter supersalários. Um único general poderá em um ano receber mais de R$ 756 mil em salários. Guardada as devidas proporções, Hugo Chaves, falecido presidente venezuelano, em 2005 aumentava salários de militares de forma a mantê-los fiéis ao governo. No Congresso Nacional a compra de deputados e senadores por meio das emendas parlamentares, ou seja, alterações no orçamento para distribuir recursos públicos para obras e projetos em currais eleitorais também faz parte da estratégia de manter-se no poder.
Veio a pandemia e deixou nua toda a incompetência e a acefalia do governo Bolsonaro em coordenar ações que pudessem garantir a economia continuar girando e ao mesmo tempo controlar o avanço do vírus entre a população. A Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI instalada no Senado tenta elucidar se a inação de Bolsonaro foi baseada na teoria de imunidade de rebanho, na qual se deixa a população exposta ao vírus, morrendo quem tem que morrer, para os sobreviventes possam voltar a vida normal. Porém, cientistas pelo mundo contradizem essa tese pelo fato do vírus sofrer mutações que o podem tornar mais contagiante e letal. A única imunidade de rebanho possível é aquela promovida pela vacinação, como estamos vendo ocorrer nos EUA, na Inglaterra, Israel e em outros países que já vacinaram mais de 50% de sua população.
Os rolês de Bolsonaro iniciado no Distrito Federal, depois no Maranhão e nesse domingo (23/05) no Rio de Janeiro demonstra um desespero para mostrar uma popularidade que está derretendo entre aqueles que perceberam que o melhor para o combate a pandemia é expurgar Bolsonaro da cadeira de presidente o quanto antes. Porém, a única alternativa viável na democracia é um impeachment que pode ter como base todo o descalabro no enfrentamento da pandemia e a deliberada intenção de proliferar o vírus entre os brasileiros. As sucessivas aglomerações, a insistência na cloroquina que não serve para covid-19, a postergação na compra das vacinas e os ataques as medidas de distanciamento, uso de máscaras que salvam vidas são evidências que os brasileiros foram empurrados para o vírus como forma assassina de combate a pandemia.
Bolsonaro não é estúpido de todo, pois sabe que precisa radicalizar para manter-se no poder e ameaça a nossa democracia. Tenta a todo custo empurrar seu governo até as eleições de 2022, mas face a iminente derrota que se aproxima, cria uma nova frente de batalha contra o voto eletrônico. O mais irracional é que Bolsonaro vendo sendo eleito pela urna eletrônica desde 1996 e nesses vinte e cinco anos não houve nenhum registro de fraude em seu uso. Faz parte do projeto de poder de Bolsonaro destruir tudo e qualquer coisa que possa impedir sua continuidade do poder.
A solução constitucional e democrática que temos é nossa esperança que a CPI venha a fornecer material necessário para o impeachment de Bolsonaro, pois não merecemos uma terceira onda de covid-19 sob o patrocínio das aglomerações e insanidades de Jair Bolsonaro.
João Lago
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