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sábado, 2 de dezembro de 2017

Tempo para o perdão



Imaginemos dois indivíduos passando por qualquer cruzamento de uma grande cidade e nele encontre algumas crianças pedindo esmolas. O primeiro resolve baixar o vidro do carro e tão logo depois de deixar alguns trocados passa a criticar quem colocou aquelas criaturas no mundo, chamando-os de irresponsáveis e coisa e tal. O segundo simplesmente segue em frente sem se importar e sem olhar para trás. Nesses dois casos eu tenho a convicção que o mais autêntico seja aquele que seguiu em frente, justamente porque não carrega em si responsabilidade alguma, seja por qualquer demência moral que tenha. Já o primeiro julgou o outro do alto de sua superioridade e talvez para atenuar sua própria culpa tenha decidido dar a esmola, mesmo sabendo que tal ato não mudará em nada a realidade daquelas crianças, tão pouco as críticas proferidas. Poucos poderiam decidir parar o carro, conversar com as crianças e procurar entender porque elas estão ali. Isto seria realmente importar-se com outro, perdoando o descaso dos pais e buscando uma solução para o problema. Porém, pode ser muito difícil agir assim, mas um primeiro passo é deixar que nossas ações não sejam simplesmente na direção de mitigar nossa culpa e descaso, mas que sirvam verdadeiramente para promover o bem.

O perdão é uma concessão do ser humano muito difícil de ser auferida verdadeiramente, ou seja, perdoar apagando de si todas as mágoas e colocando-as no esquecimento. Digo isso, pois é comum ouvirmos de algumas pessoas: “eu perdoo, mas não esqueço”. Assim, desta forma, perdoar sem esquecer significa que aquela mágoa ficará latente, assim como um vírus quiescente nas células nervosas a espreita de uma baixa na imunidade para agir. Interessante que do mesmo modo que algumas úlceras virulentas despertam em situação de estresse e fadiga, da mesma forma as mágoas latentes despertam no primeiro desconforto emocional, emergindo na carne e a escarnecer o outro. Perdoar sem esquecer o mal se traduz do mesmo modo que dar a esmola, mas escarnecer o pedinte.

O ensinamento cristão apregoa o perdão e pede tão somente como reciprocidade o reconhecimento do erro. Traz o Evangelho (Jo 8, 10-11) que Cristo salvou a adúltera do apedrejamento, em seguida perdoou os seus pecados dizendo-lhe: “vai, e de agora em diante não peques mais”. Embora nossa natureza humana não esteja isenta do pecado, sendo certo que pecaremos mais adiante, reconhecer o erro e desejar não mais incorrê-lo é a condição necessária para o perdão, principalmente quando a luz de nossa consciência nos sentimos julgados e condenados. Do ponto de vista de quem perdoa a remissão somente acontece quando o mal é expulso da consciência e existe a esperança que um novo caminho será trilhado que não passe pelos mesmos erros cometidos. Nesse sentido, a parábola do “filho pródigo” (Lc 15, 11-31) ou “do pai misericordioso” como desejam alguns, ensina justamente estar de braços abertos para o arrependido, ainda contrariando quem quer que seja. Pois, imaginemos que fosse, ao invés do pai, o filho invejoso a recepcionar o irmão e ao ouvi-lo implorar perdão e o tivesse expulsado dizendo: “eu te perdoo, mas vai para bem longe daqui”. A boa nova de Cristo não é para aqueles que se acreditem escolhidos de Deus, mesmo porque a esses Jesus chamou de hipócritas por desejarem fazer crer ao outro sua superioridade. Pelo contrário, a mensagem de Cristo é para os pecadores e humilhados e não devemos fazer de uma pretensa virtude cristã motivo de exaltação pessoal, pois dos dois tesouros que devemos carregar no coração, a caridade e a fé, diz o Evangelho (Mt 6) que a ambas devem ser feitas em segredo, pois se feito de outro modo são apenas hipocrisia e vaidade que foram tão criticadas nos fariseus (Mt 23, 1-12). A vaidade e o orgulho são vendas que não permitem os nossos olhos concederem o perdão, pois nos impedem de olhar o outro e só enxergamos a nós mesmos naquilo que acreditamos serem as nossas virtudes.

Perdoar absolutamente não significa afastar-nos de nossas convicções e visão de mundo, principalmente quando elas estão solidificadas na caridade e na Fé em Deus. Porém, essas mesmas convicções jamais podem dar causa ao impedimento da compaixão pelo grande paradoxo que isso representa. Assim, como exemplo que a caridade e a fé nos acompanham, mesmo quando atacados pela ignomínia de alguns quando perdoamos o mal que nos fazem, não devemos esmorecer e sempre acreditar que o perdão deve ser concedido a quem arrependido deseja absolvição, pois esta é a justiça de Deus que jamais deve ser confundida com a justiça dos homens.

O perdão verdadeiro sempre será uma graça de Deus que frutifica da fé e da caridade (amor) presente em nosso coração.Portanto, há sempre tempo para o perdão.

João Lago.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Criança Viada, Censura e a Cultura Pop

Em 1982, em meus quinze anos, enquanto aguardava na fila para comprar ingressos para o filme ET o Extraterrestre, no extinto Cine Veneza do centro da cidade de Manaus, podia-se ver os cartazes de filmes com nomes sugestivos como Amor Estranho Amor, Curral de Mulheres, Aluga-se Moças dentre outros. Durante boa parte da minha adolescência a safra do cinema nacional era destinada a um público adulto, ou melhor dizendo, aos maiores de dezoito anos e era comum o juizado de menores fazer diligências em cinemas a procura de eventuais transgressores da lei. A censura, assim organizada durante a ditadura militar, justificava sua extensa estrutura de repressão política também como mantenedora dos bons costumes da família brasileira. Não somente o cinema, mas a música, literatura e as artes de modo geral estavam sujeitas aos censores do governo militar. Por exemplo, a música Je t’aime (moi non plus), repleta de sussurros eróticos em um idioma incompreensível para maioria dos brasileiros recebera a época o carimbo de “impróprio para menores de 18 anos”.

Veio a abertura democrática e esses novos ventos trouxeram uma aversão a tudo que pudesse lembrar os anos de repressão política e a elite intelectual brasileira adquire uma ojeriza a qualquer espécie de controle social que possa significar censura. E no reboque de uma indesejada anarquia moral escuto uma música que diz: “Ah Safada!Na hora de ganhar madeirada, a menina meteu o pé pra casa e mandou um recadinho pra mim: Nós se vê por aí (sic)”. Fica a dúvida se essa canção lúdica, que eventualmente vemos na boca de crianças, refere-se à apologia ao estupro ou ao sexo grupal. No entanto, pode-se dizer que se o cancioneiro popular dos anos oitenta abusava das palavras de duplo sentido com a pretensão de fazer rir, arrisco dizer que neste novo milênio o desejo inerente desse explícito burlesco é o de instituir o salaz com ares de cultura pop.

Entre as várias interpretações do que seja cultura pop, a que mais me agrada é aquela que diz que a mesma é uma inovação que emerge pelo gosto popular (daí o pop) e busca dialogar com a cultura erudita.  Um ícone que explica a cultura pop é o pintor e cineasta Andy Warhol, cuja obra invade as galerias de artes por conquistar o gosto de uma elite jovem intelectualizada. Melhor que Warhol, na música David Bowie é o que mais apropriadamente ilustra o que vem ser a cultura pop, justamente porque suas composições tiveram aceitação tanto pelo jovem suburbano londrino, quanto daquele jovem descolado de South Kensington (bairro nobre da capital inglesa). Assim, apesar de não ser uma cultura de massa, a cultura pop atualmente é massificada pelos jovens nas redes sociais. E por trabalhar uma comunicação instantânea e tão fugaz quanto os próprios acontecimentos que os inspiram, os “memes” podem, a meu ver, serem considerados uma expressão de cultura pop e uma forma de arte.

No dia 10 de setembro o banco Santander cancela a exposição Queermuseu cuja programação deveria seguir até 8 de outubro. O motivo do término antecipado foi a polêmica causada por algumas obras (criança viada que aborda infância e homossexualidade é uma delas) cuja proposta era valorizar a diversidade sexual, mas buscou apenas misturar símbolos cristãos com outras expressões do mundo secular, inclusive as de cunho sexual. Assim, debaixo do protesto de movimentos sociais, o Santander cancela a exposição e em sua nota a imprensa declara: “ouvimos as manifestações e entendemos que algumas obras da exposição Queermuseu desrespeitam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde o seu propósito maior, que é elevar a condição humana”. O banco Santander de maneira amarga percebeu que as ações de marketing de uma instituição financeira que atua de forma plural (varejão para quem preferir este termo) não poderia atuar como a grife de confecção Benetton que na década de 90 lançava campanhas que escandalizavam grupos tradicionais, enquanto agradava ao jovem intelectualizado, contestador e mais incluído no mundo secular, pois esse seria o seu público-alvo. O mais interessante nesta polêmica é que foi o MBL (Movimento Brasil Livre) que se mostra com uma cara jovem, mas com um pé no conservadorismo, que atuou como protagonista, organizando manifestações tanto nas mídias sociais, quanto nas ruas de Porto Alegre, cidade na qual estava a exposição.

Muita se fala de um país dividido e mais recentemente de um cansaço por tudo aquilo que seja politicamente correto, haja vista o desejo do jovem intelectualizado e contestador em rever conceitos e preconceitos antes considerados intocáveis. Logicamente a ideologia de esquerda e a permissividade dos costumes é que está sendo contestada, motivada por uma contrarreação ao ativismo exacerbado que deseja calar tudo que seja contrário ao que desejam incutir na sociedade, inclusive a parcela da “arte” da exposição Queermuseu do Santander como sendo parte da cultura pop e absolutamente não o é. Na minha análise, a fração das obras ali expostas tinha o condão de agradar um nicho que deseja desconstruir os valores morais da ideologia cristã, justamente porque se coloca como resistência a leniência dos costumes. O banco Santander foi convencido tardiamente disto e por isso cancelou a exposição.

A beleza da democracia é justamente permitir a liberdade de expressão, não somente aquela direcionada para agredir símbolos, crenças e pessoas, como bem escreveu o Santander, mas a liberdade de expressão que permite também reagir a essas ofensas sem o receio do patrulhamento do politicamente correto. A censura moderna não é mais aquela promovida pelo Estado, mas aquela empresarial e direcionada ao que seja conveniente para a imagem corporativa e aos negócios, evidentemente a depender de quem seja o seu público alvo.

João Lago

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Agora é cobrar as promessas de campanha



Com 100% das urnas apuradas o resultado da eleição suplementar para o governo do Amazonas ficou assim:

- Amazonino Mendes.......782.933..........33,47%
- Abstenções....................603.914...........25,82%
- Eduardo Braga...............539.318...........23,06%
- Brancos e Nulos.............412.721...........17,65%
Fonte: TSE

Analisando dessa forma os números, verificamos que as abstenções somadas com os brancos e nulos o percentual é de 43,47%, ou seja, um número bem acima dos votos válidos para o governador eleito Amazonino Mendes, demonstrando o desinteresse do amazonense em participar do pleito. Porém, mais interessante é que a segunda colocada foi abstenções, deixando Eduardo Braga em um desonroso terceiro lugar.

É certo dizer que as abstenções no primeiro turno já foram elevadas, mas aumentaram 6% nesse segundo turno. Todavia, o aumento mais significativo foi o somatório do percentual dos votos branco e nulos que aumentou 47,38%. Isso demonstra que poucos votos destinados no primeiro turno foram capazes de migrar para Amazonino e Eduardo Braga que agregaram respectivamente 35,59% e 42,79% em votos recebidos nesse segundo turno. Eduardo Braga conseguiu agregar percentualmente mais votos que Amazonino Mendes nesse domingo (27.8), mas ambos os candidatos não conseguiram convencer o eleitor dos outros candidatos a usar o “voto útil” para escolher o menos pior entre um, ou outro.

Minha análise é que na opinião do eleitor, que se deu ao trabalho de sair de casa para votar branco e nulo, é que nenhum dos dois candidatos o representa, não desejando ratificar com o seu voto uma escolha que acreditam não valer a pena. Nesse ponto de vista, podemos dizer que houve muito pouco “voto útil” nesse segundo turno.

Amazonino Mendes tem um grande desafio para esse pouco tempo até as eleições de 2018, mas nem por isso podemos deixar de cobrar o prometido durante a campanha, mesmo o eleitor que tenha votado nulo ou branco pelos motivos expostos nesta resenha.

Não acreditar nos candidatos não invalida nossa posição de cidadão em cobrar todas as promessas feitas em campanha, pois isto também faz parte da democracia e o cidadão já está cansado de estelionatos eleitorais. Exigir ao menos que se cumpram as promessas de campanha é mínimo que podemos fazer.

João Lago

domingo, 27 de agosto de 2017

Importância de um diagnóstico precoce de câncer


Quero aqui contar uma história principalmente para as mulheres para que com isso vocês possam ficar mais atentas consigo mesmas.

Há alguns meses atrás minha irmã era uma mulher sadia (aparentemente) e em fevereiro deste ano fizemos uma viagem meio às pressas, apesar de não ter sido uma viagem de férias, mas pela primeira vez em muitos anos estávamos reunidas as três irmãs. Fomos até o Pará onde mora minha mãe e resolver assuntos familiares. Mas, enfim foram dias ótimos, apesar de nossas diferenças e brigas, porque apesar de morarmos na mesma cidade sempre fomos um pouco distantes.

Voltamos de viagem e cada uma seguiu sua vida. Só que minha irmã já estava sentindo umas dores, de vez em quando, na região pélvica, inclusive havia comentado com minha mãe que disse: "minha filha tem que ver logo isso para se tratar". Chegando em Manaus as dores começaram ficar mais frequentes e foi então que ela procurou uma ginecologista para fazer preventivo (SUS), no qual o resultado era sem muitas alteração. Passado um mês ela começou a sentir fortes dores no estômago e ia para pronto-socorro e só davam remédio para dor e ela voltava para casa e só foi piorando. Eram exames por cima de exames, um mais caro que o outro, pois ela não tem convênio médico, então tudo ficava mais difícil e demorado. Até que o seu abdômen começou a inchar muito rápido e acumular líquido e em um dos exames deu ascite ( quando uma pessoa é diagnosticada com ascite significa que algum órgão já está comprometido). Foi então que depois de várias passagens pelo hospital 28 de agosto, Instituto da Mulher etc., encaminharam ela para a  Fcecon (hospital oncológico) e diagnosticado câncer do ovário. Esse tipo de câncer não se detecta com um simples exame de rotina ou um preventivo. Ele é um dos câncer mais silencioso que existe com maior taxa de mortalidade, pois geralmente só é detectado em estado avançado quando já atingiu outros órgãos.

Foi uma longa espera de mais um mês para fazer um exame para uma cirurgia exploratória como dizem os médicos, na qual se detectou que já havia comprometimento do abdômen e intestino. Foram tiradas peças para biópsia (outro sofrimento, pois tínhamos que fazer particular, pois senão iríamos esperar meses até o resultado e sem o mesmo não se pode começar a quimioterapia) e ia esquecendo de mencionar que minha irmã estava desempregada e tem quatro filhos. Só tinha a mim de mais próxima que podia ajudar. Graças à Deus!

Neste momento estou feliz, apesar de meus finais de semana a noite serem neste lugar (Fcecon), estou feliz, porque enfim Deus mandou uma médica com bom senso e autorizou o inicio da quimioterapia antes do resultado da biópsia que sairia daqui a 15 dias. Infelizmente só viemos nos aproximar na doença, mas o que mais quero é que ela fique boa, porque vê-la nessa situação parte-me o coração. Cada gemido, cada pedido além do meu alcance, contento-me em amarrar os seus cabelos, trocar suas fraldas e se chamar-me mil vezes durante a noite, nem que seja para molhar um algodão e passar na boca que esta seca, eu estarei aqui  todas as vezes que puder.

Agradeço à algumas pessoas que estão ajudando nem que seja com palavras, aos meus sobrinhos, principalmente a Claudimara, minha sobrinha, que mesmo com todo o sofrimento consegue chegar aqui sorrindo. Hoje ela falou: "se cair seus cabelos nascerão outros mais bonitos ". Agradeço ao José um amigo que jamais será esquecido. Bem, isto foi um desabafo e ao mesmo tempo para conscientizar em relação a saúde e ao amor.

Se você leu até o final, muito obrigada!

Claudia Ferreira

sábado, 26 de agosto de 2017

Voto Nulo

Segundo a Constituição Federal e a Lei de Eleições,  a contagem dos votos para a escolha do governador,  por exemplo, exclui os votos brancos e nulos. Assim,  o eleito é o candidato que obtiver o maior número de votos válidos, independentemente da expressividade dos votos nulos e brancos.

Votar nulo não tem o poder de cancelar uma eleição. Por conta desta verdade,  alguém então me questionou: "por que votar nulo?"

Em resposta segue meus motivos por fazer uso do voto nulo:

1° - É um direito do eleitor. Não é crime ou pecado. Os brasileiros são obrigados a comparecer ao local de votação, mas não são obrigados a votar em quem não confia para  representá-lo;

2° - É uma  manifestação legal. Um "panelaço" sutil; uma passeata individual contra as propostas apresentadas pelos candidatos,  e sobretudo  contra a conduta política daqueles que pedem nossos votos;

3° - Quando ocorrer uma eleição cujos votos nulos e brancos representarem 1% do total dos votos, ainda sobrarão 99% de votos válidos. Entretanto, quando em uma eleição  um milhão de eleitores  (hipoteticamente) comparecerem às urnas e  houver um número significativo de votos nulos/brancos, na ordem de 40%, os votos válidos serão apenas 600 mil. Se o eleito tiver 60% desses votos significa que 360 mil eleitores o escolheram. Em números relativos foi um ótimo resultado, porém apenas um pouco mais de um 1/3 dos eleitores fizeram a escolha por ele. Isso implica em baixa representatividade e o início  de um governo  com baixo índice  de popularidade.

4° - E por último, uma questão muito simples  que é não ser conivente com políticos corruptos e descompromissados  com o bem estar da coletividade. Quando pacientes morrerem por má gestão pública, não sentirei culpa por ter contribuído para legitimar um governo corrupto e ineficiente.

Pense nisso e faça  sua manifestação individual .

Socorro Corrêa
Economista

Porque eu voto nulo.



Tenho visto algumas manifestações contra o voto nulo, sendo o principal argumento que o eleitor ao abster-se de votar em um dois candidatos no segundo turno estaria desabilitado para cobrá-lo das promessas feitas durante a campanha.

Argumento mais pífio não há, pois se resolvo votar em um e o outro é eleito o resultado não é mesmo? Ou seja, como cobrar algo de alguém que não me representa? No meu caso, verdadeiramente ambos não me representam e não acredito em nenhuma das propostas ou na boa intenção de fazer algo que possa modificar o estado de calamidade que nos encontramos, mesmo porque eles possuem a mesma gênese, como irmãos siameses que nasceram visceralmente ligados.

Note que nenhum deles disse que agirá com transparência em suas ações, disse apoiar a Lava Jato e firmou compromisso com ética e repúdio a corrupção. É estranho, pois hoje o que mais aflige os brasileiros é a montanha de dinheiro que vai para o ralo da corrupção enquanto que o povo amarga na madrugada para pegar um encaminhamento médico nas filas dos postos de saúde. É bom lembrar que ambos os candidatos construíram hospitais e homenagearam suas respectivas genitoras, mas quando adoecem vão se tratar em São Paulo no Sírio Libanês. Será que ainda vou viver tempo suficiente para ver qualquer um deles tratar um câncer (e se curarem) no Cecon? Ou um filho, ou um neto matriculado em uma das escolas públicas que dizem que vão entregar educação de qualidade? Será que vou encontrá-los caminhando nas ruas de Manaus sem seguranças e circulando sem carros blindados? Não acredito que isso irá acontecer e somente os tolos podem acreditar que eles irão fazer para o povo o que desejam para si e para sua família. A verdade é que o teu voto serve somente para dar legitimidade para que possam ainda mais abusarem de ti.

O voto nulo não modifica a eleição, nem a invalida, mas tem o poder de demonstrar o quanto não acreditamos na boa intenção e nas promessas desses dois candidatos. Infelizmente o jogo partidário impede a renovação da política e essa eleição apenas demonstra que os partidos tem donos e que o povo pode até desejar mudanças, mas tem que se iludir eleição a eleição que a mudança e o novo venha do velho, encardido e carcomido tecido que exala o mal cheiro da podridão.

João Lago

segunda-feira, 17 de julho de 2017

VITIMISMO SOCIAL, A ONDA DO MOMENTO.



Estamos vivendo em uma época que o “vitimismo social” de alguns está extrapolando a barreira do bom senso e por conta de uma aparente culpa por erros históricos, como a escravidão de seres humanos que levaram ao preconceito étnico, casos de preconceito pela opção sexual e ocorrências de violência contra a mulher, estamos cometendo arbitrariedades de julgamentos condenatórios antecipados sem dar a outra parte o direito ao contraditório.
Estádio Raulino de Oliveira da cidade de Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, domingo, treze de março de 2016, campeonato carioca, dia de clássico entre Fluminense e Botafogo, jogadores entrando em campo, perfilando-se no gramado quando o árbitro da partida percebe que o goleiro Jefferson do clube da estrela solitária estava portando uma camisa preta idêntica a dos demais jogadores de seu time. Imediatamente o juiz determina que o arqueiro troque de uniforme, pois poderia ser confundido pelo adversário com os seus colegas de linha. Nessa mesma partida, o goleiro do Fluminense Diego Cavalieri estava usando uma camisa amarela idêntica a do juiz da partida e o Botafogo igualmente pediu a troca do uniforme do adversário, mas o mesmo não precisou trocar de camisa, haja vista o entendimento do juiz que no campo o posicionamento do árbitro e do goleiro jamais poderia causar confusão e atrapalhar uma jogada em favor de quem quer que seja.
Curitiba, quinta-feira à noite um advogado prepara-se para ir para a balada. Coloca uma camisa preta e para orná-la uma gravata da mesma cor. Na porta da boate James Bar o funcionário responsável pela organização da entrada não o permite adentrar, pois o porte atlético do advogado em conjunto com a gravata e a camisa poderia confundi-lo com os seguranças da boate que usavam uma vestimenta igual. O advogado aceita, volta para casa e depois de raciocinar sobre o episódio conclui que foi vítima de preconceito. Um detalhe que não tem a mínima importância e que jamais entraria em uma crônica minha se não fosse para ilustrar certos absurdos de um “vitimismo social”: O advogado e goleiro Jeferson são negros e Diego Cavalieri e árbitro Pericles Bassols são brancos. Voltando ao caso da partida de futebol, poderia o goleiro Jeferson sentir-se vítima de preconceito pelo árbitro branco tê-lo feito trocar de camisa e o goleiro branco não?
O advogado de Curitiba tomou a atitude de escrever uma carta para a administração da boate comunicando a suposta atitude preconceituosa do funcionário e não satisfeito divulga o ocorrido na página que mantém em uma rede social. O advogado em entrevista ao portal UOL, cuja matéria encontra-se disponível para consulta, diz: “Eu fiquei tão bobo que não tive reação (...) ele me olhou dos pés a cabeça e disse isso (...) a ficha só caiu minutos depois (...) é engraçado, porque no início você se culpa. Pensei: poxa, poderia mesmo ter trocado de roupa. Aí que veio a noção do absurdo”. Considerando que o advogado nessa mesma entrevista ao portal UOL declara que mantém uma conta no YouTube onde aborda “preconceito e empoderamento negro”, a boate James Bar dada a repercussão do fato nas redes sociais resolve demitir o seu funcionário e publica a seguinte nota: “foi uma atitude arbitrária (...) não condiz com o que acreditamos”.
Quem nunca olhou alguém dos pés a cabeça em julgamento subjetivo em sua vida que atire a primeira pedra. Fazemos isso o tempo todo, faz parte da natureza social humana e não vou apoiar-me em pesquisas acadêmicas para afirmar isto. Na paquera, durante uma entrevista de emprego, quando conhecemos alguém, olhar o conjunto sempre foi e sempre será um ato da subjetividade comportamental humana. O filósofo Michel Foucault afirmou que “tanto as práticas jurídicas, quanto as judiciárias são as mais importantes na determinação da subjetividade, pois por meio delas, é possível estabelecer formas de relações entre indivíduos”. Essa frase do pensador francês ilustra bem a judicialização dos costumes que hoje vivemos no Brasil, na qual grupos de minorias ávidos por direitos, que denominam “empoderamento”, buscam criar novas leis que possam punir comportamentos que consideram inconvenientes para sua causa, pois acreditam que somente com um ordenamento específico, criminalizador e direcionado será possível fazer a justiça. O ícone dessa soberba jurídica está na Lei Maria da Penha, que grupos feministas acreditam que possam pacificar as relações de um casal na família. Essa lei não coloca um policial vinte quatro horas vigiando a mulher, assim uma mente entorpecida pelo ódio pode encontrar meios para descarregar sua revolta e os reflexos disto pipocam vez em quando nos noticiários. Vez por outra um avião cai em alguma parte do mundo, a imprensa noticia, causa comoção geral, mas nem por isso podemos dizer que o transporte aéreo é o mais inseguro do mundo, muito pelo contrário. Eu advogo que hoje toda a violência absurda de homens que atentam contra a vida e a integridade física de sua mulher são pontos fora da curva (assim como é a queda de uma aeronave), mas pela repercussão desses atos insanos pela imprensa levam a crer que todos os homens são capazes de agir dessa maneira e, portanto, todos estão fadados a ser condenados a uma lei injusta que pune previamente sem qualquer direito ao contraditório. Logicamente, com a balança da justiça pendendo para um lado, algumas cabeças cuja ética está carcomida utilizam a lei a seu favor a fim de prejudicar o seu parceiro na busca de vingança, como colocar o marido fora do lar, alijá-lo dos filhos, ou até mesmo mandá-lo para prisão por meio das tais “medidas protetivas” em casos que sequer há prova material de violência física do homem contra a mulher. Muitas vezes basta apenas um boletim de ocorrência e uma declaração da mulher que tal fato de violência ocorreu e o homem já está condenado as “medidas protetivas”. Criam-se ideologias, misturam todos os representantes de minorias ávidas de direitos em um só balaio, a chamam de gênero e colocam a opção sexual como fator determinante para uma proteção especial da justiça e tentam justificá-la como uma necessária proteção à violência como se todo o indivíduo macho fosse um potencial espancador de mulheres ou de homossexuais. Em relação ao desejo sexual que cada um possa ter, não vou falar aqui de gênero, pois tratar dessa maneira esse assunto é uma forma de preconceito, pois no meu entendimento temos um só gênero: O humano.
Estamos caminhando para a construção de uma sociedade judicializada em seus costumes que a convicção religiosa poderá ser criminalizada e o simples fato de dizer não a um negro, ou uma desavença entre casais pelo fim de um relacionamento, será motivo de uma ação penal, pedido de prisão, condenação pecuniária por dano moral etc. Uma sociedade para ser justa não pode punir antes de proporcionar o amplo direito de defesa.
João Lago