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domingo, 20 de abril de 2014

Vamos brincar de faz de conta?

Segundo o educador Jean Piaget, brincar de faz de conta (ou jogo simbólico) seria uma espécie de refúgio que uma criança (a partir dos 2 anos) usa para acomodar e assimilar a realidade em que está submetida. Nessa fase precoce da vida, os esquemas de intelecto da criança sofrem desequilíbrios profundos, pois a criança tem a tendência a agir de forma egocêntrica, passando a assimilar somente aquilo que seja do seu interesse, na busca de sua satisfação pessoal e não na busca da verdade.

No último dia 12, no município de Manacapuru, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) criticou duramente os dois vices governadores que teve, respectivamente Omar Aziz (ex-governador e candidato ao senado) e José Melo (ex-vice de Omar e atual governador), atribuindo a ambos a leniência e desídia no processo de extensão dos benefícios da Zona Franca de Manaus para Manacapuru. Pois bem, nem parece que em menos de um ano existiam como se irmãos siameses fossem, um único corpo com três cabeças, parecendo o atual discurso de Braga desconexo com a realidade política que os fizeram estar onde agora estão.  Querer apartá-los neste momento seria como separá-los pelas cabeças, logicamente sobrevivendo somente aquele que ficar com o corpo. No entanto, como o mundo da fantasia é fértil e tudo é possível, as cabeças cortadas logo buscam outros corpos para parasitarem, formando novos monstrengos políticos que vão sobrevivendo nesse jogo de faz de conta que se repete a cada nova eleição no Amazonas. No caso de faz de conta de José Melo, no dia de sua posse, como noticiou a Agência Estado, o mesmo não citou Eduardo Braga, mas se derreteu em elogios a Omar Aziz e Amazonino Mendes, chamando esse último de “pai político”. Assim, parece que as cabeças desmembradas do corpo do senador, agora retornam ao corpo de Amazonino que um dia também já abrigou o encéfalo de Eduardo Braga.

Esta brincadeira de faz de conta se repete por trinta anos no Amazonas é a responsável pelo imenso atraso social e econômico que solapa nossas vidas pelo egocentrismo que move ações políticas no estado. Sim, pois o egoísmo de cada um é o sinônimo do fracasso de qualquer projeto de governo, pois agora fingem que “estão de mal” para depois cinicamente e convenientemente aparecerem juntos novamente. Um exemplo recente disto foi o desentendimento entre o então prefeito Amazonino Mendes e o senador Eduardo Braga enquanto governador. Ambos não conseguiram chegar ao um acordo sobre o melhor projeto de mobilidade urbana como legado da Copa do Mundo para Manaus. Ambos gestaram projetos diferentes, BRT e monotrilho respectivamente, mas que nos projetos individuais não contemplavam o intercâmbio dos modais, o que é um absurdo, para não chamar de burrice, quando o assunto é planejamento de mobilidade urbana. Porém, mobilidade urbana poderia ter sido assunto vencido desde 2000, pois na época o prefeito Alfredo Nascimento (hoje uma cabeça sem corpo definido) era siamês de Omar Aziz (seu vice-prefeito) no corpo do “pai político”. Para melhor entendimento dessa simbiose, nas eleições de 2000, Eduardo Braga disputou a prefeitura com Alfredo Nascimento (que tinha o apoio de Amazonino) e perdeu. No entanto, foi com o apoio de Amazonino Mendes que Eduardo Braga venceu as eleições para o governo do Estado em 2002. Contudo, antes que se possa pensar que existiu um racha entre Alfredo e Eduardo, é bom lembrar que novamente ambos estiveram do mesmo lado nas eleições de 2008, quando ambos apoiaram Omar Aziz para prefeito que sequer foi para o segundo turno. Naquela época quem ganhou as eleições foi o “pai político”.

Esse círculo vicioso tem a pretensão de deixar qualquer um zonzo, principalmente agora que novamente o grupo faz de conta que rachou e que a novidade será a polarização entre José Melo e Eduardo Braga nas eleições para o governo deste ano. Mas quem é José Melo? Ora, suas credenciais já foram ditas no início desta resenha.

Brincar de faz de conta é parte da construção da personalidade humana e é plenamente previsível e aceitável para uma criança em sua primeira infância. Agora, imaginemos vários adultos brincando de faz de conta durante mais de trinta anos, considerando o “avô político” Gilberto Mestrinho. Nesse tempo todo, sob o manto econômico protetor da Zona Franca de Manaus (obra do militares na ditadura que segue como única alternativa de desenvolvimento), a capital do Amazonas inchou trazendo para si problemas profundos relacionados ao crescimento desordenado: favelização da periferia, violência, saúde pública precária, falta de creches, educação de péssima qualidade etc. Se a capital foi negligenciada, o interior sofre abandono, ou, pior ainda, apoiaram nas cidades com alguma vocação econômica sujeitos da estirpe de Adail Pinheiro, ex-prefeito de Coari preso e acusado de corrupção e violação de menores.

Em outra reflexão que fiz escrevi: uma criança exerce sua crueldade para com outra criança com inocência, já o adulto é cruel com outro por sua própria perversidade. Nesse jogo político de faz de conta cruel e egoísta quem sofre a perversidade é o povo do Amazonas, mas são poucos os que conseguem identificar e compreender a extensão desta maldade.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

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