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terça-feira, 29 de abril de 2014

Nacional x Corínthians, desabafo de um rionegrino

Certo dia, caminhando pela praça congresso, no centro de Manaus, encontrei um grupo de vira-latas e um dos mais novos da matilha passou a seguir-me. Não entendo muito da psicologia canina, mas acredito que tal comportamento é motivado pela busca de segurança, pois é verdade que esse comensalismo entre cães e humanos remonta do período paleolítico, sendo natural um cão nascido vadio e abandonado procurar um dono.

Na próxima quarta-feira (30.4), o Nacional receberá o Corinthians pela Copa do Brasil e o jogo acontecerá no estádio da Copa do Mundo em Manaus, sendo este o quarto teste e o segundo com a utilização da capacidade máxima do estádio. Porém, esse jogo de quarta terá um significado especial, pois será o primeiro que verdadeiramente mostrará como se divide a torcida dos nascidos no Amazonas. Diferentemente do jogo inaugural entre Nacional e Remo, bem como do embate regional entre Fast Clube e Princesa do Solimões (pelo campeonato amazonense) e do jogo caça-níquel entre Vasco e Rezende, o jogo contra o Corinthians levará ao estádio amazonenses que irão torcer contra o Nacional. Trata-se de um fenômeno sociológico que merece uma reflexão profunda e racional.

Já tive oportunidade de presenciar, em outros estádios do Brasil, torcedores do time rival caseiro (os mais fanáticos) juntarem forças com o time visitante na tentativa de obstaculizar o sucesso do adversário. No entanto, não é isto que acredito que esteja motivando a expectativa de casa cheia, quando provavelmente a torcida para o time paulista poderá ser até maior que a do time local. Se realmente isto acontecer, apenas ratificaremos a apatia do futebol regional, não somente pela falta de incentivo de políticas públicas, mas porque o público local, tal qual um cachorrinho nascido sem dono, abana o rabo e segue para o primeiro time que possa chamar de seu.

Não sou um profundo conhecedor de futebol, assim conheço bem minhas limitações. No entanto, precisamos tentar descobrir como uma cidade de pouco mais de 200 mil habitantes pode abrigar um clube que forma um time capaz de vencer as grandes equipes paulistas e conquistar o campeonato estadual. Trata-se do Ituano, uma agremiação fundada em 1947, que possui um estádio com capacidade para 19 mil torcedores, e que hoje acumula duas taças de campeão paulista. Se hoje o Ituano foi a sensação da primeira temporada do futebol brasileiro, outros pequenos já estiveram nos píncaros da glória.

O Juventude, um time da serra gaúcha e estabelecido em uma cidade com menos de 500 mil habitantes, conquistou a Copa Brasil de 1999 e disputou a Copa Libertadores das Américas no ano seguinte. No currículo, o Juventude foi campeão da Série B do brasileirão em 1994, estando na elite do futebol em 1995. Durante os anos de glória do Juventude, compreendido entre 1993 e 2004, o clube foi reconhecido como possuindo umas das melhores categorias de base do Brasil, nas quais os craques são descobertos.

Ter categorias de base, ou seja, ter as portas abertas para propiciar que adolescentes possam despontar talento, é a forma mais barata para construir um elenco competitivo e vencedor. Porém, nos causa espécie saber que as categorias de base de alguns clubes de Manaus foram tomadas por pedófilos, conforme denúncias do ex-jogador Antônio Piola que agora são investigadas pela CPI da pedofilia, pelo Ministério Público do Trabalho e pela polícia civil. Homossexuais, na condição de técnicos, aliciavam adolescentes trocando sexo por uma oportunidade de jogar no time principal. Assim, não é somente o futebol do Amazonas que perde, mas toda a sociedade, porque se ensina aos jovens que nada se ganha por mérito pessoal, pois tudo se faz na base do “toma lá dá cá”, mesmo que seja trocar sua própria dignidade pela submissão aos caprichos de um opressor sexual.

Manaus, uma cidade de 2 milhões de habitantes, são vários os campos de grama sintética espalhados pela cidade que não tem filiação a nenhum clube e já tive oportunidade de constatar  que existe forte demanda de crianças e adolescentes (filhos de classe média) que ocupam esses espaços. A diferença é que um pai quando coloca seu filho para jogar nesses campos, não tem a pretensão de transformar seu guri em um craque, mas deseja tão somente proporcionar uma atividade física e de lazer para a criança. É possível que se crie grandes talentos, mas que passam as escuras aos olhos de um técnico profissional de verdade, pois nenhum pai cuidadoso se atreveria a deixar seu filho nas mãos de um pedófilo para que lhe corrompa o espírito e viole o seu corpo.

Nessa quarta vou com a esperança que o Nacional faça uma grande partida contra o Corinthians, torcendo fervorosamente pelo futebol do Amazonas, pois acho que já está na hora de sermos lúcidos e ir para um estádio milionário não para abanar o rabo para um time de fora, mas pedir dias melhores para o futebol amazonense, mesmo sendo rionegrino.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

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