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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Opinião: O Consumerismo e a Vida Moderna


Estive em Maceió a passeio nesta semana e fui ao cinema no Shopping Maceió e, enquanto aguardava o inicio da sessão, entrei em uma famosa franquia de roupas masculinas que anunciava que estava oferecendo 50% de desconto em todos os seus produtos e inegavelmente os produtos daquela loja são de qualidade. Portanto, para quem deseja não perder tempo em processos de escolhas demoradas, comprar na conveniência de um local que possa reunir qualidade, bom gosto, preço justo e em face de restrição de curto tempo disponível, parecia ser uma excelente oportunidade de compra. Uma calça jeans com o desconto anunciado custava R$ 168,00, ou seja, o preço de tabela seria R$ 336,00. A calça não era para mim, mas um presente que não chegou a sair da prateleira daquela loja, porque não há como acreditar que aquele preço não esteja com o valor “super inflado”. Pode-se presumir que o valor da peça na promoção já inclui toda a parcela que cabe ao passivo de funcionamento, impostos e o lucro desejado pelo lojista, que corresponde neste caso a um valor 3,5 vezes superior ao custo de aquisição da calça jeans no atacado (ou preço de fábrica). Ainda assim, o vendedor oferece este preço como sendo “fantástico”.

De uma maneira geral atribuímos mentalmente um valor que baliza o que podemos considerar como “preço justo”. Neste caso, minha sensibilidade apontava um valor em torno de R$ 75,00, podendo haver uma variação para mais em 20%, que ainda assim seria vista como um valor aceitável. Importante salientar que o preço estabelecido como meta poderia ser encontrado em outra loja, mas que envolveria custo psicológico o qual desejava evitar. Grupo de consumidores com o meu perfil, cuja construção de valor preferencialmente é estabelecida em critérios objetivos, pouca importância darão a apelos subjetivos, como por exemplo, a ostentação de grifes, marcas etc.

Valores são incutidos em relação à posse e ao poder de compra, havendo uma valorização extrema no possuir, principalmente exercendo pressão entre pré-adolescentes e adolescentes, que inseridos em grupos cuja referência é a ostentação, são suscetíveis a tacitamente adotar padrões de consumo, preferências e hábitos do grupo. Obviamente, o marketing de grandes empresas monitora a tendência desses grupos visando criar valor para produtos e serviços, nos quais objetos de desejo possam ser oferecidos a peso de ouro. Neste aspecto, não somente peças de vestuário fazem o rol de artigos oferecidos como de luxo, mas todo e qualquer produto (ou serviço) que possa distinguir e diferenciar pessoas. Recentemente na política isto foi sugerido por Fernando Henrique Cardoso, que desejando criar certa distinção à política de oposição do PSDB, declarou em artigo que seu partido deveria mirar na classe média, pois os pobres (classe C e D) já haviam sido cooptados pelos programas sociais do governo, sendo a estratégia posicionar o PSDB como um “produto” voltado para os mais abastados. Vale ressaltar que, independentemente das declarações do sociólogo, algumas pessoas já se declaram ser eleitores do PSDB não por convicção ideológica, mas por questões de pertencimento social.

Deixando essas questões políticas ao largo e retornando ao tema inicial desta reflexão, acredito que o grande desafio deste Século será vencer o “consumerismo”, muitas vezes devotado para a ostentação de bens materiais, ou de ícones de sucesso que possam ser comprados. Na verdade a via da aquisição é o caminho mais fácil, considerando que outros atributos de valor subjetivo, como cultura, conhecimento, cidadania, sensibilidade às questões sociais, não entram no pacote de algumas pesquisas que visem indicar classe social. Muitas enquetes concentram-se em quantidade de automóveis, cômodos do imóvel, freezer, se há empregada doméstica e aspirador-de-pó na casa, pois a preocupação é mensurar o poder de compra e não diretamente o estilo de vida.

Em uma sociedade que concentra sua atenção em prestigiar e idolatrar a posse de “coisas”, pouco dá atenção ou estimula a solidariedade, a fraternidade e, por conseguinte, as questões sociais. Enquanto pais assoberbados e sem tempo suprimirem suas ausências em família e as culpas decorrentes disto com presentes e bens materiais aos filhos, o ciclo vicioso que alimenta o comportamento “consumerista” fecha-se, educando novos indivíduos centrados em si mesmos que acreditam que tudo se resolve com uma ida as compras. Neste sentido, li recentemente um artigo, o qual não me lembro o autor, que dizia: “No passado uma cidade quando crescia economicamente a primeira preocupação para demonstrar o seu status de cidade próspera era a construção de uma grande catedral, mas hoje em dia demonstra esse mesmo status com a construção de um imenso Shopping Center”.

João Lago
Administrador, professor e morador do Cj. Santos Dumont

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