Com um cargo eletivo Bolsonaro fugiu da carreira militar como o seu próprio filho relatou na biografia do pai (Mito ou Verdade: Jair Messias Bolsonaro) na qual afirmou: “foi candidato a vereador porque calhou de ser a única opção que possuía no momento para evitar que fosse vítima de perseguição por parte de alguns superiores”. Na política Bolsonaro entrou e nunca mais saiu, sendo sempre um político temático, ligado a um eleitorado cativo de policiais civis, militares e adotando um discurso de desprezo pela vida e ao estado democrático de direito. Uma demonstração disso é a entrevista que o então deputado federal Bolsonaro deu ao programa Câmara aberta da TV bandeirantes em 1999 dizendo: “o voto não vai mudar nada no Brasil (…) só vai mudar quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez, matando uns trinta mil”. Esse ódio beligerante que Bolsonaro carrega o fez aproximar-se policiais milicianos e participantes de grupo de extermínio como já amplamente divulgado pela imprensa. Aliás, a imprensa hoje é o calcanhar de aquiles do presidente, por expor todo o seu desgoverno na economia, na política e no combate a pandemia de covid-19. Tanto que constantemente ofende jornalistas, inclusive incitando o ódio de seus seguidores contra os tradicionais veículos de comunicação.
A incapacidade de Bolsonaro, desde o início de seu governo, em conviver com opiniões divergentes o fizeram expurgar vários colaboradores e companheiros de campanha ao longo do tempo. A lista é extensa e inclui governadores, deputados, militares e grande parte do eleitorado que o elegeu em 2018 já abandonou o barco do bolsonarismo, conforme demonstrado em todas as recentes pesquisas de opinião. No entanto, mesmo que o conjunto da obra demonstre que a politica do confronto permanente é a razão do fracasso desse governo, Bolsonaro não consegue sair do círculo vicioso de crises que alimenta sua base alienada e sedenta de ódio. Neste sentido, vemos líderes religiosos, que encontraram guarida de sua intolerância no bolsonarismo, agindo como jihadistas lançando fatah (guerra santa) contra o feminismo, em desfavor dos direitos de homossexuais e de intransigência pelas religiões de matrizes africanas como forma de reafirmação de dogmas medievais. Esses fariseus estimulam seus fiéis a participarem dos atos antidemocráticos programados para sete de setembro porque veem em Bolsonaro um igual. Somam-se a esses os saudosistas da ditadura militar que ainda vivem em plena Guerra Fria porque desconhecem que o muro de Berlim deixou de existir em 1989. Para esses a ameaça comunista é tão real quanto a certeza que a Terra é plana.
Bolsonaro sempre demonstrou um comportamento perigosamente amalucado e desde o início de sua carreira militar, política deixou claro que o seu maior incomodo era ganhar pouco. Porém, foi exitoso em enriquecer com supostos desvios de verbas de gabinete, como evidenciam todas as denúncias de peculato que hoje tramitam na justiça. Neste sentido, Bolsonaro poderia aposentar-se na política sendo o que é para o seu eleitorado fluminense igualmente amalucado, miliciano e fanático religioso, mas coube a uma facada e aos erros dos governos Lula e Dilma colocá-lo com uma alternativa viável contra o antipetismo. Infelizmente Bolsonaro foi eleito e no atual momento político não tem nada a perder, pois está cada vez mais evidente que fora da presidência o que lhe aguarda é a prisão. Assim, a única alternativa que tem é promover um golpe, não para proteger o Brasil de uma ameaça comunista destruidora do capitalismo e da tradicional família brasileira, mas para tentar varrer para debaixo do tapete toda a podridão de décadas de sucesso financeiro de um político típico do Centrão.
João Lago
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