O amor aristotélico é norteado pelas virtudes nas quais não se ama o inalcançável, mas a quem (ou aquilo) que nos possa trazer felicidade. Assim, nas relações afetivas também o amor passa por um processo racional na qual a estética seja o menos importante e neste caso acredito que algumas mulheres acertam ao definir (melhor do que os homens) o objeto de seus desejos. Algumas nomeiam como o homem ideal alguém que seja divertido, honesto, trabalhador, fiel e muito superficialmente abordam aspectos físicos, É bem verdade que jamais estarei presente em uma reunião só de mulheres para ter certeza que são essas as qualidades desejadas, mas são as que algumas socialmente expressam. No entanto, em reuniões masculinas o que menos interessa são as virtudes de uma mulher quando o assunto é desejo. O correto no sentido do amor aristotélico seria o homem amar não a beleza de uma mulher, mas suas virtudes porque essas não se esvaem com o tempo. A bem da verdade, toda a beleza é efêmera (feminina ou masculina) é isso já está no senso comum.
domingo, 12 de setembro de 2021
A viagem em busca do amor
Amor,
quatro letras cujo significado já foi tão explorado por poetas,
filósofos, religiosos, psicanalistas, porém essa expressão do
sentimento humano ainda parece tão carente de explicação. Poderia
começar a destrinchar o amor pelo significado platônico, daquele
que somente ama o que verdadeiramente não possui. O amor invejoso
que deseja ardentemente o que não é seu, mas, da mesma forma que
anseia, o abandona tão rapidamente ao possui-lo. O amor efêmero da
paixão fugaz que evapora como água ao sol escaldante do egoísmo.
No entanto, amar dessa maneira não explicaria corretamente aquele
amor duradouro e desinteressado.
O
filósofo Aristóteles, ao contrário de Platão, não tratou
explicitamente o significado do amor, mas abordou a felicidade humana
como um processo do equilíbrio entre o abundante e o escasso. Desta
forma, o amor momentâneo de Platão daria lugar a uma atitude
racional em colocar significado ao que deseja a fim de alcançar a
felicidade, pois o ser humano em desequilíbrio no que ambiciona
jamais encontrará a felicidade. No entanto, alguém poderia dizer
que essa tentativa de racionalizar os desejos levaria a um amor
repleto de hipocrisia. Talvez, a frustração de quem possa imaginar
que a busca do equilíbrio esteja errada, porque jamais em sua vida
fez uma reflexão profunda do que deseja para si na máxima
socrática: “conhece a ti mesmo” no que vou tentar exemplificar
com uma experiência pessoal.
Aos
dezoito anos sai de Manaus muito cheio de sonhos em realizações
pessoais e fui para Boa Vista – Roraima. Era a minha primeira
experiência em sustentar-me como o meu trabalho e sem qualquer ajuda
de terceiros. Coisas simples como pagar o aluguel, as contas da casa,
alimentar-me e, sempre que possível, gozar algum lazer. Os bens
materiais logicamente permeiam os desejos de sucesso e que mais
queria é ter um automóvel, mas não poderia ser qualquer carro.
Teria que ser aquele considerado o melhor em sua categoria e um dia
expressei esse desejo a um amigo já em situação financeira bem
melhor que a minha. Contudo, no lugar de concordar comigo, disse-me
que o seu sonho era possuir um mais básico da categoria e via brilho
em seus olhos. Duvidei e perguntei, com tantas opções melhores de
veículo, qual o sentido em escolher o mais básico e sem muitos
opcionais, ao que me respondeu: “porque esse eu vou conseguir
comprar”. Nessa época, ainda pouco conhecia da vida e o meu
interesse pela filosofia era uma tábua rasa, mas imediatamente
percebi que a felicidade está em valorizar o acessível a partir da
racionalização de nossas expectativas. Saber quem eu sou, do que
sou capaz e buscar a felicidade a partir das minhas escolhas, mesmo
que não sejam aquelas que os outros possam valorizar.
Não
poderia finalizar este breve ensaio sobre o amor sem abordar Paulo de
Tarso em I Coríntios 13, que corresponde ao amor Ágape. Talvez,
para diferenciá-lo de um sentimento mundano, a versão católica do
texto sagrado tenha substituído amor por caridade. Ainda assim, não
tira a beleza que o apóstolo Paulo confere ao amor pregado por
Cristo que faz da verdadeira felicidade aquela capaz de fazer bem ao
outro. Amar desta maneira, como Jesus amou, vai além da ética de
Aristóteles, Sócrates e Platão baseada no hedonismo ou nas
virtudes, pois o amor verdadeiro em Cristo é desinteressado do
sujeito passivo da ação de amar. Para ser mais claro, não se
espera nada em troca daquele que se ama. Infelizmente o amor Ágape
parece uma ficção, mas são as utopias que nos apontam como os
conflitos humanos nos distanciam do ideal, neste caso do amor
verdeiro.
O
amor é como a bagagem de um viajante que não cabe muita coisa,
portanto a depender do objetivo da jornada às vezes leva-se somente
o necessário para bem aproveitá-la. Se for para diversão levamos
na mala uma boa quantidade de desejos hedônicos não tão
compromissados com as virtudes. No entanto, se o objetivo da viagem
for a busca de uma felicidade duradoura, o que mais pesará na
bagagem serão as virtudes e o desejo de fazer feliz ao outro. Assim,
antes de escolher um companheiro para uma viagem pergunte o que ele
está carregando em sua mala, pois a depender da resposta talvez se
evite uma grande frustração.
João
Lago
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Parabéns, o ser humano vem ao mundo para ser feliz !
ResponderExcluir