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segunda-feira, 1 de junho de 2020

O exemplo de vida que conquista respeito e admiração


Existem certas expressões, nas mais variadas línguas, que demonstram sinal de respeito. Na adolescência, quando estudante de francês aprendi que o pronome “Tu” (pronuncia-se ti) não poderia ser utilizado nas conversas formais, naquelas que o interlocutor é um desconhecido, ou uma pessoa mais idosa, ou alguém na qual se deve respeito. O “Tu” no francês somente é aceitável quando falamos com crianças, ou com pessoas que tenhamos uma completa intimidade. Assim, para os demais casos devemos utilizar o “Vous” como sinal de educação e/ou respeito.

Quando estive na Colômbia pela primeira vez em 2008, em conversa com o padre Jorge Serrano, amigo e sacerdote jesuíta, disse-me que no Brasil chamar um bispo católico de “Dom”, que no espanhol somente é usual para atribuir distinção social ou muito respeito a alguém, em sua opinião foi a maneira única que a língua portuguesa adotou do espanhol para designar respeito ao líder católico. Em português não temos um similar para o “Dom” espanhol, mas temos uma corruptela do pronome de tratamento “senhor” que utilizamos com frequência. Por exemplo, quando alguém que merece distinção e respeito, mas temos o privilégio de sua convivência e intimidade, adotamos chamá-lo de “Seu”, em vez de senhor, porque esse último pareceria extremamente formal. O mais interessante é que chamar alguém de “seu” ou “dona”, em vez de senhor ou senhora, além do respeito está implícita uma certa intimidade.

Já se perde em minha memória o exato momento que deixei de chamar Alfredo Peroba da Paz Jatobá de senhor e passei a chamá-lo de simplesmente de Seu Alfredo, mas acredito que a educação familiar daqueles maiores de cinquenta anos hão de achar isso bastante comum e até mesmo deselegante e grosseiro se o chamasse simplesmente por “você”. Infelizmente, talvez por uma necessidade de rejuvenescimento, uma nova geração que chega aos quarenta anos já não deseja ser chamado de “seu” ou “dona” e deseduca os jovens ao sugerir em serem chamados por “você”. No entanto, a certa ojeriza dessas pessoas pela distinção que esses tratamentos trazem apenas colocam mais reverência naqueles aceitam serem chamados de “seu” e “dona”. Absolutamente, não se trata de uma simples discussão semântica, mas uma reflexão que busca colocar grau de distinção em nossas relações pessoais, principalmente quando o destinatário não solicita tal deferência, mas traz em nós a forma expressa que tal pessoa é merecedora de toda estima, respeito, amor e consideração.

Conheci o Seu Alfredo Jatobá nos meus dezessete anos e devo confessar que naquela época, como já descrito aqui, não me recordo quando deixei de chamá-lo por Senhor Alfredo, mas arrisco dizer que foi quando o simples respeito foi sucedido e adicionado a admiração e intimidade. Muito mais que o meu sogro, o Seu Alfredo transformou-se em um amigo a quem se pode buscar para um conselho, para compartilhar uma preocupação ou alegrias. Além de um pai exemplar, é exemplo de caráter altivo, de cidadão ético, justo e fraterno que nos dias de hoje tais qualidades parecem serem impossíveis de pertencerem a uma mesma pessoa. Como seu amigo, por meio de nossas longas conversas, pude passear pela Manaus dos anos 30, 40, 50 e 70 com uma riqueza de detalhes de alguém com uma memória privilegiada que merecia um estudo profundo, pois muitas das suas lembranças contam a história do crescimento de uma Manaus de cerca de 100 mil habitantes para a metrópole de 2,2 milhões. Por meio de suas recordações eu pude passear nos extintos bondes da capital manauara, assistir uma partida de futebol no Parque Amazonense, antigo palco do campeonato dos clubes de Manaus, andar nos regatões que abasteciam o comércio das cidades das margens do Rio Solimões e conhecer uma época e costumes que se perderam nos livros de história.

Alfredo Jatobá, com os 96 anos que completa em 2 de junho, é hoje o funcionário aposentado mais longevo do Banco do Brasil e várias homenagens já recebeu de seus colegas que demonstraram o carinho e, principalmente, a admiração que adquiriu de seus pares depois de décadas de bons serviços prestados. Nada de surpreendente para um ser humano integro que conquistou amigos e admiradores ao longo de sua vida. Eu tenho o privilégio de apenas ser mais um.
Eu poderia estender esta resenha, mas acho que um conteúdo biográfico de um cidadão tão admirável não poderia estar descrito em poucas palavras. A pandemia que vivemos não nos permite que façamos uma grande homenagem reunindo todos os filhos, netos, bisnetos, outros familiares e amigos, mas tenho certeza que não faltará oportunidade enquanto amor existir no mundo e haver nesta terra representantes que emulam tão sublime sentimento. Parabéns Seu Alfredo Jatobá pelos seus 96 anos.

João Lago

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