O isolamento social horizontal tem demonstrado ser a única atitude em saúde pública que possa conter a proliferação do vírus convid-19 e impedir o colapso do sistema de saúde pública. A conta que se faz é simples, mas, ao mesmo tempo, dramática, pois se a quantidade de indivíduos que demandarem respiração mecânica forem superiores a quantidade de aparelhos disponíveis, o excedente de enfermos fatalmente morrerá por falta de atendimento adequado.
O isolamento social horizontal (no qual que quase todos estão contidos em casa ) não elimina o vírus, mas o faz circular menos, pois se na dengue o vetor do vírus é o mosquito Aedes aegypti, no caso do covid-19 o que leva a doença pode ser cada um de nós. É fato que no caso do coronavírus a vacina que dispomos é o nosso próprio sistema imunológico que é acionado para combater o vírus e a cada indivíduo que é “curado” deixa de ser um vetor infeccioso. A estratégia é deixar que a taxa de infecção crítica seja conscrita a quantidade de população exposta que resulte em pacientes graves. Isso que aqui está dito não é resultado de achismo, pois é corroborado pela comunidade científica e pela experiência adquirida na China, Coreia do Sul, Itália, Espanha e demais países que hoje enfrentam o covid-19. Assim, não é coerente apostar em qualquer outra solução ainda não testadas e que contradizem os fatos e todas as evidências científicas, sendo uma delas a proposta de isolamento vertical.
Buscando exemplificar o que é apoiar medidas como isolamento vertical, que não tem nenhuma base científica sólida, tem um filme chamado The box (A caixa) que traz um dilema moral. O casal Lewis está em dificuldades financeiras, pois o salário do marido é reduzido. Nesse ínterim, um estranho homem de rosto desfigurado aparece na porta de sua casa e oferece-lhes uma caixa com um botão. Se apertarem o botão ganham um milhão de dólares, mas automaticamente uma pessoa desconhecida em algum lugar morre. Eles tem 24 horas para decidir se apertarão o botão ou não. Mal sabem eles que se decidirem apertar o botão a caixa irá para uma outra família que apertando o botão será um deles que morrerá.
O isolamento vertical prega a contenção somente de pessoas em grupo de risco, permitindo que os demais saiam para trabalhar. O problema é que tal situação não leva em conta a composição das famílias brasileiras, principalmente daqueles que vivem em comunidades, aglomerados e favelas. Os que advogam o isolamento vertical olham para os lares brasileiros compostos por vários cômodos com banheiros exclusivos para idosos, cardiopatas, hipertensos, diabéticos, asmáticos, imunossuprimidos e demais grupos de risco. Eles não se importam em apertar o botão, pois acreditam que os mortos vão cair bem longe deles.
O presidente Jair Bolsonaro tem insistido em apoiar as medidas de isolamento vertical, apesar de declarações do Ministério da Saúde - MS que não há estudo que possa viabilizar tal medida. Recentemente o Ministério Público Federal – MPF solicitou a suspensão de campanha do governo intitulada “o Brasil não pode parar” justamente pela ausência de embasamento científico e por colocar em risco os brasileiros. No entanto, as bravatas de Bolsonaro se apoiam na certeza que os governadores e prefeitos, apoiados por especialistas em epidemiologia e em saúde pública, usarão do bom senso e não arriscarão a vida da população em um mero achismo sem qualquer base científica e sem paralelo no que vem acontecendo na China, na Itália, na Espanha e mais recentemente nos EUA. Perceberam que a estratégia de Bolsonaro é continuar colocando-se como contrário a todos, seguindo a linha que se tudo caminhar bem na saúde pública, mas não na economia, não será culpa sua. Ao mesmo tempo, ao postergar medidas econômicas de renda mínima, que estão sendo implementadas por outros países, colocam os trabalhadores informais, autônomos, micro e pequenos empresários contra o isolamento horizontal e, por conseguinte, em oposição aos prefeitos e governadores. Assim, Bolsonaro demonstra ser incapaz de governar aceitando consensos e busca fortalecer-se nos conflitos sociais e continua apostando em “nós contra eles”.
O brasileiro médio neste momento tem três preocupações básicas: se estará doente semana que vem, se haverá UTI com respirador em caso de necessidade, ou se terá emprego e o que comer no dia seguinte. Caberia ao governo federal agir para trazer tranquilidade e segurança neste momento tão sombrio, mas infelizmente uma burrice ideológica com certa dose de sadismo parece sobressair e ser mais importante que a saúde e a paz dos brasileiros.
João Lago
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