Powered By Blogger

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

O afeto tem risco de morte

Agora é assim, o perigo de morte não vem através de um mosquito, nem por meio de uma relação sexual sem preservativo, mas chega extremamente contagiante pelos hábitos sociais afetuosos mais prosaicos do brasileiro: o abraço, o aperto de mão, o beijo no rosto etc. Não somente isso, basta simplesmente que se toque em um objeto, em um passa mão de carrinho de supermercado, em uma maçaneta, em um corrimão que tenha sido infectado por fluídos corpóreos de alguém que seja portador do coronavírus. O pior é que a transmissão dessa nova modalidade de gripe, cujos desdobramentos fatais são a insuficiência renal e respiratória aguda, pode vir de pessoas que se apresentam assintomáticas, ou seja, que ainda sequer deem sinais que estejam doentes. É justamente essa forma de fácil contágio que assusta a comunidade de saúde pública internacional.

Fala-se em taxa de letalidade de 2%, considerada baixa quando comparada com os dois mais recentes surtos de doenças virais (Sars 10,87% e H1N1 23,2%). Porém, como conter a proliferação de uma doença que é transmitida tão facilmente e que pode chegar a milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Por exemplo, a cidade de Wuhan (foco inicial do vírus) tem uma população de 11,8 milhões que totalmente contaminada corresponde à 236 mil mortes. Assim, o número de mortos pode somar a população inteira de cidades como Dourados-MS, Chapecó-SC, Cabo Frio-RJ dentre tantas outras e não se deve minimizar esse número em um mero dado estatístico. Não há como mitigar a dor de uma família que vive o luto dessas mortes como a desculpa que somente faleceram 2%.
Resultado de imagem para coronavirus
O acirramento do vírus no mundo, antes que se desenvolva uma vacina eficaz, e o seu potencial desembarque no Brasil, traz a luz vários fatores que são característicos da realidade brasileira é que nos fazem vítimas de uma tragédia anunciada. Como resolver a precariedade do sistema de saúde que em muitas cidades sequer dão conta da demanda ordinária da população? O que fazer para contornar o péssimo saneamento básico que transforma sarjetas em esgotos a céu aberto? Como erradicar a falta de higiene elementar de uma maioria que sequer lava às mãos depois de usar o banheiro? Como tolher os excessos de abraços, beijos e apertos de mão de nossa índole afetuosa? Neste cenário sinistro, resolver a precariedade do atendimento à saúde e o péssimo saneamento básico está aquém de nossa vontade individual e que nos fazem reféns de governos corruptos e demagogos, além de não ser algo que se resolva em curto espaço de tempo. Contudo, agir fazendo campanhas de conscientização de cuidados básicos de higiene e alertar que os excessos de afetuosidade devem ser evitados para o bem de todos, principalmente quando estivermos em ambientes coletivos é algo que podemos fazer. Voltemos os nossos olhos para a forma que os japoneses cumprimentam-se: nada de aperto de mãos e beijinhos, mas uma simples reverência (chamada ojigi). Na internet encontraremos vários significados lúdicos do motivo dessa saudação, mas eu arrisco dizer que, por ser o Japão uma ilha, a melhor forma encontrada para evitar contágios de um povo confinado em um pequeno território foi abolir o contato físico desnecessário. Pode-se ser menos radical e observar como os anglo-saxões saúdam-se. Basta observar os filmes de Hollywood e perceber que quando amigos encontram-se o que menos acontece são abraços, beijinhos e apertos de mão. Os alemães também compartilham do mesmo hábito e talvez por isso os consideremos um “povo frio”.


Voltando para a nossa realidade, é necessário que compartilhemos nossa preocupação principalmente com aqueles que estão dentro de nossa casa (pais, irmãos, filhos, netos etc.), pois de nada adianta o nosso cuidado individual se potencialmente a contaminação poderá vir daqueles que mais temos motivos para tocar, abraçar e beijar. Temos ao nosso favor que no hemisfério sul ainda é verão e as gripes por excelência acontecem mais no inverno, mas como diz o ditado: “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, obviamente tratando de cozinhá-la bem e em fogo alto.

João Lago.

Nenhum comentário:

Postar um comentário