Agora é assim, o
perigo de morte não vem através de um mosquito, nem por meio de uma
relação sexual sem preservativo, mas chega extremamente contagiante
pelos hábitos sociais afetuosos mais prosaicos do brasileiro: o
abraço, o aperto de mão, o beijo no rosto etc. Não somente isso,
basta simplesmente que se toque em um objeto, em um passa mão de
carrinho de supermercado, em uma maçaneta, em um corrimão que tenha
sido infectado por fluídos corpóreos de alguém que seja portador
do coronavírus. O pior é que a transmissão dessa nova modalidade
de gripe, cujos desdobramentos fatais são a insuficiência renal e
respiratória aguda, pode vir de pessoas que se apresentam
assintomáticas, ou seja, que ainda sequer deem sinais que estejam
doentes. É justamente essa forma de fácil contágio que assusta a
comunidade de saúde pública internacional.
Fala-se em taxa de
letalidade de 2%, considerada baixa quando comparada com os dois mais
recentes surtos de doenças virais (Sars 10,87% e H1N1 23,2%). Porém,
como conter a proliferação de uma doença que é transmitida tão
facilmente e que pode chegar a milhões de pessoas no Brasil e no
mundo. Por exemplo, a cidade de Wuhan (foco inicial do vírus) tem
uma população de 11,8 milhões que totalmente contaminada
corresponde à 236 mil mortes. Assim, o número de mortos pode somar
a população inteira de cidades como Dourados-MS, Chapecó-SC, Cabo
Frio-RJ dentre tantas outras e não se deve minimizar esse número em
um mero dado estatístico. Não há como mitigar a dor de uma família
que vive o luto dessas mortes como a desculpa que somente faleceram
2%.
O acirramento do
vírus no mundo, antes que se desenvolva uma vacina eficaz, e o seu
potencial desembarque no Brasil, traz a luz vários fatores que são
característicos da realidade brasileira é que nos fazem vítimas de
uma tragédia anunciada. Como resolver a precariedade do sistema de
saúde que em muitas cidades sequer dão conta da demanda ordinária
da população? O que fazer para contornar o péssimo saneamento
básico que transforma sarjetas em esgotos a céu aberto? Como
erradicar a falta de higiene elementar de uma maioria que sequer lava
às mãos depois de usar o banheiro? Como tolher os excessos de
abraços, beijos e apertos de mão de nossa índole afetuosa? Neste
cenário sinistro, resolver a precariedade do atendimento à saúde e
o péssimo saneamento básico está aquém de nossa vontade
individual e que nos fazem reféns de governos corruptos e demagogos,
além de não ser algo que se resolva em curto espaço de tempo.
Contudo, agir fazendo campanhas de conscientização de cuidados
básicos de higiene e alertar que os excessos de afetuosidade devem
ser evitados para o bem de todos, principalmente quando estivermos em
ambientes coletivos é algo que podemos fazer. Voltemos os nossos
olhos para a forma que os japoneses cumprimentam-se: nada de aperto
de mãos e beijinhos, mas uma simples reverência (chamada ojigi). Na
internet encontraremos vários significados lúdicos do motivo dessa
saudação, mas eu arrisco dizer que, por ser o Japão uma ilha, a
melhor forma encontrada para evitar contágios de um povo confinado
em um pequeno território foi abolir o contato físico desnecessário.
Pode-se ser menos radical e observar como os anglo-saxões saúdam-se.
Basta observar os filmes de Hollywood e perceber que quando amigos
encontram-se o que menos acontece são abraços, beijinhos e apertos
de mão. Os alemães também compartilham do mesmo hábito e talvez
por isso os consideremos um “povo frio”.
Voltando para a
nossa realidade, é necessário que compartilhemos nossa preocupação
principalmente com aqueles que estão dentro de nossa casa (pais,
irmãos, filhos, netos etc.), pois de nada adianta o nosso cuidado
individual se potencialmente a contaminação poderá vir daqueles
que mais temos motivos para tocar, abraçar e beijar. Temos ao nosso
favor que no hemisfério sul ainda é verão e as gripes por
excelência acontecem mais no inverno, mas como diz o ditado:
“cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”,
obviamente tratando de cozinhá-la bem e em fogo alto.
João Lago.
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