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domingo, 21 de julho de 2019

Brancos, mulatos, pardos e negros: Brasileiros somos 100% “paraíba”.


A democracia não é e nunca será a eliminação completa das divergências políticas, pois se assim fosse não seria democracia, mas sim ditadura. Isto posto, quando um governo é eleito, na esteira dos cinquenta por cento mais um, haverá de existir os demais quarenta e nove por cento que desejavam um caminho diferente. Um bom estadista é aquele que não se acredita ungido por uma unanimidade e que depois de eleito trabalhará ainda mais por aqueles que votaram contra, pois sabe que não se trata mais de competir pela vitória de um partido, mas sim por ser responsável pela unidade e o bem-estar de todos. A história ensina que as divisões territoriais que aconteceram mundo afora foram motivadas justamente pela ausência de unidade nacional, seja pela língua, cultura ou pelo abandono. Um território jamais manterá sua unidade se não houver a integração do seu povo em um sentimento de pátria (para todos). Aquele que é eleito por uma maioria deverá sempre falar para todos e dedicar-se ainda mais em conquistar a confiança dos que pensam contrário e buscar provar que pode, mesmo na divergência política e ideológica, governar para todos. Isto é o óbvio, mas cada vez mais neste país é necessário gritar o óbvio.

O Brasil é um país continental, um gigante com tecido social tão diverso quanto geográfico, mas falamos a mesma língua e não há na consciência popular um sentimento separatista. Nosso país é verdadeiramente rico pelo tamanho de seu território e pela vocação que cada região tem para contribuir para a grandeza e prosperidade desta nação. O Brasil é um dos poucos países que se todas as fronteiras que nos cercam fossem fechadas conseguiríamos subsistir, pois somos capazes de produzir nossos alimentos, temos jazidas de minério, petróleo, indústrias e provamos que podemos construir um bem com alta tecnologia e competitividade, como foi com a Embraer, que lamentavelmente foi entregue ao capital estrangeiro pelo atual governo. O Brasil era um dos raros países no mundo que tinha na matriz industrial de capital nacional a fabricação de aviões capaz de competir com sucesso no mercado internacional. Foi-se para o estrangeiro, justamente porque um mesmo governo que chama de “paraíba” os nordestinos jamais conseguirá entender que as grandes potências mundiais competem entre si por hegemonia tecnológica, coisa que o Brasil não tem e as poucas que possui entrega ao estrangeiro. Isto soa muito estranho quando esse mesmo governo, durante a campanha eleitoral, erguia uma bandeira nacionalista, mas, uma vez eleito, adota uma política entreguista e de subserviência ao capital internacional. Não há na diplomacia ocidental exemplo de um país que tenha abdicado da reciprocidade de tratamento para com os seus cidadãos face a um governo estrangeiro. A partir de decisão do atual governo, hoje um cidadão dos EUA vem ao Brasil sem exigência de visto e entra no país com o seu passaporte. Porém, um cidadão brasileiro se desejar visitar os EUA deve primeiramente pagar uma taxa de USD 160 (equivalente a R$ 599,00), agendar entrevista e dirigir-se a Recife, Brasília, São Paulo ou Rio de Janeiro. Logicamente que pagar a taxa e ter as despesas para viajar e realizar a entrevista não são garantia da emissão do visto, que simplesmente pode ser negado sem que seja dado qualquer explicação ao viajante. Um cidadão europeu não precisa de visto para os EUA, bem com a comunidade europeia não exige do brasileiro visto para entrar naquele continente. Um governo que abdica dessa reciprocidade é aceitar que os seus cidadãos são de segunda classe se comparados com o estrangeiro.

Demonstrar desprezo pelos brasileiros nascidos no Nordeste chamando-os pelo adjetivo pejorativo de “paraíba”, primeiramente ofende a dignidade dos paraibanos cuja cepa gerou Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna, Assis Chateaubriand, Epitácio Pessoa etc. Em segundo, porque o Nordeste representa 15% do Produto Interno Bruto Brasileiro – PIB, ou seja, o Brasil seria mais pobre em R$ 928 bilhões se aquela região não fizesse parte de nosso território. Está no Nordeste a base de Alcântara que é cobiçada pelo governo dos EUA porque geograficamente é um ponto privilegiado do planeta para colocar satélites em órbita e que o governo Bolsonaro está em vias de entregá-la sem reservas aos EUA. Para coroar tamanha obscenidade diplomática, Bolsonaro tentar enfiar goela abaixo do Senado Federal a indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro que se vangloriou de ter sido chapeiro nos EUA e possuir uma pós-graduação em economia. Porém, até o fato de ter fritado hambúrguer nos EUA foi contestado pela imprensa, pois a lanchonete chamada Popeyes, na qual Eduardo Bolsonaro se vangloriou de seus dotes como chapeiro, simplesmente serve frango frito, ou seja, não tem hambúrguer no cardápio. A imprensa também foi pesquisar a pós-graduação em economia pelo Mises Institute Brasil e descobriu que o filho de Bolsonaro não concluiu o curso porque não conseguiu apresentar o trabalho de conclusão. Esses fatos, aliados as demais inverdades que são pronunciadas pelo Bolsonaro pai, indicam que a mitomania parece ser um atributo herdado na família. Sinceramente esperamos que o Senado Federal corrija o erro grosseiro da indicação de alguém tão despreparado para uma missão diplomática tão estratégica para o Brasil e não homologue a indicação nepotista de Jair Bolsonaro.

A ofensa proferida aos nordestinos, a subserviência aos interesses políticos e econômicos dos EUA, o desprezo pela verdade e o nepotismo descarado pela indicação do filho como diplomata são apenas a ponta do iceberg de toda a irracionalidade que está submersa e que em doses homeopáticas são administradas a um país agonizante chamado Brasil. Estamos cansados dos discursos ideológicos, da insistência da polarização com o petismo e esperávamos um governo propositivo para todos os brasileiros. Infelizmente ainda estamos no terceiro turno da eleição do ano passado e, agora com o peso de uma escolha catastrófica, seguimos confiantes que o Congresso Nacional possa ir corrigindo tanta irresponsabilidade.

João Lago.

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