A democracia não é
e nunca será a eliminação completa das divergências políticas,
pois se assim fosse não seria democracia, mas sim ditadura. Isto
posto, quando um governo é eleito, na esteira dos cinquenta por
cento mais um, haverá de existir os demais quarenta e nove por cento
que desejavam um caminho diferente. Um bom estadista é aquele que
não se acredita ungido por uma unanimidade e que depois de eleito
trabalhará ainda mais por aqueles que votaram contra, pois sabe que
não se trata mais de competir pela vitória de um partido, mas sim
por ser responsável pela unidade e o bem-estar de todos. A história
ensina que as divisões territoriais que aconteceram mundo afora
foram motivadas justamente pela ausência de unidade nacional, seja
pela língua, cultura ou pelo abandono. Um território jamais manterá
sua unidade se não houver a integração do seu povo em um
sentimento de pátria (para todos). Aquele que é eleito por uma
maioria deverá sempre falar para todos e dedicar-se ainda mais em
conquistar a confiança dos que pensam contrário e buscar provar que
pode, mesmo na divergência política e ideológica, governar para
todos. Isto é o óbvio, mas cada vez mais neste país é necessário
gritar o óbvio.
O Brasil é um país
continental, um gigante com tecido social tão diverso quanto
geográfico, mas falamos a mesma língua e não há na consciência
popular um sentimento separatista. Nosso país é verdadeiramente
rico pelo tamanho de seu território e pela vocação que cada região
tem para contribuir para a grandeza e prosperidade desta nação. O
Brasil é um dos poucos países que se todas as fronteiras que nos
cercam fossem fechadas conseguiríamos subsistir, pois somos capazes
de produzir nossos alimentos, temos jazidas de minério, petróleo,
indústrias e provamos que podemos construir um bem com alta
tecnologia e competitividade, como foi com a Embraer, que
lamentavelmente foi entregue ao capital estrangeiro pelo atual
governo. O Brasil era um dos raros países no mundo que tinha na
matriz industrial de capital nacional a fabricação de aviões capaz
de competir com sucesso no mercado internacional. Foi-se para o
estrangeiro, justamente porque um mesmo governo que chama de
“paraíba” os nordestinos jamais conseguirá entender que as
grandes potências mundiais competem entre si por hegemonia
tecnológica, coisa que o Brasil não tem e as poucas que possui
entrega ao estrangeiro. Isto soa muito estranho quando esse mesmo
governo, durante a campanha eleitoral, erguia uma bandeira
nacionalista, mas, uma vez eleito, adota uma política entreguista e
de subserviência ao capital internacional. Não há na diplomacia
ocidental exemplo de um país que tenha abdicado da reciprocidade de
tratamento para com os seus cidadãos face a um governo estrangeiro.
A partir de decisão do atual governo, hoje um cidadão dos EUA vem
ao Brasil sem exigência de visto e entra no país com o seu
passaporte. Porém, um cidadão brasileiro se desejar visitar os EUA
deve primeiramente pagar uma taxa de USD 160 (equivalente a R$
599,00), agendar entrevista e dirigir-se a Recife, Brasília, São
Paulo ou Rio de Janeiro. Logicamente que pagar a taxa e ter as
despesas para viajar e realizar a entrevista não são garantia da
emissão do visto, que simplesmente pode ser negado sem que seja dado
qualquer explicação ao viajante. Um cidadão europeu não precisa
de visto para os EUA, bem com a comunidade europeia não exige do
brasileiro visto para entrar naquele continente. Um governo que
abdica dessa reciprocidade é aceitar que os seus cidadãos são de
segunda classe se comparados com o estrangeiro.
Demonstrar desprezo
pelos brasileiros nascidos no Nordeste chamando-os pelo adjetivo
pejorativo de “paraíba”, primeiramente ofende a dignidade dos
paraibanos cuja cepa gerou Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna, Assis
Chateaubriand, Epitácio Pessoa etc. Em segundo, porque o Nordeste
representa 15% do Produto Interno Bruto Brasileiro – PIB, ou seja,
o Brasil seria mais pobre em R$ 928 bilhões se aquela região não
fizesse parte de nosso território. Está no Nordeste a base de
Alcântara que é cobiçada pelo governo dos EUA porque
geograficamente é um ponto privilegiado do planeta para colocar
satélites em órbita e que o governo Bolsonaro está em vias de
entregá-la sem reservas aos EUA. Para coroar tamanha obscenidade
diplomática, Bolsonaro tentar enfiar goela abaixo do Senado Federal
a indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro que se vangloriou de ter
sido chapeiro nos EUA e possuir uma pós-graduação em economia.
Porém, até o fato de ter fritado hambúrguer nos EUA foi contestado
pela imprensa, pois a lanchonete chamada Popeyes, na qual Eduardo
Bolsonaro se vangloriou de seus dotes como chapeiro, simplesmente
serve frango frito, ou seja, não tem hambúrguer no cardápio. A
imprensa também foi pesquisar a pós-graduação em economia pelo
Mises Institute Brasil e descobriu que o filho de Bolsonaro não
concluiu o curso porque não conseguiu apresentar o trabalho de
conclusão. Esses fatos, aliados as demais inverdades que são
pronunciadas pelo Bolsonaro pai, indicam que a mitomania parece ser
um atributo herdado na família. Sinceramente esperamos que o Senado
Federal corrija o erro grosseiro da indicação de alguém tão
despreparado para uma missão diplomática tão estratégica para o
Brasil e não homologue a indicação nepotista de Jair Bolsonaro.
A ofensa proferida
aos nordestinos, a subserviência aos interesses políticos e
econômicos dos EUA, o desprezo pela verdade e o nepotismo descarado
pela indicação do filho como diplomata são apenas a ponta do
iceberg de toda a irracionalidade que está submersa e que em doses
homeopáticas são administradas a um país agonizante chamado
Brasil. Estamos cansados dos discursos ideológicos, da insistência
da polarização com o petismo e esperávamos um governo propositivo
para todos os brasileiros. Infelizmente ainda estamos no terceiro
turno da eleição do ano passado e, agora com o peso de uma escolha
catastrófica, seguimos confiantes que o Congresso Nacional possa ir
corrigindo tanta irresponsabilidade.
João Lago.
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