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domingo, 2 de julho de 2017

O brasileiro médio



Estava neste final de semana em uma conversa animada com um dileto amigo que em certa altura, no calor das argumentações de um esquerdista doutrinador, perguntou-me: “Onde foram parar as panelas tramontinas que foram batidas contra o governo popular do PT?”. Após pacientemente escutar calado todas as lamúrias de quem nitidamente sofre angustiado com algo parecido com a Síndrome de Estocolmo, na qual a vítima apaixona-se pelo seu algoz, falava de forma veemente, quase com uma profissão de fé, pedindo a volta de Lula ao Planalto Central. E novamente repetia: “cadê as panelas?”.

Em um arroubo de paciência, em consideração a nossa longa amizade, dessas construídas com os pés descalços correndo atrás de uma bola e nas brincadeiras infantis até o primeiro alvorecer do primeiro amor da adolescência, desse tempo terno que lembra o fim de nossa inocência, hoje representando uma vaga lembrança de um mundo melhor que parece somente existir no passado que me permitiu deixá-lo falar até cansar e enfim oferecer-me a palavra.

Disse-lhe que o brasileiro médio em geral está tão ocupado em cuidar de sua própria vida, de cuidar da educação e alimentação dos filhos, aflito com os preços dos alimentos no supermercado, com a ameaça de perder o emprego e ver-se mergulhado na feroz estatística que o faria mergulhar na linha da pobreza, já está desesperançoso com a política, principalmente porque o governo que foi deposto já não apresentava condições, tanto moral quanto política, para conduzir as reformas necessárias que pudessem afastar todos esses temores. Assim, como havia a oportunidade de mudar, mesmo que não sendo da maneira ideal, existia o sentimento que outro governo entendendo a alma do brasileiro médio pudesse entregar novamente esperança. Contudo, com o avançar da lava jato e das delações que desnudaram a elite político-partidária encastelada no poder (herança do governo anterior) e ainda jogando lama no candidato derrotado na última eleição presidencial que naturalmente poderia ser um nome que seria lembrado como alternativa para uma nova visão de governo, fez aumentar a desesperança. Desta forma, as gravações transformaram-se na mais robusta prova que são todos iguais e, portanto, por que ir as ruas bater panelas se a alternativa que existe é tão pior quanto a existente? O brasileiro médio caminha como um zumbi, cujo sangue foi-lhe tirado das veias pela seringa da corrupção que é como um monstro sanguessuga de apetite insaciável que mata até roubar a última gota.

O brasileiro médio distante da vida política não acredita que os representantes eleitos no congresso, nas câmaras estaduais e municipais o representem em virtude de tão longínqua que a elite política está da realidade do brasileiro. Assim, o brasileiro médio assiste passivo e sem esboçar reação porque está apático quanto as reais alternativas de sucessão de poder. O brasileiro médio rejeita o PSDB de Aécio, o PT de Lula e Dilma, o PMDB de Temer, todos os comparsas e tudo mais que represente corrupção. O brasileiro médio quer cuidar de sua família, deseja emprego, um país sem inflação, um serviço público de saúde de qualidade e educação idem. O brasileiro médio apenas espera respeito.

João Lago.
* Dedicado a Marcelo Perdigão.

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