Estava neste final de semana em
uma conversa animada com um dileto amigo que em certa altura, no calor das
argumentações de um esquerdista doutrinador, perguntou-me: “Onde foram parar as
panelas tramontinas que foram batidas contra o governo popular do PT?”. Após
pacientemente escutar calado todas as lamúrias de quem nitidamente sofre
angustiado com algo parecido com a Síndrome de Estocolmo, na qual a vítima
apaixona-se pelo seu algoz, falava de forma veemente, quase com uma profissão
de fé, pedindo a volta de Lula ao Planalto Central. E novamente repetia: “cadê
as panelas?”.
Em um arroubo de paciência, em
consideração a nossa longa amizade, dessas construídas com os pés descalços
correndo atrás de uma bola e nas brincadeiras infantis até o primeiro alvorecer
do primeiro amor da adolescência, desse tempo terno que lembra o fim de nossa
inocência, hoje representando uma vaga lembrança de um mundo melhor que parece somente
existir no passado que me permitiu deixá-lo falar até cansar e enfim
oferecer-me a palavra.
Disse-lhe que o brasileiro médio
em geral está tão ocupado em cuidar de sua própria vida, de cuidar da educação
e alimentação dos filhos, aflito com os preços dos alimentos no supermercado,
com a ameaça de perder o emprego e ver-se mergulhado na feroz estatística que o
faria mergulhar na linha da pobreza, já está desesperançoso com a política,
principalmente porque o governo que foi deposto já não apresentava condições,
tanto moral quanto política, para conduzir as reformas necessárias que pudessem
afastar todos esses temores. Assim, como havia a oportunidade de mudar, mesmo
que não sendo da maneira ideal, existia o sentimento que outro governo
entendendo a alma do brasileiro médio pudesse entregar novamente esperança.
Contudo, com o avançar da lava jato e das delações que desnudaram a elite político-partidária
encastelada no poder (herança do governo anterior) e ainda jogando lama no
candidato derrotado na última eleição presidencial que naturalmente poderia ser
um nome que seria lembrado como alternativa para uma nova visão de governo, fez
aumentar a desesperança. Desta forma, as gravações transformaram-se na mais
robusta prova que são todos iguais e, portanto, por que ir as ruas bater
panelas se a alternativa que existe é tão pior quanto a existente? O brasileiro
médio caminha como um zumbi, cujo sangue foi-lhe tirado das veias pela seringa
da corrupção que é como um monstro sanguessuga de apetite insaciável que mata
até roubar a última gota.
O brasileiro médio distante da vida
política não acredita que os representantes eleitos no congresso, nas câmaras
estaduais e municipais o representem em virtude de tão longínqua que a elite
política está da realidade do brasileiro. Assim, o brasileiro médio assiste
passivo e sem esboçar reação porque está apático quanto as reais alternativas
de sucessão de poder. O brasileiro médio rejeita o PSDB de Aécio, o PT de Lula
e Dilma, o PMDB de Temer, todos os comparsas e tudo mais que represente
corrupção. O brasileiro médio quer cuidar de sua família, deseja emprego, um
país sem inflação, um serviço público de saúde de qualidade e educação idem. O
brasileiro médio apenas espera respeito.
João Lago.
* Dedicado a Marcelo Perdigão.
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