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segunda-feira, 17 de julho de 2017

VITIMISMO SOCIAL, A ONDA DO MOMENTO.



Estamos vivendo em uma época que o “vitimismo social” de alguns está extrapolando a barreira do bom senso e por conta de uma aparente culpa por erros históricos, como a escravidão de seres humanos que levaram ao preconceito étnico, casos de preconceito pela opção sexual e ocorrências de violência contra a mulher, estamos cometendo arbitrariedades de julgamentos condenatórios antecipados sem dar a outra parte o direito ao contraditório.
Estádio Raulino de Oliveira da cidade de Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, domingo, treze de março de 2016, campeonato carioca, dia de clássico entre Fluminense e Botafogo, jogadores entrando em campo, perfilando-se no gramado quando o árbitro da partida percebe que o goleiro Jefferson do clube da estrela solitária estava portando uma camisa preta idêntica a dos demais jogadores de seu time. Imediatamente o juiz determina que o arqueiro troque de uniforme, pois poderia ser confundido pelo adversário com os seus colegas de linha. Nessa mesma partida, o goleiro do Fluminense Diego Cavalieri estava usando uma camisa amarela idêntica a do juiz da partida e o Botafogo igualmente pediu a troca do uniforme do adversário, mas o mesmo não precisou trocar de camisa, haja vista o entendimento do juiz que no campo o posicionamento do árbitro e do goleiro jamais poderia causar confusão e atrapalhar uma jogada em favor de quem quer que seja.
Curitiba, quinta-feira à noite um advogado prepara-se para ir para a balada. Coloca uma camisa preta e para orná-la uma gravata da mesma cor. Na porta da boate James Bar o funcionário responsável pela organização da entrada não o permite adentrar, pois o porte atlético do advogado em conjunto com a gravata e a camisa poderia confundi-lo com os seguranças da boate que usavam uma vestimenta igual. O advogado aceita, volta para casa e depois de raciocinar sobre o episódio conclui que foi vítima de preconceito. Um detalhe que não tem a mínima importância e que jamais entraria em uma crônica minha se não fosse para ilustrar certos absurdos de um “vitimismo social”: O advogado e goleiro Jeferson são negros e Diego Cavalieri e árbitro Pericles Bassols são brancos. Voltando ao caso da partida de futebol, poderia o goleiro Jeferson sentir-se vítima de preconceito pelo árbitro branco tê-lo feito trocar de camisa e o goleiro branco não?
O advogado de Curitiba tomou a atitude de escrever uma carta para a administração da boate comunicando a suposta atitude preconceituosa do funcionário e não satisfeito divulga o ocorrido na página que mantém em uma rede social. O advogado em entrevista ao portal UOL, cuja matéria encontra-se disponível para consulta, diz: “Eu fiquei tão bobo que não tive reação (...) ele me olhou dos pés a cabeça e disse isso (...) a ficha só caiu minutos depois (...) é engraçado, porque no início você se culpa. Pensei: poxa, poderia mesmo ter trocado de roupa. Aí que veio a noção do absurdo”. Considerando que o advogado nessa mesma entrevista ao portal UOL declara que mantém uma conta no YouTube onde aborda “preconceito e empoderamento negro”, a boate James Bar dada a repercussão do fato nas redes sociais resolve demitir o seu funcionário e publica a seguinte nota: “foi uma atitude arbitrária (...) não condiz com o que acreditamos”.
Quem nunca olhou alguém dos pés a cabeça em julgamento subjetivo em sua vida que atire a primeira pedra. Fazemos isso o tempo todo, faz parte da natureza social humana e não vou apoiar-me em pesquisas acadêmicas para afirmar isto. Na paquera, durante uma entrevista de emprego, quando conhecemos alguém, olhar o conjunto sempre foi e sempre será um ato da subjetividade comportamental humana. O filósofo Michel Foucault afirmou que “tanto as práticas jurídicas, quanto as judiciárias são as mais importantes na determinação da subjetividade, pois por meio delas, é possível estabelecer formas de relações entre indivíduos”. Essa frase do pensador francês ilustra bem a judicialização dos costumes que hoje vivemos no Brasil, na qual grupos de minorias ávidos por direitos, que denominam “empoderamento”, buscam criar novas leis que possam punir comportamentos que consideram inconvenientes para sua causa, pois acreditam que somente com um ordenamento específico, criminalizador e direcionado será possível fazer a justiça. O ícone dessa soberba jurídica está na Lei Maria da Penha, que grupos feministas acreditam que possam pacificar as relações de um casal na família. Essa lei não coloca um policial vinte quatro horas vigiando a mulher, assim uma mente entorpecida pelo ódio pode encontrar meios para descarregar sua revolta e os reflexos disto pipocam vez em quando nos noticiários. Vez por outra um avião cai em alguma parte do mundo, a imprensa noticia, causa comoção geral, mas nem por isso podemos dizer que o transporte aéreo é o mais inseguro do mundo, muito pelo contrário. Eu advogo que hoje toda a violência absurda de homens que atentam contra a vida e a integridade física de sua mulher são pontos fora da curva (assim como é a queda de uma aeronave), mas pela repercussão desses atos insanos pela imprensa levam a crer que todos os homens são capazes de agir dessa maneira e, portanto, todos estão fadados a ser condenados a uma lei injusta que pune previamente sem qualquer direito ao contraditório. Logicamente, com a balança da justiça pendendo para um lado, algumas cabeças cuja ética está carcomida utilizam a lei a seu favor a fim de prejudicar o seu parceiro na busca de vingança, como colocar o marido fora do lar, alijá-lo dos filhos, ou até mesmo mandá-lo para prisão por meio das tais “medidas protetivas” em casos que sequer há prova material de violência física do homem contra a mulher. Muitas vezes basta apenas um boletim de ocorrência e uma declaração da mulher que tal fato de violência ocorreu e o homem já está condenado as “medidas protetivas”. Criam-se ideologias, misturam todos os representantes de minorias ávidas de direitos em um só balaio, a chamam de gênero e colocam a opção sexual como fator determinante para uma proteção especial da justiça e tentam justificá-la como uma necessária proteção à violência como se todo o indivíduo macho fosse um potencial espancador de mulheres ou de homossexuais. Em relação ao desejo sexual que cada um possa ter, não vou falar aqui de gênero, pois tratar dessa maneira esse assunto é uma forma de preconceito, pois no meu entendimento temos um só gênero: O humano.
Estamos caminhando para a construção de uma sociedade judicializada em seus costumes que a convicção religiosa poderá ser criminalizada e o simples fato de dizer não a um negro, ou uma desavença entre casais pelo fim de um relacionamento, será motivo de uma ação penal, pedido de prisão, condenação pecuniária por dano moral etc. Uma sociedade para ser justa não pode punir antes de proporcionar o amplo direito de defesa.
João Lago

domingo, 2 de julho de 2017

O brasileiro médio



Estava neste final de semana em uma conversa animada com um dileto amigo que em certa altura, no calor das argumentações de um esquerdista doutrinador, perguntou-me: “Onde foram parar as panelas tramontinas que foram batidas contra o governo popular do PT?”. Após pacientemente escutar calado todas as lamúrias de quem nitidamente sofre angustiado com algo parecido com a Síndrome de Estocolmo, na qual a vítima apaixona-se pelo seu algoz, falava de forma veemente, quase com uma profissão de fé, pedindo a volta de Lula ao Planalto Central. E novamente repetia: “cadê as panelas?”.

Em um arroubo de paciência, em consideração a nossa longa amizade, dessas construídas com os pés descalços correndo atrás de uma bola e nas brincadeiras infantis até o primeiro alvorecer do primeiro amor da adolescência, desse tempo terno que lembra o fim de nossa inocência, hoje representando uma vaga lembrança de um mundo melhor que parece somente existir no passado que me permitiu deixá-lo falar até cansar e enfim oferecer-me a palavra.

Disse-lhe que o brasileiro médio em geral está tão ocupado em cuidar de sua própria vida, de cuidar da educação e alimentação dos filhos, aflito com os preços dos alimentos no supermercado, com a ameaça de perder o emprego e ver-se mergulhado na feroz estatística que o faria mergulhar na linha da pobreza, já está desesperançoso com a política, principalmente porque o governo que foi deposto já não apresentava condições, tanto moral quanto política, para conduzir as reformas necessárias que pudessem afastar todos esses temores. Assim, como havia a oportunidade de mudar, mesmo que não sendo da maneira ideal, existia o sentimento que outro governo entendendo a alma do brasileiro médio pudesse entregar novamente esperança. Contudo, com o avançar da lava jato e das delações que desnudaram a elite político-partidária encastelada no poder (herança do governo anterior) e ainda jogando lama no candidato derrotado na última eleição presidencial que naturalmente poderia ser um nome que seria lembrado como alternativa para uma nova visão de governo, fez aumentar a desesperança. Desta forma, as gravações transformaram-se na mais robusta prova que são todos iguais e, portanto, por que ir as ruas bater panelas se a alternativa que existe é tão pior quanto a existente? O brasileiro médio caminha como um zumbi, cujo sangue foi-lhe tirado das veias pela seringa da corrupção que é como um monstro sanguessuga de apetite insaciável que mata até roubar a última gota.

O brasileiro médio distante da vida política não acredita que os representantes eleitos no congresso, nas câmaras estaduais e municipais o representem em virtude de tão longínqua que a elite política está da realidade do brasileiro. Assim, o brasileiro médio assiste passivo e sem esboçar reação porque está apático quanto as reais alternativas de sucessão de poder. O brasileiro médio rejeita o PSDB de Aécio, o PT de Lula e Dilma, o PMDB de Temer, todos os comparsas e tudo mais que represente corrupção. O brasileiro médio quer cuidar de sua família, deseja emprego, um país sem inflação, um serviço público de saúde de qualidade e educação idem. O brasileiro médio apenas espera respeito.

João Lago.
* Dedicado a Marcelo Perdigão.