Com a prisão quase simultânea de
dois ex-governadores, cuja sede do governo é a metrópole brasileira de maior
projeção mundial e que foi palco da última olimpíada, revela que o encarceramento
de políticos deixa a esfera dos cargos eletivos proporcionais e passa a orbitar
sobre aqueles que tiveram cargos majoritários. É interessante isto, primeiro
porque os delitos cometidos evidenciam que a corrupção é muito mais organizada
e deletéria quando está centrada no poder executivo. Porém, o foro
privilegiado, na forma concebida no ordenamento jurídico brasileiro, serve de
guarida para toda sorte de bandidos que buscam um cargo eletivo para fugir da
justiça. Não obstante, voltando ao caso citado, ambos somente foram presos porque
ostentam “ex” antes do substantivo que os caracterizam na cena política,
remetendo-os a vala comum que nós pobre mortais estamos sujeitos: o foro de
justiça de primeiro grau. Desta forma, aqueles que estão no topo do poder temem
mais perder o mandato que a própria justiça, revelando um esdrúxulo e obsceno
privilégio que alimenta a impunidade.
Em uma democracia séria o homem
com um mandato eletivo deve ter somente sua imunidade de voz garantida, para
que não esteja sujeito a ser intimidado por expressar sua opinião. Em termos
práticos, face às evidências de um delito de seus pares, até poder nomeá-los
por bandidos sem ter receio que possa ser processado por injúria ou difamação. Isto
é necessário, pois os corruptos tendem a amealhar poder econômico e podem
utilizar a justiça para calar e intimidar qualquer um menos abonado. Além do
mais, os ricos tendem a construir redes de relacionamentos nas altas esferas da
sociedade e catapultar ainda mais seus privilégios, mesmo quando pegos em
flagrante delito. Isto é tão verdade que está proibido algemar criminosos de
colarinho branco, pois os juízes do supremo parecem entender que somente o reles
ladrão de quinta categoria, esse que aparece exibido nos programas mundo cão de
final de tarde, merece ser subjulgado e algemado por oferecer real perigo à
sociedade. Ledo engano, a menor periculosidade não é aquela quando o marginal age
no varejo roubando o celular ou carteira do cidadão, mas quando atual no
atacado e rouba a esperança de um atendimento digno nos hospitais, subtrai a
oportunidade de uma boa educação pública e tira da sociedade recursos que
ajudaria a proteger-nos desses tão periculosos ladrões de quinta.
Essa classe política que
enriqueceu na vida pública, age como novos ricos desvairados com o luxo que o
dinheiro pode comprar e nada se distancia dos marginais “vida louca” que vão
para as redes sociais ostentar o tênis de marca e a roupa de grife. Esses bandidos
de colarinho branco ostentam viagens cinematográficas, restaurantes de luxo,
carros importados, mansões nababescas e o cinismo estampado na cara.
Invariavelmente também tem ao seu redor um séquito obsequioso que os chamam de “doutor”,
porque essa subserviência também faz parte do jogo de poder que garante votos.
Não estão na política para resolver nada, mas para perpetuar a miséria humana,
pois dela se alimentam como abutres na carniça.
A cidade maravilhosa sangra como
jamais sangrou e hoje pode ser considerada o reflexo do grande espelho de
corrupção que cobre o Brasil, pois não há um mísero rincão deste país que não contenha
políticos metástase dessa estirpe maligna. Basta olhar ao redor.
Nossas cidades, nossos estados e o
nosso país não merecem tal sorte.
João Lago.
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