Cada povo possui uma cultura
própria que é composta do conhecimento tecnológico, da crença e da moral
derivada que cria as regras de relações interpessoais e dos valores que
influenciam as artes (incluindo arquitetura), os costumes e o conjunto de leis
que disciplina a conduta individual e coletiva na sociedade. Por exemplo, o
Brasil exibe uma cultura que é uma colcha de retalhos de influências das
culturas dos povos que migraram espontaneamente, ou forçosamente, desde a
colonização do país. Não obstante, a cultura maior difusão é aquela que
orientou a escolha da língua e da crença majoritária em um Deus cristão e que é
derivada do colonizador português que tinha hegemonia da força e do controle
social (da lei e da imposição dos costumes). Devemos considerar que a época das
grandes navegações, com a hegemonia de Portugal e Espanha entre os Séculos XV e
XVIII, ocorreram dentro do sistema econômico mercantilista que impôs aos povos
ameríndios a cultura europeia.
A presença de determinada matiz
cultural em contato com outra deixa marcas visíveis e muitas vezes podem
suprimir quase por completo os costumes, modificando crença e valores. No
entanto, ainda que determinada cultura possa representar hegemonia sobre outra,
subsistem pegadas que deixadas indicam que houve uma caminhada paralela no
passado que possa explicar o que se é hoje. O hábito de tomar banho todos os
dias é atribuído à herança deixado do costume indígena, muito distante do
costume do europeu. O antropólogo Darcy Ribeiro, em sua obra O Povo Brasileiro,
destaca o costume selvagem de banhar-se diariamente dos índios brasileiros bonitos,
saudáveis, limpos e nus que deixavam pasmos os portugueses recém-chegados repletos
de piolhos, em caravelas apertadas e sem arejamento, com gengivas sangrando
pelo escorbuto. Não somente a influência da cultura indígena, mas também do
negro africano cativo que foi trazido pelo colonizador português para o
trabalho nas lavouras, na mineração e para as famílias. O sociólogo Gilberto
Freyre, em sua obra Casa Grande Senzala, descreve fatos dos costumes de um
Brasil escravocrata que ainda hoje encontramos reflexo na culinária, na música
e na religião.
Modernamente vivemos em um modelo
econômico capitalista e a hegemonia econômica e cultural dos Estados Unidos da
América – EUA, está presente na vida do brasileiro na música, no cinema, no modo
de vestir, agir e também no falar, com termos em inglês que foram incorporados
e que seguem em paralelo com a língua portuguesa (anglicismo), mais
notoriamente nos termos utilizados em informática, em tecnologias e nos
negócios. Não obstante, outro exemplo de influência cultural está na
comemoração do “dia das bruxas” (Halloween), até então estranho a nossa cultura, mas que já
foi incorporado no calendário de eventos em algumas escolas brasileiras. Neste
ponto, discussões sobre ideologia e cultura misturam-se fomentando o debate da
dominação econômica capitalista estadunidense sobre a organização social e
política brasileira. Porém, sendo o Brasil também um país capitalista inserido
em uma economia globalizada, a pergunta que pode surgir é como manter uma
cultura própria forte ao mesmo tempo produzir bens e serviços que possam ser
exportados para outros países?
Vejamos o caso da empresa estadunidense
SAMBAZON que comercializa no mercado dos EUA produtos industrializados derivados
do açaí, um produto tipicamente brasileiro e amazônico. O problema da marca
inicia-se em sua dicção que a maioria dos americanos tem dificuldades de
pronunciar. Contudo, por iniciativa de um empresário estadunidense californiano
que juntou o nome SAMBA e AMAZON, que são bastante conhecidos como de origem
brasileira, fez do fruto amazônico um verdadeiro sucesso de vendas entre os estadunidenses.
Leva-se em consideração que a sede da empresa está localizada na Califórnia –
EUA cuja terra não se cultiva um único pé de açaí. Toda a produção está
localizada no norte brasileiro entre os estados do Pará e Amapá. Assim, em um
mundo globalizado as influências culturais também estariam relacionadas com as
relações de interesse comerciais?
A cultura como um sistema
dinâmico não poderia ser considerada isenta de mutabilidade ao longo do tempo e
modernamente deverá avaliar-se o impacto da influência de um mundo digital
conectado cujas ferramentas de acesso estão sob o controle de grandes
corporações estrangeiras, ou melhor dizendo, de origem nos EUA. Neste aspecto,
há de se avaliar se os povos que utilizem essas ferramentas terão liberdade de acesso
e difusão de conteúdo, ou se por meio de algoritmos sofisticados serão
monitorados e terão cerceados e manipulados certas tendências ideológicas e
culturais em detrimento de outras. Olha-se para a tela do computador como uma
janela na qual a paisagem que se vê não é fruto do acaso, ou tecnicamente
falando, de uma incidência aleatória e randômica. Pode-se perfeitamente
determinar aquilo que pode e deve ser exibido, ou não.
João Lago
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