Não faz muito tempo uma mulher
tinha como destino certo a maternidade, pois era isso que a sociedade tinha
como paradigma. Porém, no mundo ocidental, principalmente depois da Segunda
Guerra Mundial e mais precisamente depois da revolução sexual da década de 60,
impulsionada pelo advento do anticoncepcional, a maternidade passou a ser para
algumas mulheres uma opção, tanto que países europeus sofrem com o
envelhecimento acelerado de sua população sem a reposição de uma juventude em
maior número para sucedê-la. Isto significa que no longo prazo a quantidade de
indivíduos economicamente ativos será imensamente inferior àqueles que não
estão aptos ao mercado de trabalho, muitos deles pelo envelhecimento.
O Brasil nessa última década, que
muitos já a consideram perdida, ainda se encontra em uma posição demográfica favorável
para o crescimento econômico, conhecida como “janela demográfica”, porque nossa
população economicamente ativa é muito superior aos que não estão aptos ao
trabalho (crianças, idosos, pessoas incapacitadas). Porém, a taxa de
fecundidade brasileira ainda se situa alta apenas nas camadas mais empobrecidas
da sociedade, ou seja, a reposição de nossa população em maior número acontece
em famílias que mais dependerão de dois serviços públicos básicos: educação e
saúde.
Enquanto que a mulher da
periferia ainda engravida na adolescência, a mulher dos condomínios fechados e
dos bairros mais centrais adia sua gravidez para a vida adulta e a rotula como “projeto”,
ou seja, ser mãe não será uma opção primeira natural da mulher, mas um papel
que poderá ser postergado e colocado em último lugar, muitas vezes imaginado
depois do sucesso profissional. Neste caso, há uma inversão entre necessidade e
possibilidade entre esses dois universos femininos e lamentavelmente as
crianças nascidas em famílias menos favorecidas terão menos oportunidades e
mais estarão propensas a repetir o fracasso dos pais.
Independentemente de qualquer
crise econômica que possa assolar nossa sociedade, nosso maior patrimônio é
nossa juventude que deve ser protegida. Infelizmente, o que vemos é justamente
o contrário, pois se as escolas públicas de modo geral estão sucateadas e hoje uma
mulher engravidar no Brasil é correr risco de gerar uma criança com
microcefalia, e depois não ter qualquer amparo médico e psicológico em uma
saúde pública decadente que volta-lhe as costas, a maternidade de qualidade e
responsável deixa de ser incentivada e passa ser loucura uma mulher desejar ser
mãe. Assim, passa a ser nosso dever exigir uma educação e saúde públicas de
qualidade capaz de colocar todos os brasileiros ricos e pobres em situação
idêntica de oportunidades, pois nisto está à verdadeira justiça social. A
economia pode ir mal durante certo tempo, mas uma juventude sem escola e saúde
é condenar uma sociedade a um mau caminho pelo menos durante décadas.
Neste mês de maio que enaltecemos
o papel da mulher como mãe e voltamos os nossos olhos aquela que nos gerou com
amor e carinho, que tenhamos também a grandeza de olhar para as mães
desfavorecidas com afeto, que criam os seus filhos sozinhas com a
responsabilidade de torná-los bons cidadãos, mesmo que o destino conspire para
o fracasso. Que tenhamos discernimento que se algumas mulheres bem sucedidas
possam prescindir da responsabilidade de um pai na família, o mesmo modelo para
mulheres empobrecidas é torná-la mártir em uma sociedade hedônica, egoísta e
que não é favorável ao conceito tradicional de família.
A mulher deve sentir-se amparada
na maternidade e uma sociedade que valoriza suas mães deve conspirar pela
felicidade delas e a de seus filhos.
João Lago.
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