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domingo, 8 de maio de 2016

Conspiração pelas mães.



Não faz muito tempo uma mulher tinha como destino certo a maternidade, pois era isso que a sociedade tinha como paradigma. Porém, no mundo ocidental, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial e mais precisamente depois da revolução sexual da década de 60, impulsionada pelo advento do anticoncepcional, a maternidade passou a ser para algumas mulheres uma opção, tanto que países europeus sofrem com o envelhecimento acelerado de sua população sem a reposição de uma juventude em maior número para sucedê-la. Isto significa que no longo prazo a quantidade de indivíduos economicamente ativos será imensamente inferior àqueles que não estão aptos ao mercado de trabalho, muitos deles pelo envelhecimento.

O Brasil nessa última década, que muitos já a consideram perdida, ainda se encontra em uma posição demográfica favorável para o crescimento econômico, conhecida como “janela demográfica”, porque nossa população economicamente ativa é muito superior aos que não estão aptos ao trabalho (crianças, idosos, pessoas incapacitadas). Porém, a taxa de fecundidade brasileira ainda se situa alta apenas nas camadas mais empobrecidas da sociedade, ou seja, a reposição de nossa população em maior número acontece em famílias que mais dependerão de dois serviços públicos básicos: educação e saúde.

Enquanto que a mulher da periferia ainda engravida na adolescência, a mulher dos condomínios fechados e dos bairros mais centrais adia sua gravidez para a vida adulta e a rotula como “projeto”, ou seja, ser mãe não será uma opção primeira natural da mulher, mas um papel que poderá ser postergado e colocado em último lugar, muitas vezes imaginado depois do sucesso profissional. Neste caso, há uma inversão entre necessidade e possibilidade entre esses dois universos femininos e lamentavelmente as crianças nascidas em famílias menos favorecidas terão menos oportunidades e mais estarão propensas a repetir o fracasso dos pais.

Independentemente de qualquer crise econômica que possa assolar nossa sociedade, nosso maior patrimônio é nossa juventude que deve ser protegida. Infelizmente, o que vemos é justamente o contrário, pois se as escolas públicas de modo geral estão sucateadas e hoje uma mulher engravidar no Brasil é correr risco de gerar uma criança com microcefalia, e depois não ter qualquer amparo médico e psicológico em uma saúde pública decadente que volta-lhe as costas, a maternidade de qualidade e responsável deixa de ser incentivada e passa ser loucura uma mulher desejar ser mãe. Assim, passa a ser nosso dever exigir uma educação e saúde públicas de qualidade capaz de colocar todos os brasileiros ricos e pobres em situação idêntica de oportunidades, pois nisto está à verdadeira justiça social. A economia pode ir mal durante certo tempo, mas uma juventude sem escola e saúde é condenar uma sociedade a um mau caminho pelo menos durante décadas.

Neste mês de maio que enaltecemos o papel da mulher como mãe e voltamos os nossos olhos aquela que nos gerou com amor e carinho, que tenhamos também a grandeza de olhar para as mães desfavorecidas com afeto, que criam os seus filhos sozinhas com a responsabilidade de torná-los bons cidadãos, mesmo que o destino conspire para o fracasso. Que tenhamos discernimento que se algumas mulheres bem sucedidas possam prescindir da responsabilidade de um pai na família, o mesmo modelo para mulheres empobrecidas é torná-la mártir em uma sociedade hedônica, egoísta e que não é favorável ao conceito tradicional de família.

A mulher deve sentir-se amparada na maternidade e uma sociedade que valoriza suas mães deve conspirar pela felicidade delas e a de seus filhos.

João Lago.

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